Cada vez
mais a assistência à saúde vem se caracterizando como uma actividade
multiprofissional. No que se refere à Psicologia Hospitalar, esse fato se
reforça, uma vez que as práticas referentes à saúde exigem, de forma crescente,
uma intensa interdependência de trabalho dos profissionais implicados.
Com
formações disciplinares, paradigmas de pensamento profissional e abordagens
metodológicas diferentes e até conflitivas entre si, a interacção entre todas
as pessoas da equipe nem sempre é fácil. Devido às influências de suas
respectivas inserções profissionais, os participantes das equipes
interdisciplinares tendem a sentirem-se cada vez mais vinculados aos seus
grupos de referência dentro da instituição hospitalar, principalmente no que se
refere aos grupos iniciais ou que estejam submetidos a situações conflitivas.
A equipe
interdisciplinar é aquela equipe envolvida nos esforços para se tratar com
dignidade o paciente, considerando-o nos seus aspectos biológicos, sociais,
psicológicos e espirituais. “A interdisciplinaridade deve ir além da mera
justaposição de disciplinas” (CAMON, 1996). “O conceito de
interdisciplinaridade fica mais claro quando se considera o fato trivial de que
todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos, que
pode ser de questionamento, de confirmação, de complementação, de negação, de
ampliação, de iluminação de aspectos não distinguidos” (CAMON, 1996).
Faz-se
necessário ainda definir transdisciplinaridade, tomando emprestada a definição
de Fernando Hernandez (1998): “A transdisciplinaridade se caracteriza pela
definição de um fenómeno de pesquisa que requer a formulação explícita de uma
terminologia compartilhada por várias disciplinas e uma metodologia
compartilhada que transcende as tradições de campos de estudo que tenham sido
concebidos de maneira fechada. A transdisciplinaridade representa uma concepção
da pesquisa baseada num marco de compreensão novo e compartilhado por várias
disciplinas, que vem acompanhado por uma interpretação recíproca das
epistemologias disciplinaras”.
A
cooperação, nesse caso, dirige-se para a resolução de problemas e se cria a
transdisciplinaridade pela construção de um novo modelo de aproximação da
realidade do fenómeno que é objecto de estudo. “Quando atendemos ao paciente é
de fundamental importância que toda a equipe esteja bastante familiarizada com
os estágios pelos quais ele passa, lembrando que podem se intercalar e repetir
durante todo o processo da doença” (Kübler-Ross, 1998). De acordo com
Kübler-Ross, os estágios são: a negação e o isolamento, a raiva (revolta), a barganha,
a depressão e a aceitação, complementando-se com a esperança, que persiste em
todos estes estágios e que é o que conduz o paciente a suportar sua dor.
De posse
do conhecimento destes estágios, indubitavelmente, torna-se muito mais tranquilo,
para o profissional que assiste ao paciente hospitalizado, lidar com os
sentimentos e emoções que afloram, ajudando-o na compreensão e na
transitoriedade dos mesmos, bem como respeitar cada momento vivido pelo
paciente, sem julgá-lo e sem lhe impor sua perspectiva.
Um dos
membros da equipe que desconheça estes estágios poderá incorrer em erros que
repercutirão em todo o processo do paciente, interferindo nos trabalhos dos
outros profissionais. Por exemplo, se a enfermeira não sabe que a raiva projectada
nela, pelo paciente, é apenas a manifestação de um sentimento esperado e
compreendido, e reage a ela com aspereza, poderá contribuir para que o paciente
se sinta culpado pelo seu estado, levando-o a um quadro depressivo, prejudicial
para os seus esforços de melhora. Assim, mais esforço será exigido, por
exemplo, o sector de psicologia terá mais um elemento de terapia, que poderia
ser evitado, deixando o espaço psicoterapêutico para outras questões mais
emergenciais.
Segundo
BOCHATAY, BRONDINO e FLICHTENTREI (2007), Têm-se, então, inúmeras razões para
se trabalhar em equipe, dentre elas:
1. Os
saberes são inacabados e incompletos.
2. A
transcendência dos limites de cada saber.
3. A
“interdependência das disciplinas, onde cada âmbito do saber implica os demais”
4. O
paciente é biológico, social, psicológico e espiritual, de maneira única e
indivisível, devendo ser tratado em todas estas esferas. Porque a
desorganização em uma delas provoca alteração em todas as outras.
5.
Necessidade das reuniões em equipa, onde se põem em questão as relações
pessoais, profissionais, as condutas, as convicções etc., adaptando-se a uma
melhor maneira de se tratar o paciente.
6.
Elaboração da angústia gerada pela possibilidade da morte. Onde as pessoas têm
o espaço para elaborarem a morte enquanto condição pertinente à vida. Assim
sentem que a relação com o paciente terminal deixa de ser ameaçadora e se faz
possível que se acompanhe de fato e de perto a evolução total do mesmo, sem o
sentimento de onipotência tão frequentemente ameaçado.
7.
Reconhecimento dos problemas graves gerados pelos procedimentos técnicos. Por
exemplo, a necessidade de extirpar um tumor de boca que deforme o paciente,
deixando-o psicologicamente deprimido e fazendo que se afaste de tudo e de
todos, rendendo-se à enfermidade. A cirurgia pode ser um sucesso tecnicamente,
mas um desastre psicológico.
8.
Eleição pelo paciente de um dos membros da equipe como objecto de
transferência.
9. A
morte vista como tabu na nossa cultura. Porque a morte é ainda vista como algo
terrível e temível e precisamos de ajuda para superarmos os “passamentos” dos
nossos pacientes.
10. O
significado e o re-significar da morte. Porque podemos assim descobrir outros
significados da morte.
No
entanto, “compartilhar experiências com profissionais de outras disciplinas
exige esforço de admitir os próprios limites, superar a cota pessoal de
egocentrismo e reconhecer a necessidade de superar os obstáculos insolúveis
derivados da própria prática.” (ROMANO, 2007).
Ethienny Corrêa
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Eu sou Ethienny Corrêa, académica de psicologia da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Estadual do Piauí (FACIME-UESPI).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OCHATAY, Laura, BRONDINO, Alberto,
FLICHTENTREI, Daniel. A abordagem transdisciplinar da enfermidade
cardiovascular. www.psiconet.com/tatuajes/tatuajes4/cardio.html. Acessado em: 6
de março de 2007.
HERNANDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na
educação. Porto Alegre, ArtMed, 1998.
OLIVEIRA, M. F; ISMAEL, S. M. – Rumos da
Psicologia Hospitalar em Cardiologia – Campinas/SP: Papirus, 1995.
ROMANO, Esther. Contexto interdisciplinar ante
uma denúncia de abuso sexual.
http://www.psiconet.com/fort-da/fort-da4/contexto.htm. Acessado em: 05 de março
de 2007.
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