Gonçalo D.
Santos, docente do Departamento de Ciências da Vida (DCV) da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
(FCTUC) e investigador do Centro de Investigação em Antropologia e
Saúde (CIAS), integra livro sobre transformações morais na China,
publicado pela editora académica Columbia University Press.
Este volume é a
primeira grande publicação coletiva do Grupo de Investigação
“Cultura e Sociedade”, da Iniciativa para Diálogo EUA-China
sobre Questões Globais da Georgetown University, na cidade de
Washington. Este grupo de trabalho é coordenado por Becky Hsu
(Georgetown University) e Teresa Kuan (Chinese University of Hong
Kong), reunindo outros antropólogos e sociólogos especializados em
estudos chineses, entre os quais Yunxiang Yan (University of
California, Los Angeles), Richard Madsen (University of California,
San Diego), e Gonçalo D. Santos.
«O
nosso objetivo é organizar eventos e produzir publicações que
contribuam para um entendimento mais aprofundado e mais humanizado da
sociedade chinesa, muito além dos discursos monolíticos sobre a
China que marcam a imprensa internacional»,
explica o sinólogo.
Nesse sentido,
«temos
vindo a analisar as grandes transformações morais da sociedade
chinesa, propondo abordagens mais intimistas que nos transportam
diretamente para as experiências da vida quotidiana, mostrando como
as pessoas comuns estão a lidar com os desafios de uma sociedade
cada vez mais globalizada e com mudanças sociais e tecnológicas
profundas»,
revela.
Esta primeira
publicação coletiva, editada por Becky Hsu e intitulada “The
Extraordinary in the Mundane. Family and Forms of Community in
China”, inclui capítulos sobre temáticas extremamente atuais,
como lutas sociais pelos direitos da comunidade LGBTQ ou de crianças
neurodivergentes, a crescente visibilidade de transtornos mentais e
psicológicos na sociedade, ou o problema crescente da dependência
da Internet entre adolescentes.
O capítulo de
Gonçalo D. Santos debruça-se sobre as guerras culturais do parto na
China e a forma como as mulheres estão a enfrentar os desafios
práticos e morais levantados pela hiper-medicalização do parto e a
rotinização do parto por cesariana.
De acordo com o
antropólogo, a medicalização do parto nas últimas quatro décadas
contribuiu para reduzir a mortalidade maternal e infantil no momento
do nascimento, mas também gerou um modelo de parto excessivamente
medicalizado que tem implicações negativas para o bem-estar das
mulheres parturientes e que está a criar divisões morais profundas
na sociedade.
«Estas
tensões são bastante comuns em países onde o parto se encontra
altamente medicalizado, mas a situação na China tem as suas
particularidades, e uma delas é a forma como a relação entre o
médico e a grávida faz parte de um triângulo ético-jurídico que
inclui também a família da mulher grávida»,
esclarece, realçando que a família da gestante, na China, é
definida como uma parte fundamental do bem-estar da mulher durante o
parto e é por isso que os médicos têm de obter o consentimento
escrito da família antes de poderem avançar com uma cesariana.
«Este
papel central da família na relação médico-paciente tem
implicações práticas para o bem-estar das mulheres chinesas
durante o parto e torna particularmente importante o estudo das
tensões morais dentro de famílias e entre mulheres de diferentes
gerações em relação ao cuidado no parto e quais as tecnologias e
abordagens que devem ser favorecidas»,
considera o especialista.
Segundo Gonçalo
D. Santos, para se construir um modelo mais humanizado do parto nos
hospitais e se promover o bem-estar das mulheres gestantes não basta
fazer estudos quantitativos de práticas hospitalares,
«é
necessário desenvolver abordagens etnográficas qualitativas capazes
de iluminar as tensões morais que moldam as práticas de cuidado nos
hospitais».
Este capítulo do
antropólogo da FCTUC é uma contribuição para o estudo qualitativo
destas tensões morais no contexto chinês, mostrando, de forma mais
ampla, como a família deve ser considerada um elemento fundamental
do bem-estar da mulher durante o parto, não apenas na China.
O livro pode ser
adquirido no site
da editora Columbia University Press. Mais informações sobre as
atividades do Grupo de Investigação “Cultura e Sociedade” da
Iniciativa para Diálogo EUA-China sobre Questões Globais da
Georgetown University podem ser encontradas no site
desta iniciativa.
*Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia