segunda-feira, 9 de maio de 2016

TRUMP E A ESTRATÉGIA DEMOCRATA

Benjamim Formigo – Jornal de Angola, opinião

Nas eleições presidenciais norte-americanas, se (e este se é em letras bem sublinhadas) as sondagens fossem fiáveis, ninguém tinha razões para se preocupar, a não ser os republicanos.

Depois da desertificação das candidaturas à nomeação republicana, Donald  Trump será o candidato, mas um candidato que face aos dois democratas ainda na corrida, Hillary  Clinton e Bernie Sanders, perdia as eleições –  segundo as sondagens.

Estou certo de que haveria um suspiro de alívio com o afastamento de Trump. Contudo, do lado democrata, Hillary tem praticamente garantida a nomeação em Filadélfia na Convenção Nacional Democrata. O problema é que só tem praticamente garantida. Existe uma janela de oportunidade para Sanders e algumas indicações apontam para que o velho senador recorra a tudo, incluindo novos elementos sobre a controvérsia dos e-mails da sua rival enquanto era Secretária de Estado, para conseguir até à Califórnia um número de delegados firme que lhe dê a possibilidade de ser apoiado pelos chamados Superdelegados. Isso poderia vir a complicar o resultado que neste momento aponta a favor de Clinton. 

No passado,Bernie Sanders disse alto e bom som, num debate, que “estava farto, o país está farto de ouvir falar dos e-mails”. Uma atitude muito conforme à seriedade do candidato. Bernie Sanders, apesar da sua idade, 70 anos, consegue uma penetração horizontal junto dos jovens, parte importante do eleitorado, da classe trabalhadora e de algumas minorias, mas falha nos hispânicos, afro-americanos, classe média e faixa etária acima dos 40/45 anos que prefere Hillary. Porquê? Em primeiro lugar, a sua experiência, o seu relacionamento com os jovens, a simpatia da classe operária por ele. Depois, porque Hillary ainda não descolou da imagem arrogante dos tempos de primeira dama e Secretária de Estado, uma arrogância difícil de provar, de sentir, mas que uma parte do eleitorado lhe aponta. Por outro lado, as mulheres preferem Sanders a Clinton.

Nas semanas que restam os democratas têm apenas duas hipóteses: ou se unem e abrem fogo em conjunto e concertadamente contra Trump, mostram uma frente unida e tornam coincidente o voto dos que se dividem entre Hillary e Bernie, deixando mesmo em aberto o desejo de muitos, um “ticket” Clinton/Sanders ou Bernie/Hillary que reúna os americanos divididos. Se optam por se atacarem um ao outro, para garantirem a opção dos Super delegados, acabam por deixar Trump “à solta” nestes meses que restam até àsConvenções partidárias e, para além deles, até às eleições. Trump, desbocado como tem sido, não resiste à mão na anca para responder a um ataque concertado.

Na verdade, o Partido Republicano muito provavelmente agradeceria se os democratas derrotassem Trump. Tinham pelo menos cinco anos para unir o partido e pôr a casa em ordem. O resto do mundo provavelmente também. Alguém lhe comprava um carro em segunda mão ou assinava com os EUA um acordo sabendo que a conflituosidade estava na Sala Oval? Duvido, embora com os americanos nunca se saiba.

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