quinta-feira, 23 de março de 2017

“Serração Da Velha” Dentro De Portas… Devido A Condições Meteorológicas Adversas

O Núcleo Juvenil de Animação Cultural de Oliveirinha (NACO) realiza, no próximo sábado, 25 de março, mais uma edição da tradicional “Serração da Velha”.
O espetáculo, que consiste na sentença das “velhas” que o “povo” sujeita à avaliação do “diabo” a quem cabe escolher a que será “serrada” em função das maldades cometidas e dos bens a deixar, vai este ano decorrer dentro de portas.
Devido à forte possibilidade de chuva e frio, a “Serração da Velha” vai realizar-se dentro das instalações da coletividade, em Oliveirinha, às 21h30.
No próximo sábado, não perca a “Serração da Velha” … no NACO!
CARNE CONTAMINADA

Michel Temer tem um ministro da Justiça, chamado Osmar Serraglio, que até ontem estava escondido e vinha evitando aparições públicas; o motivo é sua ligação com a máfia dos fiscais agropecuários; como, segundo a Polícia Federal, os fiscais arrecadavam propina para o PMDB, de Temer e Serraglio, e para o PP, do ministro Blaro Maggi, o Palácio do Planalto ainda não conseguiu reagir ao desastre da Operação Carne Fraca, que já causa prejuízos diários de US$ 63 milhões – ou R$ 200 milhões/dia – ao Brasil; segundo o senador Roberto Requião (PMDB-PR), "se tivéssemos governo no Brasil, estaríamos fazendo a investigação da investigação"; enquanto isso, frigoríficos paralisam suas unidades e ruralistas, que apoiaram o golpe de 2016, sofrem grandes prejuízos

247 – A Operação Carne Fraca, deflagrada há poucos dias pela Polícia Federal, já representa um dos maiores desastres econômicos da história do País. As exportações brasileiras de proteína animal caíram a zero, provocando prejuízos de US$ 63 milhões – ou quase R$ 200 milhões – por dia.

Até agora, a única reação de Michel Temer foi levar embaixadores a uma churrascaria de carnes importadas, num plano fracassado, e classificar como "espetáculo" a ação da Polícia Federal.

Temer não pode reagir com mais firmeza por uma razão simples. Seu ministro da Justiça, Osmar Serraglio, que foi indicado ao cargo por ninguém menos que Eduardo Cunha, chamava o líder da máfia dos fiscais de "grande chefe". Até ontem, ele estava desaparecido e só fez uma reaparição rápida na posse de Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal.

Além disso, segundo a Polícia Federal, os fiscais arrecadavam propina para o PMDB, de Temer e Serraglio, e para o PP, do ministro Blaro Maggi. Ou seja: Temer é refém do que a PF ainda pode vazar. 

Para o senador Roberto Requião (PMDB-PR), "se tivéssemos governo no Brasil, estaríamos fazendo a investigação da investigação" (leia aqui).

Para piorar, o Brasil tem hoje um chanceler, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que também está na lista de Janot e não é respeitado nem pelos vizinhos mais próximos. Com o golpe, não custa lembrar, o Brasil se tornou um anão diplomático.

Ou seja: Temer não tem credibilidade no exterior, nem força para enfrentar a questão da carne internamente.

Enquanto isso, frigoríficos paralisam suas unidades e ruralistas, que apoiaram o golpe de 2016, sofrem grandes prejuízos.

Brasil 247

UM COMENTÁRIO ACERCA DOS “BARÕES DA DROGA” NA GUINÉ-BISSAU

Abdulai Keita, opinião  
I – Nota de partida

Li com muita atenção o artigo da opinião cá indicado, intitulado “o que é e como atua um Barão da Droga? Em defesa de José Mário Vaz e Braima Camará”, da autoria de Sr. Maram Sani (Cif., http://guineendade.blogspot.ch/ 2017/03/opi niao-o-que-e-e-como-atua-um-barao-da.html#comment-form; acessado, 22.03. 2017). E o que eu tenho a dizer neste debate em jeito de um rápido comentário, é o seguinte que segue no subsequente, concluído por uma resposta definitiva, endereçada a este autor e além.
  
II – Comentário

A Guiné-Bissau é a Guiné-Bissau, tal e qual. Eu sou bissau-guineense e orgulho-me muito de ser bissau-guineense. E é a partir desta posição que me digo. Para servirmos bem hoje este país, temos que saber muito bem PARTIR DA NOSSA REALIDADE E SERMOS BEM REALISTAS (parafraseando camarada Cabral). No sentido de termos e metermo-nos bem na cabeça, para se ter a ideia clara de quem somos nós no atual contexto e quadro do mundo globalizado ou em globalização. O que podemos, devemos e, o que não podemos e não devemos permitir-nos, neste contexto e quadro, nunca, mas nunca mesmo. Sobretudo no exercício das funções políticas neste nosso país querido do Povo Bom e, consequentemente, empreendimento e execuções de ações decorrentes de tais funções.

Quero dizer, é, que isso significa que, nós temos que saber bastante bem que somos UM PAÍS PEQUENINO DE ÁFRICA OCIDENTAL; UM PAÍS PÓS-COLONIAL, mas continuando a viver ainda económicamente na pura e dura situação colonial num contexto político não colonial (qualquer coisa que fazemos ou fizermos é da nossa inteira responsabilidade – o Tuga já se foi embora desde o Outubro de 1974 deixando-nos efetivamente as sequelas do povo colonizado).

Em todo o caso estamos nesta situação. Mas é nesta situação que somos outra coisa também. Somos, atenção!, UM PAÍS RICO, MAS APENAS POTENCIALMENTE. Em relação a nossos recursos naturais (mineiro, haliêutico, faunístico, florestal e paisagístico) e humanos (conhecimentos, competências técnico-profissionais e experiências prático-operativas dos nossos pequenos agricultores [rizicultores de mangrove em particular], pequenos criadores de gado e artesões, em diferentes domínios das suas práticas produtivas e sociais).

