segunda-feira, 22 de março de 2021

Em defesa da virilidade

 

  • Plinio Maria Solimeo

Hoje em dia infelizmente o homem está perdendo muito de sua virilidade. É grande o número, principalmente entre os jovens, dos que se enfeitam com adornos próprios a mulheres, e se portam de uma maneira que se diria mais feminina que masculina. O mau exemplo para eles vem quase sempre de artistas que frequentemente se apresentam como seres andrógenos, cabelos longos, rostos bizarramente pintados, brincos nas orelhas, maquiagem excessiva, roupa unissex, e jeitos e trejeitos mais próprios a mulheres.

Além disso, com a funesta ideologia de gênero defendendo que a criança deve poder escolher seu próprio sexo e a facilidade e profusão das operações para mudança de sexo, é muito grande a pressão em favor de se reconhecer um “terceiro sexo” trans, nem masculino nem feminino.

Por outro lado, o que aumenta a crise da masculinidade que afeta os homens é que, além de um efeminamento acentuado nas maneiras e modos de ser, muitos deles se portam como se fossem eternas crianças.

São Paulo já escrevia aos coríntios: “Quando eu era pequenino, costumava falar como pequenino, pensar como pequenino, raciocinar como pequenino; mas agora que me tornei homem, eliminei as características de pequenino” (1 Co 13,11). Isto é, deixei as atitudes próprias da infância por outras maduras no modo de pensar, falar e agir, e no enfrentamento da vida como ela é. 

Pode-se dizer que essa crise na masculinidade tem muito de planejada, como afirma com propriedade o jornalista Felipe Marques, da Associação São Próspero, em lúcida análise. Segundo ele, com a Escola de Frankfurt foi criado por marxistas um mecanismo na área da psicologia, “com vistas a melhor aplicar o marxismo na cultura e, então, facilitar a destruição dessa mesma cultura desde o seu núcleo, sem que os cidadãos se apercebessem do processo”.

Declara Marques que

“A masculinidade é um dos principais alvos desses ataques de subversão, porque justamente o homem foi constituído para o combate e para doar sua vida pelos outros. Longe dessa realidade, o homem se torna um ser egoísta e autoritário que visa somente seu bem-estar e sua busca por prazer, esquecendo-se da justiça e da sua vocação magna ao sacrifício. Dessa forma, com uma masculinidade frouxa e pusilânime, os tiranos conseguem solapar os direitos da civilização, abusam das mulheres e crianças e colocam-se no lugar de Deus”.

O jornalista apresenta então como deve ser verdadeiramente um varão católico:

“Para ser homem católico, é necessário amar a Deus, amar a Verdade e configurar-se em tudo a Deus. Isso pode ser feito na doação diária de si mesmo para o bem dos mais fracos, para o bem das mulheres e crianças, para o bem da sociedade, e para o bem da Santa Madre Igreja. Enamorados pela Verdade, os homens são capazes de saírem de si mesmos e irem em busca do outro, rejeitando toda espécie de abuso, toda espécie de egoísmo, utilitarismo e vaidade. […] Ser homem, enfim, é estar disposto a derramar o próprio sangue pela Santa Igreja Católica e para que outros vivam pois, se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer produz muito fruto (São João 12, 24). Quer dizer, Deus deseja levantar verdadeiros homens que não tenham medo de viver a partir dos valores evangélicos, e que abracem uma vida de santidade”.1

O Apóstolo dos Gentios [quadro ao lado] dá também algumas das características próprias do varão católico: primeiro, deve ser respeitoso, amando o próximo com caridade fraterna (Ro 2,10); não buscando o bem próprio, mas o do próximo (1 Co 10,24); suportando o peso de seu próprio fardo (Gl 6,5). E, segundo o livro dos Provérbios, sendo pacientes, pois “o paciente vale mais que o herói; é o que domina o seu ânimo” (16,32), suportando a velhice com altanaria, porque “a velhice é uma coroa de glória, a qual se encontra nos caminhos da justiça” (id. 31).

Esse problema da crise da virilidade no homem, sobretudo do católico, tem preocupado algumas autoridades eclesiásticas. Por exemplo D. Thomas J. Olmsted [foto abaixo], bispo da cidade de Phoenix, Arizona, nos Estados Unidos, como aponta Fernando de Navascués em Religion en Libertad. Um dos desafios que esse bispo enfrenta, e que expôs em uma exortação pastoral intitulada “Na ‘Brecha”, segundo Navascués, “é [sobre] o desaparecimento do homem no seio da família, seja porque os filhos nascem fora do matrimônio, seja porque abandonou suas responsabilidades como esposo e pai. Para o bispo do Arizona, nunca se viu uma crise como a atual na hora do homem viver sua masculinidade, quer dizer, seu compromisso matrimonial e sua paternidade, sua liderança na família, sua obrigação de ouvir o coração de sua mulher e de seus filhos, bem como sua capacidade de sacrifício pessoal para levar adiante sua família”.

