quinta-feira, 21 de julho de 2016

Macroscópio – O destino da Turquia é o destino de um mundo cada vez menos liberal?

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


Nunca se tinha visto um golpe assim. A mensagem de Erdogan retransmitida via Facetime por um jornalista que segurava um iPhone. Milhares nas ruas a cercar os tanques. Polícias a levarem militares presos, quando costuma ser ao contrário. Mas contragolpes assim já se tinham visto muitos, com milhares de prisões, de demissões forçadas e de direitos fundamentais suspensos. Num dia, a percepção de que se tinha evitado o regresso do golpismo militar, um hábito com velhas tradições na Turquia; no dia seguinte a impotência perante uma deriva autoritária de um presidente que parece mostrar absoluta indiferença perante os apelos da Europa e dos Estados Unidos.

Dir-se-á: é na Turquia, lá longe, no outro extremo da Europa. É assim na geografia – não é no significado nem nas implicações. Já iremos com mais detalhe ao que se passou e ainda pode passar, mas para tomarmos consciência que a distância não é motivo para não nos inquietarmos vou apenas referir-vos dois textos, nenhum deles sobre a Turquia, ambos com reflexões importantes sobre o que parece ser o recuo da ordem liberal à escala global. O primeiro foi uma entrevista que eu mesmo fiz ao historiador Timothy Garton Ash a propósito do Brexit e da candidatura de Donald Trump – “Eu vi como os ingleses votaram no Brexit. Por isso, não se iludam: Trump pode ganhar” – onde ele refere, referindo aos que defendem uma ordem demoliberal, que “Os ventos sopram contra nós, não tenho qualquer dúvida. Contra todos os que, como eu, acreditam no liberalismo internacionalista. Tivemos um período extraordinário em que tudo melhorou – a democracia estendeu-se por todo o mundo, primeiro na Europa Ocidental e na América do Norte, depois na Europa do Sul e na América do Sul e, a seguir na Europa do Leste, depois na Ásia. Até à Primavera Árabe tudo parecia correr bem, ir na boa direcção, na direcção da liberdade. Mas depois, algures entre o referendo francês, o referendo holandês e a crise financeira, os ventos mudaram de direcção. Agora, da situação na Ucrânia ao Brexit, do fim da Primavera Árabe à crise da Zona Euro, a maré virou e nós estamos da defensiva.”

No mesmo sentido recomendo a leitura de The Shrinking of the Liberal Order, um artigo de William Galston no Wall Street Journal onde se nota que “The optimistic assumption that history’s arc is linear and progressive is being challenged by the older, darker view that order is locked in a perpetual struggle with chaos, security with danger. If liberal means are no longer adequate to guarantee order and security, say the challengers, they become niceties we can no longer afford.

Mas vamos até à Turquia para vermos até que ponto o que lá se está a passar encaixa neste padrão. E comecemos por referir algumas sínteses que ajudam a seguir o fio dos acontecimentos. Uma delas, bastante completa, com muitas actualizações até ao dia de ontem foi a feita pela The Atlantic, What's Going On in Turkey?. A principal actualização de hoje é que uma das consequência da declaração do estado de emergência por Erdogan foi a suspensão temporária da Convenção Europeia dos Direitos Humanos.

Na edição em inglês do jornal turco Hurriyet, Murat Yetkin descreve, em Extraordinary Times In Turkey, os termos do que considera ser “The biggest elimination operation in Turkish public service is under way following the failed coup attempt of July 15. It focuses on the elimination of suspected sympathizers of Fethullah Gülen from public service - not only from the military but also from the courts, the intelligence services, universities, schools, state auditing institutions, everywhere you can think of.” O texto é interessante por recordar com algum detalhe quem é esse Fethullah Gülen que se tornou no inimigo público número 1 de Erdogan.