Não obstante desta situação toda, e tenhamos a coragem de também dize-lo em voz alta, continuamos UM PAÍS MUITO PROBRE DE MANEIRA EFETIVA, REAL, PRÁTICA E MATERIALMENTE NA VIDA DE DIA-A-DIA. Em relação às insuficiências dos nossos conhecimentos, às insuficiências das nossas competências técnico-profissionais (da pesquisa cientifica fundamental e aplicada, desenvolvimento de produtos materiais e imateriais e, produção e comercialização destes), às insuficiências das nossas experiências prático-operativas e às insuficiências dos nossos meios financeiros, com os quais lançamo-nos nos desafios mundiais dos nossos tempos para fazer face aos problemas do nosso mundo contemporâneo globalizado e/ou em globalização.

Temos tido casos de situações de instabilidades político-civis e/ou político-civis e militares ao par, à repetição permanente, durante praticamente todo o período dos últimos 19 anos. Por isso tornamo-nos, ou acentuou-se o nosso carácter de UM PAÍS FRÁGIL OU FRAGILIZADO; e neste quadro e por tudo isso, por mal ou bem, tornamo-nos até aqui, NUM PAÍS AINDA, MUITO DEPENDENTE DA “AJUDA” EXTERNA.

E desde os tantos, pelo menos, 19 anos, tornamo-nos NUM PAÍS COM GRAVES PROBLEMAS DE IMAGEM NEGATIVA no exterior e localmente junto da nossa própria população e por isso, COM A NECESSIDADE URGENTE E IMPERATIVA DE ENTUSIASMAR ESTA NOSSA PRÓPRIA POPULAÇÃO LOCAL E NOSSOS VERDADEIROS AMIGOS DE FORA. Para se poder construir iniciativas sérias com o fim de poder sacudir uma vez por todas, todos os elementos portadores das características negativas e prejudiciais e, promover positivas e favoráveis antes indicadas aqui, para fazermos desde então deste nosso país, deste tipo que é neste momento, um país de outro tipo. Emancipado e respeitado em todo o mundo.

Mas o caminho ainda até lá é longe. Mas será. Por isso, é minha posição esta aqui.  Em como resposta definitiva e com todo o respeito ao Sr. Maram Sani, mesmo reconhecendo algo de aceitável numa ou outra passagem do argumento apresentado neste seu artigo de opinião cá comentado. Eis esta minha resposta de seguida.

III – Resposta

Quando as coisas são assim, tal como antes descrito (e não é tudo) neste texto, num país tal como este nosso nesses nossos dias, e tudo isto é conhecido ou devendo ser conhecido pelos seus habitantes, sobretudo os membros da sua elite governante e seus intelectuais, NUM TAL PAÍS, ninguém se pode dar o luxo de se meter em situações de querelas ou conflitos graves com PAÍSES DOS CARIZES DE UMA POTÊNCIA MUNDIAL, DE GRANDE POTÊNCIA OU DE POTÊNCIA REGIONAL. Sem causa forte justa (injustiça inaceitável contra a nação toda ou agressão de invasão, por exemplo). Sobretudo, quando tratando-se dos problemas considerados internacionalmente imorais nas organizações em que estes países e os países tal como o nosso são membros. Ir contra este princípio é estrategicamente falso. Totalmente falso. Independentemente das razões ou qual for que sejam os justificativos.

Eis porque Sr. Maram Sani, a Guiné-Bissau, o Estado bissau-guineense, não pode, nos dias de hoje, de forma nenhuma, nem de perto, e nem de longe, PROTEGER, propositada, deliberada, programática e “planificadamente” pessoas nenhumas, enfocadas de “BARÃO DE DROGA” pelo governo estado-unidense ou outros atuais estados de outros países do nosso mundo atual, do mesmo cabedal.

Obrigado.
  
Pelo bom juízo e bom senso na nossa terra bem-amada, a Guiné-Bissau do POVO BOM.
Amizade.

Keita

*Pesquisador Independente e Sociólogo (DEA/ED)

SONANGOL NO EPICENTRO DA CORRUPÇÃO EM ANGOLA

A unidade de análise da revista “The Economist” diz que a abertura de uma investigação à Sonangol aumenta a percepção de que Angola é um dos países mais corruptos do mundo. “Percepção” será sinónimo de “certeza” ou é uma, mais uma, forma de branquear a realidade?

AEconomist Intelligence Unit (EIU) considerou hoje que a abertura de uma investigação ao pagamento de 350 milhões de dólares à Sonangol pela petrolífera Cobalt aumenta a perceção de que Angola é um dos países mais corruptos do mundo.

“As acções da SEC [regulador norte-americano dos mercados financeiros] e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América criaram uma publicidade negativa significativa para Angola, e aumentaram a percepção de que o país é um dos mais corruptos no mundo”, escrevem os peritos da unidade de análise económica da revista “The Economist”.

Lembrando que Angola está em 164º lugar num ranking’ de 176 países analisados sobre a corrupção, feito pela Transparência Internacional, os analistas dizem que “a potencial abertura de uma nova investigação envolvendo a Sonangol vai fazer pouco para ajudar a empresa a melhorar a sua imagem global”.

Por outro lado, concluem, a notícia é também negativa para a maior empresa do regime e para a sua presidente, Isabel dos Santos (filha de José Eduardo dos Santos, presidente nunca nominalmente eleito e no poder há 38 anos): “Representa um desafio significativo à reputação da nova presidente, a bilionária filha do Presidente e, nos meses anteriores às eleições legislativas, pode ser problemático para os antigos executivos da Sonangol que saíram da empresa, mas continuam entre os principais membros do partido no poder”, escreve a EIU.

