sábado, 5 de agosto de 2017

Opinadela: Jornalismo ascoroso - ou Porque não vejo o telejornal


Os títulos óbvios têm esta vantagem: quem começar a ler este texto já sabe que me vou debruçar sobre o Jornalismo e que não serei propriamente muito agradável.

Para bem da minha própria consciência, tenho de começar por afirmar que respeito a profissão, que reconheço a sua importância, que sei que existem bons profissionais no jornalismo (tal como em todas as profissões), que todos os que trabalham por contra de outrem se vêm obrigados a cumprir determinados parâmetros e objetivos que lhes garantam o soldo, e que não se devia generalizar certas situações. Mas há coisas que quando me irritam. Que me fazem ferver o sangue e acabo por ter uma verborreia (quase) ofensiva.

Bastou-me ver ontem uma reportagem sobre pescadores desaparecidos no mar para que uma habitual verborreia passasse a uma graforreia. Mas por que raio foi preciso perseguir o primeiro sobrevivente no hospital quando era mais do que óbvio de que o senhor não pretendia prestar declarações nesse momento? Por que carga de água é que têm de obter declarações dos familiares daqueles que ainda estavam desaparecidos, nos seus momentos de sofrimento? Pior! É mesmo preciso mostrar na mesma reportagem um funeral anterior de vários pescadores de Caxinas numa anterior tragédia similar?

Para mim o Jornalismo tem como objetivo principal a divulgação (em massa) de informação ESSENCIAL. E é isso mesmo que me interessa: o essencial. O naufrágio da embarcação, a luta pela sobrevivência de um dos pescadores e o facto de alguns pescadores ainda estarem desaparecidos é uma informação essencial no sentido em que me inteira sobre os riscos desta profissão e as dificuldades que os pescadores e suas famílias enfrentam. Mas não preciso de assistir ao sofrimento das famílias, aos funerais ou ao assédio violento dos jornalistas em busca de declarações.

Tal como, por exemplo, agradeço que me informem que o Cristiano Ronaldo viu o seu trabalho novamente reconhecido, mas dispenso as “notícias” que questionam a ausência da namorada – ou ex-namorada. Ou como considero informação/notícia os atos do Estado Islâmico, mas dispenso as imagens das execuções. Assim como considero irrelevante (por ser uma situação privada) o estado de saúde da esposa de Passos Coelho.

Ainda me lembro de que na altura do primeiro Big Brother, o Jornal Nacional da TVI noticiou o pontapé do Marco. Isto é jornalismo?

Muitas vezes ouço (e às vezes também eu afirmo) que determinada publicação ou canal de televisão é sensacionalista e os seus artigos e reportagens são questionáveis. Mas cada vez mais considero que todos os meios de comunicação aderiram a esta forma de jornalismo ascoroso, em que se enfeita a informação de sofrimento, violência, falácias e factos dispensáveis.

É por estas e por outras que prefiro ir pescando a informação que me interessa online, lendo apenas o que considero relevante. Ou então ouço as sínteses informativas da Antena 1, sempre à hora certa, em que condensam a informação ao essencial por ser um espaço de breves minutos.

E sei que muitos jornalistas rejeitam o que vou afirmar de seguida, mas eu prefiro ler um bom texto de opinião num blog, do que ler um texto de um jornal, sendo claro que os blogs têm as suas vantagens – facilidade de acesso (gratuito) ou liberdade de expressão, por exemplo – e desvantagens – imparcialidade e obrigatoriedade de leitura com sentido crítico e consciência de que as fontes poderão não ser fiáveis.

Não sei se sou o único a pensar assim, mas o jornalismo em Portugal tende a escolher os caminhos tortuosos do sensualismo e do vazio. Contudo, tenho esperança que os bons profissionais consigam recuperar a essência do jornalismo e destronar as atuais farsas. Que consigam recriar as formas de transmitirem os seus trabalhos de modo a cativarem novamente aqueles que se têm tornado em descrentes.

Quanto mais não seja, tenham a decência de entender que os vossos trabalhos moldam a opinião pública. «With great power comes great responsibility.»

Fonte:graforreia_intermitente


Belém promulga decreto que permite indemnizar lesados do BES

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O Presidente da República promulgou este sábado o decreto que regula a recuperação de créditos, aprovado no passado dia 19 de julho pelo Parlamento. É o diploma que permite pôr em marcha a compensação dos lesados pelo papel comercial do Grupo Espírito Santo.

No portal da Presidência da República pode ler-se que Marcelo Rebelo de Sousa promulgou o decreto em causa “tendo em consideração o passo dado, em termos de Justiça e credibilização do sistema financeiro, por este regime legal, a que se soma o entendimento envolvendo instituição nascida do processo de resolução, relativamente a portugueses residentes no estrangeiro”.

Prometida pelo primeiro-ministro, a solução para os clientes do papel comercial do antigo banco do Grupo Espírito Santo foi apresentada no final de 2016, ao cabo de mais de um ano de negociações.

O processo negocial envolveu a Associação de Indignados e Enganados do Papel Comercial, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, o Banco de Portugal, o próprio BES, já como banco mau, e o Governo socialista, representado pelo advogado Diogo Lacerda Machado.

A fórmula acordada permite aos lesados reaverem 75 por cento do montante investido, até a um teto de 25 mil euros, caso as aplicações cheguem a 500 mil euros. Para lá deste montante, a recuperação é de 50 por cento.

O pagamento caberá ao denominado fundo de recuperação de crédito: o fundo paga 30 por cento da indemnização imediatamente após a assinatura do contrato de adesão à solução; o restante será pago em duas fatias adicionais, no próximo ano e em 2019.
O processo legislativo

O diploma agora promulgado teve aprovação parlamentar, em votação global, a 19 de julho. Chegou na passada quinta-feira ao Palácio de Belém.