Por isso salto para a alemã Spiegel que conseguiu entrevistar o clérigo turco, actualmente a viver na Pensilvânia, Estados Unidos. O texto chama-se precisamente Public Enemy No. 1: A Visit with Fethullah Gülen, Erdogan's Chief Adversary e revela-nos um homem que faz alarde de viver modestamente mesmo dirigindo uma enorme organização. Nessa entrevista, apara além de voltar a negar qualquer envolvimento no golpe, Gülen insinua que “it may have been Erdogan himself who staged the putsch in order to strengthen his power and he notes that the president spoke of a golden opportunity to conduct a purge. But Gülen says he was also surprised by the unusual course taken by the putsch. After all, he said, the rebels failed to eliminate the political leadership right at the beginning. In effect, he is spinning his own conspiracy theory to counter Erdogan's. But he has no proof.”

A verdade é que, como também se recorda neste texto, este líder religioso, propagandista de um Islão mais moderno e moderado, entrou em ruptura com Erdogan, que inicialmente apoiou, um processo que também aconteceu com outros, mesmo que por motivos diferentes. Isso mesmo recorda Asli Aydintasbas, fellowno European Council on Foreign Relations, que em Turkey’s Strongman Recoups His Losses, um texto do Wall Street Journal, faz uma recapitulação sobre a forma como as suas próprias opiniões foram evoluindo: “I was an early supporter of AKP in its first years and enthusiastic about their efforts to diminish the importance of hardline secularism in Turkish politics. Fourteen years ago I wrote on these pages that AKP-style Islamism could evolve into a version of Christian Democrats in Europe. But my own views on secularism have since changed. I now believe that it is impossible to establish a pluralistic democratic order without real secularism. It is also equally difficult to imagine that, having defeated the mighty military, the conservative base of the AKP and all the religious sects that were out on Friday night will want anything but an even more rigid Islamic order headed by Mr. Erdogan.”

Num registo mais analítico, deixo duas sugestões. A primeira é um texto mais longo e informativo, mas que enquadra bem o que se está a passar naquilo que a Turquia foi politicamente nos últimos 100 anos, na prática desde o triunfo de Ataturk e do seu regime autocrático, laico e modernizador. Trata-se de A Coup as Audacious as Turkey's Future, de Reva Goujon na Stratfor. É um texto que não alimenta grandes expectativas sobre a possibilidade de a Europa ou os Estados Unidos terem uma influência suficientemente forte sobre o regime de Ankara para alterarem o curso dos acontecimentos: “As the inevitable crackdown ensues, European lectures on respect for human rights will fall on deaf ears. Turkey's leaders will do what they deem necessary to feel secure, and their European counterparts will bite their tongues as they try to preserve the Continent's tenuous immigration deal with Ankara. Erdogan will similarly use Washington's reliance on Ankara's cooperation in the fight against the Islamic State to demand Gulen's extradition from the United States.”

 A outra análise a não perder é a da The Economist, que dedica a sua capa desta semana à Turquia: Erdogan’s revenge, que introduz defendendo que “Turkey’s president is destroying the democracy that Turks risked their lives to defend.” Mais adiante, no principal editorial desta edição, traça-se um quadro sombrio sobre o future, um futuro que pode não sorrir a ninguém: “Mr Erdogan’s greatest success—the economy—has become his weak point. Many tourists are now too frightened to visit, so the current-account deficit will only gape wider. To stay afloat the country needs foreign investment and loans, so it must reassure foreigners that it is stable. With Mr Erdogan acting like a vengeful sultan, that will be hard. The repercussions of the putsch will be felt for a long time. The coup-makers killed many fellow Turks, discredited the army, weakened its ability to protect the frontier and fight terrorists, rattled NATO and removed the restraints on an autocratic president. A terrible toll for a night of power-lust.”


Para terminar em beleza regresso ao Observador e ao programa que gravamos todas as quintas-feiras, o Conversas à Quinta, com Jaime Gama e Jaime Nogueira Pinto. Hoje foi naturalmente dedicado à situação na Turquia e permitiu uma profundidade de análise que tornou esta episódio especialmente interessante e esclarecedor, em muitos aspectos uma verdadeira lição de história e de geopolítica. Por isso não hesitei em intitulá-lo Golpe na Turquia: O que precisa (mesmo) de saber. Como sempre o programa pode também ser ouvido em podcast (pode descarregar e assinar aqui).