A SEC, equivalente à portuguesa Comissão do Mercado e Valores Mobiliários (CMVM), está a investigar o pagamento de um “bónus de assinatura” pelo contrato de exploração do Bloco 20, em Dezembro de 2011. A entrega de um “bónus de assinatura” é uma prática comum na indústria petrolífera, representa um pagamento ao Governo do país onde as empresas vão explorar os recursos naturais e é frequentemente criticado pelas organizações internacionais por nem sempre o destinatário das verbas ser identificado de forma transparente.

O contrato, segundo disse a Cobalt à Bloomberg na semana passada, obrigava as duas petrolíferas a fazerem contribuições sociais para a Sonangol, incluindo para o centro de pesquisa, que, segundo a Organização Não-Governamental Global Witness, recebeu 350 milhões de dólares em 2014.

Em comunicado, esta ONG afirma “não ter conseguido confirmar que o centro realmente existe”. Um porta-voz da BP comentou à Bloomberg que a Sonangol informou a petrolífera de que o centro de tecnologia está ainda em “fase de planeamento”. O Bloco 20 é detido em 40% pela Cobalt e a Sonangol e a BP detêm, cada uma, 30%, de acordo com o site da BP.

Esta não é a primeira vez que a SEC investiga as operações da Cobalt em Angola: em Fevereiro, as autoridades norte-americanas arquivaram uma investigação de cinco anos sobre a acusação de que os parceiros angolanos da Cobalt eram figuras de topo da hierarquia política angolana.

No passado dia 17, o Folha 8 escreveu, sob o título “Cadê os milhões de dólares?”: O regulador norte-americano dos mercados financeiros (SEC) está a investigar o pagamento de 350 milhões de dólares pelas petrolíferas BP e Cobalt à Sonangol para a construção de um centro de pesquisa que, cinco anos depois, está ainda em planeamento.

A Global Witness diz que, em Angola, desapareceram centenas de milhares de dólares em pagamentos feitos por consórcios petrolíferos à Sonangol, alegadamente para financiar um centro de pesquisa… que não existe.

O alerta foi dado pela organização Global Witness, que combate a corrupção no sector da exploração de recursos naturais. Esta organização internacional segue com atenção há vários anos os pagamentos para projectos sociais efectuados por companhias como a British Petroleum, ou BP, e os seus parceiros, incluindo a norte-americana Cobalt, no âmbito de negócios cm o regime de Angola.

“Os consórcios concordaram em doar 350 milhões de dólares para um projecto chamado ‘Centro de Pesquisa e Tecnologia’ da petrolífera angolana Sonangol”, explica o especialista para assuntos angolanos da Global Witness, Barnaby Pace. Durante muito tempo, a organização tentou encontrar o centro, mas “nem a BP, nem a Cobalt nem a Sonangol nos mostraram qualquer prova de que ele existe.”

Segundo a Global Witness, apenas a britânica BP respondeu sequer às indagações, afirmando que o centro ainda estaria em fase de planeamento. Isto, apesar de já ter sido efectuado o pagamento de uma grande parte da soma. O facto de não se saber onde foi empregue o dinheiro desperta suspeitas de que tenha sido desviado, diz Barnaby Pace.

“O povo angolano não tem como verificar o que aconteceu a esta enorme soma de dinheiro”, afirma o especialista. “Não há provas de que se trate de corrupção. Mas o que é grave é que, neste caso, os pagamentos só foram tornados públicos porque a Cobalt foi obrigada a publicar todos os seus contratos por estar cotada na Bolsa de Valores de Nova Iorque”.

Barnaby Pace pergunta: Quantas outras empresas estarão a fazer pagamentos idênticos dos quais o público nada sabe?

Para a Global Witness, é óbvio que as novas leis anticorrupção nos Estados Unidos da América e na Europa, que obrigam as empresas a maior transparência, devem ser rapidamente implantadas, para proteger os interesses de cidadãos em países como Angola, mas também dos investidores nestas empresas.

Não é, no entanto, o entendimento de muitas multinacionais, que, sobretudo nos Estados Unidos, tentam travar a implantação através de processos jurídicos.

O especialista da Global Witness diz que esta actuação dos consórcios vai evidentemente contra os seus próprios interesses. “Sobretudo as empresas que trabalham em países com regimes altamente cleptocráticos devem preparar-se para a eventualidade desses regimes caírem. E nessa altura as empresas que não são limpas correm o perigo de ser expulsas”, comenta Barnaby Pace.

Por enquanto, em Angola, o risco de uma empresa ser expulsa por práticas opacas e duvidosas é muito remoto. A norte-americana Cobalt, por exemplo, está sob investigação das autoridades do seu país desde 2011 por suspeita de negócios ilícitos com uma empresa angolana, propriedade de funcionários do estado e governantes, incluindo o actual vice-presidente, Manuel Vicente.

“Na altura, ele era o presidente da Sonangol, mas detinha uma participação secreta na empresa em questão”, lembra o especialista da Global Witness: “É por isso que insistimos tanto na necessidade de transparência total no que toca à propriedade das empresas, sobretudo nas indústrias extractivas. Só assim se saberá quem beneficia dos contratos e só assim se poderá lutar contra a corrupção”.
Folha 8 com Lusa

ÁFRICA ESQUECE-SE DA SAÚDE – QUE TAL ROUBAREM MENOS?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou hoje os países africanos a investirem mais nos seus sistemas de saúde para poderem detectar, prevenir e tratar melhor a depressão, doença que afecta 30 milhões de pessoas no continente. Se calhar, para ajudar em todas as enfermidades, a OMS deveria aconselhar os governos a roubar menos.

Arecomendação foi feita na cidade da Praia, por Sabastiana Nkoma, do Escritório Regional da OMS para a Saúde Mental, e por Shekhar Saxena, director do departamento de Saúde Mental da OMS, que estão em Cabo Verde para participar numa série de actividades sobre a depressão, no âmbito do dia mundial de saúde, que se assinala a 7 de Abril.

