segunda-feira, 11 de abril de 2016

A Equipe de Trabalho Interdisciplinar no Âmbito Hospitalar

Cada vez mais a assistência à saúde vem se caracterizando como uma actividade multiprofissional. No que se refere à Psicologia Hospitalar, esse fato se reforça, uma vez que as práticas referentes à saúde exigem, de forma crescente, uma intensa interdependência de trabalho dos profissionais implicados.

Com formações disciplinares, paradigmas de pensamento profissional e abordagens metodológicas diferentes e até conflitivas entre si, a interacção entre todas as pessoas da equipe nem sempre é fácil. Devido às influências de suas respectivas inserções profissionais, os participantes das equipes interdisciplinares tendem a sentirem-se cada vez mais vinculados aos seus grupos de referência dentro da instituição hospitalar, principalmente no que se refere aos grupos iniciais ou que estejam submetidos a situações conflitivas.

A equipe interdisciplinar é aquela equipe envolvida nos esforços para se tratar com dignidade o paciente, considerando-o nos seus aspectos biológicos, sociais, psicológicos e espirituais. “A interdisciplinaridade deve ir além da mera justaposição de disciplinas” (CAMON, 1996). “O conceito de interdisciplinaridade fica mais claro quando se considera o fato trivial de que todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos, que pode ser de questionamento, de confirmação, de complementação, de negação, de ampliação, de iluminação de aspectos não distinguidos” (CAMON, 1996).

Faz-se necessário ainda definir transdisciplinaridade, tomando emprestada a definição de Fernando Hernandez (1998): “A transdisciplinaridade se caracteriza pela definição de um fenómeno de pesquisa que requer a formulação explícita de uma terminologia compartilhada por várias disciplinas e uma metodologia compartilhada que transcende as tradições de campos de estudo que tenham sido concebidos de maneira fechada. A transdisciplinaridade representa uma concepção da pesquisa baseada num marco de compreensão novo e compartilhado por várias disciplinas, que vem acompanhado por uma interpretação recíproca das epistemologias disciplinaras”.

A cooperação, nesse caso, dirige-se para a resolução de problemas e se cria a transdisciplinaridade pela construção de um novo modelo de aproximação da realidade do fenómeno que é objecto de estudo. “Quando atendemos ao paciente é de fundamental importância que toda a equipe esteja bastante familiarizada com os estágios pelos quais ele passa, lembrando que podem se intercalar e repetir durante todo o processo da doença” (Kübler-Ross, 1998). De acordo com Kübler-Ross, os estágios são: a negação e o isolamento, a raiva (revolta), a barganha, a depressão e a aceitação, complementando-se com a esperança, que persiste em todos estes estágios e que é o que conduz o paciente a suportar sua dor.

De posse do conhecimento destes estágios, indubitavelmente, torna-se muito mais tranquilo, para o profissional que assiste ao paciente hospitalizado, lidar com os sentimentos e emoções que afloram, ajudando-o na compreensão e na transitoriedade dos mesmos, bem como respeitar cada momento vivido pelo paciente, sem julgá-lo e sem lhe impor sua perspectiva.

Um dos membros da equipe que desconheça estes estágios poderá incorrer em erros que repercutirão em todo o processo do paciente, interferindo nos trabalhos dos outros profissionais. Por exemplo, se a enfermeira não sabe que a raiva projectada nela, pelo paciente, é apenas a manifestação de um sentimento esperado e compreendido, e reage a ela com aspereza, poderá contribuir para que o paciente se sinta culpado pelo seu estado, levando-o a um quadro depressivo, prejudicial para os seus esforços de melhora. Assim, mais esforço será exigido, por exemplo, o sector de psicologia terá mais um elemento de terapia, que poderia ser evitado, deixando o espaço psicoterapêutico para outras questões mais emergenciais.

Segundo BOCHATAY, BRONDINO e FLICHTENTREI (2007), Têm-se, então, inúmeras razões para se trabalhar em equipe, dentre elas:

1. Os saberes são inacabados e incompletos.

2. A transcendência dos limites de cada saber.

3. A “interdependência das disciplinas, onde cada âmbito do saber implica os demais”

4. O paciente é biológico, social, psicológico e espiritual, de maneira única e indivisível, devendo ser tratado em todas estas esferas. Porque a desorganização em uma delas provoca alteração em todas as outras.

5. Necessidade das reuniões em equipa, onde se põem em questão as relações pessoais, profissionais, as condutas, as convicções etc., adaptando-se a uma melhor maneira de se tratar o paciente.

6. Elaboração da angústia gerada pela possibilidade da morte. Onde as pessoas têm o espaço para elaborarem a morte enquanto condição pertinente à vida. Assim sentem que a relação com o paciente terminal deixa de ser ameaçadora e se faz possível que se acompanhe de fato e de perto a evolução total do mesmo, sem o sentimento de onipotência tão frequentemente ameaçado.

7. Reconhecimento dos problemas graves gerados pelos procedimentos técnicos. Por exemplo, a necessidade de extirpar um tumor de boca que deforme o paciente, deixando-o psicologicamente deprimido e fazendo que se afaste de tudo e de todos, rendendo-se à enfermidade. A cirurgia pode ser um sucesso tecnicamente, mas um desastre psicológico.

8. Eleição pelo paciente de um dos membros da equipe como objecto de transferência.

9. A morte vista como tabu na nossa cultura. Porque a morte é ainda vista como algo terrível e temível e precisamos de ajuda para superarmos os “passamentos” dos nossos pacientes.

10. O significado e o re-significar da morte. Porque podemos assim descobrir outros significados da morte.

No entanto, “compartilhar experiências com profissionais de outras disciplinas exige esforço de admitir os próprios limites, superar a cota pessoal de egocentrismo e reconhecer a necessidade de superar os obstáculos insolúveis derivados da própria prática.” (ROMANO, 2007).


Ethienny Corrêa
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Eu sou Ethienny Corrêa, académica de psicologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual do Piauí (FACIME-UESPI).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OCHATAY, Laura, BRONDINO, Alberto, FLICHTENTREI, Daniel. A abordagem transdisciplinar da enfermidade cardiovascular. www.psiconet.com/tatuajes/tatuajes4/cardio.html. Acessado em: 6 de março de 2007.
HERNANDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação. Porto Alegre, ArtMed, 1998.
OLIVEIRA, M. F; ISMAEL, S. M. – Rumos da Psicologia Hospitalar em Cardiologia – Campinas/SP: Papirus, 1995.

ROMANO, Esther. Contexto interdisciplinar ante uma denúncia de abuso sexual. http://www.psiconet.com/fort-da/fort-da4/contexto.htm. Acessado em: 05 de março de 2007.

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