terça-feira, 26 de julho de 2016

Hillary Clinton será escolhida por convenção em estado de guerra

Apoiantes de Bernie Sanders contestam elites e presidente demissionária do partido. Referem que teor das mensagens confirma as denúncias feitas ao longo das primárias.

Era para ser a convenção perfeita, a reunião dos democratas que se iniciou ontem à noite no Centro Wells, em Filadélfia.

Hillary Clinton vai ser a primeira mulher nomeada como candidata à Casa Branca por um dos grandes partidos nos Estados Unidos, o que sucede após uma renhida batalha eleitoral com Bernie Sanders, mas sem a guerrilha de baixo nível e escândalos vários que marcaram as primárias republicanas.

A atmosfera que se antecipava para a convenção, que decorre na "cidade do amor fraternal", era em tudo o oposto do verificado na reunião de Cleveland, em que Donald Trump emergiu como candidato republicano às presidenciais de novembro. Ao caos, intervenções virulentas, insultos e declarações desabusadas de vários intervenientes e do próprio Trump, o encontro de Filadélfia seria pontuado por um registo unânime de elogios à candidata - que fará o discurso de aceitação na noite de quinta-feira - e por intervenções proferidas num registo distinto do comum na convenção republicana.

Isto até serem divulgadas mais de 19 mil mensagens eletrónicas da direção nacional do Partido Democrático, presidida por Debbie Wasserman Schultz, a demonstrarem que este órgão e a sua dirigente atuaram, de forma deliberada e direta, para minarem a campanha de Sanders. Senador pelo estado de Vermont, Sanders, que se define como "democrata socialista", veio a revelar-se a grande surpresa das primárias democráticas, demonstrando que Hillary Clinton não é consensual nem no seu próprio partido.

As mensagens, reveladas através do sítio da WikiLeaks, mostram que Schultz e outros membros do partido procuraram encontrar argumentos que reduzissem a aceitação de Sanders entre os democratas e, deste modo, reforçando o voto em Hillary. Schultz, que nunca escondeu o apoio à ex-secretária de Estado, anunciou que abandonava funções, mas só no final da convenção. O que irritou ainda mais os apoiantes de Sanders, que domingo à noite andaram pelas ruas de Filadélfia com máscaras de Schultz e Hillary, empunhando forquilhas para evidenciarem o seu caráter dúplice e traiçoeiro. A campanha de Sanders, que ao longo das primárias exigiu o afastamento de Schultz, reagiu à divulgação das mensagens, martelando a ideia de que "isto vem provar o que sempre dissemos: o processo estava viciado desde o início". Ontem, The Washington Post revelava que apoiantes de Sanders e outros críticos preparavam uma série de ações de "crítica" e "contestação" às elites do partido e queriam uma votação nominal para Hillary e o seu vice, o senador Tim Kaine com o objetivo de "evidenciar o seu grau de descontentamento".

Além de Michelle Obama e da senadora Elizabeth Warren, cujo nome foi mencionado como possível para vice, estava previsto que Sanders usasse da palavra, especulando-se que o poderia fazer num tom distinto do previsto. A campanha de Hillary admitiu ao início da noite não conhecer o teor da intervenção do senador do Vermont.

O FBI anunciou que está a investigar o caso das mensagens, que está a ser atribuído a piratas informáticos ao serviço da Rússia.


DN

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