Com uma conferência de José Manuel Mendes
A memória e o futuro foi o mote da celebração do 25 de Abril em Cantanhede
 “25 de Abril, uma Memória no Futuro” foi o mote da conferência de José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores, na sessão solene comemorativa do 43.º aniversário do 25 de Abril. Na sua intervenção, o convidado de honra da cerimónia referiu que “se hoje olhamos para o regime com algumas inquietações, há algumas certezas que vale a pena revalidar”, nomeadamente “o facto de estarmos perante um pretérito que afirma o trinfo da ideia democrática, o trinfo da diversidade e do compromisso na construção de uma sociedade avessa a qualquer via autocrática”, consubstanciando “a rutura, não apenas na ordem formal do sistema político, mas também no modo como as pessoas e as comunidades passaram a viver o seu quotidiano e a encarar o futuro”.
Lembrando que a amizade com Carlos de Oliveira e Augusto Abelaira motivou a sua vinda a Cantanhede várias vezes antes do 25 de Abril, José Manuel Mendes assinalou o processo de desenvolvimento do concelho, “pela qualidade do que se fez, pela qualidade do que está em curso e pela confiança com que se perspetiva o futuro”. O professor universitário e escritor referiu-se a Cantanhede como “paradigma de uma realidade marcada pela ruralidade que evoluiu para as dimensões mais avançadas da investigação científica, da tecnologia e da efetivação daquilo que vai transmudando positivamente o mundo”.
Segundo o académico, “esta realidade verdadeiramente invulgar acentua uma das dimensões essenciais do regime de Abril, o poder local”, que sendo “a inscrição de uma democraticidade profunda, é também uma das formas mais radicais de cumprir os melhores propósitos de um regime aberto à realização da vontade do povo e à efetivação dos seus anseios”. Por isso, “é importante que nesta celebração sejamos capazes de incluir tudo aquilo que é projetivo, tudo quanto está na ordem da conceção, da elaboração, do sonho ou, até, da utopia”, sublinhou.
A afirmação do poder local foi também um dos aspetos abordados pelo presidente da Câmara Municipal, que destacou a propósito “o papel das autarquias e dos autarcas na consolidação do regime democrático e no desenvolvimento do País, não obstante os obstáculos de ordem jurídica e administrativa ou as limitações financeiras num contexto de aumento significativo de competências transferidas pela administração central”.
Depois de referir que “há muitas e boas razões para considerarmos que o desígnio de progresso e desenvolvimento tem tido expressão cabal no concelho de Cantanhede”, João Moura enalteceu “todos aqueles que, em diferentes períodos, alguns bem difíceis, souberam dar resposta às expectativas da população, ultrapassando os constrangimentos e cumprindo a missão para que foram eleitos, o que merece um voto de reconhecimento público aos autarcas que na Câmara Municipal, na Assembleia Municipal ou nas Juntas e Assembleias de Freguesia de algum modo contribuíram para a valorização dos padrões de qualidade de vida nas nossas comunidades”.
O líder do executivo camarário manifestou ainda “reconhecimento público aos funcionários da autarquia, que não só souberam interpretar corretamente o alcance e a importância dos grandes desafios que o Município tem abraçado, como atuaram sempre em prol do interesse coletivo dedicando o melhor do seu esforço na prossecução dos objetivos enunciados”.
Perante uma assistência que incluía a vice-presidente da Câmara Municipal, Helena Teodósio, os vereadores Pedro Cardoso, Júlio de Oliveira, Célia Simões e Madalena Cardetas, bem como presidentes de junta e outros autarcas, no decurso da cerimónia discursaram ainda o presidente da Assembleia Municipal, José Maria Maia Gomes, e os representantes das forças políticas que integram o órgão deliberativo do município, designadamente Maria Manuel Fael, pelo PSD, e Armanda Gavião, pelo PS.

Município distinguiu mérito cultural
das filarmónicas de Ançã, Covões e Pocariça com apoio financeiro
Outro momento alto da sessão solene comemorativa do 43.º aniversário do 25 de Abril foi a entrega do diploma de mérito cultural às bandas filarmónicas de Ançã, Covões e Pocariça, que receberam a distinção juntamente com o Livro de Ouro da Cidade de Cantanhede e o apoio pecuniário de 5.000 euros atribuído pela Câmara Municipal a cada uma das instituições.
Na ocasião, o líder do executivo camarário referiu-se à “notável atividade das escolas de música das três bandas centenárias, autênticas academias de ensino artístico que têm formado sucessivas gerações de jovens instrumentistas”, e enfatizou “a sua assinalável ação pedagógica no ensino da música e na formação de públicos, sem esquecer o seu papel de embaixadores culturais do concelho de Cantanhede nas suas atuações um pouco por todo o país e, por vezes, também no estrangeiro”.
Segundo João Moura “as filarmónicas de Ançã, Covões e Pocariça demonstram ser entidades inequivocamente comprometidas com a promoção dos bens e valores da cultura, o que de resto justifica os apoios que a Câmara Municipal de Cantanhede lhes tem vindo a conceder. É isso que fazemos mais uma vez, no que é, seguramente, também uma boa forma de comemorar o 25 de Abril”, concluiu.

Tributo a Jaime Cortesão em Ançã
No final da cerimónia, os representantes dos órgãos autárquicos e alguns convidados deslocaram-se a Ançã, para um tributo a Jaime Cortesão, grande defensor da democracia e da liberdade. Na ocasião o presidente da Câmara Municipal, João Moura, e o presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Manuel Mendes, procederam à deposição de uma coroa de flores junto ao busto do escritor e proeminente figura da cultura. O ato simbólico foi ainda assinalado com a leitura do poema Ode à Liberdade, de Jaime Cortesão, e com a interpretação de algumas peças musicais pela Phylarmonica Ançanense.
 
Pelo Coro dos Antigos Orfeonistas
Concerto de homenagem a José Afonso

O programa das comemorações do 43.º Aniversário do 25 de Abril começou na noite de véspera do Dia da Liberdade, com um concerto de Homenagem a José Afonso, pelo Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra.
Centenas de pessoas assistiram no salão dos Bombeiro Voluntários a um memorável espetáculo que incidiu na interpretação de alguns dos temas mais emblemáticos do autor de “Grândola Vila Morena”, um dos hinos da revolução de 1974.
O concerto foi promovido pela Câmara Municipal para comemorar o 25 de Abril, assinalando também o 30.º aniversário da morte de José Afonso, invocando o seu legado cultural e artístico indissociavelmente ligado aos valores da liberdade, da democracia e da justiça social.