Segundo Sabastiana Nkoma, os investimentos devem ser feitos a nível financeiro, com mais infra-estruturas de saúde, como hospitais, clínicas, mas também a nível de recursos humanos e profissionais capacitados para abordar a doença, que afecta 30 milhões de pessoas nos 47 países da região africana da OMS, 4% da população.

“Nos países da África, os profissionais que deviam atender as pessoas que têm problema de depressão são escassos, há poucos psiquiatras, poucos psicólogos e assistentes sociais, e mais de 75% da população que sofre transtorno mental, incluindo a depressão, não recebe nenhum tipo de tratamento”, apontou.

A especialista sublinhou que as pessoas procuram primeiro os serviços tradicionais e quando a depressão já está fora de controlo é que aparecem nos postos sanitários.

“É por isso que devemos prestar mais atenção e todos os governos são recomendados a investir mais nos sistemas de saúde, incluindo a saúde mental, onde está a depressão”, sugeriu.

A OMS recomenda que 5% dos orçamentos gerais dos países tem que ser dedicado ao sistema de saúde, mas a OMS disse que os países africanos ainda não chegaram a essa meta, estando apenas em 1% desse valor.

“Todos os países, ricos ou pobres, grandes ou pequenos, independentemente da cultura, da língua, devem dar mais atenção à depressão”, completou Shekhar Saxena, considerando que só com mais recursos se pode tratar mais pessoas.

Relativamente a Cabo Verde, onde 4,9% da população sofre de depressão, Sabastiana Nkoma disse que o país não está mal, estando a atingir as recomendações da OMS sobre a doença.

A depressão é um transtorno mental caracterizado por tristeza persistente e pela perda de interesse em actividades que normalmente são prazerosas, acompanhadas da incapacidade de realizar actividades diárias, durante pelo menos duas semanas.

Em todo o mundo, o número de pessoas que vivem com a doença aumentou mais de 18% entre 2005 e 2015, para 322 milhões, com a prevalência a ser maior entre as mulheres.

A depressão é também a maior causa de incapacidade em todo o mundo e mais de 80% da carga está entre as pessoas que vivem em países de baixa e média renda.

Este ano, no âmbito do Dia Mundial de Saúde, a OMS vai assinalar o dia sob o lema “Depressão: vamos conversar”, salientando que conversando abertamente é o primeiro passo para entender melhor o assunto e reduzir o estigma associado à doença.

Na quinta e sexta feiras, os dois especialistas internacionais da OMS vão participar, na cidade da Praia, num seminário, organizado em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian, sobre o acesso e utilização adequada de medicamentos a pessoas que sofrem de doenças mentais.


“O HOMEM É O ÚNICO ANIMAL QUE SE MATA A SI PRÓPRIO”

O escritor angolano Pepetela ainda mantém uma réstia de otimismo, mas confessa-se desencantado com os acontecimentos globais do último ano. "De repente, parece que tudo de mau pode acontecer", afirmou ao JN.
No Festival Literário da Madeira, Pepetela, autor de algumas das obras mais marcantes da literatura angolana do derradeiro meio século, foi convidado a falar do binómio realidade/utopia, a partir dos seus próprios livros, e do impacto do tempo na manutenção dos sonhos. Foi por aí mesmo que começámos.

No seu livro "Yaka" escreve a dada altura que "queremos mudar o mundo, mas não conseguimos mudar-nos a nós próprios". Afinal, é mais fácil mudar o mundo ou a nós próprios?

Francamente, estão muito ligados. Não é possível fazer uma coisa sem a outra.

A frase expressa algum desencanto.

Gostava de ser mais otimista, mas, nos últimos tempos, o género humano parece estar a perder algumas qualidades. Este último ano foi estranho. De repente, parece que tudo de mau pode acontecer, embora não vá acontecer. O Homem é o único animal que se mata a si próprio. O leão, a pantera, mais nenhum mata um semelhante. Talvez haja algo de genético aí. Como a ciência, tem avançado tanto, é possível que altere um gene qualquer e consiga tornar o Homem mais humano. É um género que tem perdido a sua dimensão humana. É, seguramente, uma fase, pelo que espero assistir ainda a um ressurgimento da importância dos valores e dos ideais.

A "Geração da Utopia" sofreu um banho de realidade?

Infelizmente, sim. Não que, pessoalmente, tivesse enormes expectativas. Ao longo dos meus livros fui tendo oportunidade de exprimir algumas das dúvidas que sempre tive.

É inevitável que a utopia se transforme em amargura com o passar dos anos?

Precisamos de utopias para atingir o possível. A realidade mostra-nos os limites da utopia. Se não acreditarmos em algo que mobilize as pessoas ficamos estagnados.

Faltam sonhos e ideais à atual geração de jovens?

De um modo geral - há sempre muitas exceções, felizmente -, tenho a ideia que os jovens que hoje têm 18 ou 20 anos adotaram o modo de vida norte-americano. É a influência da globalização e do capitalismo extremo. O ideal supremo de hoje é ter sucesso e, se para o atingir for necessário passar por cima dos outros, é isso que se fará. Sempre fui um otimista. Achei que, com as novas gerações, tudo iria ser melhor. Mas afinal está a ser pior.

A sua geração não tinha o mesmo apego aos bens materiais?

Não. Quase todos éramos pobres, vínhamos de famílias sem recursos, e vivíamos com o mínimo. Não aspirávamos a muito mais. Achámos que era a partir dessa base que todos iriam ter um pouco mais. Havia já na altura sinais de que havia quem quisesse mais. Mas eram benefícios muito pequenos, como ter alguém que lhe carregasse a mochila. Se tivesse esse benefício, talvez hoje estivesse livre dos problemas de coluna de que sofro...

