Carlos Sodré Lanna

A arquitetura barroca nos oferece um aspecto do Brasil de outrora, autêntico porque refletia a alma de nosso povo. Para tornar mais fácil a compreensão do assunto, daremos dois exemplos que bem caracterizam esse estilo: o convento e a igreja da Ordem Terceira do Carmo [fotos acima e abaixo]em Cachoeira, cidade do Recôncavo baiano, que aparecem na fotografia desta página.
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O Convento do Carmo |
Os materiais usados nesse estilo arquitetônico são os mais facilmente encontrados na região onde se situam, como as pedras, a madeira, o barro para reboco, areia; na ornamentação, ouro em abundância, prataria, pedras preciosas e azulejos finos com
motivos bíblicos.
O Convento do Carmo foi fundado em 14 de março de 1688, destinado a ser mais tarde riquíssima obra de arte e monumento histórico de destaque, mas sua construção estendeu-se pelo século XVIII. As principais finalidades dos carmelitas lá estabelecidos foram a evangelização dos índios e o atendimento espiritual dos colonos da região do Recôncavo baiano. Ele foi construído em torno a um claustro interno, formado por quatro galerias e dividido em nove celas, dois salões amplos e outras dependências.
Além deste edifício existe ainda a Igreja do Convento, com uma decoração interna ricamente ornamentada. Devido às restrições impostas pelo Marquês de Pombal — pérfido ministro português do século XVIII — que muito prejudicaram a vida religiosa na metrópole e nas colônias, o Convento do Carmo foi utilizado pelo governo para diversas finalidades, como quartel, Câmara Municipal, Tribunal do Júri e Casa da Moeda, que o deterioraram enormemente, mas sem alterar seu estilo.
Igreja da Ordem Terceira

A parte interna da nave principal é toda ornamentada com jacarandá entalhado, revestido de ouro e pintado com impressionante riqueza cromática, além de ostentar azulejos finíssimos nas paredes laterais. No altar principal, uma imagem de Nosso Senhor do Bonfim [foto ao lado], quase em tamanho natural, entre resplendores de ouro, faz desse nicho uma jóia sem par em nossa escultura religiosa barroca.
A fachada externa compõe-se de três partes, de épocas e estilos diferentes. Apesar disso, nada quebra a harmonia das severas linhas do edifício, onde o vazado das arcadas dá uma plácida sensação de leveza, equilibrando de maneira singela a densa fachada da igreja.

Deus e as Pompas
Fala-se muito, hoje em dia, de um “triunfalismo” da Igreja, que se trata de mudar para a chamada Igreja “dos pobres”. Não há dúvida de que o barroco é um estilo triunfal, com seus altares e paredes ricamente ornamentados e refulgentes de ouro e de prata. Mas estariam nossos antepassados errados ao honrar deste modo a Deus, seus anjos e seus santos?
Vejamos os ensinamentos da Sagrada Escritura. No Monte Sinai Deus dá diretamente a Moisés instruções sobre a maneira de construir os santuários em que ele queria ser adorado. Os filhos de Israel deveriam trazer para isso as primícias. “E estas são as coisas que deveis receber: o ouro, e a prata, e cobre, jacinto e púrpura, escarlate tinto duas vezes e linho fino… e pau de cetim … pedras de ônix, e pedras preciosas, para adornar o efod e o racional. E far-me-ão um santuário, e Eu habitarei no meio deles” (Ex. 25,3-8).
Os homens do século XVIII, em meio à abundância da descoberta de ouro e pedras preciosas especialmente em terras americanas, ofereciam a Deus o que de melhor possuíam, para O honrar e servir. E o fizeram através do estilo barroco, característico desse brilhante período de nossa história, no qual se encontra uma luz que ainda nos pode indicar o caminho a retomar, com vistas ao futuro, ou seja, a restauração da civilização cristã.
____________Obras consultadas:
- Valentin Calderón — “O Convento e a Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira”, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1976.
- José de Azeredo Santos — “Igrejas de Minas do Século XVIII”, Catolicismo, Nº 173, maio/1965.
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