domingo, 6 de novembro de 2022

Quatro pessoas morreram após atropelamento intencional num casamento em Madrid. Um dos suspeitos é português

 
Quatro pessoas morreram e quatro estão em estado grave após um atropelamento intencional que se deu por uma luta que começou durante um casamento em Madrid, facto pelo qual três pessoas foram presas e uma quarta fugiu, informaram as autoridades neste domingo.
Durante a madrugada, em frente ao restaurante onde se celebrava o casamento de uma família cigana em Torrejón de Ardoz, na região de Madrid, começou uma luta. De seguida, "ocorreu um atropelamento intencional e as pessoas que estavam no veículo fugiram", explicou à AFP o porta-voz da Polícia Nacional.
"Ao chegarmos ao local, encontramos quatro mortos com fraturas múltiplas", informou Carlos Polo, chefe dos serviços de emergência de Madrid, a repórteres. O diário espanhol ABC adianta que se tratam de uma mulher de 70 anos, de dois homens de 60 e 40 anos e de um jovem de 17 anos.
Também "encontramos e atendemos quatro feridos graves que tiveram ferimentos na cabeça e fraturas nos membros inferiores" e que foram transferidos para hospitais da região, acrescentou Polo.
Três outras pessoas ficaram levemente feridas, disse à televisão pública o responsável pela segurança da câmara municipal de Torrejón de Ardoz, Juan José Crespo, especificando que nenhum dos sete feridos corre risco de morte.
O ABC noticia também que, uma hora depois, a 40 quilómetros do local do crime, a Guardia Civil deteve três suspeitos do crime: um português de 35 anos e dois menores espanhóis, de 17 e 16 anos, que serão filhos do adulto, em Seseña, perto de Toledo.
Foram detidos por circularem num Toyota Corolla com o para-brisas partido, sem para-choques dianteiro e com vestígios de sangue por todo o painel do veículo. Os ocupantes da viatura tiveram de abrir buracos no pára-brisas dianteiro, para poderem ver para a frente, e tinham milhares de euros em notas de 10, 20, 50 e 100 euros, escondidos debaixo do banco do condutor. As autoridades procuram ainda um sobrinho do adulto, que terá escapado a pé aquando da detenção.
Um quarto ocupante do veículo fugiu, suspeitando-se de que se trata de um sobrinho do português.
A polícia continua a investigar as circunstâncias exatas dos eventos que levaram ao atropelamento.

Fonte: MadreMedia/AFP
Imagem: CMTV

Porque hoje é... Domingo | “PREGAS O QUE PRATICAS, OU PRATICAS O QUE PREGAS?”

 

Caros amigos!

A ADASCA continua sem dar tréguas à sua missão, em prol da dádiva de sangue, fazendo tudo para sensibilizar os mais jovens a aderir à dádiva de sangue.

Temos tido algum êxito, mas, por vezes somos invadidos por ondas de desmotivação, até parece que estamos a trabalhar para uma causa perdida…

Pelo o que nos à dado observar, o presente modelo para dádiva de sangue vai cair no fundo. Nós “alertamos” os responsáveis do IPST. Alguns concordam com o que dizemos, outros encolhem os ombros ou ficam indiferentes. Na minha opinião existem diversas causas que contribuem para tudo o que assistimos. É melhor manter o doente com as doenças todas, do que curá-lo de vez...

As associações de dadores de sangue em vez de estarem unidas, são ferozes inimigas umas das outras, por interesses mesquinhos, bizarros, que não têm ponta por se lhe pegue.

Gosto desta máxima: PREGAS O QUE PRATICAS, OU PRATICAS O QUE PREGAS?”. A um dirigente associativo assiste-lhe a responsabilidade de ser um exemplo pela positiva. Existem poucos, e esses tais vão segurando as rédeas…

Estamos a viver uma crise de valores em todas as áreas do associativismo. As pessoas não querem comprometer-se com nada. Essa coisa de “por amor à camisola” acabou. Os jovens não vêem futuro para se integrarem nos órgãos sociais nas associações. Os mais “velhos” é que vão segurando o barco, até um dia…

Tudo isto deixa-me profundamente triste e preocupado!!!

Para onde o nosso País está a ser conduzido? Os governantes não nos dão ouvidos, querem lá saber de assuntos que pertencem às comunidades locais. Contudo, apertam o cerco com mais obrigações vs deveres. É lamentável.

Em vez de nos ajudarem só complicam com regulamentos, mais regulamentos, papéis e mais papéis, muitas das vezes, sujeitos a apreciações por pessoas sem experiência administrativa. Tudo isto tira-nos do sério, e vontade de abandonar tudo não falta. Como é que o mundo pode ser melhor, se os obstáculos que nos são levantados, são cada vez maiores?

É a típica cultura portuguesa: desenrascar!

Joaquim Carlos

Director

http://litoralcentro-comunicacaoeimagem.pt/

Inauguraram há 50 anos o primeiro liceu público do concelho, Ex-alunos do Liceu de Cantanhede recebidos por Helena Teodósio

Cerca de uma centena de ex-alunos do Liceu de Cantanhede reuniram este sábado, 5 de novembro, em Cantanhede, num encontro marcado pela emoção e no qual também participaram 3 antigas professoras.

Foi em 1972, há precisamente 50 anos, que estes alunos “inauguraram” o primeiro liceu público de Cantanhede, nas antigas instalações do Colégio Infante de Sagres, onde, atualmente, funciona a Escola Técnico Profissional.

António Lourenço, funcionário da empresa municipal INOVA, foi o mobilizador deste primeiro encontro, no qual marcaram presença ex-alunos radicados de norte a sul do país, entre médicos, empresários, músicos, professores universitários e quadros da Função Pública. Houve quem viajasse propositadamente da Suíça para participar no encontro, que passou também por uma visita à vila de Ançã.

