Você já deve ter ouvido falar no DSM-V, mas se nunca ouviu falar saiba que o DSM é o manual de diagnóstico de transtornos mentais feito pela Associação Americana de Psiquiatria para definir como é feito o diagnóstico de transtornos mentais. Usado por psicólogos, médicos e terapeutas ocupacionais. A versão atualizada saiu em maio de 2013 e substitui o DSM-IV criado em 1994 e revisado em 2000. Desde o DSM-I, criado em 1952, esse manual tem sido uma das bases de diagnósticos de saúde mental mais usados no mundo.
O DSM foi criado com o intuito de uniformizar e padronizar as doenças, para que os profissionais da saúde mental falassem a mesma língua na descrição do que o paciente sofre. Quando o psiquiatra coloca o código da doença no seu diagnóstico, qualquer profissional da área da saúde sabe do que se trata.
Embora todo este cuidado seja tomado na universalização das doenças/síndromes e dos termos, hoje se sabe que existem algumas síndromes que estão ligadas à cultura. Mas o que é isto?
Culture-bound syndromes (CBS) ou "síndromes ligadas à cultura" é uma expressão pouco utilizada em nosso meio, sendo, no entanto frequente em trabalhos de antropologia e da psiquiatria transcultural (também chamada cross-cultural ou etnopsiquiatria).
Tradicionalmente, a expressão foi relacionada com síndromes exóticas e raras de povos "primitivos", merecendo nos compêndios de psiquiatria apenas uma menção à titulo de curiosidade. Somente nas últimas décadas as síndromes ligadas à cultura receberiam maior atenção no estudo da influência da cultura sobre os transtornos mentais em geral
Certos transtornos psicológicos, como depressão e ansiedade, são universalmente encontrados. Em determinadas culturas, entretanto, são encontrados padrões de sintomas idiossincrásicos, muitos dos quais não tem contraparte direta a um diagnóstico especifico. Essas condições, chamadas de síndromes ligadas à cultura, são padrões recorrentes de comportamento ou experiência anormal limitados a sociedade ou a áreas culturais específicas.
Separamos alguns exemplos:
Amok- Transtorno encontrado na Malásia. Trata-se de um episódio dissociativo consistindo em retraimento seguido por surtos violentos, agressivos, e possivelmente homicidas. Precipitado por deslize ou insulto, em geral visto mais em homens. Retorno ao estado pré-mórbido após o episódio.
Ataque de nervos- América Latina. Sofrimento associado com grito, choro, tremor e agressão verbal e física incontroláveis. Dissociação, convulsões e gestos suicidas são possíveis. Frequentemente ocorre como resultado de um evento familiar estressante.
Reação Psicótica de Qi-Gong. Ocorre na China. É um episódio agudo marcado por dissociação e paranoia que pode ocorrer após a participação do Qi-gong, uma prática de cura popular chinesa.
Dhat- Índia. Trata-se de uma ansiedade grave e uma preocupação hipocondríaca em relação a descarga de sêmen, descoloração esbranquiçada da urina, fraqueza e fadiga extrema.
Koro e Latah. Ambos ocorrem na Malásia. Koro trata-se de um episódio de súbita e intensa ansiedade que o pênis ou a vulva e os mamilos irão recuar para dentro do corpo e causar a morte. Já o latah, é um hipersensibilidade a pavor súbito, geralmente acompanhada por sintomas incluindo ecopraxia ( imitar os movimentos e gestos de outra pessoa), ecolalia ( papagaiar irreverente de que outra pessoa disse), obediência a comando e dissociação, todos os quais são característicos de esquizofrenia.
Taihin Kyofusho. Japão. É um medo intenso de que partes ou funções corporais desagradem, embaracem ou sejam ofensivas aos outros em relação a aparência, odor, expressões faciais ou movimentos.
Shin-Byung. Coreia. Ansiedade e problemas somáticos acompanhados por dissociação e possessão por espíritos ancestrais.
Trabalho- Sul dos Estados Unidos, populações afro-americanas e europeias. Interpretação cultural que atribui a doença a feitiçaria ou bruxaria. Associado com ansiedade, problemas gastrintestinais, fraqueza, tontura e medo de ser envenenado ou assassinado.
Mau olhado. Culturas Mediterrâneas. Significa o mau olho do diabo quando traduzido do espanhol. As crianças correm um risco maior; mulheres adultas correm um risco maior do que homens adultos. Manifestado por sono entrecortado, choro sem causa aparente, diarreia , vômito e febre.
Bouffée Delirante- África Ocidental e Haiti. Acesso súbito de comportamento agitado e agressivo, confusão e excitação psicomotora. Paranoia e alucinações visuais e auditivas são possíveis.
Doença do fantasma. Tribos indígenas norte-americanas. Preocupação constante com morte e com os mortos. Supõe-se simbolizada por pesadelos, fraqueza, medo, perda do apetite, ansiedade, alucinações , perda de consciência e uma sensação de sufocação.
Por Debora Oliveira
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