A arte e o fortalecimento das narrativas cosmológicas como reescritura histórica do Brasil
“Tupi ou não tupi, essa é questão” (“Tupy or not tupy, xukui purandusaua”), será o tema da conferência conduzida pelo artista indígena Denílson Baniwa, um artista “antropófago”, que se apropria de linguagens ocidentais para descolonizá-las. Um evento aberto ao público, organizado pela Escola das Artes, que se realiza a 22 de fevereiro, às 18h30, no Auditório Ilídio Pinho da Universidade Católica Portuguesa no Porto.
Na sua trajetória, Denílson Baniwa tem-se consolidado como uma referência artística ao abrir caminhos para a visibilidade das populações indígenas no território brasileiro, que é uma das características mais marcantes da sua obra. Em 2024, ao ser nomeado como representante oficial brasileiro na Bienal de Veneza de Artes Visuais, tornou-se no primeiro curador indígena da Bienal de Veneza.
Nascido no interior do Amazonas, em Barcelos, Denílson Baniwa pertence ao povo Baniwa. Atualmente, vive e trabalha em Niterói, no Rio de Janeiro. Como ativista realiza desde 2015 palestras, oficinas e cursos, atuando sobretudo nas regiões sul e sudeste do Brasil e, também, em Bahia. As suas obras transitam entre imagens que retratam a sua vivência até ao seu uso metafórico, onde se apropria de ícones ocidentais para comunicar a luta indígena. O seu discurso é assumidamente provocatório, de forma a estimular mais indígenas a integrarem-se na luta contra a colonização e a indigenização de todo sistema brasileiro, desde o educacional ao cultural. Os seus trabalhos tanto podem ser físicos, como telas, instalações, pinturas em murais e performances, mas também podem recorrer a meios menos palpáveis, como a tecnologia ou outros meios digitais.
"Não me defino como criador de ‘arte indígena’ ou artes ‘exclusivas à temática indígena’, mas o meu processo de criação tem sempre uma influência do universo em que nasci. Não sou um artista indígena, sou um artista de múltiplas perspetivas que nasceu indígena," assegura Denílson Baniwa.
“A arte é uma forma complexa e privilegiada de provocar reflexão e transformar consciências,” indica Nuno Crespo, diretor da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa.
De recordar que o tupi deixou de ser a língua mais falada no Brasil, sendo substituída pelo português. Contudo, a mesma continua presente no quotidiano dos brasileiros através de vários nomes tupis que se encontram na geografia brasileira e nas denominações de vários animais e plantas nativos do Brasil.
Esta conferência faz parte do ciclo “Não foi Cabral: revendo silêncios e omissões”, um programa com co-curadoria de Lilia Schwarcz (antropóloga e historiadora brasileira) e Nuno Crespo, que contempla uma agenda de concertos, conferências, exposições e performances, que vão decorrer entre 16 de fevereiro e 24 de maio. O ciclo é organizado pela Escola das Artes, em parceria com a Universidade de São Paulo (Brasil) e a Universidade de Princeton (EUA).
*Fernanda Teixeira
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