A comitiva foi recebida nos Paços do Concelho pela presidente do Município, Helena Teodósio, que destacou o impacto que, à data, teve a abertura do primeiro liceu público em Cantanhede. “É um prazer receber-vos e ver esta manifestação de respeito pelo passado”, referiu a autarca, que depois fez uma pequena radiografia de um concelho “em fase de grande desenvolvimento”, com quatro zonas industriais com uma dinâmica assinalável.

Mas um concelho não pode viver apenas da atividade económica. A qualidade de vida, seja do ponto de vista ambiental, seja através de uma boa rede educativa, é determinante para a fixação de pessoas”, vincou.

Depois da receção nos Paços do Concelho, a comitiva seguiu para a vila de Ançã para uma visita guiada pela Rota do Bolo de Ançã, oferecida pela Junta de Freguesia. O almoço comemorativo realizou-se, depois, na Quinta da Sobreira.

Refira-se que o Liceu antecedeu a Escola Secundária de Cantanhede, constituída em 1975 e que atualmente funciona nas instalações da sede do Agrupamento de Escolas Lima-de-Faria.

www.adasca.pt



Bandeiras Verdes hasteadas no Município de Anadia

 O Município de Anadia e as 13 eco-escolas do concelho hastearam esta sexta-feira, 4 de novembro, as respetivas Bandeiras Verdes 2021-2022, atribuídas pela Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE). Estes galardões são o reconhecimento, por parte deste organismo, do trabalho que tem sido realizado, pela autarquia e pelos estabelecimentos de ensino, em prol de um desenvolvimento mais sustentável.

A Bandeira Verde ECO XXI foi hasteada pelo vereador da Câmara Municipal de Anadia, com o Pelouro do Ambiente, Lino Pintado, em frente aos Paços do Município, enquanto que as Bandeiras Verdes Eco-Escolas foram hasteadas nos respetivos estabelecimentos de ensino, pelos alunos e docentes que, durante o ano letivo, trabalharam o projeto.
Recorde-se que conquistaram o galardão Eco-Escola, os Centros Escolares das Avelãs, de Arcos, de Paredes do Bairro, de Sangalhos, de Tamengos, o Colégio Nossa Senhora da Assunção, a Escola Básica e Secundária de Anadia, a Escola EB de Vilarinho de Bairro, as Escolas EB1 da Moita, de Vila Nova de Monsarros, do Chãozinho/JI Amoreira da Gândara, da Poutena e o Jardim de Infância de Vilarinho do Bairro.
Para o vereador Lino Pintado, estas distinções “são um reconhecimento que certifica o trabalho realizado por todos os intervenientes e que nos incentiva a continuar o caminho traçado, na busca de soluções ambientalmente mais sustentáveis, por forma, a mitigar e a encarar com esperança os grandes desafios que a atualidade nos coloca”.
Desde 2015, que o Município de Anadia tem vindo a delinear um caminho de grande sustentabilidade, apostando em várias políticas ambientais e na promoção de boas práticas, o que se tem refletido na pontuação que tem vindo a obter, ao longo destes anos, por parte da ABAE.


Novo governo italiano fecha as portas a navios humanitários

 
Resgatados das águas do Mediterrâneo, são agora mais de mil os migrantes que aguardam chegar a um porto seguro. Mas o governo do país mais próximo, a Itália, não os quer receber. 
Alguns dos passageiros escreveram pedidos de ajuda nas redes sociais.

O novo executivo italiano acabou de validar um diploma que literalmente fecha as portas aos navios humanitários que os acolheram.
"Please help us" Some of the survivors on board have spoken out peacefully by writing messages in their respective languages.Their voices need to be heard.
Heavy rain and wind are expected very soon. #OceanViking is currently seeking shelter. Survivors need a safe place urgently pic.twitter.com/uVLuxUCeyO
— SOS MEDITERRANEE (@SOSMedIntl) November 4, 2022
Matteo Salvini, agora ministro das Infraestruturas, veio declarar que "finalmente, os italianos voltaram a proteger as fronteiras" e que "o novo decreto estabelece o princípio que impede barcos estrangeiros de trazer única e exclusivamente migrantes ilegais".
Alguns dos passageiros escreveram pedidos de ajuda nas redes sociais. Nalguns pode ler-se que as condições climatéricas estão a agravar-se e que "estes sobreviventes necessitam urgentemente de um local seguro".
O ministro italiano do Interior, Matteo Piantedosi, abriu a possibilidade de deixar entrar menores e casos de emergência médica. França e Alemanha anunciaram que podem também receber parte dos passageiros.

Euronews
Direitos de autor  VINCENZO CIRCOSTA/AFP

Por que razão engordamos?