O jornalista turco do Hurriyet que citámos quase a abrir esta newsletter falava de “tempos extraordinários”, e dificilmente poderemos deixar de concordar. O problema é que não são apenas extraordinários, são também perigosos e inquietantes. Na Turquia e bem para além dela. Mas por hoje é tudo, tenham um bom descanso e aproveitem para selecionarem as melhores leituras. Até amanhã.

 
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EUROPOL ALERTA PARA “REPETIDAS AMEAÇAS” DO DAESH A PORTUGAL E A ESPANHA


 


Terrorista do Daesh ameaça a Península Ibérica, num vídeo publicado a 30 de janeiro
Terrorista do Daesh ameaça a Península Ibérica, num vídeo publicado a 30 de janeiro
A Europol destacou as “repetidas ameaças” do Daesh a Portugal e Espanha e considerou que ataques semelhantes aos de novembro, em Paris, podem ocorrer num “futuro próximo” na União Europeia.
No seu relatório anual sobre terrorismo na União Europeia (UE), divulgado esta quarta-feira, o serviço europeu de polícia referiu, no capítulo sobre terrorismo jihadista e o grupo extremista Estado Islâmico (EI), que a organização tem “repetidamente ameaçado a Península Ibérica e os membros da UE da coligação anti-EI nos seus vídeos de propaganda, fazendo referências específicas à Bélgica, França, Itália e Reino Unido“.
No parágrafo anterior, lê-se que os ataques de 13 de novembro, em Paris, que mataram 130 pessoas, introduziram uma tática para “causar mortes em massa“, ao combinar o uso de armas pequenas com dispositivos explosivos improvisados colocados em coletes suicidas.
“A forma como estes ataques foram preparados e perpetrados – planeados por repatriados, muito provavelmente a receber instruções da liderança do EI, incluindo o uso de recrutas locais para realizar os atentados – leva-nos à avaliação de que ataques semelhantes podem voltar a ser encenados na UE num futuro próximo”, refere o documento sobre a situação e tendência do terrorismo na União Europeia.
Entretanto, o Serviço de Informações de Segurança (SIS) confirmou ao Diário de Notícias que há ameaças do Daesh contra Portugal, mas no quadro geral da Península Ibérica.
O diretor do SIS, Neiva da Cruz , salienta que a “menção que o Daesh faz a Portugal tem sido, em regra, inserida no contexto da referência genérica de reivindicação do Al Andalus pela organização terrorista”.
Neiva da Cruz admite  que houve uma situação em que a ameaça foi direta, quando se registou uma “menção ao nosso país através da apresentação, num vídeo de difusão da mensagem jihadista, dabandeira nacional inserida no conjunto de bandeiras de países que integram a coligação contra o Daesh”.

Não há provas que atacante de Nice pertença ao ISIS

A Europol comunicou também não haver qualquer prova de que o atacante de Nice (França) seja um membro do grupo extremista, e que não há prova de envolvimento do EI noutros recentes atentados.
Numa nota divulgada esta quarta-feira sobre os quatro ataques terroristas perpetrados no espaço de um mês (Orlando, EUA, Magnanville e Nice, França e Würzburg, Alemanha), a Europol sublinhou as “dificuldades operacionais em detetar e desmantelar ataques de atores solitários“.
“Apesar de o EI ter reivindicado os últimos ataques, nenhum dos quatro parece ter sido planeado, com apoio logístico, ou diretamente executado pelo EI”, destaca a Europol.
Segundo a organização, existem indícios que os atacantes de Orlando, Magnanville e Würzburg sejam apoiantes dos radicais, mas o “seu envolvimento real com o grupo não pode ser estabelecido”.
O relatório refere que, “além disso, não há nenhuma prova que sugira que o atacante de Nice se considerava membro do EI. Foi relatada a sua radicalização num muito curto espaço de tempo e o seu consumo de propaganda jihadista nos dias anteriores ao ataque”.
“No caso de Würzburg, as notícias são da existência de uma bandeira feita à mão no quarto do agressor”, lê-se na nota, pelo que a Europol concluiu que, apesar da reivindicação dos ataques, a “filiação no grupo não é clara”.
O serviço policial também destacou as palavras usadas nas mensagens do EI sobre os ataques, notando que a agência A’maq argumentou ter recebido informações de fonte não identificada de que os ataques foram realizados por ‘soldados do Califado” ou por um “combatente do EI”.
“Isto em contraste com as reivindicações claras do EI de responsabilidade no ataque de novembro de Paris e de março de Bruxelas, ao dizer que os atacantes eram membros enviados para realizar os atentados”, indicou a Europol, referindo haver ligações religiosas e ideológicas nos ataques de solitários, mas não podem ser excluídos eventuais problemas de saúde mental.
Na passada quinta-feira, um homem atirou um camião contra uma multidão, em Nice, provocando pelo menos 84 mortos, enquanto em Würzburg, na segunda-feira, um jovem feriu cinco pessoas, num comboio com um machado.
A 12 junho, em Orlando, um homem matou 49 pessoas numa discoteca e um dia depois, em Magnanville, foram assassinados dois polícias.
ZAP / Lusa