Após a introdução de alterações em sede de especialidade, a legislação foi viabilizada com votos favoráveis de PS e Bloco de Esquerda, o voto contra da maioria da bancada do PSD e as abstenções de CDS-PP, PCP, Partido Ecologista “Os Verdes”, do PAN e de cinco deputados social-democratas.

O partido de Catarina Martins logrou ver aprovada uma proposta de alteração no sentido de abranger emigrantes lesados no mecanismo de compensação. Contou, para tal, com os votos a favor de PS, PCP, PEV e de cinco deputados do PSD. A maioria da bancada laranja absteve-se, assim como o único deputado do partido Pessoas-Animais-Natureza.

Fica desta forma aberto o caminho para pôr em prática a fórmula de indemnização a mais de dois mil clientes lesados com a compra de papel comercial da Espírito Santo Financial e da Rioforte. Investimentos dados como virtualmente irrecuperáveis em 2014, quando o banco e o Grupo Espírito Santo desabaram.
RTP c/ Lusa

Que moral: Gisele Bündchen convidou Sérgio Moro para um café


A VejaSP diz que, Gisele Bündchen, ao saber da palestra de Sergio Moro em Harvard, em abril, o convidou para tomar um chá da tarde na mansão onde mora, na cidade de Boston, perto da universidade.

O juiz aceitou. O encontro durou uma hora e teve, além da presença de Gisele, a do marido, Tom Brady. A modelo parabenizou-o pela Operação Lava-Jato, depois o assunto girou em torno de futebol americano (Moro costuma ver jogos do Patriots, time de Brady).

Sérgio Moro é um herói Nacional e, para mim, é mais estrela que o próprio casal.

Fonte 
PAPOTV

TRABALHADORES DA TUNIPEX VEEM ENTRAVES À REFORMA ANTECIPADA

Os trabalhadores da Tunipex, sediada em Olhão, em condições de requerer a reforma antecipada não estão a ver reconhecidos pela Segurança Social os períodos em que tiveram esta empresa como entidade patronal como sendo de atividade da pesca, denunciou o Partido Comunista Português (PCP).

No passado dia 24 de julho, uma delegação do PCP, integrando o deputado Paulo Sá eleito pelo Algarve, visitou a Tunipex – Empresa de Pesca de Tunídeos, e foi informada desta situação. Ou seja, segundo relata o partido, baseando-se num caso concreto, «um trabalhador desta empresa, que exerce a atividade de pescador desde tenra idade, requereu em agosto de 2015 a reforma antecipada. Tendo 32 anos de carreira contributiva como pescador, dos quais 16 na Tunipex, teria o direito a reformar-se com 55 anos de idade, de acordo com o disposto no decreto Regulamentar nº 40/86, de 12 de setembro».

Após oito meses desse pedido, o trabalhador foi informado pelo Centro Nacional de Pensões que não reunia as condições desse decreto, já que, contabilizando apenas 16 anos de atividade de pesca relativos ao período compreendido entre janeiro de 1979 e agosto de 2001, só teria direito à reforma quando completasse 60 anos de idade. «Ou seja, o Centro Nacional de Pensões optou por não contabilizar os 16 anos de atividade na Tunipex por considerar que esta atividade não é de pesca», afirmou o PCP.

«Esta interpretação criativa da Segurança Social lesa gravemente os direitos do referido trabalhador e lesará, no futuro, os dos outros trabalhadores quando estes vierem a requerer a sua pensão de reforma, impedindo-os de se reformarem aos 55 anos de idade após pelo menos 30 anos de atividade como pescadores», constatou o partido.


A verdade é que os trabalhadores da Tunipex carecem de cédula marítima para poderem desenvolver a atividade, os contratos estão registados na Capitania e o CAE principal desta empresa é o da pesca.
Apesar de todos estes factos e de todas as diligências desenvolvidas pelo trabalhador e pelo Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Sul, a Segurança Social mantém-se irredutível e arrasta o processo de atribuição da pensão de reforma há quase dois anos, acusou o PCP, que, entretanto apurou que «o Centro Distrital de Faro da Segurança Social estaria a aguardar um parecer jurídico o qual tarda em ser emitido».

O grupo parlamentar do PCP, por intermédio do deputado Paulo Sá, questionou Vieira da Silva, ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, sobre que medidas, urgentes, irá o governo adotar para garantir que o pescador em questão possa, sem mais demoras, usufruir do direito à reforma antecipada.

Por Barlavento
4 de Agosto 2017

ALGARVE PLANEIA OBSERVATÓRIO REGIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR

A Direção-Geral de Saúde desafiou a Associação In Loco a criar um projeto-piloto no Algarve para implementar um Observatório de Segurança Alimentar e uma estratégia de combate às situações de insegurança alimentar, que possa depois ser replicado no resto do país.
Assim, em parceria com a Administração Regional de Saúde, os 16 municípios integrados na AMAL – e responsáveis pelas Comissões Locais de Ação Social – a Universidade do Algarve e a Segurança Social, terá início, este mês, um programa de avaliação regional do estado de insegurança familiar, de capacitação dos técnicos envolvidos nesta matéria e de demonstração prática aos agregados familiares, que se encontrem em situação de maior risco, como é simples e fácil proporcionar uma alimentação saudável e económica aos seus membros, tendo como princípios orientadores os da Dieta Mediterrânica.
O programa de ação deste projeto piloto terá a duração de um ano e contará com uma equipa pluridisciplinar envolvendo nutricionistas, chefs, antropólogos, sociólogos e o apoio de uma rede regional de técnicos municipais e das entidades privadas e públicas operando na área social.
Este desafio surge após indicadores demonstrarem que «um em cada dez agregados familiares portugueses já sentiu algum grau de insegurança alimentar. Ou seja, devido a problemas económicos, teve dificuldade em propiciar aos elementos que o constituem alimentos saudáveis e em quantidades adequadas», justificou a In Loco, em nota de imprensa.
Para fugir a este problema, muitas famílias abandonaram os saudáveis padrões alimentares tradicionais, como é exemplo o mediterrânico, e adotaram práticas alimentares desequilibradas que produzem impactos sérios na saúde, sobretudo nos jovens e idosos.
Estes dados, obtidos através do Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física 2015-2016, mostram ainda que «mais de metade da população tem excesso de peso ou é obesa» e que «a obesidade e doenças relacionadas, como a diabetes, são mais comuns nos mais pobres e que os que mais estudaram são, normalmente, os que comem melhor». No caso do Algarve há «elevados fatores de risco e valores preocupantes de abandono da Dieta Mediterrânica», concluiu a associação.
Por Barlavento
4 de Agosto 2017