A justiça social, uma das grandes reivindicações da independência, não ficou aquém do desejável?

Apesar de os angolanos sentirem hoje que já não sofrem as injustiças do sistema colonial, hoje há uma maior diferenciação social. E agora, ao contrário do que acontecia há 50 anos, as pessoas não aceitam resignadas essa fatalidade. Há mais instrução - não confundir com educação - e as pessoas estão conectadas com o Mundo.

Quando, há mais de meio século, combateu pela independência e pela liberdade imaginou que elas seriam assim, como acabaram por revelar-se?

Já na altura da independência alertava que a realidade não seria exatamente como tínhamos idealizado.

A relação dos intelectuais com o poder nem sempre termina da melhor forma. Orgulha-se de ter saído na altura certa?

Fico é satisfeito por ter saído. Ainda assim, durou uns três anos.

Teria construído a obra que segurou se tivesse continuado a desempenhar funções governativas por muito mais tempo?

Seguramente que não. Até porque a disponibilidade teria sido muito menor. Queria escrever e não conseguia. Se fosse poesia, talvez ainda conseguisse. Agora, o romance exige continuidade, a garantia de que no dia seguinte vamos fazer o mesmo. Basta ver o que publicaram os colegas da minha altura que continuaram ligados a cargos.

O poder das armas ou o poder das palavras: qual deles é o mais eficaz?

A arma é mais poderosa no instante. A longo prazo, é a palavra. Os conceitos e os valores que as palavras transmitem perduram mais tempo.

Angola sempre foi um país de grandes contadores de histórias. Esse imaginário contribuiu para a decisão de dedicar-se à escrita?

Sim, sobretudo numa fase inicial. Sempre disse que as histórias estavam na rua. Basta ouvi-las e transpô-las, o que também é uma forma de transformação. Hoje, a minha mulher representa as minhas antenas. Chega a casa e diz-me tudo o que viu. Conta-me episódios que presenciou que podem vir a dar origem a personagens ou situações. É sobretudo nas zonas rurais que se mantém essa arte de contar. Era quase uma escola.

É um legado que pode não ter continuidade com as novas gerações?

Pode. Aliás, começa já a notar-se nos escritos dos mais jovens, a que eu chamo, também para chatear, de literatura de rap. Nada tenho contra, mas já não é a minha batida. Nota-se uma certa pressa na escrita, o que vem das novas tecnologias Qualquer dia escrevem-se livros com emojis.

Já lamentou várias vezes a perda de importância dos livros na sociedade angolana. Não seria expectável que, com o fim da guerra, a literatura tivesse outro papel?

Os livros sofrem com a concorrência dos outros meios, da televisão ao computador. Haverá certamente autores que, em vez de escreverem livros de contos ou romances, preferem escrever no telemóvel e partilhar isso de imediato com mil ou dez mil pessoas.

Quando se tem uma obra tão longa, cada novo livro é uma responsabilidade?

Estou a escrever menos. E, quando termino um livro, fico mais tempo antes de abordar um outro. Quando estou muito tempo sem escrever começo a sentir-me mais mal humorado. Muitas vezes, são as pessoas que nos rodeiam que nos incentivam. Fico meses sem escrever nada. Dantes não era assim. Tinha necessidade de escrever, de dizer coisas.

Vê-se bem no papel de patriarca da literatura angolana?

Isso é para o Luandino, o Arnaldo Santos... Não me sinto mal na posição de dar conselhos a novos autores e muitas vezes faço mesmo questão de apresentar os seus livros. É preciso um empurrão inicial. Os escritores têm essa responsabilidade. No entanto, os escritores angolanos raramente o fazem. Não por culpa sua, mas porque as escolas não o fazem.

Mesmo universidades?

Sim, é um pouco escandaloso. Era importante para o escritor saber a pulsão dos leitores, mas também para os alunos conhecerem quem escreve os livros que leem.

As relações entre Angola e Portugal, sobretudo no plano político e diplomático, têm sido marcadas por alguma tensão nos últimos tempos. As feridas ainda não sararam por inteiro?

Se compararmos com as relações de alguns países colonizadores e colonizados, como a Argélia e França, vemos que a situação entre Portugal e Angola é incomparavelmente melhor. Há momentos melhores e piores. Assim como há pessoas de ambos os lados que gostam de envenenar as relações. Quando me vêm falar de um novo foco de tensão entre os dois países, digo para virem falar comigo um mês depois. Nessa altura já ninguém se lembra.

A cultura pode ser um desbloqueador?

Sim, também como um elemento de apaziguamento entre ambos os lados. Por outro lado, os 40 e poucos anos que passaram desde a independência não são nada, sobretudo para um país com uma História tão longa como Portugal. Mesmo com Espanha, o grande inimigo histórico de Portugal, os problemas agora envolvem barragens e centrais nucleares, mas são resolvidos nas mesas de negociações. Claro que há militares portugueses e angolanos que ficaram marcados. É inevitável. Mas é algo que já não vai passar para as gerações seguintes. Sei que os angolanos gostam dos portugueses e tratam bem os que lá estão. De vez em quando lá vem um editorial mais exaltado do "Jornal de Angola", mas isso nada representa.

Sérgio Almeida – Jornal de Notícias

CARLOS COSTA, RUA!

Idoneidade de Salgado. Banco de Portugal novamente debaixo de fogo

O Banco de Portugal emitiu comunicado para fazer, mais uma vez, face às notícias que põem a causa as decisões tomadas no processo do Banco Espírito Santo.

De acordo com o regulador, as declarações fiscais e os relatórios de transferências para o estrangeiro feitas por Ricardo Salgado não podiam ter sido usados para tomar qualquer decisão contra o ex-líder do BES.