 Os primeiros hominídeos evoluíram ao longo de milhões de anos alimentando-se do que a Natureza lhes dava: peixe, carne, ovos, bagas e partes aéreas das plantas. O desenvolvimento do cérebro humano terá sido favorecido por uma alimentação que fornecia essencialmente gorduras e proteínas extraídas dos animais que o homem primitivo caçava e pescava.
A introdução em 1977 das novas orientações alimentares para os americanos, baseadas numa dieta rica em carboidratos e pobre em gorduras, precisamente o oposto da alimentação que fizemos ao longo de milhões de anos, teve um efeito desastroso na nossa saúde. A obesidade, diabetes tipo 2, síndrome metabólica e cancro tem aumentado de forma galopante na população da maioria dos países ocidentais, atingindo valores nunca antes vistos.
De facto, é comum considerar que as gorduras saturadas são a principal causa de obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes, mas, na realidade, não há nenhum estudo que o comprove. Esta ideia de que as gorduras saturadas são o principal inimigo da nossa saúde cardíaca surgiu de um estudo realizado nos anos 50 do século XX sobre a relação entre o consumo de gorduras saturadas e a incidência de doenças cardiovasculares na população de dezenas de países. Todos acreditaram nas conclusões do autor desse estudo, Ancel Keys, e ninguém reparou que ele eliminara da sua estatística países como a Noruega e a Holanda, que, apesar de apresentarem consumos elevados de gorduras saturadas, tinham baixíssima incidência de problemas cardiovasculares. Por outro lado, eliminou também do estudo países como o Chile, que apesar de consumirem poucas gorduras saturadas tinham uma elevada incidência deste tipo de doenças. As conclusões, feitas à custa da manipulação dos resultados, ditaram as orientações nutricionais sobre as gorduras nas últimas décadas. Em particular, fizeram-nos temer as gorduras saturadas presentes nas carnes, lacticínios e ovos.
São numerosos os estudos que mostram que os carboidratos prejudicam mais a saúde do que as gorduras saturadas aumentando os níveis de açúcar e colesterol sanguíneo, e promovendo a diabetes tipo 2, as doenças cardiovasculares e o cancro. Tudo leva a crer que uma dieta bem formulada com baixo teor de carboidratos melhora a glicémia, o colesterol e os triglicerídeos do sangue e reduz os processos inflamatórios, evitando o recurso a medicação.
A Suécia foi o primeiro país ocidental a emitir orientações que rejeitam o dogma da dieta baixa em gorduras em favor da redução dos carboidratos e aumento das gorduras na alimentação. Essa mudança das orientações nutricionais seguiu-se à publicação de um estudo realizado pelo Conselho Sueco Independente de Avaliação das Tecnologias da Saúde, depois de rever 16.000 trabalhos científicos publicados até Maio de 2013. Daí resultou a proposta de uma nova pirâmide alimentar, recomendada desde 2013, onde os fornecedores de carboidratos como os cereais, tubérculos e leguminosas estão no topo e os legumes, com valores quase residuais deste macronutriente, são a base da alimentação.
Engordamos porque ingerimos demasiados carboidratos. Em vez de olharmos para os teores de gorduras dos alimentos, deveríamos antes olhar para o teor de açúcar e de outros carboidratos.
 
Ana Carvalhas (Nutricionista)

Guerra pode causar um ecocídio na Ucrânia

 O conflito armado na Ucrânia está a provocar elevados impactos ambientais, além dos humanitários e económicos, o que poderá conduzir a um ecocídio, ou seja, à destruição do ambiente natural por ação humana deliberada ou negligente. O alerta é dos investigadores Ronaldo Sousa e Janine Silva, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Escola de Ciências da Universidade do Minho, num artigo agora publicado na conceituada revista científica “Frontiers in Ecology and the Environment”.
Conflitos armados desta dimensão causam efeitos negativos na biodiversidade e nos ecossistemas. Na Ucrânia, os principais problemas são a possível contaminação dos habitats terrestres e aquáticos por derrames de petróleo e metais pesados, entre outros, fruto da destruição de zonas de armazenamento de combustíveis, infraestruturas de transporte e complexos industriais e urbanos, explica Ronaldo Sousa.
Por outro lado, várias espécies de peixes e mamíferos como o icónico bisonte europeu, com amplas distribuições geográficas e que estão ameaçados, podem ser fortemente prejudicados pela fragmentação do habitat e perda de concetividade causados pelo conflito, realça.
Outro problema prende-se com a deslocação de pessoas e o movimento de soldados e equipamentos militares, que podem ser responsáveis pela introdução de espécies não nativas. Segundo Ronaldo Sousa, os efeitos de longo prazo podem incluir igualmente o declínio nas populações de animais selvagens, através do aumento da caça ilegal, pesca e exploração de recursos naturais, a fragmentação de habitats devido à construção de muros ao longo das fronteiras, a presença de minas terrestres e a desflorestação.
A grande dificuldade na exportação de cereais, dos quais a Ucrânia é um grande produtor mundial, poderá ter impactos em países mais pobres e até distantes, levando a uma maior exploração de recursos noutros locais, vinca o também professor do Departamento de Biologia da UMinho.
 
UNESCO sem sistema de apoio à biodiversidade perante a guerra
 
A juntar a isto, foram tomadas muitas ações a nível político, financeiro e comercial para encerrar projetos de colaboração com organizações russas, interrompendo projetos científicos e com consequências diretas na conservação da biodiversidade ucraniana e russa. Finalmente, a Ucrânia opera 15 reatores nucleares e a Rússia possui um vasto arsenal, havendo por isso o risco de um desastre nuclear.
Com uma guerra “sem fim à vista”, os dois investigadores do CBMA consideram “importante chamar à atenção das pessoas sobre os danos irreversíveis aos ecossistemas, não esquecendo os humanitários”. A UNESCO tem implementado um sistema de ajuda para o património arquitetónico, quando este é destruído em contexto de conflito, mas o mesmo não acontece com a conservação da biodiversidade, concluem.
 
Universidade do Minho

Estudo indica que espaços verdes em zonas carenciadas do Porto são menos diversificados e pouco frequentados

 Um estudo realizado na cidade do Porto demonstrou que os espaços verdes localizados em zonas de maior privação socioeconómica e ambiental são menos diversificados e menos frequentados pelos cidadãos. Os resultados podem contribuir para um melhor planeamento urbano, adequado às necessidades dos utilizadores.
Este estudo, designado “Padrões de comportamento humano em espaços verdes urbanos públicos: sobre a influência dos perfis dos utilizadores, ambiente circundante e design do espaço”, e publicado na revista “Urban Forestry & Urban Greening”, foi desenvolvido por Diogo Guedes Vidal, investigador do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), centro coordenado pela catedrática Helena Freitas.
Tendo em conta a falta de informação sobre os comportamentos dos utilizadores nos espaços verdes do Porto, o trabalho –  desenvolvido no âmbito da tese de doutoramento em ecologia e saúde ambiental do investigador, realizada na Universidade Fernando Pessoa (Porto) –  visou identificar padrões de comportamento humano em quatro espaços verdes da cidade, «considerando o perfil dos utilizadores, a envolvente socioeconómica, o desenho e elementos humanos e não humanos presentes no espaço», procurando perceber se os «usos inscritos nos espaços verdes estão, de alguma forma, associados ao nível de privação socioeconómica da envolvente, se existem variações nos usos identificados ao longo do dia e como as diferentes características dos espaços verdes influenciam os comportamentos dos seus utilizadores».
Para tal, durante quatro meses, de agosto a novembro, foram mapeados os usos de 979 utilizadores e espacializados os seus comportamentos, quer em diferentes lugares dos espaços verdes em estudo, quer em diferentes momentos do dia, em três jardins públicos (Jardim da Corujeira, Jardim de Arca d’Água e Jardim João Chagas, este último vulgarmente conhecido como Jardim da Cordoaria) e uma praça ajardinada (Praça Mouzinho de Albuquerque, comummente conhecida como Rotunda da Boavista).
 