Opinadela: Jornalismo sério ou oportunista




Ainda vou passar por ser anti jornalismo ou por não ter qualquer respeito pelos seus profissionais, mas a verdade é que existem maus exemplos nesta classe cuja função é essencial para a sociedade. Nesta classe como em todas as outras!

Se, anteriormente, critiquei o sensacionalismo, hoje debruço-me sobre o oportunismo.

Não vou debater-me mentalmente para opinar sobre a questão das dívidas contributivas de Pedro Passos Coelho. Se são ou não justificáveis e quais as suas consequências. Tenha sido lapso ou não, cabe aos eleitores decidirem se se trata de algo desculpável. A mim, custa-me a engolir, principalmente depois de decidir afirmar que não é um cidadão perfeito, como se fosse a desculpa exemplar. É preciso moral para algumas coisas, como, por exemplo, para ser Primeiro-Ministro.

Mas este assunto fez-me refletir sobre a tal questão do oportunismo de alguns jornalistas e da orientação editorial imparcial.

Segundo ouvi e li, PPC já teria sido confrontado com esta informação da dívida à Segurança Social em 2012. Todavia, não me recordo deste assunto ter sido noticiado nessa altura. Passados 3 anos, em ano de legislativas, a notícia é finalmente publicada (ou republicada?). Quais os motivos deste compasso de espera? Terá ficado guardado na gaveta à espera da melhor altura para ver a luz do dia? Os tais jornalistas que confrontaram PPC preferiram não divulgar a informação na qual tropeçaram? Digo “tropeçaram”, pois caso tenha sido resultado de um trabalhoso processo de investigação, não me parece lógico que tenham “trabalhado para aquecer”!

Sei que nem todos os trabalhos dos jornalistas chegam a ver a luz do dia. Mas que seja por potencial falta de interesse do público, por falta de rigor ou de factos comprovados, e outras coisas que tais. Caso contrário, o jornalismo caí em descrédito. Guardar trabalhos jornalísticos por serem inconvenientes ou convenientes a interesses particulares numa determinada altura, revela um grande desprezo pela verdade e pelo público. Faz-nos pensar – ainda mais – que os media são instrumentos de grupos de interesse, que a imparcialidade cede lugar à parcialidade comprada, que a informação não deixa de ser mera opinião direcionada. Será que só nos dizem mesmo aquilo que querem? Será que nos escondem informações importantes? Nem quero imaginar as coisas que nos podem estar a ocultar…

Eu quero acreditar no jornalismo sério, para isso é preciso que os seus profissionais atuem de acordo com a sua deontologia. Para mim, a ética profissional é tão importante no Jornalismo como na Medicina ou na Justiça.

Fonte:http://graforreia_intermitente.blogs.sapo.pt/opinadela-jornalismo-serio-ou-17197

URGENTE: Mercosul suspende Venezuela


Os chanceleres do Mercosul – bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – se reuniram hoje (5) para tomar uma decisão sobre a situação da Venezuela com base no Protocolo de Ushuaia.

O compromisso assinado em 1998 trazia uma cláusula democrática que hoje torna inviável a participação da Venezuela no bloco. O encontro está sendo realizado na prefeitura de São Paulo, no centro da cidade, uma vez que o Brasil ocupa hoje a presidência do bloco.

Ontem (4), o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes disse, por meio de sua conta no Twitter, que o Brasil vai pedir a suspensão da Venezuela do Mercosul. “É intolerável que nós tenhamos no continente sul-americano uma ditadura. Houve uma ruptura da ordem democrática na Venezuela”, disse. “E, por consequência, o Brasil vai propor que ela seja suspensa do Mercosul até que a democracia volte”, completou.

Conforme o El País, a decisão já foi tomada e a ditadura venezuelana está suspensa.

Via : jornalivre.com

OPINIÃO Dantes é que o jornalismo era bom. A sério?

DAR TEMPO AO TEMPO
Por 

Como regra, escrevemos sobre os outros. Hoje que fazemos 25 anos permitam-me que escreva sobre aquilo que fazemos — jornalismo. Oiço com frequência a frase “Dantes é que o jornalismo era bom”. De leitores novos e velhos, mas também, extraordinariamente, de jovens universitários que estão a estudar Jornalismo hoje.

Não posso estar mais em desacordo.

Não é claro a que exacto momento no tempo este “dantes” se refere. Se pensarmos em Portugal, não é certamente “antes” de 1974, quando os jornais eram previamente lidos pela censura oficial, embora haja quem acredite que as fintas que os bons jornalistas do Estado Novo faziam ao sistema do lápis azul valem mais do que qualquer bom jornalismo feito em democracia. O heroísmo desses tempos não é comparável. Arriscava-se a vida por escrever uma notícia, mas o jornalismo não era melhor por isso.