"A responsabilidade por infrações foi extinta pela lei e a utilização dos factos declarados para efeitos de outros processos, que não os processos tributários, foi expressamente proibida pela mesma lei. Os serviços de supervisão prudencial não divergiram deste entendimento. Pelo contrário, expressaram-no em parecer técnico no início de 2013", explica o comunicado.

A posição do regulador foi assumida depois de o “Público” avançar que Banco de Portugal recusou o que foi proposto pelos técnicos, numa reunião realizada em dezembro de 2013, e que visava tirar a idoneidade de Ricardo Salgado. A equipa de Carlos Costa defendeu que a informação sobre o repatriamento de capitais e as correções fiscais do banqueiro não podia ser usada. O motivo? Porque os dados tinham sido obtidos “de forma privilegiada”. Já os técnicos defendiam que os dados tinham sido fornecidos por Ricardo Salgado. Mas não conseguiram que a idoneidade de Salgado fosse retirada.

Confrontado com a notícia, o Banco de Portugal sublinha que “o caso particular referido na notícia do “Público” foi apreciado internamente a diversos níveis e em várias ocasiões, no quadro da apreciação que o Banco de Portugal faz em permanência das condições de idoneidade dos membros dos órgãos de administração e fiscalização das instituições de crédito. Essa análise decorreu sempre com a objetividade, a ponderação e a serenidade que são indispensáveis ao exercício das responsabilidades públicas e que marcam o trabalho do Banco de Portugal no exercício das suas múltiplas funções."

Entretanto, o governador do Banco de Portugal prepara-se para ser ouvido esta tarde na comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, em duas audições relacionadas com o caso do BES e a sua resolução. A primeira audição arranca às 17h00 e a segunda às 19h00.

Carlos Costa e o BES

Carlos Costa continua a estar a braços com a polémica que se criou em torno do que poderia ter sido feito pelo Banco de Portugal no caso do Banco Espírito Santo. O governador chegou mesmo a ser alvo de críticas e dúvidas sobre a sua continuidade à frente do BdP. E foi exatamente neste contexto que Carlos Costa acabou por ser forçado a tomar uma posição, ao mostrar-se disponível para esclarecer os deputados sobre várias questões que têm vindo a ser levantadas nos últimos dias.

A verdade é que a vida do governador do Banco de Portugal – que foi nomeado, em 2010, pelo governo de José Sócrates e reconduzido, em 2015, pelo executivo de Pedro Passos Coelho – começou a complicar-se depois de surgir a possibilidade de ter sido ocultada informação no caso BES.

De acordo com uma investigação levada a cabo pela SIC, há documentos que provam que o BdP conhecia pormenores do que se passava na esfera Espírito Santo. Entre os documentos divulgados, há um que mostra que, nove meses antes da derrocada, os técnicos do BdP defenderam a saída de Ricardo Salgado. Nestes documentos chegou mesmo a ser posta em causa a continuidade dos administradores do Banco Espírito Santo. Segundo a SIC, é assumida, de forma clara, a possibilidade de Ricardo Salgado ser afastado de forma imediata. Ainda assim, na mesma nota informativa, assinada por técnicos do BdP, é reconhecido que o regulador estava a deixar passar o tempo sem que as devidas medidas fossem tomadas.

O trabalho da estação de Carnaxide acabou por fazer com que se multiplicassem posições contra a continuidade de Carlos Costa à frente do Banco de Portugal, ainda que nem todos considerem que deve ser colocada em causa.

Sofia Martins Santos – jornal i - Título PG

DIJSSELBLOEM, RUA!

Ana Alexandra Gonçalves *
O ainda Presidente do Eurogrupo – o mesmo cujo nome nos obriga a recorrer incessantemente à função copia e colar – e pertencente ao partido que sofreu a mais humilhante derrota nas eleições holandesas, acusou os Europeus do sul de gastarem o seu dinheiro em “copos e mulheres” e depois “pedirem ajuda”.

As declarações feitas a um jornal alemão centram-se igualmente na alegada social-democracia de Dijsselbloem, onde a solidariedade se confunde com xenofobia, sexismo e imbecilidade.

Contudo, importa lembrar que Dijsselbloem não está sozinho, tendocontado com a companhia de Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque, já para não falar de Schaüble, ministro das Finanças alemão. Este alegre grupinho fez da austeridade uma espécie de texto sagrado no qual a culpa sempre recaiu sobre os trabalhadores, os desempregados, os pensionistas – os tais que viveram acima das suas possibilidades, os tais que gastam tudo o que têm em copos e mulheres.

Dijsselbloem, à semelhança dos restantes membros do alegre grupinho da austeridade insistem numa retórica gasta que não colhe junto de muitos europeus e Dijsselbloem devia ter noção disso mais do que ninguém, ele que vai andar a pedir esmolinhas para se aguentar à frente do Eurogrupo; ele que faz parte da social-democracia aldrabada que tanto foi castigada pelos holandeses.

As afirmações de Dijsselbloem revelam uma criatura pequena e preconceituosa, em fim de vida. No entanto essas afirmações enquadram-se num contexto mais alargado de outras criaturas que, à semelhança de Dijsselbloem, nos têm acusado de sermos culpados pela situação em que nos encontramos, entre os quais se incluem Passos Coelho e o que resta do seu séquito.

Quanto a Dijsselbloem, rua! É esse o caminho. E “copy-paste”, abençoado sejas. 

Ana Alexandra Gonçalves – Triunfo da Razão

GOOD HEALTH, WHORES AND GREEN WINE


Bom dia… É como quem diz… O dia está cinzento, parece que em todo o território nacional. Ontem não estivemos por aqui, outros afazeres nos retiveram. Desculpem. Tome nota: aqui não referimos o terrorismo que loucos e fanáticos exercem sobre inocentes, exibindo as suas cobardias de mentes criminosas. O nosso enorme respeito pelas vítimas em todo mundo, obra de energúmenos. Igualmente o nosso enorme respeito pelas vítimas em todo o mundo dos terrorismos dos estados.

