segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Em Angola, é hora dos kotas

Luaty Beirão, ícone recente da contestação ao Governo de Angola, é um kota (palavra dos dialecto quimbundo que significa o mais velho, ao qual se deve respeito e é atribuída sabedoria) na abordagem à realidade do seu país.
Celso  Filipe
05 de Dezembro de 2016 às 00:01

Luaty Beirão, em entrevista ao Negócios, reconhece que alguma coisa vai mudar com a saída do poder de José Eduardo dos Santos, mas avisa que seria trágico se o presidente do país e do MPLA não saísse pelo seu próprio pé. Esta ponderação é crucial para o futuro de Angola e a única forma de evitar o surgimento de um clima de instabilidade no país.

Para o bem ou para o mal, conforme os pontos de vista, José Eduardo dos Santos constituiu-se, ao longo de quase quatro décadas, como a trave mestra do edifício do poder angolano. E se esta trave mestra for substituída pelo nada o colapso será inevitável.


Neste contexto, a saída de José Eduardo dos Santos é apenas o início de um processo ao longo do qual devem ser refreadas as tentações de o apressar. A necessidade de mudança tem de ser entendida e assimilada no interior do poder para poder ser consequente e efectiva.


É este o desafio que se coloca a João Lourenço enquanto sucessor de José Eduardo dos Santos. O de ir rompendo com o status que que controla os centros de decisão, demasiadas vezes de forma arbitrária, substituindo-o por uma governação que aposte na criação de riqueza no país e na sua justa distribuição. Não por pressões externas, mas por exigência da própria sociedade angolana.


A retirada anunciada de José Eduardo dos Santos da vida política activa é o princípio de qualquer coisa. É certo que essa coisa será diferente, mas não em que sentido.


O legado que deixa é contraditório. Foi capaz de fazer a paz e sarar as feridas resultantes de uma guerra civil dolorosa e iniciou uma gigantesca tarefa de reconstrução do país, mas não travou a ganância que se disseminou pelos corredores do poder.


Nesta nova fase, Angola vai precisar de muitos kotas, novos e velhos, que tenham a sabedoria de gerir a mudança e partilhem a ambição de construir uma sociedade mais justa.

Fonte:jornaldenegocios

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