terça-feira, 18 de abril de 2017

ELEIÇÕES EM MACAU: COMISSÃO PODE ELIMINAR CONTEÚDOS ONLINE


A ordem para remover conteúdos online ilegais durante o período eleitoral em que a propaganda é proibida, pode ser dada às operadoras de comunicação pela Comissão de Assuntos Eleitorais para a Assembleia Legislativa. A medida foi ontem admitida por Tong Hio Fong após o encontro com os deputados para apresentação das instruções eleitorais

Comissão de Assuntos Eleitorais para a Assembleia Legislativa (CAEAL) vai poder dar instruções às operadoras de comunicação, nomeadamente à CTM, para que eliminem os conteúdos online ilegais. A ideia é que, no período em que a campanha eleitoral não é permitida, a CTM possa, quando detectadas publicações online, ser removida.

A medida vai ter luz verde “porque de acordo com a lei eleitoral, só se pode fazer propaganda durante um período limitado”, disse o presidente da CAEL, Tong Hio Fong,  após o encontro entre os representantes da comissão e do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) com os deputados à Assembleia Legislativa, numa sessão que constou da apresentação sobre instruções eleitorais.

As acções que impliquem informação capaz de promover ou denegrir candidatos, fora do tempo definido por lei, e que representem propaganda eleitoral, serão excluídas das partilhas na internet.

A medida não é apenas uma ideia e já está definida. “É uma indicação vinculativa e se a CAEL verificar que existe alguma coisa considerada irregular pede à CTM ou a outras companhias responsáveis para que procedam à eliminação da informação online”, explicou o presidente.

No entanto Tong Hio Fong garante que a remoção de conteúdos só acontece depois de uma análise de cada ocorrência. “Sempre que existam este tipo de situações fazemos uma avaliação e temos uma reunião para deliberar tendo em conta a opinião de todos os membros da comissão”, disse.

TRABALHOS PROFISSIONAIS

Durante a reunião, o presidente sublinhou, tendo em conta as directrizes dadas à imprensa, que podem ser feitos trabalhos jornalísticos desde que não tenham ligação à candidatura política. “Podem existir reportagens acerca de um deputado e do seu trabalho desde que em nada entrem no âmbito da propaganda ou publicidade”, referiu.

Ainda nas instruções dadas ontem, com a revisão da lei eleitoral há algumas alterações relativamente aos processos eleitorais anteriores.

A atenção passa a ser dada às acções de pessoas colectivas que têm, a partir de agora, o chamado dever de declaração. A ideia, disse Lam Chi Long, adjunto do comissário do CCAC, é evitar situações do passado. “Houve casos em que as pessoas colectivas, entre elas sociedades, associações e fundações, que realizaram actividades para beneficiar algum dos seus membros”. Agora tanto as pessoas colectivas como os candidatos têm de declarar as actividades eleitorais que vão ter lugar entre 2 e 12 de Setembro, a 30 de Agosto. As actividades têm ainda um âmbito definido e constam de “qualquer uma que não seja de propaganda eleitoral, mas destinada a atribuir benefícios aos membros e que proporcione comidas e bebidas, viagens, entretenimento, subsídios e presentes”.

Sofia Margarida Mota | Hoje Macau

DEPUTADO DE HONG KONG PROIBIDO DE ENTRAR EM MACAU


As autoridades locais voltaram a negar a entrada em Macau a um deputado do campo pró-democrata da vizinha RAEHK. Desta feita o visado foi Kenneth Leung, que se preparava para visitar o território na companhia da família.

Kenneth Leung, deputado pró-democrata da vizinha Região Administrativa Especial de Hong Kong, foi este domingo impedido de entrar em Macau por razões de segurança, informou a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong.

Kenneth Leung disse à RTHK que tencionava visitar Macau com a família, mas foi impedido de entrar e ficou detido durante cerca de uma hora, antes de ser enviado de volta de barco para a antiga colónia britânica.

O deputado considerou ridícula a rejeição de entrada, argumentando que nunca teve problemas para entrar em Macau, nem no interior da República Popular da China, onde se deslocou, de resto, recentemente numa visita promovida pelo Conselho Legislativo.

No ano passado, os deputados Raymond Chan e Leung Kwok-hung – conhecido como ‘Long Hair’ ou ‘Cabelo Comprido’ – também foram impedidos de entrar no território.

As autoridades locais recusam-se a revelar o número de pessoas que proibiram de entrar na região, as razões pelas quais o fizeram ou a sua procedência, sob o argumento de que essas informações são confidenciais.

O impedimento de entrada na Região Administrativa Especial de Macau acontece com alguma regularidade, com a grande maioria dos casos a serem tornados públicos pelos próprios visados, muitos dos quais políticos ou activistas da vizinha Hong Kong. A PSP não tem por hábito apresentar motivos concretos, invocando, com frequência, razões de segurança.

Em Outubro, quando da visita do primeiro-ministro, Li Keqiang, foram proibidos de passar a fronteira pelo menos dez residentes de Hong Kong, incluindo activistas, mas também um deputado e um cineasta.

Em 2015, o caso mais notório foi o da então deputada do Partido Democrático de Hong Kong também impedida de passar a fronteira por motivos de segurança interna.

Em declarações à Lusa, Emily Lau mostrou-se então “perplexa”, até porque a visita era de lazer e não havia figuras importantes da China a visitar Macau nem protestos a acontecer – factores que propiciam habitualmente um maior número de interdições.

No final de 2014, o episódio inédito envolvendo um bebé de um ano levou mesmo o chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, a pedir desculpa.

A proibição de entrada sobretudo de políticos de Hong Kong tem sido uma preocupação levantada pela União Europeia e pelos Estados Unidos.

Em Outubro, a associação Novo Macau –  a maior organização pró-democracia do território – adiantou estar a trabalhar na criação de uma base de dados sobre violações aos direitos humanos, dando conta de que informações específicas sobre as proibições de entrada seriam compiladas num ficheiro especial.

Trata-se de uma base de dados que pretende colocar à disposição de organismos da ONU, quando for a altura de rever a ratificação de instrumentos relacionados com a protecção de direitos humanos em Macau.