Este é o portão do Expresso Curto, do Expresso. Portão do PG para depois aceder ao dito cujo do tio Balsemão do Grupo Impresa. Já lá vai o tempo em que dizíamos perante um trote, uma vigarice: “não vou em grupos”. Mas os tempos mudaram e atualmente é só grupos para aqui, grupos para ali. E nós vamos neles. Uns o mais possível, outros nem por isso.

Bem, mas vamos lá à vaca fria e pegar os bois pelos chavelhos. Expresso Curto de Pedro Candeias (que ilumina duas vezes se for à frente). Este Candeias, talvez também doutor ou dótor, mete a pata na poça mas… tá bem, vamos nessa. Tira um expresso curto cuja cafeína é aquela zurrapa que os “bifes” (ingleses) vendem lá pelo burgo unido (da treta, em que a Escócia quer dar-lhes com os penantes). Vai daí temos a zurrapa no título da cafeína… em inglês. Pfff. Tá bem, senhores assim, já sabemos que sabem muito de inglês! Mas que pavões!

Apesar de tudo a prosa serve e satisfaz. Tem penas muito bonitas. Dir-se-ia penas lindas. Tem, tem. E assim lá está, mais em baixo, o tal das mulheres e do vinho, fazendo lembrar o fado do “era o vinho, meu amor, era o vinho…” Tlim, tlão. Mas sabem do que falamos, pela certa. É daquele tal com ar anémico que dizem presidente do Eurogrupo (é só grupos, como vêem). Ai, aquele que nem o Ásterix conseguia pronunciar o nome, muito menos escrevê-lo. Mas, sim, esse Jeroen Dijsselbloem (até se nos enrola a língua e o teclado encarquilha todo). Adiante.

Mas tem mais, muito mais. Um Expresso Curto à maneira do tio Balsemão mas com a lavra do dito Candeias. Ena, que iluminação. Vão ler. É sempre bom ler e atualizarmo-nos. Além disso inclui cultura. Que bom!

Bom dia e até amanhã. As melhoras… Ai, “good health, whores and green wine” para ti, seu Dijsselbloem. Olha, também sei inglês… Espantoso! (MM / PG)

 Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Pedro Candeias – Expresso

Panic in the streets of London

Somos mais de sete mil milhões, há mais de 1,5 mil milhões de automóveis registrados e um número infinitamente maior de facas disponíveis - estatisticamente, e apenas estatisticamente, um em cada sete de nós pode pegar num carro e em duas facas, conduzir através de uma ponteferir e matar por atropelamento, bater contra um gradeamento, abrir a porta do condutor (e deixá-la aberta), correr para um jardim, tentar forçar a entrada no Parlamento, esfaquear um polícia e ser abatido por outros polícias.

Movido por loucura, pânico, desespero, convicção, fé ou vingança, um de nós consegue parar Londres, fechar deputados dentro da Casa dos Comuns (e turistas dentro da London Eye), pôr os serviços secretos a acorrer a uma primeira-ministra e um deputado a socorrer uma vítima, apinhar a Westminster Bridge e a Parliament Square com um helicóptero, carros-ambulância, forças especiais, e forçar o Governo a organizar-se num comité chamado C.O.B.R.A. (Cabinet Office Briefing Room), que soa a filme de espionagem duvidoso.

Sem armas de fogo. Sem granadas. Sem explosivos. Sem coletes-suicida. Sem carros-bomba ou homens-bomba. Sem um plano grandioso e diabólico elaborado à distância por um tipo de barbas numa caverna afegã.

É assim tão simples e é assim tão assustador, e já fora assim em Nice e Berlim, quando ficou claro que a prevenção tinha limites - que um ato de terrorismo é imprevisível e, por isso, imparável, e, por isso, mortal. Já são cinco os mortos e 40 os feridos, entre os quais um português.

E no meio da voragem para se encontrarem culpados cometem-se erros, como o do Channel 4 que ofereceu a cabeça de Trevor Brooks, esquecendo-se que o jamaicano radicalizado estava na prisão. E no meio do choque não faltará quem cavalgue o populismo, apregoe o fecho das fronteiras e assuma o discurso nós-contra-eles, sendo eles os muçulmanos e nós os ocidentais.

Theresa May não o fez. Pelo contrário, a primeira-ministra que é a cara do Brexit falou à porta do n.º10 da Downing Street em pluralismo de credos e de raças que são a base de Londres e também de democracia e de liberdade.

Fica a pergunta: “O que se passa? É uma ignorância sobre o mundo em que vivemos”, escreveu o Valdemar Cruz, jornalista do Expresso, que esteve a poucos metros do lugar onde aquilo aconteceu. E o que aconteceu não deve ser esquecido para não se transformar na “intranquila normalidade” que leva à indiferença. A mesma indiferença que levou Morrissey a escrever a “Panic” quando uma estação de rádio passou de Chernobyl diretamente para a “I’m your man” dos Wham! no dia em que a central explodiu.

OUTRAS NOTÍCIAS

E agora, Jeroen Dijsselbloem. Ontem, o presidente do Eurogrupo disse que anteontem não dissera bem aquilo que muitos tinham entendido - os “copos”, as “mulheres” e o “dinheiro”, entenda-se. Dijsselbloem atribuiu a declaração ao seu caráter rigoroso, herdado do calvinismo holandês, lamentou que esta tenha sido traduzida numa guerra norte-sul, e garantiu que não se demitirá. Pelos vistos, António Costa, Santos Silva, o parlamento português e os socialistas europeus terão de esperar, até porque Dijsselbloem já tem à volta do ombro uma mão amiga - a de Wolfgang Schäuble, o ministro das finanças alemão, rigorosamente luterano. [Se quiser saber um bocadinho mais sobre Dijsselbloem e o que ele afirmou numa entrevista, vá por aqui e por aqui.]

