Um estudo sobre as preferências de turistas domésticos de diferentes gerações, realizado por investigadores da Universidade de Coimbra (UC) e do Instituto Politécnico de Viseu (IPV), pode ser uma importante mais-valia para os promotores e gestores de turismo, especialmente tendo em conta a atual situação de pandemia devido à Covid-19.
Como é que os turistas nacionais percecionam Portugal, especialmente a região Centro, enquanto destino turístico? Simplicidade e autenticidade, ambiente, relaxamento e socialização, boas infraestruturas, nostalgia e história e cultura. Estes são os seis fatores que caracterizam o destino turístico nacional, conclui o estudo, que envolveu 622 turistas domésticos em visita ao Centro de Portugal, de três gerações diferentes: “Baby Boomers” (pessoas que nasceram entre 1940 e 1960), “Geração X” (composta por pessoas nascidas entre 1960 e 1980) e “Millennials” ou “Geração Y” (geração de pessoas nascidas entre 1980 e 2000).
Este estudo, que fornece a primeira segmentação com dados baseados na formação da imagem do destino dos turistas domésticos, demonstrou que estes três grupos geracionais «têm crenças, conceções e atitudes distintas sobre um destino, construindo diferentes imagens cognitivas e afetivas, e, em consequência, têm diferentes comportamentos quando são turistas nos seus próprios países», declara Cláudia Seabra, docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) e investigadora principal do estudo, publicado no European Journal of Research Tourism.
Os “Baby Boomers criam uma imagem cognitiva de destino assente em duas dimensões, designadamente história e cultura - os aspetos históricos e culturais do destino, tal como o seu património e atrações - e relaxamento e socialização, quando lhes é proporcionado um contacto genuíno com a vida rural local, experiências culturais, quando podem desfrutar de descanso e tranquilidade e vivenciar uma interação social enriquecedora.
Por sua vez, os turistas nacionais da “Geração X” têm uma imagem do destino mais complexa, privilegiando quatro dimensões: simplicidade e autenticidade, boas infraestruturas, relaxamento e socialização e nostalgia. Significa que os turistas desta geração dão atenção a aspetos relacionados com a beleza das paisagens, a autenticidade e espiritualidade das experiências que lhes são oferecidas e com as artes tradicionais locais. Mas também a locais de animação noturna, transportes e alojamento e a destinos que lhes transmitam a sensação de retorno às raízes.
No caso dos “Millennials”, a imagem de destino é construída essencialmente tendo em conta os fatores ambiente e nostalgia, privilegiando a limpeza do lugar, o ambiente preservado e despoluído e a boa qualidade de vida que oferece.
No que respeita à imagem afetiva do destino, os turistas da “Geração X” associam sentimentos mais positivos aos lugares do que os “Baby Boomers” e os “Millennials”. «Isso provavelmente ocorre porque os indivíduos da Geração X são mais flexíveis e mais curiosos e, ao mesmo tempo, porque tendem a ser mais empáticos e mais sensíveis. Por outro lado, Baby Boomers e Millennials têm preferências muito semelhantes nos aspetos excitação, autenticidade, relaxamento e novidade, quando se trata de construir a imagem de destino afetivo», justifica Cláudia Seabra.
Analisando os resultados globalmente, «surpreendentemente, os Millennials e Baby Boomers, apesar de estarem mais distantes em termos de idade, compartilham uma imagem afetiva mais homogénea do que a dos turistas da Geração X», realça a docente da FLUC. Ou seja, «avós e netos identificam-se mais do que filhos e pais na formação da imagem dos destinos turísticos», clarifica.
Como explicação para estes dados evidenciados no estudo, que foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), a equipa indica que «os Baby Boomers adotam comportamentos que são semelhantes aos adotados pelas gerações mais novas para parecerem mais jovens do que realmente são. Por sua vez, os Millennials são nostálgicos e mantêm uma conexão próxima com os velhos tempos».
Na verdade, fundamenta Cláudia Seabra, «os Baby Boomers e os Millennials têm várias semelhanças. Ambos foram criados em tempos de mudança e testemunharam grandes mudanças que moldaram seus comportamentos e mentalidades, eles valorizam o tempo e experiências memoráveis, mas também gostam de se sentir seguros, são curiosos, indivíduos independentes e aventureiros, mas procuram ambientes protegidos».
Face à atual situação de crise pandémica, em que o turismo doméstico pode ser uma “tábua de salvação” para o setor, as conclusões deste estudo assumem particular relevância, como salienta Cláudia Seabra: «numa altura em que a indústria turística está a apostar fortemente nos mercados domésticos devido ao medo e restrições para viajar impostas pela pandemia, os resultados obtidos podem ser uma ferramenta importante para os gestores dos destinos e organizações turísticas, visto que está provado que os turistas das várias gerações formam a imagem dos destinos de forma diferente, o que terá um forte impacto nos seus comportamentos em termos de planeamento e compra de viagens».
A investigadora defende que as organizações que visam atrair turistas nacionais «devem perceber que aqueles constroem a imagem cognitiva de destino com base em conceitos como simplicidade e autenticidade, ambiente, relaxamento e socialização, boas infraestruturas, nostalgia e história e cultura. Esse pressuposto significa que estes seis aspetos devem ser valorizados e cuidados no destino de forma global e nas áreas que circundam os hotéis ou restaurantes».
É também essencial considerar a dimensão afetiva, «um aspeto crucial valorizado pelos turistas nacionais. O que os turistas sabem sobre os destinos domésticos irá influenciar as suas emoções e sentimentos em relação àqueles lugares. O desenvolvimento de campanhas de promoção de destinos nacionais com base nestas dimensões e atributos levará os turistas a escolher destinos domésticos e formular intenções de compra».
Considerando que esta investigação também indica a existência de sinergias em relação à imagem afetiva do destino entre “Millennials” e “Baby Boomers”, «pode fazer sentido criar “packages” de produtos idênticos dirigidos a consumidores de ambos os grupos geracionais. Os turistas da Geração X são, de longe, os que mais valorizam os destinos domésticos, devendo ser o alvo principal das organizações de turismo», defendem os autores do estudo.
O estudo centrou-se no Centro de Portugal por ser uma região bastante heterogénea, apresentando uma importante multiplicidade de recursos, pontos turísticos, alojamento, gastronomia e paisagens que incluem litorais e montanhas. Esta região reúne diversos produtos turísticos, entre os quais cultura e património, com vários monumentos, património da UNESCO; natureza (diversos parques naturais, lagos, florestas e montanhas); sol e mar, com praias de mar e rio; Spa e bem-estar, abrangendo alguns dos mais importantes spas termais ibéricos; desporto e aventura (surf, montanhismo, escalada, vela, etc.); e turismo religioso, destacando-se o Santuário de Fátima.