Ponto Final

Brasil. REFORMA TRABALHISTA: CARDÁPIO DE MALDADES CONTRA O TRABALHADOR


O ataque promovido pelo governo ilegítimo de Michel Temer contra os direitos dos trabalhadores é feito pela articulação de várias iniciativas legislativas, como as reformas trabalhista e previdenciária, e a aprovação da lei que permite a terceirização irrestrita.

São mudanças que atentam contra a dignidade do trabalho e impõem aos trabalhadores a urgência de lutar contra elas, para impedir que deteriorem ainda mais as relações de trabalho no Brasil, levando-as de volta aos tempos anteriores à revolução de 1930 – pior ainda, retrocedendo ao século 19. A reforma trabalhista atende a exigências antigas dos empresários, que nunca aceitaram a legislação que cria barreiras contra a ganância patronal e a superexploração dos trabalhadores.

O Projeto de Lei 6787/16, da reforma trabalhista de Temer, que já era muito ruim, piorou ainda mais com o parecer apresentado nesta quarta-feira (12) pelo relator, o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN). Para o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), “o substitutivo se traduz num cardápio de maldades contra os trabalhadores”. 

Ainda segundo o Diap, “a proposta estabelece que o acordo e/ou convenção se sobreponha aos direitos garantidos em lei e, ainda, que o acordo prevalecerá sobre a negociação coletiva e possibilita o impedimento do acesso à Justiça na forma do acordo extrajudicial irrevogável e arbitragem das relações de trabalho, dentre outras formas, como o termo de quitação anual das obrigações trabalhistas”.

Outras ideias contidas no parecer do parlamentar tucano, em sintonia com Michel Temer, são: a fixação de valores máximos para reparações morais; a possibilidade de as mulheres grávidas ou lactantes trabalharem em ambiente insalubre; acordos individuais que estabeleçam a jornada de trabalho de 12 horas diárias; trabalho intermitente, que permite a contratação por apenas algumas horas por dia ou alguns dias por semana; entre outras.

O parece elimina também a contribuição sindical obrigatória e retira competências dos sindicatos, sufocando financeiramente e debilitando a representatividade das entidades sindicais, o que inviabiliza sua existência.

A reforma trabalhista ameaça também aumentar a rotatividade do trabalho e a previdenciária inviabiliza o acesso dos trabalhadores à aposentadoria. Elas criam um ambiente que favorece a exploração da força de trabalho por empresas brasileiras e estrangeiras que poderão ser atraídas para se beneficiar do agravamento da exploração dos trabalhadores.

Na Câmara dos Deputados, deputados federais se insurgem contra estas tentativas de eliminar direitos duramente conquistados. Para o presidente da Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), “o relator conseguiu piorar ainda mais o projeto original ao propor alterações em mais de 100 artigos da CLT e tentar enfraquecer os sindicatos, promovendo o maior ataque aos direitos dos trabalhadores de todos os tempos”.

O deputado Assis Melo (PCdoB-RS) denunciou que esta é “a fatura do golpe. Esse golpe foi para retirar direitos e acabar com o dever do Estado. Essa reforma trabalhista junto com a terceirização inviabiliza a Previdência”, alertou. O deputado Daniel Almeida (PCdoB) convocou a mobilização popular contra estas ameaças antidemocráticas. “Precisamos reforçar as mobilizações. No dia 28 de abril, data em que está se chamando a greve geral, é essencial que os trabalhadores vão às ruas para reivindicar seus direitos e impedir o avanço desse acinte”.

Mais do que nunca os trabalhadores precisam fazer sua voz ser ouvida em defesa dos direitos assegurados pela lei e seriamente ameaçados pelo retrocesso que os golpistas querem impor.

Todos à greve no dia 28 de abril!

- em Vermelho | editorial

REDE BRASIL ATUAL: MAR DE LAMA DA CORRUPÇÃO TRANSBORDA NO GOVERNO TEMER


"Uma contradição fundamental se processa no golpismo que sustenta o governo Temer desde a sua imposição no ano passado. Quanto mais forte o seu governo maior a exposição de sua fraqueza. Essa verdadeira fortaleza, contudo, traz embutida, a sua própria fraqueza. O dique da base parlamentar do governo Temer não mais parece ser suficiente para impedir o transbordamento do mar de lama da corrupção. Pelo visto, poucos sobreviverão", diz o editorial da Rede Brasil Atual

Rede Brasil Atual - Uma contradição fundamental se processa no golpismo que sustenta o governo Temer desde a sua imposição no ano passado. Quanto mais forte o seu governo maior a exposição de sua fraqueza.

Isso porque a sua fortaleza provem justamente dos responsáveis por sua própria criação. De um lado, a extensa e integrada base parlamentar no poder legislativo federal, que oferta apoio jamais observado ao longo do ciclo político da Nova República, iniciado em 1985.

O centro deste apoio não parece ser ideológico, programático ou grandioso em nome do Brasil melhor. Pelo contrário, pois fundamentado na individual e rasteira lógica da sobrevivência cada vez mais ameaçada pela contaminação proveniente do mar de lama da corrupção.

Desde o surgimento da Operação Lava Jato, sob guarida do governo Dilma, a sua aceitação pelo status quo parecia visível enquanto se mantinha concentrada na investigação seletiva e focada nos políticos petistas, bem como no plano do Executivo federal. Quando transpareceu que não mais seria possível manter as denúncias, investigações e julgamentos estritamente no leito petista, um novo corpo no interior do Llegislativo teria se formado a partir da liderança de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

A expectativa seria a de entregar o governo Dilma como fazem os boiadeiros que, para passar pelo rio perigoso com a boiada entregam um, o "boi de piranha". Dessa forma, o fim do governo liderado pelo PT traria consigo a perspectiva de que seria possível virar a página de todos os males do Brasil.

Com isso, a inédita constituição da unidade entre os poderes Executivo, sob direção de Temer, e Legislativo, conduzido por Cunha, faria sentido e segurança como um dique à contaminação do mar de lama da corrupção. Mesmo na queda de Cunha, a hegemonia parlamentar apresentou contida fissura frente aos sinais de convencimento, animados pelo governo Temer em oferecer resistências ao avanço das diversas operações do estamento público (policial, judicial e ministerial).

De outro lado, a base social e econômica interna e externa defensora do projeto neoliberal no país. Ao perceber que a derrota em 2014, a quarta sucessiva desde 2002, poderia vir acompanhada de não apenas mais quatro anos de Dilma, mas do acréscimo de oito anos com novamente Lula, o que poderia significar 24 anos de governos petistas (2003 – 2026), a oposição se lançou numa verdadeira aventura política sem volta.

