quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Duplo xeque a Costa: Marcelo virou a coabitação, a ministra exigiu-lhe sair

P
 
 
Enquanto Dormia
 
David Dinis, Director
 
Viva, bom dia!
Começamos pelas notícias da madrugada?  

Os rohingya são alvo de crimes contra a humanidade, acusou a Amnistia Internacional, num relatório em que acusa as forças de segurança da Birmânia deuma longa e triste lista de crimes "organizados": deportação e deslocamentos forçados, tortura, violação e outros tipos de violência sexual.
A detenção de dois independentistas deu oxigénio aos protestos. Em Barcelona e noutras cidades catalãs foram muitos milhares para as ruas, exigir a libertação dos líderes da ANC e do Òmnium, acusados de "sedição" pelo Estado espanhol. E a declaração de independência parece ter ficado mais perto, explica a Sofia Lorena.
Xi Jinping prometeu a vitória do "socialismo". Na abertura do congresso do Partido Comunista Chinês, o Presidente falou dos sucessos do país, mas alertou que há muitos desafios pela frente. O objectivo? "Construir uma sociedade moderadamente próspera em todas as frentes". Moderadamente, conta a CNBC 
Sem ponta de moderação, George Saunders ganhou o Booker com um livro a desafiar as regras do romance. A Isabel Lucas diz que Lincoln no Bardo, o livro premiado, "conta a dor e o absurdo da morte a partir de um dos maiores símbolos do país: Abraham Lincoln". E deixa-nos o desafio: "Decida se quer entrar neste mundo".
Na Champions, o FC Porto não teve energia para o Leipzig - e perdeu pela segunda vez. E com Casillas no banco, a dúvida é se Sérgio Conceição não ganhou dois problemas também. O Jorge Miguel Matias explica porquê.  

O que marca o dia

Marcelo fez um xeque a Costa - e, mais do que o dia, isso pode marcar o resto da legislatura. Num discurso em Oliveira do Hospital, o concelho onde morreram mais pessoas neste domingo, o Presidente foi a antítese do que tinha sido o primeiro-ministro 24 horas antes e foi muito claro no ultimato: quer uma remodelação; exige mudanças efectivas de política no combate aos fogos; e diz que cabe à esquerda decidir se mantém apoio ao Governo - na moção de censura do CDS. A Liliana Valente faz a leitura do discurso mais marcante deste Presidente, ponto a ponto.
O discurso teve consequência imediata: a ministra da Administração Interna demitiu-se esta manhã. Mas esta não é uma demissão normal: na carta que foi tornada pública, Constança não pede a demissão, exige-a a Costa, "em nome da dignidade pessoal". E lembra que "insistentemente" lhe vem pedindo a demissão desde a tragédia de Pedrógão. Xeque a Costa, outra vez.
As reacções ainda são parcas. O PCP e PEV fizeram uma nota à imprensa, após a declaração de Marcelo, sinalizando que não vão abandonar o Governo. Mas sobre a demissão ainda nada disseram.
Mas o pano de fundo é de tensãoas ondas de choque dos incêndios já atingem Costa. Se neste link pode ler Ana Gomes, João Soares, Adão e Silva e João Soares, assim como o que se diz nos bastidores do Governo e em "on" no Bloco, também deve ler o alerta que Manuel Alegre deixa no DN de hoje ("desleixo, incompetência e amiguismos"). A verdade é que o discurso de segunda-feira não caiu bem: foi a gota de água para Cristas se lançar na primeira censura a Costa, agora validada pelo Presidente (a 23ª da nossa história); e foi também o mote para uns milhares irem para Belém pedir consequências. Ontem, o primeiro-ministro voltou à estrada e começou a sinalizar mudanças. A tempo?
A verdade é que já se contaram 41 mortos. Repito, 41. A verdade é que constrói-se por todo o lado - e isso também nos está a matar, como explica a Ana Fernandes. A verdade é que o coração de Leiria ardeu e o Pinhal está reduzido a cinzas, como mostra o nosso Adriano Miranda. A verdade é que “o inferno não deve ser assim”, como diz o título triste da reportagem que por lá fizeram a Patrícia Carvalho e o Adriano. Agora, o fogo já se foi e luta-se por recuperar o muito que as chamas levaram.
Sobre tudo isto, hoje escrevem por aqui o Manuel Carvalho ("isto não tinha que ser assim, sr. primeiro-ministro"), o Amílcar Correia no Editorial ("O Estado não é para todos"), mas também Francisco Louçã ("Venha um superministério para combater o fogo") e Rui Tavares (temendo "que não aprendamos à segunda tragédia"). Vai ser difícil, isso vai. 
Só umas linhas para, se quiser, olhar para outras notícias:
A Operação Marquês chegou ao Governo de Passos. O Ministério Público fala em corrupção e prevaricação quanto ao projecto do TGV e aponta um nome, o do secretário de Estado Sérgio Monteiro. O ex-governante garante que tudo foi feito de forma transparente. Para ler aqui. E neste outro texto, onde se contam os novos 14 casos em investigação.
A ERC empurrou a venda da TVI para a Concorrência. Carlos Magno votou a favor da operação, rejeitada pelos serviços jurídicos. Não houve acordo, nem sugestão de remédios. A Altice conseguiu uma primeira vitória.
O Estado assumiu-se como 2º maior accionista da Galp. Parpública ficou com 7,48% do capital e diz que as acções são para manter.
PS admite excepções ao direito dos trabalhadores a “desligar do trabalho". Proposta do PS admite excepções “por razões imperiosas do funcionamento da empresa”. BE, Verdes e PAN propõem algo diferente. A discussão promete.

