Nuno da Camara Pereira, recria-se após quarenta anos dedicados à renovação do fado do qual foi pioneiro na procura de tons e sons por terras de aquém e além-mar; por onde andou e se foi recolhendo numa incessante e vibrante busca de razões plenas de música e poesia; aonde apenas o fado, expressão máxima da lusitana língua portuguesa não permitiu deixar esquecer em toda a sua vertente, bem para lá de sua matriz única e soberana; nunca se deixando corromper por insidiosas modulações musicais, de fusão ou não, soube emprestar ao Fado todo o seu talento, toda a sua experiencia e toda a sua nobreza que conseguiram de forma única, e no decorrer de sua longa carreira, influenciar e ser ponto de partida para a modernização deste modo musical, hoje polarizado por todos os cantos do mundo.

São os novos valores do fado que hoje a ele, até mesmo sem saber, vêm buscar a partida para novos pontos de chegada.
Soube dar textura ao fado quer através de novos instrumentos musicais, através de novas sonoridades, movimentos ou mesmo através do reencontro com matrizes transcontinentais que apenas o coloriram; sem nunca se deixar levar nas modernas condições de mercado, lançou-se para caminhos mais cosmopolitas, mais comerciais, e soube manter intrinsecamente a matriz que o fazendo diverso, lhe inculcam “devaneios “ e comparações que não lhe retiram a sua genuinidade.
Com este álbum “Belmonte, Em Cantos mil”, Nuno Cabral da Camara Pereira relança o tema do “achamento do Brasil “por temas dedicados à viagem, no tempo e no espaço, de uma língua e de um povo que apenas a diáspora entende e justifica através da poesia e música de poetas e intérpretes de aquém e além-mar.
Cantando Caetano, Saulo Fernandes ou Doryval Cayme, Nuno com Luiz Caldas lança novamente o desafio, através de sete originais a par e passo dos temas popularizados por aqueles, como “Os Argonautas”, ”Raiz de todo o bem”, ”Saudade da Bahia”, ”É doce morrer no mar”, aonde repõe sentimentos e impressões que a música e seu talento fazem sentir indiferenciadamente na música brasileira e portuguesa, que sem se misturarem a tornam original e própria sem sequer se fundirem.
É o Fado em toda a dimensão da palavra que tão exemplarmente se pretende fazer transmitir neste disco que ora relança a consanguinidade e dimensão transatlântica da língua portuguesa.
"Belmonte Em Cantos Mil”
Consegue geminar a urbana guitarra portuguesa com a rural viola caipira, ao mesmo tempo que junta a afro-brasileira percussão com o hispânico “carron “; a viola clássica em sua peculiar forma lusa de tocar à volta do fado, com o baixo elétrico e o brasileiro cavaquinho.
São duas formas aparentemente difusas de abordar o mesmo tema, apenas geminadas pela voz de Nuno da Camara Pereira que de forma uníssona e única, as torna cúmplices e surpreendentemente sós e nostálgicas, perante um movimento modernista e fascinante pleno de poesia e utopia. 
Belmonte, de onde partiu Cabral, que uniu pela primeira vez os dois continentes é agora testemunha ímpar da consanguinidade luso-brasileira no domínio cultural que apenas a música é cúmplice e testemunha.
http://www.nunodacamarapereira.pt/
Assim é que se divide por temas diversos e unidos pelo passado e pelo amanhã, cada vez mais presente e fundamentalmente justificativos num movimento interpretativo não apenas contemplativo, a citar:
Originais de Luiz Caldas e Nuno da Camara Pereira:
Belmonte “Em Cantos Mil” |Perdão |Nau Catrineta |Mãe |Se te chamasses saudade |Amor maior |Amor
Clássicos Portugueses: Coimbra| Rio azul |Fado xu-xu
Clássicos baianos: É doce morrer no mar |Saudade da Bahia |Argonautas |Raiz de todo o bem