O rompimento democrático logo se apresentou diante da não aceitação do resultado eleitoral, o que significou a instalação de inacreditável terceiro turno através da diversidade de medidas (solicitação da recontagem de votos no TSE, questionamento da prestação de contas, pautas-bomba no Legislativo e impeachment). Vinte meses após o término do segundo turno, o Senado Federal aprovou, em terceiro turno, a vitória da oposição, expressa pela ascensão de Temer, revestido do programa neoliberal para o Brasil, mesmo tendo sido derrotado democraticamente em 2014.

Assim, as medidas impopulares das reformas neoliberais que desconstituem o Estado e o país com mais desemprego e pobreza, enriquecem os já ricos, e entregam o setor produtivo nacional (estatal e privado) às corporações transnacionais vêm sendo aceitas pela base parlamentar e fartamente apoiada pela base social e econômica de oposição aos governos do PT.

Essa verdadeira fortaleza, contudo, traz embutida, a sua própria fraqueza. O dique da base parlamentar do governo Temer não mais parece ser suficiente para impedir o transbordamento do mar de lama da corrupção. Pelo visto, poucos sobreviverão.

Ao mesmo tempo, a base social e econômica encolhe diante das tragédias semeadas pelas reformas neoliberais. O sucessivo anúncio de maldades joga mais "brasas na sardinha alheia", o que tende a tornar cada vez mais imbatível a candidatura oposicionista em 2018.

Cabe, contudo, questionar: haverá eleição presidencial em 2018? E se houver, em que condições? Ou poderá se repetir o que aconteceu em 1965, quando foi negada a expectativa de alguns democratas e candidatos presidenciais que apoiaram o golpe de 1964 na tentativa de eliminar a força do PTB da época e se tornarem viáveis eleitoralmente? A força do conservadorismo autoritário não permitiu que isso viesse a acontecer.

- em Brasil 247

Brasil-TV Globo. JN MASSACRA LULA, PASSA POR AÉCIO E ESQUECE TEMER


De 4 horas, 24 minutos e 51 segundos de reportagens sobre a lista de Fachin desde que o STF tornou pública a delação da Odebrecht, na última sexta-feira 11, até a ediçaõ desta segunda 17, o Jornal Nacional dedicou 33 minutos e 32 segundos ao ex-presidente Lula, político mais mencionado no principal telejornal da TV Globo; a segunda na lista é Dilma Rousseff, com 18 minutos e 7 segundos; o senador Aécio Neves (PSDB-MG), campeão em número de inquéritos (cinco), entre os quais é acusado de receber R$ 50 milhões em propina, teve a metade do tempo de Lula: 16min27seg; já Michel Temer, citado por delatores por ter participado de uma reunião em que foi combinado o repasse de US$ 40 milhões em propina pela Odebrecht ao PMDB, recebeu uma reportagem de 5 minutos e teve o vídeo em que se defende exibido pelo Jornal Nacional; ranking foi elaborado pelo portal Poder 360.

Brasil 247

Angola - Portugal. PGR DO MPLA FAZ-SE DE VIRGEM OFENDIDA


Segundo o jornal português Público, a Procuradoria-Geral do MPLA (se fosse de Angola tudo seria diferente) diz que notícias sobre carta rogatória enviada a Luanda sobre Manuel Vicente são “pura falácia” e que Joana Marques Vidal tem o dever moral (coisa que no reino não existe) de repor a verdade. O levantamento da imunidade do governante está agora nas mãos do Tribunal Constitucional do… MPLA.

A justiça portuguesa está, segundo o Público, sob suspeita de ter faltado à verdade no caso em que o vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, é suspeito de ter corrompido um procurador português, para este arquivar processos judiciais que o envolviam.

No mais recente ofício enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR) portuguesa, a sua congénere (isto é apenas um eufemismo) angolana não é meiga nas palavras: fala em falácia e exige um desmentido. Em causa não estão os crimes de corrupção activa e branqueamento de capitais que o vice-presidente pode ter cometido, mas formalidades processuais que ficaram por cumprir e que podem, segundo os advogados de Manuel Vicente, inquinar o processo conhecido como Operação Fizz.

“É com certa indignação que vemos a imprensa portuguesa noticiar, citando também o Ministério Público português, que a PGR portuguesa terá enviado uma carta rogatória para que o vice-presidente da República de Angola fosse formalmente constituído arguido e interrogado, carta essa cujo cumprimento teria sido alegadamente recusado pela PGR de Angola”, pode ler-se no ofício em questão, datado de 28 de Março passado. “Tais notícias não passam de pura falácia, exigindo um desmentido da PGR portuguesa, não apenas para evitar que se vilipendie o bom nome (…) de uma instituição congénere mas também porque se impõe o dever moral de corrigir o que não corresponde à verdade.”

Para se perceber a sequência dos acontecimentos que fez chegar a este ponto a relação entre Joana Marques Vidal e o seu homólogo (mais um eufemismo) general João Maria de Sousa, que também chegou –note-se – a ser investigado em Portugal por branqueamento de capitais, é preciso recuar até Outubro. As procuradoras encarregadas de perceber se o arquivamento de dois processos pelo seu ex-colega do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) Orlando Figueira – um deles envolvendo a compra pelo vice angolano de um apartamento no condomínio de Estoril-Sol Residence por 3,8 milhões – tinha sido feito a troco de dinheiro decidem interrogar Manuel Vicente, o alegado autor dos pagamentos. E, como o governante vive em Angola, emitem uma carta rogatória para as autoridades angolanas o notificarem da sua condição de arguido e para que ele seja inquirido. A missiva segue os trâmites habituais: vai para a PGR portuguesa, organismo central do Ministério Público, donde devia ter seguido para a PGR angolana.

Só que acaba por nunca sair das fronteiras portuguesas, apesar de todas as informações divulgadas publicamente até há pouco mais de uma semana escamotearem esse facto. Joana Marques Vidal opta antes por perguntar ao seu homólogo em meados de Novembro se, tendo em conta o cargo que Manuel Vicente ocupa, existe alguma possibilidade de as autoridades angolanas cumprirem o que lhes é pedido na carta rogatória.

