O ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva deu início à polémica quando, na última quarta-feira, alertou que a operação "Lava Jato" paralisa empresas essenciais para a economia brasileira, como a Petrobras e as grandes construtoras. Além do aparente cinismo das declarações de alguém que está na mira do juiz Sérgio Moro, que há dois anos lançou "Lava Jato", este é um assunto cada vez mais discutido por analistas e economistas.

Em janeiro, o FMI reviu em baixa de 2,5 pontos percentuais a sua previsão para o PIB brasileiro em 2016, fixando-o em -3,5%. Em 2015, o PIB brasileiro recuou 3,8%. O desemprego não para de crescer: em fevereiro atingiu 8,2% da população ativa, em comparação aos 5,8% do ano anterior. O economista-chefe do organismo financeiro multilateral, Maurice Obstfeld, atribui boa parte da piora das estimativas à configuração política do Brasil, com o início dos procedimentos de impeachment e à abrangência cada vez maior das acusações por corrupção. Para Obstfeld, estes fatores minaram a confiança e deterioraram as perspectivas orçamentárias.
O ouro ou o Moro?
As reações às declarações de Lula não demoraram. "A operação não deu nenhum prejuízo. É um serviço público e já recuperou mais de 3 mil milhões de reais, além de móveis e imóveis apreendidos", declarou o presidente da Associação de Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Antônio César Bochenek, para quem a corrupção é a maior causa dos prejuízos à economia. "A impunidade aumenta a corrupção, e a corrupção, essa sim, causa nefastos prejuízos à economia", completou Bochenek ao jornal O Estado de São Paulo. Para o presidente da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti, "Lula se apequena com declarações como essa, porque ele foi presidente da República duas vezes e sabe muito bem que a situação económica do país está à deriva muito mais por decisões de política económica do que por qualquer investigação".
Para Gesner Oliveira, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo e sócio da consultora GO Associados, seria ingénuo negar que a luta contra a corrupção tem "custos e benefícios", embora os primeiros possam ser mitigados. As investigações do juiz Sérgio Moro revelaram uma complexa trama de subornos pagos por grandes construtoras à Petrobras e a políticos para ganhar licitações. Cerca de cem pessoas, entre elas diretores da companhia e donos das maiores construtoras do país, já foram condenadas no decurso da operação.
Obras paradas, crédito fechado
"O sistema bancário fechou o crédito às empresas envolvidas e a todas as que têm alguma relação com obras públicas", disse Oliveira à AFP. Segundo as projeções da OG Associados, o impacto da luta contra a corrupção pode ser estimado em cerca de 3,6 pontos percentuais do PIB brasileiro, somando os efeitos diretos, indiretos e no nível do rendimento dos milhares de funcionários dessas empresas. Segundo um artigo da revista IstoÉ de janeiro, a Petrobras, face às suspeitas de corrupção, suspendeu até ao final do ano o pagamento de alguns de seus contratos. A decisão causou a demissão de doze mil operários de refinarias e estaleiros. As construtoras também suspenderam ou adiaram a entrega de grandes projetos. Para Oliveira, isso não é motivo para capitular diante da corrupção. "O combate à corrupção é prioritário", destaca, apontando a possibilidade de se chegar a acordos rápidos com as empresas, que permitam punir os responsáveis sem excluí-las das licitações públicas. O ideal, segundo Oliveira, seria "melhorar a governança" dos setores público e privado, garantindo que esse tipo de escândalo "não volte a repetir-se no futuro".
Fonte: sapo.pt
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