Há 56 anos, precedidos por um conjunto de acções de cariz nacionalista, os angolanos ergueram bem alto a sua voz contra a colonização dando início a uma caminhada que teve como ponto alto a Independência Nacional, conquistada a 11 de Novembro de 1975.
Jornal de Angola, editorial
O dia 4 de Fevereiro de 1961 foi também o culminar de um longo processo de luta de resistência contra a ocupação colonial portuguesa, durante séculos e séculos. No século XX, em que a emancipação dos povos de todo o mundo assumiu contornos nunca antes vistos, com a Carta da ONU a proclamar o “direito à autodeterminação dos povos”, a luta anti-colonial passou a ser um direito e obrigação dos povos colonizados. Os angolanos souberam acompanhar os ventos da mudança, deixando amadurecer as contradições internas do sistema colonial, para disporem de si mesmos na determinação do seu futuro.
Os impérios coloniais em todo o mundo conheciam, sobretudo a partir de meados do século XX, um processo irreversível de desacreditação e enfraquecimento na proporção directa em que crescia a consciência nacionalista, particularmente em África. Depauperados pelos esforços da guerra colonial, as entidades coloniais encontraram como saída o incremento da colonização, desterros, trabalhos forçados e outras práticas que atentavam gravemente contra a dignidade dos povos autóctones.
Contrariamente à ideia de que tal estratégia seria benéfica para os objectivos coloniais, a mesma contribuiu para acelerar a tomada de acções para neutralizar a máquina colonial. Inspirados na gesta de resistência de Ekuikui, Njinga, Kiluanje, Mandume, entre outros, os nacionalistas angolanos deram conta de que, dependendo de si mesmos, o colonialismo em Angola não era invencível. E, movidos por este importante ideal, na madrugada do dia 4 de Fevereiro de 1961, grupos de guerrilheiros angolanos, comandados por Neves Bendinha, Paiva Domingos da Silva, Domingos Manuel Mateus e Imperial Santana, à frente de mais de duas centenas de homens, armados com catanas desencadearam um conjunto de acções que ficaram na História como o início da Luta Armada. Foi um ponto de partida relevante a todos os níveis e que marcou profundamente a luta anti-colonial em todo o território angolano.
Centenas e centenas de angolanos, de todas as origens, imbuídos do espírito nacionalista, contribuíram para o que reconhecemos todos, hoje, como o pontapé de saída para o incremento de acções que aceleraram a independência nacional. Todas as outras iniciativas e acções que, em maior ou menor grau, contribuíram para dar início à Luta Armada de Libertação Nacional fazem também parte da gesta heróica e constituem parte inseparável da memória colectiva do povo angolano. Embora alguns movimentos tenham o direito de reivindicar a paternidade desta ou daquela iniciativa de acção nacionalista anti-colonial, o fundamental é que tais actos tenham sido praticados em nome de uma Angola livre e soberana. Tinham, todas aquelas iniciativas anti-coloniais, o objectivo de inviabilizar a continuidade da colonização e libertar o país. Hoje, olhamos todos com orgulho pelo que angolanas e angolanos, entre conhecidos e anónimos, fizeram para que Angola fosse livre da dominação colonial.
Defendemos que a data de Início da Luta Armada sirva também para que as gerações mais novas aprendam um pouco mais sobre a gesta heróica e que, fundamentalmente, a sociedade aprenda a valorizar mais as pessoas por detrás das acções nacionalistas. As gerações mais novas devem aprender, com o mesmo espírito que motivou os nacionalistas, a encarar o actual processo de desenvolvimento como um desafio passível de ser executado e vencido. Devemos todos inspirar-nos na História de luta e conquistas que antecederam o Início da Luta Armada até à libertação nacional, ganharmos consciência de que é também possível vencermos a actual etapa em que nos encontramos para consolidar a democracia, o Estado de Direito e erguermos uma sociedade mais equilibrada, mais justa e mais fraterna. Da parte das instituições do Estado, há o esforço para dar dignidade aos nacionalistas, aos familiares de combatentes tombados, um desafio que se estende a toda a sociedade.
É salutar saber que, por exemplo, o Ministério dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria assiste acima de 150 mil angolanas e angolanos, ligados directa ou indirectamente aos feitos nacionalistas, bem como familiares. É do interesse do Estado, por via do órgão que acompanha e assiste os antigos combatentes, veteranos de guerra e familiares, promover a criação de mecanismos adicionais de apoio a todos os que deram o melhor de si, os seus ascendentes e descendentes.
É preciso continuar a incentivar os nossos antigos combatentes e veteranos de guerra a abraçarem iniciativas, traduzidas em cooperativas agrícolas e de pescas, para dar dignidade, autonomia financeira e económica. As instituições do Estado devem investir no fomento e promoção de iniciativas que levem os antigos combatentes, veteranos de guerra e familiares a empreender e sentirem que valeu a pena.
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