“À luz da lei constitucional de Angola existe alguma possibilidade de ser levantado o regime de imunidade de que goza o vice-presidente de Angola? Em caso de um eventual pedido de extradição poderá equacionar-se a hipótese de deferimento?”, questiona, colocando ainda a hipótese de, no que a Manuel Vicente diz respeito, transferir o processo para as mãos da justiça (novo eufemismo) angolana.

Perante a resposta que lhe chega, de que o suspeito está, de facto, salvaguardado por um regime de imunidade que faz com que só responda por crimes alheios ao exercício das suas funções cinco anos após o fim do seu mandato, e ainda por uma amnistia para quem cometeu crimes não violentos até ao final de 2015 que se aplica a todos os cidadãos angolanos, Joana Marques Vidal decide não enviar a carta, “para evitar a prática de actos inúteis e prevenir previsíveis demoras processuais.”

A 30 de Janeiro deste ano a carta rogatória é devolvida às procuradoras do DCIAP, com a menção de que não foi possível executar o que nela era pedido. Duas semanas depois, na altura em que encerram o inquérito acusando Manuel Vicente de corrupção activa e lavagem de dinheiro, as duas procuradoras escrevem que não foi possível ouvi-lo sobre os factos que lhe imputam, “pese embora tenha sido expedida carta rogatória às autoridades judiciárias da República de Angola.” E acrescentam que, apesar de o terem notificado através dos seus advogados, Rui Patrício e João Cluny, para ser interrogado em Portugal na qualidade de arguido, ele se recusou a comparecer – coisa que o vice-presidente angolano nega.

Ora, segundo a lei portuguesa, é obrigatório interrogar todos os suspeitos na fase de inquérito dos processos, antes de ser deduzida uma acusação. Se não foram envidados todos os esforços para ouvir a sua versão dos factos, o processo corre o risco de ser nulo. E é nisso que se estribam os advogados de Manuel Vicente, quando, num requerimento entregue no final da passada semana, alegam que o Ministério Público “omitiu a prática de actos legalmente obrigatórios”.

Questionada três vezes pelo PÚBLICO desde Fevereiro passado, a PGR portuguesa nunca se alongou em explicações. Em meados de Fevereiro respondeu não ter sido possível notificar Manuel Vicente para o interrogar, muito embora “tenha sido emitida carta rogatória às autoridades judiciárias angolanas para a realização de tais actos.” Mais tarde invocaria a disposição legal que permite à justiça acusar alguém de um ilícito sem ouvir essa pessoa, quando não é possível entrar em contacto com ela. Só a 7 de Abril admite publicamente não ter, de facto, enviado a carta rogatória para Angola.

No mesmo comunicado em que o faz, anuncia ter mandado uma segunda carta rogatória para Luanda, de modo a informar Manuel Vicente da acusação entretanto deduzida contra ele e pedindo, uma vez mais, às autoridades daquele país que o constituam arguido. Foi logo a seguir que a ministra da Justiça Francisca van Dúnem (uma angolana que é persona non grata para o regime do MPLA) cancelou, sem explicação, uma visita oficial a Luanda, sem dar qualquer justificação: as relações diplomáticas entre os dois países azedaram após a incriminação do vice-presidente a ponto de uma deslocação do primeiro-ministro António Costa agendada para a Primavera ter sido adiada, o mesmo tendo sucedido com uma viagem de deputados portugueses da comissão parlamentar de Defesa.

No seu requerimento, os advogados dizem não compreender por que é que no espaço de dois meses a PGR portuguesa mudou de opinião em relação à utilidade de pedir a colaboração das autoridades angolanas para notificarem o seu cliente. Mas desta vez a PGR de Angola prontificou-se para perguntar ao seu Tribunal Constitucional se existe algum mecanismo de levantamento da imunidade – muito embora tenha respondido ser impossível cumprir esta segunda carta rogatória, que chegou a Luanda a 16 de Março, dois dias depois de Manuel Vicente ter escrito a Joana Marques Vidal pedindo-lhe para “repor a verdade”. Diz que a primeira carta rogatória não chegou a Angola e que só “por lapso grave” pode ser acusado de se recusar a ser interrogado sobre a Operação Fizz.

Folha 8 com Público

Angola. REALIDADE DIFERENCIADA


Luísa Rogério | Rede Angola | opinião

Quando no fim do ano de 2014 o Presidente da República falou ao país sobre o impacto da crise económica que acabara de se instalar pouca gente imaginou as proporções que a desdita tomaria. Com o crónico optimismo angolense entramos em 2015 convencidos de que a anunciada seria passageira. Já enfrentamos situações piores. Somos um povo especial. Vamos ultrapassar. Venceremos. Pensamentos do género animaram muitos de nós diante das intempéries resultantes da baixa do preço do petróleo no mercado mundial. Instalou-se então a crise cambial. Em pouco tempo as divisas desapareceram dos bancos. Do dia para a noite o cidadão comum passou a interessar-se por expressões saídas do estrito reduto de especialistas para atazanarem a nossa vida.

O país estremeceu quando todos se aperceberam que as reservas cambiais haviam desaparecido. O impacto da realidade foi demasiado forte. Afinal, o país quase nada possui além das riquezas em potência e da dignidade. A política monetária, o desempenho dos bancos comerciais e o papel do banco central nunca tinham sido tão questionados. Quem tinha poupanças em divisas perdeu tecnicamente o acesso a elas. As regras para o levantamento de valores em moeda estrangeira fizeram correr incríveis rios de tinta nos últimos anos. Na prática, as contas foram bloqueadas. Os angolanos aperceberam-se também que alguns dos maiores empresários nacionais investiram muito mais lá fora do que dentro do território nacional.

Assistimos incrédulos a denúncias de descaminhos de dinheiros públicos. Através da comunicação social vieram à superfície casos escabrosos de corrupção. Das investigações resultou a apreensão de algumas dezenas de milhões de dólares em países onde se leva a sério a questão da proveniência duvidosa de capitais. Os protestos foram recebidos com a arrogância e o silêncio habituais por parte de quem se colocou acima dos seus concidadãos. Enquanto isso, os donos da situação continuaram a amealharam milhões, usando bastas vezes e de forma indevida capital humano público para fechar negócios pessoais. E a maioria da população empobreceu. Hoje já nem se cogita falar em crise, mas sim em nova realidade.