Com efeito, em sua exortação pastoral, D. Olmsted afirma que os varões católicos “não duvidem em entrar na batalha que se luta ao seu redor, a batalha que está ferindo nossas crianças e famílias, a batalha que está distorcendo a dignidade tanto de homens quanto de mulheres. Essa batalha habitualmente está oculta, mas é muito real. Essa batalha é primordialmente espiritual, e está matando progressivamente o que resta do caráter cristão de nossa sociedade e cultura, inclusive em nossos próprios lares”.

Segundo o Prelado, tal batalha provocou, desde o ano 2000 até o 2016 (ano em que foi escrita sua exortação) que 14 milhões de católicos deixassem a Igreja (cremos que só nos Estados Unidos), e que os casamentos religiosos caíssem 41% e os batismos das crianças 28%.

Qual a causa disso? Responde D. Olmsted: “Uma das razões chaves pelas quais a Igreja está vacilando sob os ataques de Satanás, é porque muitos homens católicos não têm estado dispostos a ‘se manterem firmes na brecha’, deixando esse espaço aberto e vulnerável ao ataque. Um terço deixou a fé, e muitos dos que ainda são ‘católicos’ praticam a fé com timidez e com um compromisso mínimo de transmitir a fé a seus filhos”.

A ideologia de gênero e a propagação da mania de “mudança de sexo” criaram muita confusão em nossos dias, pondo em dúvida a própria masculinidade. Pelo que diz D. Olmsted, “isso que pareceria óbvio [a virilidade do homem], em nosso mundo há muitas imagens distorcidas e evidência de confusão sobre o que é a masculinidade verdadeira. Podemos dizer com certeza que, pela primeira vez na História, as pessoas estão confusas ou são tão arrogantes para agora determinar sua própria masculinidade ou feminilidade”.

D. Olmsted fala também do papel do homem no matrimônio, como esposo e como pai. “Em nossos dias, esse compromisso é visto habitualmente como a eleição de algo convencional, inclusive aborrecido; algo que limita a liberdade ou ameaça o amor. Nada poderia estar mais longe da verdade!” E acrescenta: “Homens! Essa é a glória! Chamados ao matrimônio, vocês são chamados a ser Cristo para suas esposas. Devido a que esse amor os une sacramentalmente ao amor infinito que Cristo tem a cada um, seu matrimônio sacramental se sobrepõe aos limites do matrimônio natural, e alcança o infinito e eterno caráter a que todo amor aspira”. E conclui: “Homens, sua presença e missão na família é insubstituível; despertem, e com amor retomem seu lugar, dado por Deus, como protetores, provedores e líderes espirituais de seu lar”.

Para Navascués, de Religión en Libertad, interpretando provavelmente D. Olmsted, “se um homem quiser perseverar nesta luta por sua masculinidade, deve viver os seguintes passos: 1) Rezar todos os dias (“sem oração o homem é como um soldado sem comida, água ou munição!)”; 2) Examinar sua consciência antes de dormir e rezar o ato de contrição; 3) Ir à Missa, ao menos aos domingos e dias de festa; 4); Ler a Sagrada Escritura ou outro livro de piedade; 5) Santificar as festas; 6) Confessar-se e comungar; 7) Estabelecer vínculos de amizade com outros homens católicos.

“Como são seus amigos? Tem amigos com quem compartilhar a missão de santidade?” “Uma renovada masculinidade não será possível sem que os homens primeiro se unam como irmãos e verdadeiros amigos”.

Como não poderia deixar de ser, o bispo de Phoenix apresenta como modelo para os homens o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo: “Aqui está a masculinidade em sua totalidade; todo católico deve estar preparado para manter-se firme na brecha, entrar em combate espiritual, defender a mulher, as crianças e demais contra a adversidade e ciladas do demônio”.2

*   *   *

Entretanto, há também reação, da parte dos leigos, contra essa tendência malsã, conforme relata J. Lozano no mesmo site Religión en Libertad“Durante os últimos anos, estão se multiplicando na Igreja os grupos de evangelização e de formação só para homens, nos quais se reivindica a masculinidade para que os varões reencontrem seu lugar na sociedade, no seio da família, e na própria Igreja”.