Já que estamos em território político, uma espreitadela ao debate quinzenal em São Bento. António Costa usou palavras hiperbólicas como “hiperotimista” e “hiperirritante” para classificar a hipótese de Portugal poder vir a sofrer sanções da Comunidade Europeia por não adotar medidas para “corrigir desequilíbrios macroeconómicos excessivos” (o que está entre aspas, é do jornalista Adriano Nobre). O PSD, pela voz de Luís Montenegro, não ficou atrás no soundbite e refinou a expressão geringonça: “Agora o que está em curso é uma privatização geringonçada [da Caixa Geral de Depósitos]”. E Assunção Cristas, presidente do CDS, agarrou-se ao popularucho, acusando o Governo de dar uma “borla fiscal” às grandes empresas. Em causa estão os PERES.

Da causa ao “caso dos Comandos”, o Hugo Franco noticiou ontem à noite que o capitão Rui Monteiro será ouvido como arguido no âmbito da investigação às mortes de Hugo Abreu e Dylan Silva. O capitão é suspeito de “abuso de autoridade por ofensas à integridade física”, crimes com penas que variam “entre os 8 e os 16 anos de prisão”. Além disso, o tenente-coronel Mário Angola também será interrogado por “insubordinação por desobediência”, o que aumenta para 10 o número de arguidos no processo.

Também a subir está o número de empresas que avisa para as consequências do Brexit. A começar em Portugal. A ABTA, a associação britânica das agências de viagem, fez-se representar em Lisboa por Noel Josephides e isto foi o que ele disse: “A libra esterlina caiu 20% desde o referendo, a inflação está a subir, a comida nos supermercados está a ficar muito cara, e não se prevê que os salários possam aumentar para fazer face a isto”. Por outras palavras, aqueles ingleses brancos, subitamente rosados pelo sol português, vão começar a viajar menos para cá. Até porque os voos das low cost poderão ter os dias contados em Inglaterra. É o que diz o Guardian.

Os jornais de hoje:

No Jornal de Notícias o topo da primeira página está preenchido com o “Ataque ao coração de Londres” e a manchete é esta: “Estado ainda tem 18 milhões de euros em cauções de água, luz e gás por devolver”. No Público abre-se com o atentado (“Terror volta à Europa e ataca casa da democracia londrina”), mas o destaque vai para esta notícia: “Carlos Costa opôs-se a técnicos e manteve idoneidade de Salgado”. No Diário de Notícias escreve-se que a “Europa [está] dividida e atacada” e que o “Governo [português] quer secretas a espiar comunicações de suspeitos”. E no jornal i chama-se a atenção para o “O terror em Londres, um ano depois de Bruxelas”.

Nos desportivos, A Bola traz-nos a história de Bas Dost,“O Goleador que pensou desistir do futebol”, o Record traz uma promessa de Rui Vitória (“Vamos ter um futuro risonho”) e O Jogo “revela tudo sobre a preparação do FC Porto para o clássico”.

FRASES

“Está também naqueles que aparecem com pele de cordeiro, porque fazem discursos que são racistas, xenófobos e sexistas” António Costa, sobre vocês-sabem-quem

“Nunca me lembro de ter chamado chefe àquela pessoa” Armando Vara na comissão de inquérito. Primeiro, disse que nunca tinha falado com José Sócrates sobre a CGD; depois, disse que não se lembra de ter ou não falado sobre a CGD com José Sócrates

“O que está a ser discutido é um regime que irá beneficiar as pessoas com longas carreiras contributivas” Vieira da Silva a propósito da medida que significará o fim dos cortes nas pensões aos trabalhadores que tenham 48 (ou mais) anos de descontos que queiram antecipar a reforma

“[McCain] disse que a questão continuaria em cima da mesa. Sobretudo neste ponto essencial: a Base das Lajes é apenas instrumental, mais importante do que isso é a consciência que os EUA e Portugal são dois aliados muito próximos, que têm relações bilaterais muito próximas, e que no coração dessa cooperação bilateral estão as questões da segurança e da defesa" Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros

“Ter Mourinho numa campanha foi o que mais prazer me deu" Nuno Teles, diretor de marketing da Heineken nos EUA, em entrevista à Tribuna no âmbito do Football Talks. Durante estes dias, a Tribuna publicará entrevistas de oradores que participam neste evento conduzido pela FPF

O QUE ANDO A LER

Khadji-Murat é o último livro de Tolstoi, terminado quando o autor já se encontrava fragilizado pela doença, e é surpreendente pelo tamanho (apenas 160 páginas) e pela velocidade da escrita. É a história das guerras do Cáucaso e de Khadji-Murat, um guerreiro checheno implacável que decide juntar-se aos russos porque o seu aliado o trai e rapta-lhe a família (mãe, duas mulheres e dois filhos).

Murat procura conforto e aceitação no inimigo e este aceita-o e conforta-o e mima-o, com prendas e pequenos luxos. Mas há sempre uma desconfiança e uma tensão latentes, que se medem nas descrições pormenorizadas de Tolstoi, para quem todas as personagens têm o mesmo peso no enredo - em pouco espaço, o escritor consegue fazer-nos interessar por cada uma delas, do soldado raso ao tenente e ao príncipe e à princesa, e isso é... bom, isso é genial.

Não lhe contarei como acaba o livro apenas que lhe espera uma ou outra reviravolta, um final duro, há mortes e novas traições, e uma ideia que o atravessa do início ao fim – na guerra não há bons, nem maus, apenas quem queira o que o outro tem.

Por hoje é tudo, desejo-lhe um bom dia, não se esqueça de passar os olhos pelo site do Expresso e pela Tribuna, e às 18h aceda ao Expresso Diário. E, por amor ao que quiser, tenha cuidado a chuva e com os viadutos - eles andam ambos por aí.