A menos que se registem várias sequências de feitos extraordinários com milagres antológicos à mistura Angola não voltará tão cedo a ser o “El Dorado” do passado recente. Grande parte dos chamados projectos estruturantes ficou no papel. No entanto, em ano eleitoral é preciso mostrar trabalho. A agenda inclui, naturalmente, inaugurações de projectos e de obras por concluir, deixando a sensação de que o mais importante é aparecer na imprensa (entenda-se televisão) e impressionar o eleitor. Só que determinadas obras têm efeito contrário. Apetece perguntar qual a pertinência de fechar troços como o da avenida Deolinda Rodrigues por tão longo tempo.

De modo geral as requalificações são desejáveis. Mas seria sensato introduzir benfeitorias em estradas secundárias antes do arranque de obras de vulto que, para agravar, acontecem invariavelmente na época chuvosa. Há diversas zonas em Luanda cujos trabalhos de benfeitorias foram interrompidos há vários anos, supostamente por falta de verbas. Com uma parte ínfima de valores gastos para melhorar locais escolhidos a dedo para impressionar dava para tornar menos tormentosa a vida de milhares de luandenses. Já que a nova realidade do país recomenda o uso proveitoso dos recursos que dizem ser escassos, calhava bem alargar o foco da lupa. Ademais, a época das construções megalómanas ficou lá atrás…

Deputada da UNITA diz que lavagem de dinheiro faliu o maior banco público angolano

Navita Ngola acusa "mwatas" do MPLA, após avisos de banqueiro

Em fase de discussão do plano de recapitalização do Banco de Poupança e Crédito (BPC), já aprovado pelo Governo, a vice-presidente da bancada parlamentar da UNITA considera que os “roubos e a lavagem de dinheiro’’ determinaram a falência do maior banco angolano.

Navita Ngola afasta a tese do crédito malparado, ainda que se fale em prejuízos superiores a mil milhões de dólares, e alerta para a falta de liquidez até para o pagamento de salários a funcionários públicos.

Há dois anos, com a crise a provocar estragos na economia angolana, o banqueiro Fernando Teles, conhecedor do sistema financeiro, já emitia sinais de preocupação.

“Não vale a pena estarmos a apoiar gente que tem as mãos estendidas e que não aplica o dinheiro em projectos produtivos’’, advertia o Presidente do Conselho Segurança do Banco Internacional de Crédito (BIC).

Agora que o Banco de Poupança e Crédito (BPC) está na ordem do dia, a deputada Navita Ngolo, da Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional, refere que os empréstimos não tinham como destinatário o verdadeiro produtor.

O país, diz a deputada, ignorou regras internacionais de gestão financeira.

“Os dinheiros do BPC e de outros bancos têm saído por telefonemas, a partir da Cidade Alta, e por intermédio de bilhetes. As pessoas vão com bilhetes aos bancos, sendo que aqueles que não produzem, figuras ligadas ao Presidente, conseguem avultadas somas. Usam o dinheiro para passear, põem-se em escândalos financeiros e até em tráfico de mulheres’’, acusa a parlamentar.

Navita Ngola, que não acredita na responsabilização dos culpados, faz recurso à falência do Banco Espírito Santo (BESA) para dizer que não se olhou a requisitos como o retorno e as garantias bancárias.

“Áreas estruturantes, como a agricultura, indústria e transportes, ficaram sem dinheiro, já que foi distribuído entre mwatas do MPLA, inclusive, como se diz, o candidato a Presidente da República. Eu queria saber se eles já devolveram o dinheiro. Portanto, o BESA e outros bancos funcionaram como um antro para a lavagem de dinheiro’’, vinca Ngola.

No discurso alusivo ao Dia da Paz e Reconciliação Nacional, o governador de Benguela, Isaac dos Anjos, membro do Bureau Político do MPLA, afirmou que os responsáveis por estas situações merecem o benefício da dúvida.

A recapitalização e reestruturação do BPC é da responsabilidade do Ministério das Finanças, um dos accionistas, em nome do Estado.

Completam a estrutura acionista, o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) e a Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas.

A VOA não conseguiu obter reacções à suposta ligação de figuras do regime angolano ao crédito malparado.

Vale lembrar que as autoridades nunca se opuseram a notícias nesse sentido.

Há duas semanas, soube-se que Job Capapinha, deputado do MPLA, e Noberto Fernandes dos Santos, governador de Malange, têm dívidas no Banco Internacional de Crédito e podem, em menos de 40 dias, ver penhorados os seus bens, jáhipotecados, de acordo com o anúncio do Tribunal Provincial de Luanda publicado no Jornal de Angola.

João Marcos | Voz da América

Angola. CANDIDATOS E CANDIDATURAS


Victor Carvalho | Jornal de Angola | opinião

Ainda ecoam os efeitos de alguns dos amargos de boca que as forças que se opõem ao actual governo sentiram por aquilo a que chamaram, a despropósito, de “parcialidade” no modo como a imprensa estava a retratar o cenário político que o país então atravessava e que permanece inalterável.

Esses amargos de boca resultavam, fundamentalmente, por aquilo que conseguimos perceber, do que diziam ser a “exagerada cobertura mediática” que era dispensada ao candidato que o MPLA no tempo que julgou mais oportuno decidiu escolher para se apresentar como eventual futuro Presidente da República.

O assunto, de tão grave que essas forças o rotulavam, chegou mesmo a merecer um pedido de agendamento para ser devidamente debatido em plena Assembleia Nacional, uma pretensão que logo à partida nos parecia difícil de ser concretizada uma vez que os jornalistas, muito justamente não têm, nem precisam de ter, qualquer tipo de representação parlamentar.

Passadas que foram três semanas sobre o período em que esses amargos de boca levarama que alguns protagonistas políticos perdessem algum do seu tempo para virem a público expor os seus argumentos, a verdade é que o cenário político de então continua a ser rigorosamente o mesmo.

Ou seja, tendo como pano de fundo a natural agitação política que se vive nos meses que antecedem uma campanha eleitoral, seja em que país ou continente for, as diferentes forças potencialmente concorrentes tratam de se preparar, com o timing que julgam mais adequado aos seus objectivos para convencer os eleitores da razoabilidade das suas propostas.

Neste período, absolutamente fundamental para unir as diferentes fileiras partidárias, quem for mais organizado, logo à partida, leva vantagem sobre aqueles que se mostrarem demasiadamente titubeantes em se definir perante o naipe de eleitores.