O “dantes” que se ouve nas conversas sobre “o estado a que o jornalismo chegou” costuma ir de 1974 (início da democracia) a 1995 (pré-história da era digital).

Foi durante estes 20 anos, dizem os cépticos, que se fez “bom jornalismo”. Segundo a tese, a Internet — e a superficialidade que ela trouxe — estragou tudo e foi por isso que os jornais deixaram de vender.

Não é verdade. O jornalismo não está em crise. O que está em crise é o modelo de negócio do jornalismo — coisas completamente diferentes.

Como disciplina, como necessidade, como bem comum e actividade de interesse público, o jornalismo está de boa saúde e recomenda-se. Em muitos aspectos melhorou, justamente, por causa do digital. Ou seja, a partir de 1995. Dez razões:

1. O jornalismo hoje é mais exigente porque o digital tornou a informação disponível em todo o lado e a toda a hora. Se quer ser relevante e útil neste tempo, o jornalismo tem de dar respostas com rigor e profundidade de forma ininterrupta. Tem de ser distintivo em relação à concorrência directa (a famosa “real comparative advantage”) e às redes sociais, blogues e sites como o Tá Bonito, o 12.º mais visitado em Portugal, acima do Expresso ou da RTP. Mais do que nunca o jornalismo tem de mostrar que vale a pena. O leitor, quando escolhe ler um jornal (em vez de outro) e quando visita um site (em vez de outro), tem de sentir que o seu tempo foi bem gasto. Por isso, a melhor das forças é o jornalismo de investigação. Não é por acaso que logo em 2009 o Huffington Post, um híbrido entre blog e jornal, “roubou” um editor de investigação ao Washington Post. Um dos efeitos colaterais desta nova concorrência é a perda de poder de influência de fontes institucionais e de agências de comunicação: no digital, a uniformização de conteúdos salta à vista. Todos a querem evitar. Por último, no meio do caos da nossa vida fluida, o jornalismo dá-nos hoje, mais do que nunca, o conforto de sentirmos que há alguma ordem no mundo.

2. Com o digital, o jornalismo ganhou novas ferramentas que ajudam a compreender melhor a realidade e aproximam — como um íman — os leitores dos temas relevantes: o data journalism, o vídeo, as infografias interactivas animadas, o live blogging, o multimédia que junta tudo e enriquece os conteúdos. Hoje conseguimos tratar temas com uma profundidade que há dez ou 15 anos só se conseguia ao nível das universidades. Isso obriga-nos a ser mais criativos.

3. Hoje o jornalismo chega a muito mais pessoas. O PÚBLICO tem em 2015 mais leitores do que alguma vez teve na sua história: quatro milhões de pessoas lêem o PÚBLICO por mês, muitas delas no Brasil, no Reino Unido, em Cabo Verde. O digital ajuda a passar fronteiras.

4. O jornalismo perdeu arrogância, sabe que tem de estar mais atento às pessoas, aos interesses dos leitores e ao seu saber. Basta ler os comentários dos leitores no nosso site. Muitas vezes quem nos lê sabe mais sobre o tema que a notícia trata do que o jornalista que a escreveu. Porque o leitor é testemunha do acontecimento, porque é especialista ou simplesmente porque o tema lhe interessa de forma particular e por isso leu e viu tudo o que havia a ler e ver nas últimas 48h e fez ligações que o jornalista ainda não fez.

5. Na era digital há mais transparência. O escrutínio que os leitores fazem ao nosso escrutínio — o novo poder dos leitores — obriga-nos a ser mais explícitos sobre os passos que damos na construção das notícias e na identificação da origem das próprias notícias. Há dois anos, o New York Times publicou no fim de uma reportagem a lista das 121 fontes consultadas para o trabalho, links para os documentos incluídos.

6. Dantes é que era bom? “Dantes”, se queríamos ter uma conversa estimulante e provocadora, tínhamos de marcar hora e ir a algum lugar. Hoje, os jornais desempenham o papel que os cafés tinham no século XIX — são um ponto de encontro dinâmico onde as pessoas encontram notícias, curiosidades e utilidades, ideias novas, argumentos e pessoas para discutir o que se passa no mundo.

7. “Dantes as redacções não estavam cheias de estagiários e jovens ignorantes.” Oiço isto às vezes. E até leio nos comentários no nosso site. Parece vistoso, mas não é bem assim. Que dizer da equipa da secção de Ciência do PÚBLICO? Em três jornalistas, há três licenciaturas: Jornalismo, Biologia e Matemática Aplicada. Do ISEG saíram vários dos jornalistas que escrevem sobre Economia. A mais jovem jornalista do PÚBLICO, que se juntou à equipa do Multimédia há um mês, fez Belas Artes e agora está a terminar um mestrado em Jornalismo na Universidade Nova. Na Política, há Direito e História. Na Cultura, há Filosofia, História de Arte, Literatura. Estamos rodeados de especialistas com muitos anos de experiência.

8. O digital fez acelerar o tempo do jornalismo. As notícias já não ficam à espera dos noticiários à hora certa, nem da edição impressa dos jornais do dia seguinte. Vamos sabendo o que se passa à medida que as coisas acontecem, não depois de terem acontecido. O tempo do jornalismo deixou de ser diferido e tornou-se imediato e contínuo. Ter rigor neste colete é um dos desafios da era digital, mas não é sequer um desafio novo na profissão. A agência de notícias France Presse foi fundada em 1835, a Reuters em 1851, a BBC em 1920.

