O Banco de Moçambique que afirma estar tomar medidas para a redução das elevadíssimas taxas de juro da banca comercial interrompeu a tendência decrescente da Prime Rate do Sistema Financeiro, assim como do Indexante Único, que representa cerca de 2/3 das elevadíssimas taxas de juro que continuam a ser praticadas pela banca comercial. Aliás o @Verdade apurou que embora a taxa de juro de Política Monetária esteja em queda desde Agosto de 2017 o banco central tarda a reflecti-la para o povo porque interessa ao Governo de Filipe Nyusi desincentivar o crédito à economia.
A trajectória descendente, desde Outubro de 2017, da Prime Ratedo Sistema Financeiro assim como o Indexante Único foi interrompida neste mês de Julho pelo Banco de Moçambique, cujo Governador disse há cerca de um ano que a instituição já não estava “a gerir crise, já passamos dessa fase” mas agora pede “paciência” aos moçambicanos porque os resultados de medidas que tem tomado “levam o seu tempo a dar resultados”.
Tal como em Junho a taxa única de referência para as operações de crédito de taxa de juro variável do sistema ¬financeiro moçambicano está cifrada em 22,5 por cento e a taxa média ponderada pelo volume das operações efectuadas no Mercado Monetário Interbancário manteve-se nos 16,5 por cento.
Embora o @Verdade venha denunciando que os bancos comerciais parecem alheios às decisões do banco central e têm ganho biliões com a crise económica que sufoca os moçambicanos mantendo os mesmos spreads máximos de risco de crédito na realidade as margens financeiras consideráveis que têm ganho derivam substancialmente dos juros ganhos com o investimento nos títulos do Tesouro.
Também no mês de Julho os bancos comerciais não alteraram os seus spreads, salvo o Mozabanco que aumentou 1 por cento no crédito ao consumo e a CPC que cortou em alguns produtos e aumentou noutros.
Ora essa Dívida Pública de Moçambique tornou-se atrativa para os bancos comerciais, num mercado financeiro sem muitas opções de investimento, desde finais de 2016 quando o Governo de Filipe Nyusi, sem o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI), decidiu não só emitir mais Bilhetes do Tesouro como ainda quase duplicou os juros que pagava aos seus investidores.
Banco central deliberadamente secou a liquidez do mercado e desincentivou o crédito à economia
Os Bilhetes do Tesouro a 3 meses que antes da descoberta das dívidas ilegais da Proindicus e da MAM eram remunerados a cerca de 10 por cento chegaram a dar rendimentos de 25,87 por cento em Fevereiro de 2017.
Os Títulos do Tesouro a 6 meses, cujos juros pagos pelo Estado rondavam também os 10 por cento, antes da suspensão do apoio do FMI, deram rendimentos de 28,42 por cento em Janeiro de 2017. Melhor remunerados chegaram a ser os Bilhetes do Tesouro a 1 ano que quase triplicaram de rendimento para 29,74 por cento.
Paralelamente o banco central fez disparar as suas taxas directoras para acompanhar o ritmo de crescimento da inflação que na altura ultrapassou os 20 por cento, literalmente secando a liquidez do mercado e desincentivando o crédito à economia.
Uma fonte sénior de uma dos principais bancos comerciais em Moçambique disse ao @Verdade que num mercado onde não muito onde investir, entre emprestar ao Estado ou a empresa a escolha é óbvia, afinal o Estado nunca vai a falência, embora possa demorar a pagar, já uma empresa desaparece com facilidade, fomentando o fenómeno denominado pelos economistas de crowding out.
Acção monetarista do banco central agravou a redução do investimento, do emprego e da taxa de crescimento
Com estes incentivos do Estado por forma a obter dinheiro para financiar o seu Orçamento de Estado deficitário, acompanhadas pelas políticas monetárias do Banco de Moçambique quem se “tramou” tem sido o povo e o sector produtivo que tinha compromissos de crédito e os viu crescer e ultrapassar os 30 por cento.
É que para o cálculo da taxa de juro deve-se somar a margem do banco comercial, que quase não muda desde o início da crise económica, à Prime Rateque embora seja definida pelo Banco de Moçambique em acordo com a Associação Moçambicana de Bancos é fortemente influenciada pela Indexante Único que por sua vez está intimamente correlacionado à taxa MIMO que é controlada pela instituição dirigida por Rogério Zandamela.
Em entrevista recente ao @Verdade, Carlos Nuno Castel-Branco afirmou que a resposta monetarista do banco central, apenas focada no controlo da inflação como fenómeno monetário e não real, agravou a redução do investimento, do emprego e da taxa de crescimento.
O economista moçambicano explicou que embora o BM tenha reduzido ligeiramente as suas taxas de referência “a dívida pública continua a aumentar e a dívida interna é a principal causa do crowding out (Governo precisa de financiar-se muito e emite muitos títulos de Dívida Pública aumentando o custo do dinheiro para o sector privado e produtivo) do sistema financeiro doméstico; esta dívida não está orientada para diversificar a base produtiva e massificar emprego, pelo que o crowding out é real - os bancos e a bolsa de valores estão absorvidos pela dívida publica, pelo consumo das classes sociais mais abastadas e pelos mega projectos, pelo que o crowding out afecta só as pequenas e médias empresas; as medidas de racionalização do sistema financeiro doméstico vão intensificar o seu carácter oligopolista; as taxas de referência e as taxas de juro reais (taxas menos a inflação) permanecem proibitivamente altas”.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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