Até agora, por muito que isso custe a alguns agentes políticos e à própria imprensa que tem na diversidade de opiniões um manancial para melhor servir quem a segue, a verdade é que apenas o MPLA, partido que está no poder, conseguiu organizar-se e preencher a sua lista de candidatos para as eleições que previsivelmente se deverão realizar em Agosto próximo.

Independentemente de se estar perante uma forma diferentes das diferentes forças políticas nacionais entenderem encarar o desafio das eleições, a realidade é esta e é com ela que a imprensa tem que lidar não lhe competindo tecer grandes considerações sobre se é, ou não, este o melhor sistema de organização interna dessas mesmas formações.

No entretanto, a Unita, principal força da oposição, continua enredada na sua estratégia interna para a escolha dos elementos que darão corpo à sua lista final de candidatos a deputados pelo círculo nacional, decorrendo o período de selecção das pessoas que presumivelmente serão escolhidas fora da esfera do partido para dela fazerem parte.

Embora esteja mais ou menos definido que Isaías Samakuva será o número 1 da sua lista, o facto é que oficialmente nada está ainda garantido uma vez que apenas o ficará quando a lista de candidatos estiver completa e for oficialmente aprovada pela direcção do partido.
A CASA-CE, terceira força da oposição, está aparentemente um pouco mais atrasada do que a Unita depois que viu fracassada a sua tentativa de passar de coligação a partido político, um processo que a desgastou e fez perder um tempo precioso.

Neste momento o seu líder, Abel Chivukuvuku, é um eventual candidato a número 1 da lista de candidatos que a CASA-CE submeterá a votos nas próximas eleições.

Mesmo o comício que a coligação realizou no fim de semana passado em Luanda, que poderia trazer alguma luz sobre esta matéria, ficou-se pelo assinalar de mais um aniversário da formação, embora no convite dirigido à imprensa constasse que se iria assistir a uma intervenção do seu cabeça de lista para as eleições.

A FNLA e o PRS, as outras duas forças políticas com lugar na actual composição parlamentar continuam envolvidas em complicadas disputas internas para definir uma liderança que possa submeter a sufrágio nas próximas eleições.

Perante este cenário, onde existe apenas um candidato a futuro Presidente da República e uma série de candidaturas a candidato à liderança de listas de diferentes partidos, só como muito má vontade é que se poderá acusar a imprensa de usar uma dualidade de critério editorial beneficiando um em detrimento dos outros.

Aliás, verdade seja dita, apesar do cenário descrito o facto é que a imprensa, que não tem culpa nenhum do que internamente se passa nas esferas partidárias, tudo tem feito para divulgar condignamente as poucas e algumas das vezes clandestinas iniciativas políticas das formações que continuam a sentir enormes dificuldades para internamente se definirem e poderem assim dirimir forças em pé de igualdade por quem ousou partir na frente.

Por isso, mais do que perder tempo em verem fantasmas onde eles não existem, melhor andariam essas forças políticas se concentrassem os seus esforços e as suas atenções na definição das suas estratégias de modo a resolverem as respectivas lideranças sem terem que recorrer, sistematicamente, a truques e malabarismos para denegrir o processo eleitoral em curso e no qual a imprensa tem um papel fundamental a desempenhar como espelho de tudo o que esse mesmo processo envolve para salvaguarda da verdade e da legalidade estabelecida.

FALAR DE CORRUPÇÃO EM PORTUGAL É CADA VEZ MAIS COMPLICADO


Nuno Garoupa | Diário de Notícias | opinião

Falar de corrupção em Portugal tornou-se um tema bastante complicado. Qualquer cidadão minimamente razoável aceitará como bom o argumento que não é saudável um ambiente justicialista, onde os visados são condenados com base em boatos ou notícias maldosas. Devemos, em nome das conquistas do Estado de direito que permitiram a sociedade moderna, respeitar as decisões da justiça. Consequentemente, devemos falar de corrupção quando ela é provada em tribunal, sujeita a julgamento e objeto de condenação na base do império da lei. Diria até que o cidadão razoável compreende que os tempos da justiça não são os tempos mediáticos e, tendo um grau de paciência e uma tolerância generosa, aguarda o veredicto antes de precipitadamente condenar. Penso que apenas quem confunde julgamentos moralistas com base em preconceitos ideológicos ou idolatrias personalistas com uma decisão judicial discordará da razoabilidade do Estado de direito.

Ora, o problema começa aqui. Estamos em 2017, não em 1974. Aplicando o princípio anterior, absolutamente razoável e louvável, há uma conclusão óbvia: em Portugal, nestes 43 anos, não houve corrupção. Nem gestão danosa. Nem tráfico de influências. Nem houve, mais genericamente, criminalidade de colarinho branco. Porque o número de condenações transitadas em julgado por estes crimes é completamente despiciente. Tão marginal que praticamente não existem estatísticas. Decorre desta observação, continuando a aplicar o princípio enunciado no parágrafo anterior, que Portugal é um oásis sem corrupção, sem gestão danosa, sem tráfico de influências e sem grande criminalidade de colarinho branco.

Qualquer um percebe que a aplicação de um honorável e saudável princípio do Estado de direito cria uma ficção absurda quando a justiça penal não funciona. Ora é o colapso da justiça penal que corrói o tal honorável e saudável princípio. Porque ninguém acredita que Portugal é um oásis sem corrupção, sem gestão danosa, sem tráfico de influências e sem grande criminalidade de colarinho branco. Aliás, por respeito aos portugueses e à nossa sanidade coletiva, ninguém pode fingir que Portugal é um oásis sem corrupção, sem gestão danosa, sem tráfico de influências e sem grande criminalidade de colarinho branco. Chegados aqui, falar de corrupção em Portugal torna-se intrinsecamente complicado. Por um lado, temos de falar, e muito, pois só assim podemos ter alguma esperança de algum dia a justiça penal exercer a sua função. Mas, por outro lado, a conversa vai ser inevitavelmente injusta, populista e justicialista. Porque, quando a justiça penal não cumpre cabalmente o seu papel, o que acontece são as condenações na opinião pública e na comunicação social. Curiosamente, a classe política diz-se vítima preferencial destas condenações. Mas foi a classe política que nada fez para que a justiça penal funcionasse, para que existissem condenações efetivas, para que o honorável e saudável princípio do Estado de direito pudesse ser o critério do cidadão razoável.