De uma forma geral, os resultados obtidos no estudo, que foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), mostram que espaços verdes de reduzida dimensão e proximidade são entendidos como espaços de socialização, convívio, relaxamento e contacto com a natureza, sendo explorados durante o dia através de diferentes usos.
No entanto, observou-se que nos espaços verdes localizados em zonas de maior privação socioeconómica e ambiental, os usos «são menos diversificados, dada a ausência de elementos que os estimulem, e assiste-se a uma menor frequência de utilizadores», afirma Diogo Guedes Vidal. Foram igualmente identificados outros usos através dos elementos presentes nos espaços verdes estudados, que se associam também a novas funções sociais destes espaços: «a praça Mouzinho de Albuquerque e o jardim de Arca d’Água são utilizados para fins de atividades de ação social voltadas para apoio a sem-abrigo, seja na distribuição de alimentos, no caso do primeiro, seja no abrigo noturno (no coreto), no caso do segundo», acrescenta.
Assim, conclui-se que os espaços verdes conferem novos sentidos e significados, «não se esgotando nas funções para que foram inicialmente idealizados. Por outro lado, é nas zonas mais a sul (mais quentes) e junto de árvores (faça sol ou não) que os utilizadores se tendem a concentrar, procurando nos elementos arbóreos uma sensação de segurança e de identidade, própria de um contacto com a natureza, sugerindo um comportamento biofílico (amor pelos elementos vivos)», salienta o investigador do Centro de Ecologia Funcional da FCTUC.
Ao contrário de estudos anteriores, que têm destacado o potencial dos serviços dos ecossistemas dos espaços verdes na contribuição de ambientes mais saudáveis e sustentáveis, esta investigação, segundo o autor, pretendeu «desconstruir estes espaços, “olhar além do verde” e entender a ecologia através de um prisma social, uma vez que o objeto em causa e a sua complexidade obrigam a olhar além do imediatamente visível e a considerar os usos dos espaços».
Ao observar a dimensão humana destes espaços, este estudo apresenta um contributo importante para «a sua consideração num planeamento urbano mais sustentável, mas sobretudo mais justo e inclusivo e que considere a pluralidade de usos no desenho dos mesmos, sublinhando a relevância de contemplar a forma como a humanidade se relaciona com os elementos não humanos e com a natureza no seu todo», conclui o investigador.
O artigo científico pode ser consultado em: https://doi.org/10.1016/j.ufug.2022.127668
 
 
Cristina Pinto
Assessora de Imprensa
Universidade de Coimbra – Faculdade de Ciências e Tecnologia

O Metaverso e o fantasma ético que não tem direito a avatar.

 O contexto pandémico que temos atravessado foi, talvez, o maior acelerador da necessidade de levar para o digital/ virtual os diversos espaços físicos. Com este estímulo, o Metaverso entrou no nosso dia a dia de modo divertido, leve e despreocupado como aliás já se tinha verificado com as plataformas Second Life e Roblox (p. ex.). Tem-se apresentado muito prometedor no âmbito dos cuidados personalizado de saúde, na promoção de hábitos e dietas saudáveis ou até nas diversas estratégias empresarias
A questão que se coloca é se estamos perante o mesmo nível de desenvolvimento ao nível da antecipação dos desafios éticos e sociais que lhes são subjacentes.
Em Privacy is Power a filósofia Carissa Véliz descreve, entre tantas outras coisas, como é que através de dispositivos como o nosso smartphone os dados recolhidos sobre gostos pessoais, hobbies, hábitos, relacionamentos, medos e problemas médicos são usados como moeda de troca entre empresas e governos. Coincidentemente, há poucos dia atrás, saiu um estudo da Mckinsey , evidenciando que vários executivos relatam que a sua organização teve, no mínimo, uma ‘violação de dados relevante’ nos últimos três anos. Porque é que enunciar a questão deste modo parece ser mais consternador do que falar da segurança de dados inerentes às novas experiências no Metaverso?
Ainda não se sabe ao certo como é que os dados pessoais estão a ser recolhidos (entre eles os biométricos e fisiológicos) e armazenados – desde a exposição dos mesmos, ao modo como será protegida a identidade real e para que fins serão usados no aprimoramento das novas experiências no Metaverso.  A normalização deste princípio de incerteza em detrimento da mais valia das novidades apresentadas enquanto promessa de progresso e igualdade social parece favorecer a ausência de questionamento. Não será confuso assistir à contínua referência ao escândalo Cambridge Analytica e, no momento seguinte, abdicar da privacidade como quem oferece o poder de interferência na sua vida diária sem qualquer contrapartida?
Estas novas possibilidades em mundos digitais virtuais partem de um conceito que diz respeito à interação humana com a tecnologia. Um simples exemplo disso diz respeito ao modo como os avatares (por exemplo) assumem a extensão da nossa vivência e identidade através da realidade aumentada e dos ambientes virtuais. Pode dizer-se que a tendência do futuro é que o mundo físico seja partilhado com as experiências interativas digitais e as informações 3D – tudo isto interconectado. Ou seja, uma nova extensão da internet tridimensional. Todavia, se aceitar que o Metaverso ainda está no domínio experimental e o seu alcance total no âmbito especulativo, não seria o momento oportuno para discutir uma economia global mais igualitária?
Sabemos que as aplicações ao nível do Metaverso dependem de uma convergência de eventos, desde a implantação de hardware até o desenvolvimento de infraestrutura de dados, mas é sempre certo que a tecnologia atua, a maioria das vezes, como catalisador para o desenvolvimento económico (sem esquecer tudo o que isso também significa ‘Tech for Good’).  É possível assumir que apesar dos ecossistemas virtuais ainda estarem em desenvolvimento, já não há dúvidas que tecnologia blockchain e a moeda digital fazem parte da sua implementação. Acrescentando a este aspeto o facto de diversas marcas estarem a expandir a sua visibilidade no mundo virtual aquilo que está em causa, neste momento, é já a ampliação de lucros e uma porta aberta para o fim da descentralização do Metaverso.
No que diz respeito aos desafios éticos e sociais que lhes são subjacentes, antes de qualquer outra questão, não parece admissível omitir o facto de que 30% da população mundial (dados de dezembro de 2021) continua sem acesso à internet. Verificando-se uma distribuição de acesso online desigual na população mundial é válido sublinhar que o Metaverso pode tornar-se uma janela de ampliação deste primeiro fator e não numa ferramenta de redução desta disparidade como se comunicou no momento das primeiras ideias que surgiram fora do contexto mainstream.
Tem-se constatado que este salto tecnológico ainda não contemplou devidamente a elaboração e implementação de políticas, levando ao processo inverso de experimentação primeiro e posterior definição de guidelines por manifestação de consequências ao nível de: hackers, catfishing, assédio, turismo de identidade, discurso de ódio e cyberbullying, manifestações neurológicas e comportamentais adversas, etc.
Neste sentido, alegar que as questões éticas e sociais inerentes ao Metaverso são recentes, salvas especificidades das tecnologias emergentes, não é mais do que uma fuga daqueles persistem em não discutir estas mesmas questões no contexto não digital. Esta negação constitui-se como um motor de abrandamento aos diferentes processos de auditoria e regulamentação necessários. Se há investimento financeiro adjudicado ao escalonamento e crescimento de cada novo projeto no Metaverso tem que ser acompanhado de… pense por si!
 
