segunda-feira, 2 de maio de 2016

Portugal. O HERBICIDA CANCERÍGENO GLIFOSATO ESTÁ A CONTAMINAR O PAÍS

Análises da Plataforma Transgénicos Fora, feitas pela primeira vez, revelam que existe elevada contaminação com glifosato em Portugal. Bloco propôs proibição mas AR recusou. O deputado Jorge Costa declara que situação “é totalmente inaceitável” e espera que a posição ambígua do governo se altere em breve.

A Plataforma Transgénicos Foradivulgou os resultados das análises, realizadas à urina de 26 pessoas portuguesas e a algumas amostras de alimentos, e concluiu que foram evidenciados “níveis inesperados e absolutamente assombrosos de glifosato (mais conhecido por Roundup), o pesticida químico sintético mais usado na agricultura portuguesa – e até agora o mais ignorado”.

A plataforma denuncia que “embora o Ministério da Agricultura mantenha, ao longo de sucessivos governos, um plano anual de monitorização em alimentos que testa a presença de mais de 300 resíduos de pesticidas, o glifosato tem sido excluído das análises.O mesmo se passa com a água de consumo, uma vez que o Ministério não inclui o glifosato na lista de substâncias a pesquisar pelas entidades fornecedoras". Questionado já este ano, o ministério da Agricultura “não apresentou quaisquer análises, nem mesmo as previstas pelas diretivas técnicas da União Europeia”.

As análises, às pessoas que se voluntariaram para o estudo, revelaram que “o glifosato foi detetado em 100% das análises efetuadas à urina” (ver quadro ao lado). Estes números são muito superiores aos de outros países europeus: um levantamento feito, em 2013, pela associação Amigos da Terra em 18 países europeus, revelou contaminação em 44% das pessoas. “O português menos contaminado tem três vezes mais glifosato que o pior caso alemão”, realça a plataforma.

A análise a alguns alimentos, mostra que “o glifosato pode estar a entrar regularmente na alimentação dos portugueses”, apesar dos valores estarem abaixo dos limites legalmente estabelecidos.

Pelo menos 89 câmaras usam glifosato

A plataforma alerta que o glifosato é usado em zonas urbanas de norte a sul do país, nomeadamente por municípios, para controle de ervas nas estradas e caminhos.

Sobre o uso pelas autarquias, o “Diário de Notícias” de hoje lembra que o Bloco de Esquerda perguntou às câmaras do país se usavam glifosato e em que quantidades. Em 107 respostas que recebeu, 89 câmaras municipais disseram que sim e 18 que não.

O Bloco de Esquerda apresentou na Assembleia da República um projeto de resolução recomendando ao governo o “voto contra a renovação do uso do carcinogénico Glifosato na UE e proibição do uso no país”, mas o projeto foi chumbado no parlamento no passado dia 15 de abril, pelos votos contra de PSD e CDS e a abstenção de PS e PCP. Iniciativas semelhantes do PAN e do PEV também foram rejeitadas.

Jorge Costa: Situação “é totalmente inaceitável”

Em declarações à TSF, o deputado do Bloco de Esquerda Jorge Costa realçou a grande utilização do glifosato no nosso país, salientando que “nos últimos anos houve uma substituição, devido às políticas de austeridade, de trabalhadores municipais pela utilização intensiva deste veneno, que está identificado pela organização Mundial de Saúde (OMS) como 'potencialmente cancerígeno' e é totalmente inaceitável que persista esta utilização intensiva”.

Jorge Costa considerou ainda que o governo português tem tido uma posição ambígua, esperando que essa posição se altere em breve. Foi essa a resposta do Governo a um requerimento do Bloco de Esquerda.

Em entrevista à RTP, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, disse, neste domingo, que quando chegou ao ministério existia uma orientação para que Portugal votasse na União Europeia (UE) a favor do glifosato e que recomendou que, em vez de votar a favor, Portugal se abstenha no comité de Peritos da UE, que deverá decidir a 18 de maio de 2016.

Capoulas Santos disse que se trata de um “assunto muito melindroso”, considerou que “ "não é líquido" quais os efeitos do glifosato na saúde, apontando a necessidade de mais estudos.

O ministro da Agricultura defende que um primeiro passo pode passar pela proibição da utilização do glifosato nos centros urbanos e defende a proibição imediata da taloamina, que é um coadjuvante.

A Plataforma Transgénicos Não alerta, em relação ao glifosato, para “a gravidade dessa poluição silenciosa, invisível e provavelmente mortal (segundo a Organização Mundial de Saúde o glifosato é provavelmente carcinogénico em humanos e demonstradamente carcinogénico em animais de laboratório)".

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