Continuar a insistir, no debate público, que só devemos falar de corrupção quando haja condenação transitada em julgado é fugir da realidade de uma justiça penal que não funciona, é ajudar à construção de uma ficção doentia (não há corrupção em Portugal), é alimentar o populismo e o justicialismo, assim como a despolitização do cidadão e o seu alheamento eleitoral, e é tolerar e perdoar a corrupção.

CGD: banco público sem controlo público, e com uma gestão na linha da dos bancos privados


Eugénio Rosa | O Diário

A nova administração da CGD acabou de divulgar o relatório e contas de 2016. É uma versão preliminar, sintética e ainda não auditada, mas que permite já ficar com uma ideia clara da forma como a CGD foi gerida nos últimos anos, e como se procura desresponsabilizar aqueles que, quer a nível da administração quer como beneficiários do credito concedido, se aproveitaram da CGD. 

Os dados sobre perdas de credito, sobre o credito abatido ao ativo por se considerar já totalmente perdido, são enormes e chocantes, e merecem uma séria reflexão pois elas, no fundo, terão ser compensadas com uma gigantesca recapitalização da CGD feita com dinheiro dos contribuintes obtido por meio de impostos pagos pelos portugueses. E não se venha agora dizer, como é pratica habitual dos banqueiros e dos governos, que essa recapitalização permitirá obter lucros futuros porque nem os milhares de milhões € de credito concedido que se perderam, nem os milhares de milhões € agora necessários para recapitalizar a CGD devido a essas perdas enormes, que são financiados com o dinheiro de impostos pagos pelos portugueses serão alguma vez devolvidos.

Ler texto completo [PDF] | em O Diário

CALDINHO CURTO, EM VEZ DE EXPRESSO…

Este deve ser o Expresso Curto que habitualmente trazemos aqui ao PG. Deve ser, dizemos e achamos, porque mais parece um caldinho curto.

Esclarecendo: o caldinho é muito diferente do expresso curto. Tem a mesma cafeína mas é estragado ou não (depende dos gostos) com um “cheirinho muito generoso” de aguardente. Se não for um caldinho curto pode ser servido em chávena grande e, claro, com mais quantidade de aguardente. 

Em tempos, nas madrugadas frias, havia quiosques abertos toda a madrugada para que os que cumpriam trabalho noturno (carris, taxistas, etc.) “aquecessem a tripa”. Esses, e os noctívagos.

E pronto, aqui têm um caldinho curto, por João Silvestre. Não depreciamos o trabalho na prosa mas a verdade é que não nos deu "pica". Coisas e ressaca da Páscoa que lá vai. Cada um é como cada qual e nasce para o que der e vier. Bom dia, boa semana, se conseguirem agarrar uma dessas. (CT | PG)

 PE dentro, PE fora

Bom dia,

João Silvestre | Expresso

Os Programas de Estabilidade (PE) já não são o que eram. Até já perderam o C dos antigos PEC e estão muito longe da carga dramática que tinham quando Portugal vivia na vertigem de um resgate que acabou por acontecer em 2011. Agora, são documentos muito mais serenos e sem o curtíssimo prazo de validade de então. Mas isso não quer dizer que não haja algumas dificuldades. O PS está em São Bento suportado pelo PCP, PEV e Bloco de Esquerda, o que implica negociar. E muito. Claro que as grandes decisões estão guardadas para o Orçamento do Estado para 2018. Nessa altura, as medidas serão mais concretas – nos escalões de IRS ou no descongelamento das progressões no Estado – e as divergências também serão mais claras.

Mas os partidos que apoiam António Costa vão já marcando terreno numa altura em que decorrem as audições em Belém com o Presidente da República. O PCP, que só hoje é ouvido em Belém, já disse que não quer votar o documento no Parlamento no debate agendado para quarta-feira. O mesmo que o Bloco que já esteve com Marcelo e até tem algumas ideias diferentes das do governo. Ainda assim, escreve o Público de hoje, governo e Bloco estão alinhados na possibilidade de fasear em dois anos a redução do IRS.

Em comum, os dois partidos têm o facto de não divergir fundamentalmente com o PE do governo a ponto de esbarrar de frente com o documento. Mesmo que este aponte para um défice de 1,5% do PIB este ano e de 1% no próximo. Valores bem abaixo do que os deputados mais à esquerda do hemiciclo parlamentar gostariam. É caso para dizer que estão com um PE dentro e tentam manter, ao mesmo tempo, um PE fora da estratégia orçamental do governo.

Já o CDS quer levar o PE a votação no Parlamento enquanto o PSD não só não vai pelo mesmo caminho como, apesar das críticas, até reconhece maior realismo nas contas de Mário Centeno. Passos Coelho dixit ontem à saída do encontro com Marcelo Rebelo de Sousa. Do lado socialista, Carlos César não perdeu a oportunidade de lançar mais um ataque a PSD considerando-o um “partido de contras”.

Bruxelas, que está mais longe mas tem a última palavra a dizer, só se pronuncia quando tiver na mão os documentos finalizados. Por exemplo, o parecer do Conselho das Finanças Públicas (CFP) sobre o cenário macroeconómico só será conhecido hoje. Também hoje serão divulgadas as novas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington onde decorrem as suas reuniões de primavera. (Os trabalhos podem ser seguidos em direto no site da instituição.)

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro 

Por cá, a notícia que marcou o dia de ontem e continua a alimentar uma parte importante do noticiário é a queda da aeronave em Tires. Ainda não há conclusões definitivas sobre o acidente, mas já existem muitos testemunhos, imagensvídeos ou simples informações mais detalhadas sobre os passageiros do avião. Um dos passageiros era um famoso ortopedista francês de jogadores de futebol. Conta-nos o Expresso que, em oito anos, morreram 35 pessoas em Portugal em quedas de aeronaves num conjunto de 51 acidentes registados.

Igualmente a preocupar muitos portugueses está o surto de sarampo que já atingiu 26 pessoas e colocou um adolescente em estado grave no Hospital D. Estefânia. A Direção-geral de Saúde desvalorizou o risco de propagação generalizada da doença, mas já admitiu baixar a idade de vacinação dos atuais 12 meses. Vacinas que são um dos temas polémicos do momento. Escreve o Público que há mais 95 mil crianças que não estão vacinadas e isto tem a ver, pelo menos, em parte com a não vacinação por opção dos pais. Este movimento antivacinas é, para o pediatra Mário Cordeiro, em entrevista ao Expresso Diário de ontem (link para assinantes), é “idiota e uma afronta aos mortos”. Se quer perceber o que está em causa, o Observador publicou um guia de nove perguntas para perceber o surto de sarampo.