9. A Internet forçou os jornais a regressarem aos textos longos e a escolherem mais o que publicam nas suas edições finitas — em papel. No digital, as notícias vão sendo melhoradas, actualizadas e aprofundadas ao longo do dia sem constrangimentos físicos. A cultura do “sempre ligado” que marca este tempo fez com que as revistas mensais se tornassem semanais, as semanais se tornassem diários e os diários passassem a dar notícias ao minuto. David Carr, do New York Times, fala na “compressão do jornalismo literário para dentro da voz do jornalismo diário”.

10. O jornalismo deixou de ter medo de quantidades maciças de dados. Porque os engenheiros e os informáticos entraram na equação, e os leitores também. No início de 2009 (um ano e meio antes de ouvirmos falar de Julian Assange), o Daily Telegraph recebeu um CD com dois milhões de documentos, incluindo milhares de despesas reclamadas pelos membros do Parlamento britânico, e começou a investigar. Mais tarde, o Guardian criou uma plataforma no seu site, publicou cópias de todas as despesas e pediu ajuda aos leitores. Em Junho de 2010, metade das 460 mil despesas tinham sido analisadas por 26.774 leitores (que as liam e preenchiam um pequeno inquérito). 170 mil foram analisadas nas primeiras 80 horas. Quase todos os deputados reembolsaram o Estado antes de a comissão parlamentar dar início e muitos não se recandidataram nas eleições seguintes. A outra escala, há o célebre caso da morte de um ardina durante uma manifestação anti-G20 em Londres, em 2009. Com o trabalho de um jornalista, do Twitter e de milhares de leitores em rede, uma semana depois foi publicado o vídeo que provou o crime: o homem passava, calmamente e com as mãos nos bolsos, por entre a multidão quando foi brutalmente agredido por um polícia.

O importante é o jornalismo não perder a sua essência. O jornalismo é a disciplina da verificação baseada na obrigação de procurar a verdade. É um trabalho feito para os cidadãos e por isso é um bem de todos. Este exercício de “back to basics” tem aplicação universal, do Congo ao Canadá. E podemos ir bem mais atrás, 2500 anos antes da era cristã. Desde Heródoto — a quem o genial Ryszard Kapuscinski chamou “o primeiro jornalista” — nada de fundamental mudou. Fazemos hoje as mesmas três coisas que Heródoto fez no século V a.C.: procurar informação, verificá-la e dar-lhe um sentido. Há mais uma coisa: sermos independentes.

Nisto, Clark Kent, o alter-ego do Super-Homem, decepcionou-me. Há uns anos demitiu-se do seu jornal porque não via futuro na profissão. Só lhe perdoo se com o tempo livre salvar o mundo. “Dantes” o jornalismo não era melhor. Era outra coisa, noutro tempo.

Fonte: Público

Comentários
  1. Sou leitor do Público desde longa data, naturalmente que teve momentos menos conseguidos mas de um modo geral a qualidade é excelente (por isso o leio diariamente). Sinto o esforço que é feito no sentido da evolução e do acompanhar os tempos. Quanto à actual directora tenho vindo a mudar a minha opinião de forma muito positiva (confesso que ao princípio me sentia cético) quanto às suas capacidades para lugar tão exigente. O presente artigo por si assinado mostra-nos alguém que compreende o fenómeno jornalístico e o tenta acompanhar nas suas cambiantes. Pena que não publique artigos com mais regularidade. Parabéns ao Público e desejos de longa vida.
  2. "Dantes" era preciso imaginação na ponta da esferográfica para fintar o lápis azul. Ao leitor, a capacidade para perceber os subentendidos. Não havia cursos de jornalismo e a maioria dos jornalistas vinha de outras áreas. Apesar dos senãos, havia visões mais "periféricas". A origem social dos jornalistas, então, era mais próxima da base da pirâmide social. Conheciam/conviviam com as desgraças e misérias humanas, importante quando se "contextualiza". Onde havia mundanidade hoje há estereótipos: leio/vejo uma peça sobre a greve do Metro e fico sem saber o seu motivo, mas fico a saber que a Sra. "diga-me uma coisa" está zangada por causa do "abuso". A maioria dos textos sobre os pobres não passam de caricaturas de menino(a)s-bem. Não generalizo mas opino: demasiado obedientes e pouco chatos.

Carta de um jornalista que ainda acredita no jornalismo

Anselmo Crespo22 DE MAIO DE 201700:00

Não, não lhe vou pedir para comprar mais jornais. Nem para sintonizar a minha rádio ou para continuar a ver televisão em direto. Se prefere ler notícias no feed do Facebook, ou noutra rede social qualquer, faça-o. Se prefere ouvir podcast ou uma playlist que o deixa bem-disposto logo pela manhã quando vai para o trabalho, continue. Eu às vezes faço o mesmo. Continue a ver programas gravados na box e não deixe de se rir com os vídeos malucos que circulam no YouTube. Eu percebo. Às vezes precisamos de "limpar" o cérebro das chatices que temos todos os dias e nada melhor do que dar umas boas gargalhadas com as parvoíces que estão na internet. Quem nunca? Continue a fazer tudo isto, mas, quando procurar informação, notícias, tenha cuidado. Não se deixe enganar.

O jornalismo vive uma crise grave. Não é apenas em Portugal, é no mundo inteiro. E os primeiros responsáveis, provavelmente, somos nós, os jornalistas. Durante anos, arrogámo-nos o direito de achar que éramos uma classe privilegiada porque marcávamos a agenda, porque as pessoas confiavam em nós, porque o poder, os vários poderes, tinham medo de nós. Não era jornalista quem queria, era jornalista quem conseguia aceder a uma profissão que chegou a ser considerada, imagine-se, o quarto poder. E, sim, é verdade, demorámos demasiado tempo a perceber que o mundo estava a mudar. Irónico, não é? Nós, que damos notícias todos os dias dessa mudança, verdadeiramente nunca a compreendemos. E continuámos no nosso pedestal a achar que o nosso "poder" era eterno.

