domingo, 10 de março de 2019

Eu, Psicóloga | De masculinidade tóxica a masturbação: O que aprendemos com a série da Netflix Sex Education

Sex Education, série da Netflix, apresenta um grupo de estudantes do ensino médio que se deparam com as complexidades do amor e das relações — principalmente as sexuais.

O sexo precisa ser discutido como algo natural. Precisamos dessa naturalidade para conversar. As pessoas vão transar e têm dúvidas. E é fantástico que a Netflix possa abordar esse tema, porque pode ajudar principalmente os jovens, mas também os pais. O seriado passa a estabelecer um canal de comunicação sobre o prazer com os jovens, mas também sobre a responsabilidade que o sexo traz.

Diante disso listamos 5 motivos por que Sex Education pode ser uma série tão educativa, e não só para os jovens:

1. Pornografia não é uma representação real do sexo

A série passa a ser representativa ao retratar as dúvidas e como muitas vezes os jovens não falam sobre os seus questionamentos.

Em Sex Education há jovens que já são sexualmente ativos, mas também aqueles que se reprimem e nem sequer conseguem encarar uma masturbação, caso de Otis Milburn(Asa Butterfield), um garoto de 16 anos que sofre com ataques de pânico toda vez que tenta se tocar.

Ao promover esse debate, a série ocupa um espaço educativo. Muitos jovens em busca de informações acabam tendo acesso à pornografia e, com isso, constroem uma visão deturpada das relações.

Esses materiais mais do que incentivar o desenvolvimento da sexualidade baseado na escuta, no desejo, nos limites e nas preferências de cada um, impõem aquilo que “deveria” ser feito no sexo e o que seria o “caminho certo” em busca do prazer. Isso não é nada realista.
2. É importante respeitar o espaço do outro

Otis é o único filho de uma terapeuta sexual, Jean (Gillian Anderson). Após o divórcio, ela afasta qualquer ideia de ter uma relação que vá além da intimidade do sexo casual com os seus (vários) parceiros.

A relação de Otis e Jen é marcada ora pelo constrangimento, ora pela liberdade total com que ela trata a sua própria sexualidade e a do filho. Jen, apesar de incentivar e ser aberta à escuta, muitas vezes é intrusiva na vida pessoal de Otis e isso acaba por ser o gatilho do pânico dele.

A personagem de Gillian Anderson traz reflexões importantes sobre sexo na trama, como por exemplo quando diz para o filho que “a experiência pode ser maravilhosa, mas também pode causar uma tremenda dor.”

Por outro lado, também traz uma ideia caricatural do que seria o papel de um sexólogo ao encarnar o clichê do terapeuta que analisa tudo o que é dito pelas pessoas e que, muitas vezes, não coloca em prática aquilo que se prega.

3. Superproteção nem sempre é sinônimo de amor
“O que seu filho quer e aquilo que você acha que é certo, muitas vezes pode ser muito conflitante”, explica o ator Ncuti Gatwa, que dá vida ao personagem Eric.
Eric (além de ter os melhores figurinos do seriado) é abertamente gay e tem uma relação tensa com seu pai superprotetor. “Para qualquer pai, tudo o que eles querem é que seu filho esteja seguro. Mas infelizmente, quando você é um pai e ama completamente seu filho, isso pode fazer você agir um pouco como louco”, desabafa.

Como pais, geralmente você não está mais convivendo diariamente com o “mundo” do seu filho. Enquanto para alguns adultos o ensino médio é só uma fase, para os jovens é a única realidade do momento.

Por isso, Gatwa tem um conselho: “Apenas escute. Escute quando eles estiverem tentando se comunicar. Tente abstrair um pouco das suas verdades e ouça qualquer ansiedade que seu filho esteja lidando”.

4. Otis, Eric e a masculinidade tóxica

O roteiro da série não é nenhuma novidade, recheada de clichês tipicamente adolescentes. Mas o que eleva a produção para além do drama adolescente é que os personagens - e principalmente os personagens masculinos - falam sobre sexo de maneiras saudáveis e cheias de nuance.

Enquanto Otis mal consegue se tocar, Eric sabe exatamente o que ele quer, mas ele é um dos poucos gays de sua escola.

Ao primeiro olhar, muito do que Otis carrega sobre conhecimento em relacionamentos parece vir de sua mãe, a terapeuta, mas no fundo a sua amizade com Eric é que é a sua grande fonte de inspiração.

Eric provoca Otis por ele não conseguir se masturbar, mas não é cruel ou machista em suas colocações. Eles podem brincar sobre isso, porque eles também conversam sobre isso. E os diálogos nunca são sobre se gabar, ser cruel com outra pessoa ou envergonhar os outros. É sempre mostrar o lado mais íntimo de cada um deles — muito diferente do que é construído na ideia de masculinidade que pode ser tóxica.

Eric é corajoso. Ele é o filho gay de imigrantes conservadores, religiosos e africanos, e, talvez por isso, não tenha outra escolha que não seja ser forte.

É por isso que ele é capaz de até mesmo perdoar Otis quando ele fura a programação principal do seu aniversário e exibe todo o seu egoísmo - mas sem spoilers por aqui. Em outra cena, ele é capaz de “ensinar” sexo oral com ajuda de uma banana na frente de toda a escola.

Eric sabe o que é se arriscar e, principalmente, o que significa ser vulnerável.

5. Todo mundo deveria saber o que gosta - mas nem sempre é assim

Aimee (Aimee Lou Wood) é uma das personagens que mais se destacam na série, e isso se deve por uma cena específica. Ela é uma garota popular e com cabelos perfeitos que nunca precisou se conhecer porque sempre teve um namorado para fazer o trabalho por ela.

As coisas mudam, no entanto, quando Aimee começa a namorar Steve. No meio de uma relação, ele pergunta para Aimee “o que ela gosta e o que ela quer” e é nesse momento que ela trava e procura ajuda da clínica sexual coordenada por Otis e Maeve (Emma Mackey).

“Ninguém nunca me perguntou isso antes”, ela diz a Otis. O garoto sugere, então, que ela descubra o que lhe traz prazer usando as suas próprias mãos. E é aí que a mágica acontece.

Em seguida, assistimos a Aimee em seu quarto e uma ótima sequência em que ela experimenta a masturbação. A masturbação ainda é um tabu para muitas mulheres. Assistir a cenas como essa reforçam a importância de que todo mundo deveria saber o que traz prazer.

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