ESTADO CONDENADO A PAGAR QUASE 150 MILHÕES AO CONSÓRCIO DO TGV


 
Jérôme IBY / Wikimedia
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O Estado foi condenado a pagar quase 150 milhões de euros ao consórcio Elos, que ganhou a obra de execução do TGV (comboio de alta velocidade), mas vai recorrer da decisão do Tribunal Arbitral.
Público avança, na sua edição desta quinta-feira, que ao fim de dois anos o Tribunal Arbitral constituído para julgar o caso “decidiu no final de junho a favor da Elos, considerando que lhe é devida uma parte substancial da indemnização que reclamava num total de 169 milhões”.
“O Governo vai mover em breve uma ação para anular a sentença, mas também já avançou com um processo judicial para afastar um dos árbitros que proferiu o acórdão”, adianta o jornal, acrescentando que “a estratégia passa ainda por um recurso ao Tribunal Constitucional e um pedido de apreciação ao Tribunal de Contas“.
Uma fonte do Ministério do Planeamento e das Infraestruturas disse ao Público que a decisão do Tribunal Arbitral, que foi constituído em fevereiro de 2014, é de 27 de junho e condena o Estado a pagar 149,6 milhões de euros a privados.
“O Estado foi condenado no processo Elos no pagamento de cerca de 150 milhões relativamente a faturas reclamadas pelo consórcio, sendo que o pedido era de cerca de 170 milhões”, indicou a mesma fonte.
O ministério esclareceu ao jornal que houve um voto vencido.
Nesse voto - do árbitro designado pelo Estado -, “considera-se que a decisão do Tribunal Arbitral é incorreta em termos de facto e de direito (…) em linha com o que foi defendido na contestação do Estado e nas respetivas alegações escritas”, segundo a mesma fonte.
A mesma fonte disse ao Público que “o Governo tudo fará nas próximas semanas, através de uma anulação do acórdão a interpor junto do Tribunal Central Administrativo”. O prazo para mover este processo é de 90 dias.
O jornal diz ainda que há outras medidas em curso, como o pedido judicial para afastar o árbitro que foi nomeado em representação da Elos.
Em fevereiro de 2014, foi constituído o tribunal arbitral para a avaliação do pedido de indemnização apresentado pelo consórcio Elos - Ligações de Alta Velocidade, “na sequência da recusa de visto pelo Tribunal de Contas aos contratos relacionados com as infraestruturas ferroviárias no troço Poceirão-Caia e da Estação de Évora”.
Ao consórcio Elos, liderado pela então Soares da Costa e pela Brisa, foi adjudicado o projeto de ligação de alta velocidade ferroviária Poceirão-Caia, cujo contrato foi chumbado pelo Tribunal de Contas, no final de março de 2012, levando o governo de então a anunciar o abandono “definitivo” da construção de uma rede portuguesa de alta velocidade (mais conhecida como TGV).
Na sequência desta decisão, o consórcio avançou com um pedido de indemnização ao Estado por despesas incorridas de 169 milhões de euros.
/Lusa
Comentário: triste País, o que te têm feito.
J. Carlos