É absurdo culpar a digitalização. Ela é, em si mesma, uma oportunidade e não uma ameaça, e nós, que demos tantas notícias de empresas que se reinventaram, continuámos a ignorar e a olhar para esta realidade como uma coisa menor. Nós, jornalistas e, diga-se, algumas empresas para as quais trabalhamos, aflitas que estavam a tentar salvar jornais, rádios e televisões, sem a menor disponibilidade para repensar o negócio e, sobretudo, para repensar o jornalismo.

O poder, os vários poderes, perceberam esta realidade rapidamente. Perceberam não só a oportunidade que a digitalização lhes dá para contornarem os jornalistas e chegar a si, sem filtro, mas perceberam sobretudo que o jornalismo está debilitado e aproveitaram-se disso. Aproveitam-se disso todos os dias.

É isto que está a matar o jornalismo, aquele que é, por definição, independente, que faz o contraditório, que não se deixa pressionar, que tem regras deontológicas, que não se vende. Sim, esse jornalismo em que hoje poucos acreditam mas que ainda existe. Podia dar-lhe tantos exemplos de jornalistas que ganham mal, trabalham horas incontáveis mas continuam fiéis ao compromisso que fizeram consigo. E sim, esses também se enganam e também erram. Mas com duas diferenças em relação aos falsos jornalistas: quando se enganam e erram, não o fazem deliberadamente e são os primeiros a condenar-se. E trabalham, todos os dias, para o informar melhor.

Há jornalismo, há desinformação e há abutres para quem vale tudo para sobreviver. E você, caro leitor, ouvinte e telespectador, é o único que pode ser o fiel da balança. Mas há uma coisa de que tem de ter noção: sempre que a sua curiosidade mórbida o fizer "comprar" falsidades, mentiras, intrujices, sempre que o seu voyeurismo o levar a abrir vídeos que violam as mais elementares regras da profissão e o direito à dignidade de qualquer vítima, está a contribuir para a morte do jornalismo. E se, um dia, o jornalismo morrer, é também a sua liberdade que morre.

Acredite no que quiser. Esse é um dos princípios basilares do jornalismo. Nós damos notícias. O nosso leitor, ouvinte ou telespectador tira as próprias ilações. Mas cuidado com aqueles que lhe vendem lixo embrulhado como se fosse uma notícia.

Fonte: DN

JORNALISMO A SÉRIO... sem amarras


JORNALISMO A SÉRIO... sem amarras
Fazer jornalismo que informe sem desvirtuar ou destruir a verdade dos factos, mas sobretudo fazer jornalismo que ajude a cultivar, formar e enriquecer a inteligência humana é tarefa difícil que obriga a uma reflexão contínua, a um debruçar permanente sobre ...
O jornalismo do presente é mais de amigos, amiguinhos, conveniências, vontades politicas (estamos em maré disso), não de confronto de ideias, de questões fracturantes que tanto preocupam a
os cidadãos no dia-a-dia.
Temos um jornalismo ancorado nos subsídios pagos por via dos impostos, mas, essa espécie de jornalismo serve de correia de transmissão a beneficio de alguns.

J. Carlos

Não lavo as mãos na bacia de Pilatos

Péricles Capanema
Foro de São Paulo
Em 16 de julho último, na reunião de abertura do XXIII Encontro do Foro de São Paulo [foto acima] (organização fundada por Fidel Castro e Lula para coordenar ações de partidos esquerdistas da América Latina), realizado em Managua, capital da Nicarágua, a senadora Gleisi Hoffmann [foto abaixo], presidente do PT, entre outras abominações, algumas das quais seguem abaixo, apoiou enfaticamente a farsa da Constituinte venezuelana: “O PT manifesta seu apoio e solidariedade ao governo do PSUV, seus aliados e ao presidente Nicolás Maduro. Temos a expectativa de que a Assembleia Constituinte possa contribuir para uma consolidação cada vez maior da revolução bolivariana”.

Foro de São Paulo
Ela prosseguiu na mesma direção: “Aproveitamos para manifestar nosso irrestrito apoio e solidariedade aos companheiros do Partido Comunista Cubano. Este ano comemoramos o centenário da Revolução Russa de 1917 e também o cinquentenário da queda em combate do guerrilheiro heróico o comandante Ernesto Che Guevara”. O PT manifesta novamente, com autenticidade reveladora, seus pendores tirânicos para a imposição do programa socialista, orgulhoso de se colocar na esteira do comunismo russo e do comunismo cubano.