Depois de acidentes e epidemias, uma boa notícia. A fatura do gás natural vai baixar pelo terceiro ano consecutivo para as famílias do mercado regulado. Não é para todos, mas é para alguns.

Quem parece muito pouco regulado são os clubes de futebol e as suas claques. Os cânticos polémicos continuam e, depois do caso “Chapecoense” dos Superdragões, foi a vez de adeptos encarnados aludirem ao very light que vitimou um sportinguista no Estádio Nacional. Estamos a dias de um dérbi que pode ser decisivo para o campeonato e estas picardias são ‘fruta da época’. Já agora, para o caso de FC Porto e Benfica chegarem ao fim da liga em igualdade pontual, é importante ter presente as regras de desempate. A Bola explica tudo. A tensão no futebol está até a contaminar a corrida autárquica para Loures.

Esta é também a semana da DBRS. A agência canadiana revê a avaliação portuguesa sexta-feira e, para já, não se esperam grandes alterações. É o único rating que não está em ‘lixo’, o que mantém Portugal dentro do programa de compra de dívida do Banco Central Europeu (BCE). Antes de se conhecer o resultado, vale a pena ler a reportagem que Ricardo Lourenço fez na última edição da revista E (apenas para assinantes) do Expresso.

Machetes dos jornais:”Governo e Bloco admitem fasear redução do IRS em dois anos” (Público); “Portugal e Espanha vão negociar em conjunto compra de remédios”(DN); “Sarampo: Saúde quer vacinar bebés mais cedo”(JN); “Avião de milionário provoca tragédia” (Correio da Manhã); “Lava Jato: Publicitário do PSD denunciado pelo presidente da Odebrecht por pedir luvas”(i); “Empresas obrigadas a revelar verdadeiros donos” (Jornal de Negócios); “Leão com fome de dérbi”(Recorde); “Adrien e mais 10”(A Bola); “Palco para Corona”(Jogo)

Lá fora 

Na Turquia, as claques de futebol também tem um historial difícil mas, neste momento, o que está em causa é a vitória de Erdogan no referendo que reforça os poderes presidenciais. A incerteza sobre o futuro do país são muitas. E os receios também. Angela Merkel já apelou ao diálogo com a oposição enquanto a Europa mostra preocupação depois de os seus observadores terem considerado o referendo não democrático. Criticas que Erdogan considerou, simplesmente, “mentalidade de cruzado”.

Enquanto isto, mais a oriente, cresce a tensão na Coreia do Norte com a troca de ameaças entre Pyongyang e Washington. Trump e o seu vice-presidente, Mike Pence, de visita à região, já avisaram que não vão admitir novos ensaios com mísseis. Da Coreia do Norte chega a ameaça, desta vez pelo vice-embaixador nas Nações unidas, de que uma “guerra termonuclear pode ter início a qualquer momento”. O The New York Times explica como um país pobre e pequeno pode ser uma tão grande ameaça à paz mundial.

Ainda sobre os EUA, vale a pena ler com atenção o extenso artigo – da coluna Big Read – da edição de ontem do Financial Times. Conta-nos como as regiões mais agrícolas dos EUA, a cintura agrícola (farm belt), que exporta para a China e para o México, vivem ansiosas com a retórica protecionista de Trump.

Christine Lagarde, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), deu uma entrevista ao espanhol El Pais onde pede reformas laborais em Espanha e diz, sobre Trump, que há uma distância grande entre a retórica e os passos que são dados.

Hoje é dia de Liga dos Campeões. Primeiro dia da segunda mão dos quartos-final com os embates decisivos Real Madrid – Bayern Munique e Leicester-Atlético de Madrid. As duas equipas espanholas partem em vantagem.

Para fechar, Bento XVI, Papa emérito, fez 90 anos e celebrou o aniversário nos jardins do Vaticano com uma cerveja da Baviera, a sua terra natal. Ou não fosse alemão.

FRASES

“Ouvi gritos de dentro da aeronave. Pareciam gritos de rapazinhos. Nos anos que eu viver não vou esquecer isso. Eram gritos de muita aflição. Horrível. Eu perdi a minha casa, mas a vida é tudo”, Maria de Fátima, testemunha da queda de avião em Tires

“Desde o primeiro toque de alvorada, desde o primeiro cantar do galo, a Força Armada Nacional Bolivariana estará trotando e cantando ‘viva à união cívica militar’ e ‘viva à revolução bolivariana’”, Nicolas Maduro, presidente da Venezuela a anunciar que o exército irá marchar nas ruas a partir de hoje, véspera de uma grande manifestação de protesto

O QUE ANDO A LER

Acha que é racional? Acha que toma decisões conscientes e não se deixa enganar? É normal que pense assim. E é normal que possa estar errado. Tudo depende das circunstâncias concretas e da decisão que estamos a tomar. É fácil deixarmo-nos enganar com ofertas, ficar baralhados quando há muitas opções para escolher e até valorizar em excesso o presente. O ser humano é irracional e é-o com frequência. Previsivelmente irracional, como bem explica Dan Ariely, professor na universidade de Duke nos EUA onde é um dos expoentes da Economia Comportamental (vale a pena ver a TedTalk que fez em 2009 sobre o tema).

Confesso ser um irracional fã do trabalho de Ariely e de ter tido a oportunidade de o entrevistar mais do que uma vez para o Expresso nos últimos anos. Além dos vários livros que publicou, mantém uma espécie de consultório de Economia Comportamental no The Wall Street Journal onde responde a dúvidas dos leitores. Questões que vão desde a dificuldade em deixar de beber gasosa, à divisão de tarefas em casa ou ao sentido que faz encarar o casamento como um investimento, só para citar alguns exemplos mais recentes. Ariely tem resposta para quase tudo.

Sem quaisquer irracionalidades ou comportamentos atípicos, toda a informação vai continuar por aqui em tempo real no Expresso Online e às 18 horas com mais uma edição do Expresso Diário. Tenha um bom dia.