Por
Aldo Antonio Schmitz
Mestrando em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina
Mestrando em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina
Recentemente
ministrei um workshop no
encontro nacional de jornalistas em assessoria de comunicação, em
Goiânia, onde tive o privilégio de travar pessoalmente discussões
sobre as fontes de notícias com o professor Manuel Carlos Chaparro.
Estávamos no aeroporto à espera de um voo em atraso e ele fez a
seguinte pergunta: O que você está pesquisando sobre a ética dos
valores? Confesso, fiquei sem resposta. Depois descobri que os
estudos sobre o tema são incipientes, o que não justificava a minha
ignorância. Com seu convicto sotaque português, apesar de quase 50
anos de Brasil, Manolo, como é chamado pelos amigos, vem defendendo
a tese da revolução das fontes e suas interferências no
jornalismo, meu objeto de pesquisa no mestrado. Para ele não existe
uma ética jornalística, mas sim uma ética deontológica, da
profissão.
Chaparro
considera que uma ação legítima não é boa nem má. Por exemplo,
achar que toda fonte de notícia tem interesse particular, como se de
um lado estivesse o bem (o interesse público), e do outro, o mal.
Esse “papo cabeça” fez que eu chegasse a Max Weber (1864-1920),
que em 28 de janeiro de 1919 fez uma palestra (*) na Universidade de
Munique, indicando que uma ação ética ajusta-se a duas
orientações, que diferem entre si: a ética da convicção e da
responsabilidade, perfeitamente aplicáveis ao jornalismo. Weber fala
da política da profissão, não como a “arte de governar”, mas a
respeito das habilidades nas relações humanas para obter os
resultados desejados.
A
ética dos princípios, dos fins, ou da convicção, como é
conhecida, tem caráter deontológico, como defende Chaparro.
Regula-se por normas e valores aplicados à prática profissional,
independentemente das consequências que possa provocar. Refere-se à
ética do dever, quando se está absolutamente convicto sobre algo.
Trata-se do compromisso com a verdade, objetividade. Ao contrário da
ética tradicional, não segue a cartilha do certo e do errado, mas a
ponderação de um caráter incorporado por alguém. O jornalista
convicto do fato pode revelar que alguém é corrupto, mesmo que isto
possa denegrir a imagem do denunciado e futuramente não se confirme.
Ou seja, uma ação bem intencionada pode produzir consequências
desastrosas, mas isto não é responsabilidade do jornalista e sim
das evidências que não se confirmaram ou dos equívocos das fontes
de informação.
A
ética da responsabilidade relaciona um fato à causa final, tem
caráter teleológico. Centra-se nas consequências, nos resultados,
na avaliação dos riscos. Embora o jornalista seja responsável pelo
conteúdo e reflexo fiel dos fatos, ele não se guia pela
responsabilidade das consequências. Tome-se o caso da Escola Base,
em que os jornalistas, convictos de um caso de pedofilia e movidos
pelo sensacionalismo, provocaram a depredação e saque da escola,
prisão dos donos e degradação de suas vidas e de crianças, em
março de 1994. Ao final, provou-se que a denúncia não tinha
fundamento, mas os jornalistas não foram responsabilizados por isso,
embora haja algum processo em andamento. Após 14 anos, a TV
Globo, Folha
de S. Paulo, IstoÉ e O
Estado de S. Paulo foram
condenados a pagar indenizações às vítimas. Então, confirma-se a
frase de Weber (2004: 122): “a responsabilidade pelas consequências
não cabe a mim, mas a quem eu presto os serviços”.
Ambas
as éticas geram conflitos para as fontes de notícias. Algumas
ignoram esta formulação deontológica e, ao primeiro sinal, buscam
em vão na Justiça “os seus direitos”; outras aprenderam a
separar uma ética da outra e atuam com transparência, prevenção
contra informações deturpadas e agilidade na correção,
respeitando os princípios do jornalismo, mesmo a contragosto. Pois,
não falta responsabilidade na ética da convicção nem convicção
na ética da responsabilidade, afinal, “nenhuma ética no mundo nos
diz em que medida um fim moralmente bom justifica meios e
consequências moralmente perigosos”, ensina Weber (2004: 91). Mas
para as fontes continua existindo um abismo entre ambas as éticas.
(*) A política como vocação, capítulo do livro Ciência e política: duas vocações, de Max Weber, editado pela Cultrix, em 2004.
Fonte: OBJETHOS
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