Lozano explica: “Na Espanha teve uma grande acolhida o ‘Projeto São José para a evangelização’ e formação de homens, organizado pela Arquidiocese de Toledo”.

O Pe. Miguel Garrigós, delegado diocesano da Família e Vida de Toledo, explicou que, com esse Projeto, “queremos ajudar a aprofundar na comum dignidade essencial entre homem e mulher, e na diferença existente querida por Deus desde a Criação, para a complementaridade. Diante das mudanças que se têm produzido nos últimos tempos, parece-nos particularmente necessário ajudar os homens a encontrar seu lugar nesta sociedade e também no seio da família”. E acrescentou: “Com este projeto queremos propor uma reflexão profunda sobre a masculinidade, que pode ajudar os homens de qualquer estado. A influência da ideologia de gênero é tão grande, que nos afeta a todos, e pode criar desorientação em muitos”.3

O projeto reuniu neste ano cerca de 200 homens para “aprofundar à luz de São José, a vocação e a missão que Deus confiou ao varão”. Emílio Boronat, professor na Universidade Abat Oliva, de Barcelona, “fez uma conferência sobre a masculinidade. Começou sua dissertação analisando as raízes da teoria de gênero, para passar depois a mostrar de maneira profunda como os homens devem alcançar sua plenitude vivendo as virtudes teologais e cardeais”.

Depois da conferência e das perguntas, houve uma Adoração ao Santíssimo Sacramento. Diz um dos presentes: “Foi comovedor contemplar esse grupo tão numeroso de homens [200!], prostrados aos pés de Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro”.

O encontro terminou com um jantar de confraternização nos salões paroquiais.4

Esse movimento de homens procurando reafirmar sua varonilidade também se alastrou em outros países, sobretudo nos Estados Unidos, onde em muito grupos, inclusive paroquiais, “os homens se juntam em um ambiente cristão para falar não só da fé, mas também realizar atividades nas quais Deus é o imã que os une”.

Temos um exemplo na paróquia de Santa Rita, em Alexandria, na Virginia, “onde o grupo de homens está realizando uma série de chamativas atividades na Quaresma, pelas quais se poderia facilmente chamá-los de ‘guerreiros espirituais’”.

Esse grupo põe seu foco na oração, no ascetismo e na fraternidade, baseando-se numa interpretação mais ou menos livre do programa Êxodo 90 de exercícios espirituais. Esse Êxodo 90 é um programa também só para homens católicos, de noventa dias de duração. Entre outras coisas, diz o programa: “Não podemos dizer ‘Sim’ a Deus, e aceitá-Lo em nossas vidas, até que digamos ‘Não’ às comodidades mundanas. Retornarás à ancestral — e por muito tempo esquecida — tradição da Igreja do ascetismo”. Pelo que, durante os três meses desse programa, muitas práticas ascéticas são utilizadas.

Os promotores desse movimento na paróquia de Santa Rita, visando facilitar aos homens um crescimento espiritual na Quaresma, tomaram como base sobretudo as palavras de Bento XVI: “O mundo te oferece consolo, mas não fostes feito para a comodidade. Fostes feito para a grandeza”.

Nesse sentido, foi pedido aos participantes desse grupo paroquial para escolherem cinco práticas ascéticas que desejassem fazer durante a Quaresma. As cinco de nove que escolheram, iam desde duchas de água fria ou com uma temperatura que não fosse superior à do ambiente, até exercícios físicos, como fazer uma caminhada levando nas costas uma mochila de pedras pesando 20 quilos; diminuir a hora do sono regular, abster de álcool, das redes sociais ou dos dispositivos eletrônicos. Explica um dos organizadores: “Estamos dando um passo atrás às comodidades deste mundo, e dizendo: ‘não acontecerá nada se eu não tomar uma cerveja ou não usar ducha quente esta noite’, porque ‘isso não determina quem somos’”.

Para terminar, citamos as palavras do jovem beato Pier Giorgio Frassati: “Viver sem fé, sem um patrimônio que defender, sem uma luta estável pela verdade, não é viver, é [apenas] existir”.

ABIM

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Notas:

1.https://www.ofielcatolico.com.br/2006/02/confortare-esto-vir-seja-homem.html 2.https://www.religionenlibertad.com/vida_familia/58990/obispo-los-hombres-deben-descubrir-identidad.html

3.https://www.religionenlibertad.com/nueva_evangelizacion/60503/exito-total-del-proyecto-san-jose-evangelizacion-hombres-.html

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