Lia Raquel Neves

O céu de outubro de 2022

 Dias cada vez mais curtos e noites cada vez mais longas… Desde o equinócio, no passado dia 23 de setembro, até ao solstício, a 21 de dezembro, vamos ver o Sol cada vez menos tempo acima do horizonte. Mas nem tudo são más notícias – Noites mais longas significam mais tempo disponível para observar o céu por cima das nossas cabeças.
Vamos então ao céu de outubro de 2022. No dia 3, a Lua está em fase de quarto crescente.
No dia seguinte, começa a Semana Mundial do Espaço, uma celebração internacional da contribuição da ciência e tecnologia espacial para o melhoramento da condição humana. Esta foi oficialmente declarada pelas Nações Unidas como sendo, anualmente, entre 4 e 10 de outubro, datas que comemoram dois acontecimentos marcantes da era espacial: o lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputnik I, a 4 de outubro de 1957 e a assinatura pelos estados-membros da ONU do Tratado de Exploração Pacífica do Espaço Exterior, no dia 10 de outubro de 1967.
Durante a semana mundial do espaço, a Lua passa a cerca de 4 graus do planeta Saturno (dia 5), a 2 graus de Júpiter (dia 8) e atinge a fase de lua cheia (dia 9). O amanhecer de dia 9 será ainda o mais propício para ver Mercúrio – neste dia, quando o Sol nascer, o planeta estará a cerca de 14 graus acima do horizonte, o ponto mais alto das próximas semanas.
Dia 14 a Lua passa a 3 graus de Marte e dia 17 atinge a fase de quarto minguante.
Isto quer dizer que, no dia 21, dia do pico da chuva de meteoros da Oriónidas, não há brilho da Lua a dificultar as observações, até cerca das 3h30 da manhã. Esta “chuva” não é tão impressionante como as Perseidas, em agosto, ou as Leónidas, em novembro, mas ainda assim, em céus escuros, são esperados entre 20 e 30 meteoros por hora.
Dia 22, Vénus está em conjunção, isto é, estará ofuscado pela nossa estrela, do lado oposto do Sol, a 1,72 unidades astronómicas (quase 260 milhões de quilómetros) da Terra. Só voltaremos a vê-lo no céu lá para o final de novembro, desta vez ao anoitecer.
Ao amanhecer do dia 24, a Lua, num finíssimo minguante, quase nova, passa a 3 graus de Mercúrio e no dia seguinte atinge a fase de lua nova.
No último domingo de outubro, que este ano calha no dia 30, voltamos ao horário de inverno e a hora volta a estar mais próxima da verdadeira hora solar. Assim, no Continente e na Madeira, às 02h00 atrasamos os relógios para a 01h00, enquanto nos Açores, à 01h00 mudamos o relógio de volta para a meia-noite.
Ou seja, enquanto no dia 29, o Sol se irá pôr-se por volta das 19h00, no dia 30 já se põe às 18h00. Em compensação, quem sai de casa por volta das 7h30, levanta-se de noite na sexta-feira, dia 28, mas já de dia na segunda-feira, dia 31.
Dia 30 é também o dia em que o planeta Marte, no nosso céu, parece parar e voltar para trás, isto é, inicia o seu movimento retrógrado. Este movimento aparente, no nosso céu, resulta de a órbita da Terra à volta do Sol ser mais rápida do que a de Marte. Isto faz com que, por vezes, os dois planetas estejam a viajar em sentidos opostos, e noutras estejam a viajar no mesmo sentido, dando a aparência de Marte andar “para trás e para a frente” no céu. Este “moonwalk” marciano irá durar até 12 de janeiro do próximo ano.
Boas observações.

