terça-feira, 10 de julho de 2018

Eu, Psicóloga | App dá recompensas para estudantes ficarem longe do celular





Um aplicativo que recompensa estudantes pelo tempo que eles ficam longe do celular está sendo lançado no Reino Unido. Chamado de Hold, foi desenvolvido por três estudantes que se conheceram na Copenhagen Business School e quiseram desenvolver algo para ajudar a combater o problema da distração provocada pelo celular.

O app, que já conquistou mais de 120 mil usuários na Noruega, Dinamarca e Suécia, será oficialmente lançado em 170 universidades do Reino Unido. Gratuito, ele funciona tanto em Android como em iOS.

Os estudantes acumulam 10 pontos para cada 20 minutos sem usar o telefone, entre 7:00 e 23:00, em dias úteis. Os pontos podem ser trocados por produtos e serviços em uma loja do próprio app. Entre as marcas ofertadas estão a Amazon, uma rede de cinemas e uma cafeteria.

Para ganhar dois cafés, os estudantes precisam de 300 pontos - obtidos em 10 horas no aplicativo. Para pipoca no cinema, são 60 pontos - ou duas horas sem o celular. Também é possível trocar os pontos por livros e objetos de papelaria, que foram doados através da Unicef.

Especialistas estão cada vez mais preocupados com a distração provocada pelo celular. De acordo com um estudo de 2017 da Universidade do Texas, o simples fato de ter um celular ao alcance do olho pode reduzir a produtividade, desacelerar a velocidade de respostas e diminuir as notas escolares.

Outro estudo, da London School of Economics, apontou que estudantes que não usaram seus smartphones na escola tiveram um aumento de 6,4% nas notas das provas.

Saúde mental

A urgência de conferir uma notificação, mesmo em situações de risco, vem da sensação de compulsão em fazê-lo e isso tem afetado o funcionamento do cérebro humano. Ao ouvir o som da notificação de uma mensagem do WhatsApp, e-mail ou redes sociais, nosso cérebro libera dopamina, um hormônio que eleva o nível de excitação, dando uma sensação de recompensa positiva. No entanto, a expectativa de recompensa - "Quem mandou mensagem?", "Quem me marcou na foto?" - pode gerar uma descarga de dopamina ainda maior do que a recompensa em si.

"Os receptores de dopamina são os mesmos que transmitem a sensação de prazer pela comida, sexo, drogas e álcool", explica David Greenfield, professor de Psiquiatria da Universidade de Connecticut e fundador do CITA. "Esse sistema de recompensas é tão antigo em nós que, se não o tivéssemos, provavelmente não existiríamos como espécie", complementa.

Os altos níveis de dopamina durante a fase de expectativa fazem com que o acesso a outras partes do cérebro seja prejudicado, como o córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento de comportamentos, pensamentos e tomadas de decisões. Isso significa que a região responsável por ponderar um questionamento como "quão importante é isso? Vale a pena morrer por isso?" tem menos poder de julgamento.

Como nosso cérebro muitas vezes é "mais esperto" que nós, ele encontra jeitos de nos enganar. Todas as vezes que conferimos o telefone e nada de mau acontece em uma situação de risco, somos levados a pensar que é seguro continuar fazendo aquilo, reforçando positivamente. "Você pode até pensar 'sou bom com multitarefas', mas o problema surge quando algo perigoso surge inesperadamente e você não pode responder de forma apropriada, o que pode ser fatal", explica Despina Stavrinos, diretora do laboratório de pesquisa de direção da Universidade de Alabama em Birmingham.

Os criadores do app - Maths Mathisen, Florian Winder e Vinoth Vinaya - também experimentaram a distração por causa do celular.

"Eu tive a ideia do app quando era estudante. Eu sei o quão difícil é se concentrar nos estudos quando há a opção de trocar mensagens, entrar nas redes sociais ou jogar no celular. Com o Hold, nossa missão é limitar essa distração, recompensando os estudantes e dando um incentivo para eles se focarem", fala Mathisen.

"Um quarto dos estudantes na Noruega fizeram o download do Hold apenas três meses depois do lançamento. Isso mostra que os jovens estão preparados para mudar (de comportamento), deixando seus telefones de lado enquanto estudam."

Louise Theodosiou, psiquiatra no Hospital Infantil Royal Manchester, aprovou a iniciativa: "É positivo ver apps que reconhecem que os estudantes vão, invariavelmente, usar o telefone e oferecem uma solução real para balancear o uso da tecnologia. Nós sabemos que o bem estar pode ser aprimorado por meio do exercício e convivência com amigos e família".

"Recompensas relacionadas a viagens ou atividades sociais podem ser um incentivo para estudantes administrarem seu dinheiro. As mídias sociais são uma ferramenta que pode ser positiva ou negativa. Ajudar os jovens a aprender a estruturar como e quando eles usam (o telefone) pode ser uma ferramenta valiosa", completa Theodosiou.



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