Esta reportagem começa com números. Números dos Bombeiros Voluntários de Mira referentes ao ano que agora se encerra. Prestemos, então, bastante atenção a eles:foram 3.625 serviços, num total de 11.783 horas, com 1.164.757 kms percorridos…
Este é um balanço que pode, à primeira vista, assustar um pouco. Mas, se pensarmos bem, o que ainda pode ser mais assustador? Tudo isto foi feito com um quadro de bombeiros cada vez mais reduzido, devido a vários factores económicos ou sociais!
É tão simples como isso: os Bombeiros estão nos seus limites! Se em 2003 eles eram 90 no ativo, em 2016 são… 48! Daí, facilmente somos capazes de perceber a dimensão do problema: hoje são menos que metade daquela altura… com o dobro do trabalho!
Esta não é uma conclusão tirada, de ânimo leve, por um jornalista. Quem o diz é o Comando desta valorosa Instituição Mirense que acedeu a uma entrevista, cujo mote é o balanço, as perspectivas e também, as preocupações da corporação, atualmente e de futuro.,
Nuno Pimenta, João Maduro e Carlos Costa, infelizmente não traçam um quadro muito favorável nos dias que correm, pois a fase de recrutamento “atravessa uma grande dificuldade” e, por isso, Nuno Pimenta lança um pedido aos jovens “no sentido de que estes dêem um pouco de si pelo Concelho e pelo país, juntando-se aos Bombeiros Voluntários”. É que o projeto vencedor chamado escolinhas de infantes, como é lógico, só renderá frutos a longo prazo!
É certo, sim, que são necessários criar mais incentivos aos voluntários no ativo. O protocolo de concessão de regalias aos bombeiros assinado com a Câmara Municipal recentemente, é considerado um “ponto de viragem” pelo comando, mas é manifestamente pouco, e esperam que o Estado Português possa oferecer a todos os que dão tanto de si, um pouco mais. Mas, infelizmente “penso que não estamos a ser reconhecidos pela nossa própria sociedade local. Aquando da campanha para angariação de géneros durante a época do verão, que foi terrível, sentimos um apoio e uma adesão enorme à nossa causa, porém… no dia-a-dia, muitas vezes só somos lembrados quando de nós, precisam!”. No seio destes homens e mulheres, há quem tire dias de férias para poder contribuir no combate aos fogos já que, muitas vezes, a entidade patronal não lhes reconhece importância num papel na sociedade, tão preponderante!
Outras situações “menos agradáveis” acontecem quando as pessoas pensam que “por pedir uma ambulância, será atendido mais rapidamente no Hospital. Isto é um mito e um engano…só que, derivado a isto, muitas deslocações são efetuadas a Coimbra ou Aveiro, sem necessidade… e, quando falta uma ambulância e duas pessoas no quartel, isto pode acarretar sérios problemas, em caso de extrema necessidade. Não nos esqueçamos que são cada vez menos os que estão ao serviço!”.
A juntar a tudo isto, ainda acresce o facto das viaturas já terem muitos kms andados e, só para se ter uma ideia, uma ambulância custa cerca de 60.000 euros! O Comando diz “perceber a dificuldade da Direção em contornar todos os problemas que vão aparecendo, mas urge que a sociedade mirense, os jovens incluídos, contribua para que esta situação seja revertida a breve trecho sob pena de termos consequências ainda mais gravosas e, quiçá, mais dramáticas!”
Sim, o quadro não está pintado a cores leves, mas a verdade tem de ser dita doa a quem doer. É preciso que todos nós, cidadãos e cidadãs deste Concelho, tenhamos a percepção exata da gravidade do que se passa e, mais ainda, das proporções a que isto pode chegar!
Todos podemos contribuir de alguma forma para que a situação melhore. Hoje, cerca de 3.000 sócios pagantes contribuem com 15 euros por ano. Feitas as contas, pouco ultrapassam o irrisório valor de 1 euro por mês! Se muitos mais ajudarem, minimizarão um pouco a situação…
E, se alguns mais sentirem o chamado para fazer parte dos quadros dos Bombeiros Voluntários de Mira, apesar de todas as dificuldades antes referidas, também estarão a contribuir para que a outra parte do problema seja diminuída!
Não é fácil, pois claro, tomar uma decisão deste alcance, pois implica a uma doação profunda ao espírito que envolve uma Instituição como esta, mas o facto de poder ser útil à sociedade numa causa tão nobre, é um importante ponto a ser considerado…
BOAS FESTAS
Apesar de tudo isto, de tantas dificuldades, de tantas questões que lhes fazem frente diariamente, os Bombeiros de Mira têm ânimo para desejar a todos um Santo Natal e um 2017 melhor para todos! Querem, também, pedir aos emigrantes que venham conhecer as instalações e os equipamentos no quartel, já que “a casa está sempre aberta a todos!”. Aproveitam para pedir que “tenham cuidado na estrada, para que possam chegar cá e voltar em segurança”.
E, para o fim fica a frase dita em tom de desabafo e muitíssima preocupação, dita por Nuno Pimenta“esta entrevista foi dada com um objetivo primordial: para que as pessoas não pensem que está tudo bem… para que elas saibam, desde já, que os que aqui tanto dão de si, não vão aguentar para sempre o que se passa neste momento!”
Dá o que pensar, esta afirmação, não é?
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