Ricardo Cardoso Reis (Planetário do Porto e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço)

O elemento mais pesado detectado até à data na atmosfera de um exoplaneta

 Com o auxílio do Very Large Telescope (VLT) do ESO, os astrónomos descobriram o elemento mais pesado alguma vez encontrado na atmosfera de um exoplaneta — bário. Os investigadores ficaram surpreendidos ao descobrir bário na atmosfera superior de dois exoplanetas, WASP-76b e WASP-121b, gigantes gasosos ultra quentes que orbitam estrelas fora do nosso Sistema Solar. Esta descoberta inesperada levanta questões sobre a composição destas atmosferas exóticas.
A parte confusa e contraintuitiva é: por que é que existe um elemento tão pesado nas camadas superiores da atmosfera destes planetas?”, diz Tomás Azevedo Silva, estudante de doutoramento da Universidade do Porto e do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), que liderou este estudo publicado hoje na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics.
WASP-76b e WASP-121b não são exoplanetas vulgares. São ambos conhecidos como Júpiteres ultra quentes, uma vez que são comparáveis em termos de tamanho a Júpiter, ao mesmo tempo que têm temperaturas de superfície extremamente elevadas, acima dos 1000ºC. Este facto deve-se à sua proximidade com as estrelas progenitoras, o que significa também que completam uma órbita em torno das estrelas em apenas um ou dois dias. Consequentemente, estes planetas apresentam características exóticas: por exemplo, em WASP-76b os astrónomos pensam que chova ferro.
Mas, ainda assim, os cientistas ficaram surpreendidos ao descobrir bário, que é duas vezes e meia mais pesado que o ferro, nas atmosferas superiores de ambos estes exoplanetas. “Dada a elevada gravidade dos planetas, esperaríamos que elementos pesados como o bário caíssem rapidamente nas camadas mais inferiores da atmosfera,” explica um dos co-autores deste trabalho, Olivier Demangeon, também investigador na Universidade do Porto e no IA.
Tratou-se, de certo modo, de uma descoberta acidental”, disse Tomás Silva. “Não estávamos à espera de algo assim, nem estávamos tão pouco à procura de bário. Tivemos que confirmar que este resultado vinha efetivamente do planeta, uma vez que nunca tinha sido observado bário anteriormente em nenhum exoplaneta.
O facto do bário ter sido detectado nas atmosferas de ambos estes Júpiteres ultra quentes sugere que este tipo de planetas pode ser ainda mais estranho do que o que pensávamos anteriormente. Apesar de observarmos bário ocasionalmente nos nossos céus, na forma dos verdes brilhantes de fogos de artifício, a questão para os cientistas é que processo natural poderá causar a existência deste elemento pesado a tão elevadas altitudes nestes exoplanetas. ”Até ao momento, não estamos certos de que mecanismos se possam tratar,” explica Demangeon.
No estudo de atmosferas de exoplanetas, objetos ultra quentes do tipo de Júpiter são muitíssimo úteis. Como explica Demangeon: “Sendo gasosas e quentes, as suas atmosferas são muito extensas e por isso mais fáceis de observar e estudar do que as de exoplanetas mais pequenos e mais frios.
Determinar a composição da atmosfera de um exoplaneta requer equipamento muito especializado. A equipa utilizou o instrumento ESPRESSO montado no Very Large Telescope (VLT) do ESO, no Chile, para analisar a luz das estrelas filtrada pela atmosfera de WASP-76b e de WASP-121b. Deste modo foi possível detectar claramente vários elementos, entre eles bário.
Estes novos resultados mostram que ainda mal abordámos os mistérios dos exoplanetas. Com futuros instrumentos, tais como o espectrógrafo ANDES (ArmazoNes high Dispersion Echelle Spectrograph), que será montado no futuro Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, os astrónomos poderão estudar as atmosferas de exoplanetas, tanto grandes como pequenos, incluindo as de planetas rochosos semelhantes à Terra, com muito mais detalhe e juntar mais pistas sobre a natureza destes estranhos mundos.
 
Observatório Europeu do Sul

Cientistas da Universidade de Coimbra criam material superisolante com borracha de pneus usados

 O desafio de criar um novo tipo de isolamento térmico e acústico para edifícios, numa perspetiva da economia circular, juntou investigadores de engenharia civil e engenharia química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), que, pela primeira vez, produziram um aerogel com matriz homogénea de sílica e borracha, criando um novo material superisolante ecológico e mais económico.
Considerando que, por um lado, na Europa são produzidos cerca de 355 milhões de pneus por ano e, por outro lado, os aerogéis são ótimos isolantes térmicos, mas são dispendiosos, os cientistas apostaram no desenvolvimento de um aerogel incorporando borracha de pneus usados.
Liderado por Paulo Santos, investigador do ISISE (Institute for Sustainability and Innovation in Structural Engineering) e professor do Departamento de Engenharia Civil da FCTUC, o projeto , financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), foi desenvolvido ao longo dos últimos quatro anos e compreendeu várias etapas até os cientistas conseguirem o seu objetivo. A tecnologia desenvolvida no âmbito do projeto foi submetida a processos de patenteamento nacional e internacional.
«Tivemos de vencer muitos obstáculos ao longo do projeto. No início, foi extremamente difícil introduzir a borracha, reduzida a grânulos de um milímetro, dentro do aerogel, mas, após vários estudos complexos, encontrámos uma solução de desintegração química da borracha ou desvulcanização, com recurso a um ácido que torna a borracha líquida. Assim, conseguimos abrir uma nova porta de processamento do aerogel, porque o aerogel é produzido primeiramente em fase líquida», relata Luísa Durães, coordenadora da equipa de investigadores do Departamento de Engenharia Química da FCTUC.
Ultrapassado o primeiro grande obstáculo, o passo seguinte foi encontrar a fórmula certa para a mistura de líquidos. «Era necessário encontrar os solventes mais compatíveis para os sistemas da sílica e da borracha. A partir daí, foi mais fácil conseguir um material inovador e altamente eficaz», prossegue a investigadora do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF), frisando que o novo material com borracha de pneus usados é muito vantajoso, pois «além de ter um preço praticamente nulo porque é um desperdício, a borracha é hidrofóbica, isto é, repele a água, o que é benéfico na secagem dos aerogéis. Por outro lado, a borracha tem caraterísticas de grande estabilidade térmica e química. O desafio, nesta fase, foi perceber se, ao misturar com a borracha, as propriedades do aerogel se mantinham as mesmas, o que aconteceu».
Desenvolvido o aerogel a partir de borracha reciclada e realizados testes através de múltiplas técnicas, observou-se que o novo produto apresenta um elevado desempenho, como afirma Luísa Durães: «tem caraterísticas de um superisolante térmico. Assim, conseguimos ter um produto premium em termos de isolamento térmico e, em simultâneo, estamos a contribuir com uma nova aplicação para reduzir os resíduos dos pneus, porque as aplicações atuais estão a esgotar em relação à quantidade de borracha que é produzida».
O novo produto foi depois comparado com isolantes atualmente no mercado, tendo sido comprovado que o aerogel, já por si um ótimo isolante, torna-se ainda melhor com a introdução da borracha. De todos os produtos comparados, «o aerogel com borracha foi o que obteve melhor desempenho, conseguindo até 77% de redução de transferência de calor no protótipo de parede testado. Foi também realizado um teste de envelhecimento com humidade e temperatura e verificámos que o nosso isolante, em comparação com os materiais comerciais testados, era aquele que mantinha todas as propriedades ao longo dos ciclos de envelhecimento», salienta Luísa Durães.
No âmbito deste projeto, foi ainda desenvolvido um estudo exploratório, aplicando o aerogel na absorção de poluentes, com o objetivo de alargar o leque de aplicações do novo produto. Devido à sua capacidade de absorção, o novo aerogel pode ser aplicado em limpeza de águas residuais com diversos poluentes, como óleos e solventes orgânicos.
 