Uma pausa para ler... 

Outras boas leituras do PÚBLICO, porque o mundo tem outros motivos de :
1. Quantas coroas cabem na cabeça de Xi Jinping? Na Cidade Proibida só o imperador tinha poder para decidir quem entrava ou saía. Por estes dias, a capital chinesa volta a ser fechada e altamente vigiada por ordens superiores. Mas o poder emana agora do Grande Salão do Povo, não muito longe do palácio imperial, onde durante os próximos dias se reúne o 19.º Congresso do Partido Comunista Chinês. O maior partido do planeta, com 89 milhões de militantes, vai agora reforçar o poder de Xi. A dúvida é o que vai o líder chinês fazer com ele. O texto é do João Ruela Ribeiro, que também nos dá a conhecer o sucessor e o braço direito (um dia vamos precisar de saber quem são).
2. Dentro do Gulag, "Tudo se passou exactamente assim". Um livro contra um império. O Arquipélago Gulag teve este ano uma nova e cuidada edição em português. A memória dos campos de trabalho e morte, ainda hoje um território de confronto na Rússia de Putin, a terra dos oligarcas. Por coincidência ou não, no centésimo aniversário da revolução russa. É o mote para o ensaio do António Araújo(que é, acredite, absolutamente indispensável).
3. David Fincher de volta: nem todos os serial killers gostam de ópera. Os métodos de Hannibal Lecter são o ponto de partida de Mindhunter, uma série de dez episódios produzida por David Fincher e que estreou nesta sexta-feira no serviço de streaming Netflix. Não é uma série de “caça ao homem”, ou, pelo menos, não é esse o foco. É sobretudo uma caça à compreensão da psicopatia dos assassinos em série. O Marco Vaza antecipa-nos a série, sem desvendar o mistério.
4. Pode o nosso único teatro de ópera ser popular? Mais de 20 anos depois, o São Carlos saiu do palácio e volta aos coliseus. A Turandot testa uma nova estratégia, apontada às grandes salas de espectáculos, com uma obra que parece feita à medida: começa como uma fortaleza e abre-se com o amor. Chegará para conquistar o público, Isabel Salema?

Agenda do dia

Os 41 mortos dos incêndios de domingo, a censura do CDS e o aviso de Marcelo são um mote explosivo para o debate quinzenal desta tarde, na Assembleia. Mas são também o mote para as audiências do Presidente ao CDS e PCP, esta manhã. Pelo meio, António Costa recebe a Associação das Vítimas de Pedrógão e três ministros vão para os concelhos mais atingidos.
Menos pesado é o outro tema do dia: a conclusão da venda do Novo Banco ao Lone Star, oficializada às 11h30, no Banco de Portugal. E menos pesado, esperamos nós, será o resultado dos dois jogos da Champions onde vamos ter os olhos postos: o Benfica-Manchester e o Juventus-Sporting. Vá, acredite: com um pouco de fé, tudo se consegue.
Não acredita? Digo-lhe só mais isto: se é possível fazer fotografia de viagem sem sair de casa, nada é impossível.
Despeço-me agora, na certeza de que nos acompanhará na viagem pelas 24 horas que se seguem. Como já percebeu, elas prometem ser ricas... em informação. 
Dia produtivo, de sorriso aberto.
Até já!

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