Um estudo em 38 agrupamentos escolares em Portugal,
envolvendo 50 mil estudantes, conclui que há um "número elevado" de
participações disciplinares e que incidem mais no 3.º ciclo de ensino, durante
o 1.º período e à tarde.
"O número de participações disciplinares (ordem
de saída de sala de aula) é claramente elevada, são mais de 9 mil participações
em apenas 4,4% dos agrupamentos/escolas em Portugal, um universo de 50 mil
alunos, o que extrapolando para uma amostragem a 100%, levaria a um número
superior a 200 mil participações disciplinares num só ano", disse hoje à
Lusa Alexandre Henrique, autor do estudo do blogue ComRegras, com o apoio da
Associação Nacional de Diretores de Agrupamento e Escolas Públicas.
No estudo, a que a agência Lusa teve hoje acesso,
lê-se que é no 3.ºciclo (7.º. 8.º e 9.º anos) que ocorrem mais participações
disciplinares (63%), seguido do 2.º ciclo (5.º e 6.º anos) com 34,2% e o
secundário com 2,6%.
"É uma situação facilmente justificável [o 3.º
ciclo com mais participações], porque é quando os alunos entram naquela idade
da adolescência, têm uma necessidade muito grande de afirmação, em que já não
basta dizer não, chega e eles calam-se (...), surgem outros interesses
divergentes a nível escolar, como os amigos, fumar, as bebidas (...) e há
sempre mais dificuldades até para os pais e os professores não são
exceção", explica o autor principal do estudo
O 1.º período escolar (entre setembro e dezembro) é o
que apresenta mais participações disciplinares: 43%.
"É no 1.º período que existe uma adaptação dos
alunos aos métodos do professor e também do professor que se ajusta a uma nova
turma, a uma nova realidade (...), os alunos por vezes ficam numa nova turma e
têm de se ajustar, bem como o novo ano letivo e é sempre um período de adaptação",
explica Alexandre Henriques.
A altura do dia em que ocorrem mais participações
disciplinares é no período da tarde (38%), o que se pode explicar com a
"carga letiva elevada dos alunos", argumenta Alexandre Henriques
"Da parte da tarde os miúdos já tiveram uma séria
de aulas da parte da manhã logo é natural que surja algum cansaço e, se as
escolas não têm o cuidado de colocar as disciplinas mais práticas da parte da
tarde, o que acontece é que os alunos já saturados (...) de disciplinas muito teóricas,
é normal que comecem a fartar-se e a tentar conversar ou comecem a fazer algo
mais 'cativante'".
As participações disciplinares surgem na sequência de
"conversas paralelas entre alunos", "utilização de
telemóvel", "injúrias a colegas ou a professores" ou
"ameaças a professores".
As medidas aplicadas variam entre as corretivas (menos
graves) e as sancionatórias (mais gravosas e conhecidas pela suspensão da
escola).
No ano letivo passado, e apenas na amostra do estudo,
houve 4.554 medidas corretivas e só um terço dos estudantes (1.597) é que
cumpriram essas medidas corretivas.
Sobre as medidas sancionatórias foram realizadas 1.333
e os alunos a cumprir foram 847.
Entre os agrupamentos estudados, 14 pertencem a
Lisboa, cinco ao Porto, cinco a Viseu, quatro a Faro, dois a Beja, dois Leiria,
e um agrupamento/escola de Aveiro, um de Castelo Branco, outro de Coimbra,
Madeira, Portalegre, Setúbal.
O estudo propõe a criação de um sistema de
monitorização informática, que recolha os dados disciplinares de todas as
escolas portuguesas, assim como orientar as escolas de forma a existir uma
maior uniformidade na aplicação de medidas disciplinares.
"Atribuir um crédito horário às escolas,
especificamente para a abertura de Gabinetes Disciplinares, fundamentais para
uma política disciplinar de proximidade" ou "incluir na formação de
base de futuros docentes e não docentes uma componente teórico-prática de
gestão e mediação de conflitos" são outras propostas.
Fonte: Lusa
Nenhum comentário:
Postar um comentário