Cristina Pinto
Assessora de Imprensa – Universidade de Coimbra – Faculdade de Ciências e Tecnologia

A Gravidade e o Cérebro

 Das quatro forças fundamentais do universo é, curiosamente, a mais fraca aquela que manifestamente mais está presente ao longo das nossas vidas – a força da gravidade (as restantes são a força electromagnética, a nuclear forte e a nuclear fraca). Em virtualmente qualquer actividade humana, a gravidade constrange os nossos movimentos e acções e constitui uma presença inescapável em qualquer contexto terrestre. Mais, manteve-se uma constante muito antes de o primeiro humano caminhar sobre a terra e assim continuará até que o último venha a perecer. Sendo não só pervasiva como altamente regular, um animal que tenha em conta os seus efeitos terá vantagens óbvias pois poderá antecipar as suas consequências e adequar os seus comportamentos a um mundo dinâmico sujeito às leis da física. Com efeito, um crescente volume de investigações tem, nas últimas décadas, acumulado evidências a favor de que nosso cérebro contem mecanismos sofisticados que parecem calcular e prever os efeitos da gravidade terrestre em objectos móveis, designados por “Modelos Internos da Gravidade”. Estes parecem desempenhar um papel de destaque na nossa percepção, actuando de uma forma parecida com uma simulação de computador: dados de entrada provenientes dos nossos sentidos (em particular da visão, mas não só) fornecem parâmetros iniciais acerca da posição e velocidade de um objecto com base nos quais os modelos internos da gravidade computam a sua trajectória futura.
Este processo é tão mais relevante se se tiver em conta que a transmissão de impulsos ao longo das fibras e células neuronais não é instantânea – por exemplo, entre o momento em que a luz reflectida por um qualquer objecto atinge a retina nos nossos olhos até ao momento em que as áreas visuais do córtex respondem a essa estimulação, podem passar cerca de 100 milissegundos (0,1 segundos). Ainda que à primeira vista este seja um intervalo negligenciável, um pequeno exemplo convencê-la-á do contrário: para um guarda-redes que procure interceptar com sucesso uma bola de futebol que se desloque a 20 metros por segundo (o máximo registado aproxima-se dos 35 m/s), um erro temporal de 100 milissegundos significa que quando o cérebro assinala a posição da bola esta encontra-se na realidade 2 metros adiante! E isto sem considerar o tempo necessário para elaborar e executar uma resposta adequada. Que consigamos, dentro de limites razoáveis, interagir com sucesso com o mundo à nossa volta sem erros grosseiros de sincronização é, pois, digno de nota. E, porém, se assim não fosse, dificilmente se concebe que pudéssemos ter evoluído enquanto espécie para sequer, entre outras actividades, jogar futebol.
No laboratório, e de uma forma global, estes modelos são tipicamente estudados requerendo aos participantes que executem uma certa acção, de natureza motora ou perceptiva, perante um objecto em movimento (real ou mostrado num ambiente virtual) cujos parâmetros dinâmicos são cuidadosamente controlados. Num estudo já clássico (McIntyre, Zago, Berthoz, & Lacquaniti, 2001), os participantes, um grupo de astronautas a bordo do vaivém Columbia (missão Neurolab) e, portanto, num ambiente de ausência de gravidade, deveriam interceptar uma pequena bola lançada num movimento “descendente”. Estudos prévios haviam já mostrado que, na superfície terrestre, os músculos do braço tendem a contrair-se cerca de 200 milissegundos antes de a bola atingir a mão, independentemente da altura de que esta é solta. Como um objecto em queda livre acelera em direcção ao centro da terra, um tempo constante para a contracção muscular preparatória implica que essa pode ser efectuada quando a bola se encontra a diferentes distâncias da mão, o que sugere que de alguma forma os humanos conseguem antever com grande precisão temporal o momento de intercepção da bola. No caso de ausência de gravidade, a bola ao invés de acelerar movia-se com uma velocidade constante (no estudo em causa, a bola era disparada “do tecto” do vaivém a uma velocidade adequada). Os resultados mostraram que os músculos dos braços se contraíam significativamente mais cedo em relação à trajectória da bola, como se o cérebro do astronauta antecipasse uma aceleração da bola, congruente com a gravidade terrestre, apesar de essa estar ausente. De certa forma, este resultado sugere que a gravidade está de tal forma embutida no funcionamento cerebral que, mesmo escapando aos seus efeitos físicos, levamo-la connosco sob a forma de um modelo neuronal.
Hoje dispomos já de várias evidências que concorrem para esta ideia base e alguma confiança quanto à localização cortical onde um possível modelo interno da gravidade possa ser instanciado – na chamada juntura parieto-temporal (uma zona associativa, com ligações ao aparelho vestibular e áreas motoras). Vários investigadores estão, hoje em dia, activamente envolvidos em clarificar o funcionamento destes modelos internos, sendo este um tópico de estudo em franco crescimento do qual, esperamos, venham a surgir num futuro próximo novas descobertas.