FRANÇA “VINGOU-SE DE NICE” COM BANHO DE SANGUE NA SÍRIA


 
Ataque aéreo a Manbij provocou 140 mortos civis
Ataque aéreo a Manbij provocou 140 mortos civis
Pelo menos 260 civis morreram esta semana na Síria em dois ataques aéreo da coligação internacional contra o Estado Islâmico. Especialistas em política internacional consideram que esta poderá ser a vingança da França pelo massacre de Nice.
Esta quarta-feira, o governo sírio exigiu que a ONU tome medidas imediatas contra a França e os Estados Unidos, depois de dois ataques aéreos terem provocado 260 vítimas civis na Síria.
Em Manbij, na região de Aleppo, um ataque aéreo dos Estados Unidos provocou esta segunda feira 140 mortos. Segundo a AMN, as vítimas eram civis, com idades compreendidas entre os 20 e os 65 anos.
Na terça-feira, um ataque da Força Aérea da França provocou mais 120 mortos civis, na aldeia de Toukhan Al-Kubra, junto à fronteira turco-síria.
“O governo da República Árabe Síria condena, nos termos mais fortes, os dois massacres sangrentos perpetrados pelos franceses e norte-americanos, que lançaram mísseis e bombas contra civis”, declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio, em comunicado citado pela RT.
Mas alguns analistas e especialistas em política internacional interrogam-se se este ataque não terá sido uma represália da França pelo massacre da semana passada em Nice, que provocou 84 mortes e mais de uma centena de feridos.
Daniel McAdams, especialista em política internacional e director do Instituto Ron Paulconsidera que o incidente desta quarta-feira na fronteira turco-síria pode ter sido um ato de vingança dos franceses pelo ataque terrorista em Nice.
O analista recorda que, após o ataque terrorista em Nice, o presidente francês François Hollandeprometeu “intensificar os bombardeamentos às posições do Estado Islâmico na Síria”, para enfraquecer e destruir a organização terrorista, que reivindicou uma série de atentados em todo o país.
“Fiel à sua palavra, o presidente francês matou mais de 120 civis na Síria“, acusa McAdams, “em retaliação por uma acção de um tunisino a residir em França, que se diz que nem sequer era muçulmano praticante”.
“Isto levanta algumas questões óbvias”, continua o analista.
“Porque razão 120 civis inocentes merecem morrer na Síria por 84 civis inocentes terem morrido em França?”, pergunta McAdams.
“E como espera a França evitar consequências trágicas da sua política agressiva no Médio Oriente, que continua a fornecer uma infindável argumentação aos recrutadores de terroristas?”, conclui.
O mundo parece ter entrado num trágico ciclo vicioso – sem solução à vista.
AJB, ZAP

VAI SER IMPOSSÍVEL TRABALHAR POR CAUSA DO AQUECIMENTO GLOBAL


 

ToniVC / Flickr

O aquecimento global já está a ter efeitos devastadores na economia mundial, afectando a produtividade de trabalhadores por todo o mundo, mas as consequências vão agravar-se ao ponto de ser impossível trabalhar em certos locais do planeta.
A previsão é de um relatório divulgado pela ONU esta terça-feira, que vaticina que a economia mundial pode perder mais de dois mil milhões de dólares (1.800 milhões de euros) até 2030 devido à perda de produtividade provocada pelo aquecimento global.
De acordo com a Fundação Reuterstornar-se-á impossível trabalhar em algumas partes do mundo devido às altas temperaturas, de acordo com o relatório da ONU que refere que se espera uma queda do PIB em 43 países.
A ONU prevê que, em 2030, o PIB da Indonésia e da Tailândia sofra quedas de 6%, na Índia de 3,2% e na China de 0,8%, em consequência da falta de produtividade.
“As condições climáticas actuais nas zonas tropicais e sub-tropicais do mundo são já tão quentes durante as estações quentes que os efeitos na saúde no trabalho já se verificam e a capacidade de trabalho de muitas pessoas é afectada”, refere o autor do estudo e director do Fundo Internacional de Saúde e Ambiente (HEIT), Tord Kjellstrom, citado pela Reuters.
No sudeste da Ásia, estamos a falar, já no presente, da perda de até 20% de horas anuais de trabalho e até 2050, esse valor pode duplicar à medida que os efeitos do aquecimento global se agravam, segundo prevê o relatório.
O aumento crescente das horas de descanso vai tornar-se “um problema significativo”, nota ainda Kjellstrom, antecipando que as alterações climáticas vão tornar os dias cada vez mais quentes e criar maiores períodos de calor excessivo.
Os trabalhadores mais mal remunerados, os que efectuam tarefas manuais, agrícolas e fabris, são os que arriscam maior exposição ao calor e, logo, consequências maiores em termos de saúde e de economia.
Kjellstrom desafia assim os países a tomarem medidas imediatas e decisivas contra o aquecimento global.
“O falhanço provocará a frequência e intensidade dos desastres com agravamento considerável para lá de 2050 e a situação no final deste século, será especialmente alarmante para as pessoas mais pobres do mundo”, avisa.

