quarta-feira, 22 de março de 2017

FRANCISCO GUTERRES LU’OLO VENCEU AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS EM TIMOR-LESTE

M. Azancot de Menezes, Díli - opinião
Candidato da coligação CNRT/FRETILIN, Francisco Guterres Lu´Olo, venceu as eleições presidenciais

Os resultados das eleições presidenciais, quando faltam menos de 10% dos votos para apurar, já são conhecidos, e apontam o candidato da coligação CNRT/FRETILIN como vencedor, com 262 mil votos (57,42%) do total.

Em segundo lugar ficou o candidato António da Conceição, Secretário-Geral do Partido Democrático (PD), e ministro da educação, com cerca de 33% dos votos, seguindo-se depois os restantes seis candidatos com valores percentuais muito inferiores.

Os resultados eleitorais permitem retirar algumas ilações, no campo político, económico e social.

A primeira conclusão, bastante óbvia, o candidato do poder, Francisco Guterres (Lu´Olo) teve significativa vantagem em relação aos restantes candidatos em virtude de ter recebido o apoio do Congresso Nacional para a Reconstrução Timorense (CNRT) e da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN), os partidos políticos que detêm há 15 anos o poder político, administrativo e económico do país.

Efectivamente, o presidente da Região de Oécussi, Mari Alkatiri, é o Secretário-Geral da FRETILIN, o presidente do CNRT, o histórico Kay Rala Xanana Gusmão, é Ministro Coordenador do Planeamento Estratégico, e o Primeiro-Ministro, Rui de Araújo, também dirigente da FRETILIN, para citar apenas estes casos, contribuíram para que o candidato vencedor tivesse mais e melhor acesso aos meios massivos da comunicação social, nomeadamente à Rádio e Televisão de Timor-Leste (RT-TL), e a outros apoios de ordem administrativa e financeira, em clara vantagem comparativamente com os restantes candidatos.

Outra superioridade decorre do facto dos dois únicos órgãos eleitorais também serem controlados pelo governo, quer a Comissão Nacional de Eleições (CNE), apesar de teoricamente ser um órgão independente, o seu presidente, Alcino de Baris, é comissário membro da FRETILIN, e o Secretário-Executivo, Bernardo Cardoso, é comissário membro do CNRT, quer o Secretariado Técnico de Administração Estatal (STAE), totalmente dependente do Ministério da Administração Estatal, igualmente tutelada por um ministro do CNRT.

Também, com a concretização das políticas de desconcentração ocorridas no final de 2016, já a pensar nas eleições, alguns poderes estratégicos e tácticos foram deslocados para os doze Municípios com o surgimento de autoridades municipais da confiança política governamental, fortalecendo a máquina administrativa junto das comunidades locais, naturalmente, em defesa das políticas traçadas pelo governo, todo um contexto que facilitou extraordinariamente a campanha eleitoral do candidato vencedor.

Obviamente, todos estes aspectos aqui referidos que destacam a evidência segundo a qual o candidato vencedor beneficiou de toda a máquina controlada pelo CNRT e pela FRETILIN, ao nível do Parlamento, do Governo, dos Municípios e dos Sucos (conjunto de Aldeias), não afastam mérito ao candidato, nem o diminuem, aliás, aproveito para felicitar o novo presidente da República, e desejar-lhe os melhores sucessos, mas, convenhamos, estava em significativa vantagem.

Um outro aspecto que se pode adivinhar desta vitória algo reduzida, apenas 57% do total dos votos, é que em termos de intervenção presidencial geradora de mudanças pouco deverá haver do futuro presidente da República no sentido de contrariar políticas erradas do domínio económico e social traçadas pelos partidos que o colocaram no poder, políticas em vigor que muito têm prejudicado as classes sociais mais desfavorecidas, nomeadamente os agricultores, ou seja, não é verosímil assistirmos a vetos presidenciais a contrariar decisões do governo CNRT/FRETILIN, nem de deliberações parlamentares adoptadas pelos actuais partidos políticos que detêm a maioria.

Finalmente, a pensarmos nas eleições legislativas agendadas para Julho deste ano, face a este escasso resultado obtido pela coligação CNRT/FRETILIN, iremos assistir nos próximos cinco meses a movimentações conducentes a várias outras alianças partidárias e a iniciativas dos restantes candidatos presidenciais, “derrotados”, no sentido de negociarem os seus votos conquistados nestas eleições que poderão fazer a diferença e determinar os partidos políticos vencedores das próximas eleições legislativas.


* Professor Universitário e Secretário-Geral do Partido Socialista de Timor (PST)

M. Azancot de Menezes, Díli – também colabora no Página Global

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