 Nuno Alexandre de Sá Teixeira
(Professor Auxiliar Convidado no Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro)

As Humanidades para os Oceanos

 É hoje essencial reconhecer os fundamentos ecológicos e materiais das culturas e sociedades, as suas fontes energéticas e alimentares, as formas de coexistência biológica, e a interdependência entre a humanidade e o mundo não humano, particularmente no que diz respeito ao estudo dos oceanos na sua dimensão temporal.
Historiadores marítimos, ambientais e da ciência, arqueólogos, geógrafos, ecocríticos, entre outros investigadores dos campos das humanidades (filosofia, antropologia, estudos culturais, estudos étnicos e de género, estudos literários, estudos religiosos) têm abordado as mudanças e desafios sociais e ambientais distantes ou recentes – como sejam, as perceções e representações de populações marinhas; formas convergentes ou divergentes de interação com o oceano; trocas, extrações, comércio e consumo; património, memória, práticas.
A investigação atual no âmbito das chamadas ‘Humanidades Azuis’ está a mostrar como a integração de dados históricos acrescenta informação à nossa visão sobre processos oceânicos e práticas humanas em relação aos mares. As sociedades dependeram historicamente e foram moldadas pelos organismos marinhos e seus ecossistemas, através dos quais foram construídas relações a nível ecológico e cultural ao longo de milénios. Estas interações mútuas asseguraram a subsistência dos seres humanos e a capacidade de resiliência das sociedades baseadas numa utilização sustentável dos oceanos, mas também causaram impactos profundos na composição, estrutura e função dos ecossistemas devido à sobre-exploração, conduzindo igualmente a uma degradação do habitat e extinção de espécies. Os níveis pré-industriais de extrações de recursos vivos marinhos estão a ser revelados em cada vez maior detalhe, e revelam impactos maiores do que os anteriormente antecipados.
É fundamental os seres humanos (dos indivíduos às sociedades) como atores ecológicos e os seres não-humanos como agentes históricos, e promover o desenvolvimento integrado do conhecimento sobre os sistemas oceânicos com base nestas premissas. Os quadros inter- e transdisciplinares são essenciais, e os esforços de colaboração entre o meio académico e a sociedade civil, incluindo grupos vulneráveis com conhecimentos ancestrais sobre sistemas oceânicos e costeiros passados, serão decisivos para a nossa compreensão global, inclusiva e equitativa dos sistemas oceânicos integrados de natureza-cultura.
No âmbito de vários projetos e iniciativas globais, nova informação quantitativa apoiada no conhecimento dos fatores ecológicos e culturais e suas consequências, mas também de contextos históricos, será produzida. Esta investigação recorre à análise de fontes históricas escritas, iconográficas e cartográficas para identificação de espécies marinhas e a sua utilização por sociedades humanas. Assim, estes dados globais, em larga escala e de acesso aberto, permitirão ainda a identificação de paradigmas históricos sobre o passado, o estado atual e futuro da saúde e equilíbrio dos oceanos.
A promoção do estudo de sistemas sócio-ecológicos, abordando as dimensões políticas relevantes para uma ciência integrada, trabalhando no sentido de incluir dimensões humanas, transculturais, trans-cronológicas e multidisciplinares, permite o envolvimento com vários intervenientes sociais, nomeadamente no âmbito da Década dos Oceanos. A construção de um mundo mais inclusivo, equitativo, justo e sustentável requer reciprocidade e inclusão entre o meio académico e as diversas comunidades, e entre todas as criaturas que coexistem na biosfera. Assim, dizemos que as humanidades são verdadeiramente relevantes e que é essencial que a investigação deste domínio académico seja reconhecida como tendo um papel central na abordagem à ciência do e para os oceanos, e dos esforços futuros de produção de conhecimento, conservação e literacia para os oceanos.
 
Cristina Brito
CHAM – Centro de Humanidades da NOVA FCSH
Investigadora responsável ERC Synergy GRANT 4-Oceans: Human history of marine Life
 
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EUA Abandono de anunciantes e despedimentos em massa. Elon Musk está à frente do Twitter há uma semana

 

O que começou com uma entrada triunfante,tornou-se em uma semana no caos. Após ter assumido a liderança do TwitterElon Musk já assustou os utilizadores com o pagamento de contas verificadas, viu grandes anunciantes abandonar a plataforma e agora decidiu despedir mais de metade dos 7500 trabalhadores da rede social.

Muitos dos funcionários souberam estar fora dos planos da empresa, sem nenhuma justificação, através de um e-mail, numa ação que a advogada especializada na área do trabalho Wendy Musell, considera "altamente invulgar".

"Normalmente em Silicon Valley, muitas empresas de tecnologia não querem tornar [estas ações] públicas e têm muito mais medo de criar uma imagem negativa do que nesta situação".

Perante as críticas, Musk argumenta "não haver alternativa". Para o multimilionário sul-africano, cortar nos salários é a única soluçãoface às perdas apresentadas pela empresa.

No entanto, vários especialistas questionaram já a viabilidade do projeto sem funcionários em departamentos-chave, como a ciber-segurança, e a saída de anunciantes da plataforma. 

A lista de marcas a suspender a presença publicitária no Twitter tem vindo a crescer, com a Volkswagen mais recentemente a juntar-se a outras insígnias, como a Audi, ou a Pfizer.

euronews

*Elon Musk, proprietário do Twitter   -   Direitos de autor  Susan Walsh/AP