Em 30 de julho, o Conselho Eleitoral da Venezuela (CNE) anunciou que 41,53% dos eleitores elegeram a nova Assembleia Nacional Constituinte. Teriam comparecido 8.089.320 eleitores, 41,53% do total. A oposição afirma que houve fraude escandalosa. O comparecimento terá sido de 12,4% do eleitorado. Leopoldo López e Antonio Ledezma, líderes da oposição, voltaram a ser presos, provocando grandes reacções internas e internacionais. O governo venezuelano, indiferente com a medida, deixava claro sua intenção de radicalizar no caminho encetado.
A Conferência Episcopal Venezuelana, em sua conta do Twitter, imediatamente postou pungente súplica a Nossa Senhora de Coromoto, Padroeira da Venezuela: “Virgem Santíssima, Nossa Senhora de Coromoto, padroeira celestial da Venezuela, livrai a nossa pátria das garras do comunismo e do socialismo”. Poucos dias antes, Dom Jorge Uroza, cardeal-arcebispo de Caracas, advertiu que “o país está em ruínas e as pessoas estão morrendo de fome”. Alertou ainda o Purpurado: “Falta comida, remédios, temos a inflação mais alta do mundo, o povo rechaça o governo”.
No Exterior, a Rússia tomou clara posição a favor de Nicolás Maduro“Esperamos que aqueles membros da comunidade internacional que querem rejeitar os resultados das eleições venezuelanas e aumentar a pressão econômica sobre Caracas mostrem contenção e renunciem a estes planos destrutivos”, advertiu comunicado do Ministério do Exterior da Rússia. Cuba, Bolívia, Equador, Nicarágua, na mesma direção de respaldo vergonhoso.
No Brasil, PT, PC do B, PSOL e PCB aprovam a tirania bolivariana. José Dirceu foi cinicamente claro: “O massivo comparecimento à eleição da Assembleia Nacional Constituinte, convocada pelo presidente Nicolás Maduro, abre um caminho institucional e democrático para resolver a crise venezuelana”. Ainda no Brasil, o PDT e a Rede evitam se posicionar, por razões facilmente conjeturáveis; deixar público o que sente o coração pode escandalizar e tirar votos. Por seu lado, até agora, a CNBB, histórica companheira de viagem do PT, também não se posicionou. Entristece a no mínimo lerdeza da CNBB em seguir o bom exemplo de sua irmã, a Conferência Episcopal Venezuelana. Tomara não caminhe, como é seu deprimente hábito, nos passos do PT, acolitando uma ditadura assassina que esfomeia o povo, segundo palavras do cardeal-arcebispo de Caracas.
O governo brasileiro age bem, não reconhecendo a legitimidade da Constituinte. Diz nota do Itamaraty de 1º de agosto: “O governo brasileiro repudia a recondução ao regime fechado de Leopoldo López e Antonio Ledezma, ocorrida um dia após a votação para a escolha de uma assembleia constituinte em franca violação da ordem constitucional venezuelana. O Brasil solidariza-se com o sofrimento dos familiares de Antonio Ledezma e Leopoldo López, em particular suas mulheres, Mitzi Capriles e Lilian Tintori. A prisão de dois dos mais importantes opositores ao governo do presidente Nicolás Maduro é mais uma demonstração da falta de respeito às liberdades individuais e ao devido processo legal, pilares essenciais do regime democrático. O Brasil insta o governo venezuelano a libertar imediatamente López e Ledezma”.
O Brasil agirá em sintonia com vários países da América Latina na condenação às atitudes tirânicas do governo venezuelano. Ótimo. Na mesma direção agirá a Comunidade Europeia. De maior importância, os Estados Unidos têm linguagem e ação mais contundentes. O presidente Donald Trump declarou poucos dias antes da votação para a Constituinte: “Ontem, o povo venezuelano mais uma vez deixou claro que apoia a democracia, a liberdade e a lei. Ainda assim suas ações fortes e corajosas continuam sendo ignoradas por um líder ruim que sonha em se tornar um ditador. Os Estados Unidos não ficarão parados enquanto a Venezuela desmorona. Se o regime de Maduro impuser sua Assembleia Constituinte em 30 de julho, os EUA irão tomar ações econômicas fortes e rápidas”. Já foram decretadas sanções duras. Outras virão. Condenações e sanções de países de regime democrático e organizações internacionais de relevo estão prometidas e certamente acontecerão, com efeitos benéficos.
Visto isso, o que faz aqui o título do artigo? Tudo, embora à primeira vista possa parecer o contrário. As medidas tomadas por ora pelos grandes do mundo em defesa do pequenino — aos olhos dos potentados —, esfomeado e tiranizado povo venezuelano são insuficientes. Gritantemente insuficientes.
Foro de São Paulo
Cristo diante de Pilatos, que lava as mãos
Diante da turba enfurecida, Pilatos reconheceu a inocência de Nosso Senhor — aliás, solar. É juízo de um espírito que via com rectidão e justeza. Representava ali o maior poder da Terra, falava em nome da justiça, mas nada fez de eficaz para defender o Justo, a seus olhos um pobre e desvalido galileu. Omitiu-se, passou à História como exemplo repugnante do oportunista covarde. Ninguém levou a sério o “a vós pertence toda a responsabilidade”. Pertencia a ele. “Pilatos, vendo que nada aproveitava, mas que cada vez era maior o tumulto, tomando água, lavou as mãos diante do povo, dizendo: Eu sou inocente do sangue deste justo; a vós pertence toda a responsabilidade” (Mt, 27, 24-25).
Se os grandes da Terra lavarem as mãos na bacia de Pilatos — o homem que reconheceu a inocência de Cristo —, o injustiçado povo venezuelano, objeto como Cristo da compaixão inerte de tantos, subirá o Calvário e, à vista de todos, será crucificado no Gólgota pelos modernos carrascos da legítima esperança popular. Minha súplica aqui é a de que cada um dos grandes que agora falam, possa também proclamar com verdade: “Não lavo as mãos na bacia de Pilatos”. Para isso, repito reverente a oração postada no site da Conferência Episcopal Venezuelana: Virgem Santíssima, Nossa Senhora de Coromoto, padroeira celestial da Venezuela, livrai a nossa pátria das garras do comunismo e do socialismo”.