Junho foi o mês mais quente da História moderna

As temperaturas têm subido de forma drástica nos últimos tempos e 2015 foi o ano mais quente de sempre desde que se começaram a registar os dados, no século XIX.
Um ano tão quente que fica também, associado ao pior El Niño de sempre que ainda está a ter reflexos por todo o mundo, nomeadamente no Pólo Norte, que está 30 graus mais quente.
O último mês foi o Junho mais quente na História moderna, marcando o 14º mês consecutivo de recordes de registos de calor, anunciou a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA) dos EUA.
“A temperatura média global sobre superfícies terrestres e oceânicas em Junho de 2016 foi a maior dos meses de Junho no registo de dados de temperatura do NOAA, que remonta a 1880″, disse a agência num comunicado.
“Isto marca o 14º mês consecutivo em que o registo de temperatura global foi quebrado, a maior sequência num registo de 137 anos”, lê-se também no documento.
ZAP / Lusa

AUTORA DO DISCURSO DE MELANIA TRUMP ASSUME A CULPA PELO PLÁGIO


 
Melania Trump, mulher do candidato republicano às presidenciais nos EUA
Melania Trump, mulher do candidato republicano às presidenciais nos EUA
A autora do discurso proferido pela mulher do magnata Donald Trump, Melania, que foi acusada de plágio, admitiu ter cometido um erro e pediu demissão da equipa de campanha do candidato republicano à Casa Branca.
O discurso feito na abertura da Convenção do Partido Republicano causou controvérsia por conterexcertos muito parecidos com o discurso de Michelle Obama, mulher do atual presidente norte-americano, na convenção democrata de 2008, quando Barack Obama foi nomeado candidato do partido para as presidenciais que acabou por vencer.
Carta de Meredith McIver sobre o discurso de Melania Trump
Meredith McIver trabalha para a empresa privada de Trump, e não para o comité de sua campanha presidencial.
Ao admitir o erro – numa declaração em papel timbrado da Trump Organization -, a redatora Meredith McIver, que é amiga da família do empresário, afirmou-se disposta a renunciar à função, mas Donald Trump – que tanto nos dizia “you’re fired” no seu reality show The Apprentice – convidou-a a ficar.
A redatora descreveu que, ao trabalhar na elaboração do discurso, discutiu muito com Melania Trump sobre as pessoas que poderiam inspirar a mensagem que a mulher do empresário gostaria de passar para o povo norte-americano. Num dos momentos da conversa, Meredith disse que Melania manifestou que “uma pessoa que ela sempre gostou é Michelle Obama.”
“Por telefone, ela leu-me algumas passagens do discurso de Michelle Obama como exemplos. Eu escrevi as passagens e posteriormente incluí os excertos das frases no projeto que acabou por se tornar no discurso final”, explicou Meredith McIver, que afirma não ter verificado “as intervenções” de Michelle.
“Este foi o meu erro, e sinto-me péssima por causa do caos que o facto provocou para a Melania, para os Trump, e mesmo para a senhora Obama. Não foi com más intenções”.
A redatora finaliza a nota desculpando-se: “peço desculpas pela confusão e histeria que o meu erro causou“.