Fonte: ABIM

Barcelos na corrida à UNESCO, os passadiços do Paiva (sim, outra vez) e o mar aqui tão perto

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Fugas
 
 
  Sandra Silva Costa  
 

Atentem nesta frase: “Júlia Côta não é espectáculo de televisão.” Mas, a julgar pela forma como foi recebida numa feira de artesanato de Lisboa, até parece. Houve quem lhe quisesse dar beijos, uma palavrinha. “Vocês vão-me desculpar, mas eu não sou o Cristiano Ronaldo”, atirou-lhes, genuína, a conhecida ceramista. Ela outra vez: “Eu nem sabia o que era genuína”, recordou à Mariana Correia Pinto, que andou por Barcelos a conhecer o rico património artesanal que está na base da candidatura à Rede de Cidades Criativas da UNESCO. No dia 31 de Outubro haverá fumo branco — e o optimismo está em alta, conta-nos a Mariana, que visitou artesãos da olaria, do figurado, da madeira, do ferro e seus derivados. No concelho de Barcelos há cerca de 150 artesãos e muitos deles recebem nas oficinas quem quiser conhecê-los e às suas artes. Temos aqui um dos muitos roteiros possíveis.
Ainda a Norte, continuamos a surpreender-nos com as paisagens incríveis que os passadiços do rio Paiva nos oferecem de mão beijada.Não sem antes exclamarem “Oh não, outra vez os passadiços do Paiva…”, a Patrícia Carvalho e o Adriano Miranda puseram pés ao caminho e voltaram com uma certeza: é obrigatório lá ir, pelo menos uma vez na vida.
Vamos do rio para o mar: primeiro para provar a cozinha do Bacalhau & Afins, em Aveiro, onde o José Augusto Moreira encontrou uma “diversidade de preparações que é aliciante de peso num espaço acolhedor, bem-posto, confortável e com serviço correcto e profissional”.
E finalmente chegamos ao Algarve. Desta vez, foi quem vos escreve estas linhas que tirou as medidas ao Nau Salema Beach Village, um resort que é ideal para quem dá tudo para ter a areia e o mar a dois passos. Ora veja como não se está nada mal.
Guardei para o fim uma proposta que implica maior planeamento: Bucareste, na Roménia, para onde a TAP retomou a ligação directa via Lisboa, está “à procura de um estilo próprio e de geração espontânea” e pode “tornar-se moda”, escreve a Andreia Marques Pereira, que por lá descobriu uma onda de “criatividade que parece estar a preparar-se para sair do casulo”. Leia sem pressas.
Agora que já lhe deixei várias pistas para viver o Verão, resta-me desejar-lhe boas férias, se for o caso. Se não for, não desanime: passe ao menos por aqui e inspire-se. Boas viagens!

Hora de Fecho: Apanha-me se puderes: alguém agarra Bolt?

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Hora de fecho

As principais notícias do dia
Boa tarde!
Bolt é um relâmpago dentro e fora de pistas. A pessoa mais rápida do mundo há uma década. Um campeão que só tem um rival: ele próprio. Alguém consegue bater o menos humano dos humanos no seu adeus?
Não é um trabalho de assistente social, nem de fisioterapeuta nem de enfermeiro. É tudo isto em um. Estas são as histórias de quatro portugueses que cuidam de idosos 24h por dia, num país estrangeiro.
Um mês e meio depois da tragédia de Pedrógão Grande, o Presidente saudou o projeto do Observador que permitirá um melhor futuro a Alvares. Mas lembrou que é preciso tirar lições do passado.
Restaurantes voltados para o mar e bares virados para os céus: a costa algarvia reinventou-se mesmo a tempo do verão. Saiba onde o marisco é rei e os cocktails não param de chegar este ano.
O presidente do Benfica pediu a intervenção do Estado e do Governo, com vista à criação de uma "entidade independente e credível" que regulamente algumas áreas do futebol.
Benfica e V. Guimarães abrem esta noite a época oficial com a Supertaça, em Aveiro (20h45). É a quinta vez que se encontram em 2017. Os encarnados ganharam sempre. O que pode ser diferente hoje?
Começou com Martin Solveig, teve batuques brasileiros, acabou com Nirvana. Neymar é rei no Parque dos Príncipes e, entre tantos sons, as palavras em francês foram a música para os ouvidos dos adeptos.
Primeiro foi Patrícia Mamona com 14.29, depois foi Susana Costa com 14.35 (recorde pessoal): Portugal terá duas atletas na final do triplo dos Mundiais e com legítima ambição de lutar pelas medalhas.
Vinte anos passados, o espírito da tribo continua intacto, fiel ao sol, à água, à música, aos amigos e, claro, à vida no campismo. Eis 20 retratos de uma sexta-feira no Sudoeste.
O músico brasileiro Caetano Veloso está a preparar um espetáculo com os filhos Moreno, Zeca e Tom, que tem estreia prevista para outubro, anunciou a produtora Paula Lavigne.
Em 1997 não havia Netflix nem televisões inteligentes: os filmes saíam no cinema e o horário das séries tinha de ser consultado nas programações. Recorde 20 clássicos que fazem 20 anos em 2017. 
Opinião

Alberto Gonçalves
Portugal é para os portugueses, sobretudo portugueses da utilidade do sr. Xula e do dr. Medina. Logo que o turismo acabe a aventura da nação valente (e imortal) não terá limites, fora os da bancarrota

José Manuel Fernandes
Nestes dias em que só o PCP e Boaventura Sousa Santos dão o peito às balas pela deriva autoritária na Venezuela é bom lembrar a adesão entusiasmada do Bloco e de Sócrates ao regime do "amigo" Chávez.

P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Não faltou quem deplorasse a escassa solidariedade manifestada pela Igreja, que gastaria milhões na construção de novos templos (a basílica de Fátima) mas só dá uns tostões às vítimas destes flagelos.

Diana Soller
Uma sociedade que é obrigada a autocensurar-se acumula ressentimentos entre grupos sociais. Muitos. E mais tarde ou mais cedo esses ressentimentos vão ter consequências políticas.

Helena Garrido
O endividamento está de volta. É preciso lembrar erros cometidos na primeira década do século XXI, pois a festa está boa. A dívida não desaparece. É com ela que os países caem nas mãos dos credores.
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