ATRIZ DE CAÇA-FANTASMAS ABANDONA TWITTER APÓS ATAQUE RACISTA MASSIVO

 

Frank Ockenfels / CTMG
A atriz Leslie Jones, que interpreta a personagem Patty no remake do filme Ghostbusters
A atriz Leslie Jones, que interpreta a personagem Patty no remake do filme Ghostbusters
Esta segunda-feira, a atriz Leslie Jones, uma das protagonistas do filme Caça-Fantasmas, começou a divulgar no Twitter alguns dos ataques que estava a sofrer nas redes sociais por ser mulher e negra.
Leslie Jones, conhecida por fazer parte do elenco do Saturday Night Live, afirma ter abandonado o Twitter a chorar devido ao ódio recebido apenas por ter feito um filme. Mais do que isso, que as críticas não eram pelo filme em si, mas pelo fato de ser negra.
Depois de expor os agressores, Leslie Jones fez um apelo público para que o Twitter interviesse na questão.
Em nota ao site BuzzFeed, um porta-voz do Twitter afirmou que esse tipo de comportamento racista não é tolerado e que já tomaram as devidas providências contra várias das contas que foram denunciadas pela atriz e pelos fãs.
Esta quarta-feira, finalmente, o Twitter baniu permanentemente a conta de Milo Yiannopoulos, um utilizador com 338 mil seguidores online que terá liderado as mensagens racistas contra a atriz.
O editor de tecnologia do site Breitbart, que tinha publicado uma crítica mordaz ao filme, começou por responder com sarcasmo às queixas da atriz: “Se não atingires o sucesso à primeira (porque o teu trabalho é um lixo), faz o papel de vítima”.
Milo Yiannopoulos, que se autoproclamava “o maior supervilão da internet”, já fez declarações polémicas como comparar a cultura da violação às histórias do Harry Potter (“são ambos fantasia”), referir-se a Donald Trump carinhosamente como “papá” e afirmar-se como porta-voz do movimento Gamergate, conhecido por atacar mulheres que trabalham na indústria de videojogos.
Antes de ser banido, Yiannopoulos afirmou ao site inglês Heat Street que “evidentemente” não se arrependia do seu comportamento em relação à atriz, mas as feministas, por outro lado, deviam arrepender-se de ensinar às mulheres fortes que elas são vítimas e de atacarem pessoas por possuírem opiniões diferentes das delas.

Ataques racistas

Contrariando todas as expectativas dos pessimistas, a nova versão de “Ghostbusters” tem arrancado vários elogios da crítica e do público.
No entanto, a atriz Leslie Jones, que interpreta a personagem Patty no novo filme, acabou por se tornar o principal alvo dos comentários maliciosos contra o filme, a grande maioria de cunho racista.
Entre os insultos que recebeu nas redes sociais, Leslie Jones denunciou ter sido chamada de “macaca” diversas vezes, além de ter recebido fotos de traseiros, pénis e até uma foto sua com esperma sobre o rosto.
A atriz começou por reagir partilhando as mensagens, expondo os agressores na esperança que as pessoas fossem atrás deles da mesma maneira com que esses utilizadores foram até ela.
No entanto, a própria classe artística tratou de defender Jones da loucura que se tornou o Twitter.
O diretor do novo Caça-Fantasmas, Paul Feig, comentou o caso afirmando que a atriz é uma das melhores pessoas que já conheceu e que qualquer ataque contra ela é um ataque contra todos.
A atriz Katie Dippold, que também participa do filme, foi outra que comentou o caso, ainda que de maneira mais discreta, ressaltando o brilhantismo da sua colega de trabalho.
Os utilizadores também reagiram em defesa de Jones. Utilizando a hashtag #LoveForLeslieJ, começaram a enviar mensagens destacando tudo aquilo que ela já fez de bom, inspirando raparigas negras com as suas personagens ou e elogiando as suas participações no programa Saturday Night Live.
Ainda assim, a atriz afirmou que o episódio serviu para que deixasse de ser ingénua a ponto de acreditar que o racismo não existe mais, e que “este é um mundo em que precisamos dizer mesmo que as vidas negras importam, sim“.