terça-feira, 29 de agosto de 2017

Macroscópio – Uma despedida e um intervalo. A despedida foi a de mais uma temporada de A Guerra dos Tronos

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Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!
 
Já sabem. Game of Thrones (A Guerra dos Tronos na versão portuguesa) é um lugar de permanente regresso do Macroscópio. A primeira vez que lhe dediquei uma newsletter inteira foi logo em Junho de 2014, tinha o Observador pouco mais de um mês de vida e a série ainda ia na terceira temporada (a do “red weding”, lembram-se?). Foi também uma das poucas vezes que esta newsletter foi transformada em artigo normal no site, pelo que quem tiver curiosidade ainda pode regressar ao que então escrevi – Guerra dos Tronos: Uma parábola de todos os tempos. Entretanto já assistimos a mais quatro temporadas, a última das quais só teve 7 episódios e acabou de ser emitida, em Portugal, esta segunda-feira. Por isso, caros leitores, se não querem spoilers, guardem a leitura deste Macroscópio para mais tarde, até porque houve muitas, mas mesmo muitas novidades neste episódio final (que bateu, mais uma vez, todos os records de audiência), novidades suficientes para aumentar a expectativa para a oitava e última temporada, a qual nos dizem que só deverá chegar lá para 2019.
 
Gosto sempre de começar pelo que se escreveu em Portugal, e aqui o destaque indiscutível vai para o texto de Alexandre Borges aqui no Observador, E no fim há sangue. Sangue por todo o lado. Gosto especialmente (e subscrevo) desta passagem: “Mãos ao ar. Rendemo-nos. “GoT” voltou a ser grande. O último episódio da temporada 7 entrega tudo o que um fã podia desejar: volte-faces e revelações, traições, mortes, grandes efeitos especiais e diálogos shakespeareanos, actores em estado de graça (um bombom, a cena entre Cersei/Lena Headey e Tyrion/Peter Dinklage) e dragões que nunca pareceram tão reais (um deles, ao menos). Sexo e violência, sem dúvida; mas poder e família – poder e família por toda a parte. Círculos perfeitos desenhando-se uns sobre os outros, como quem diz: nada temam; isto está tudo pensado.”
 
(Alexandre Borges já tinha escrito na véspera, fazendo um balanço porventura mais crítico – Guerra dos Tronos: o que esteve mal na temporada 7 –, pelo que esta sua rendição incondicional é especialmente significativa. Mesmo assim é um texto que vale a pena ler pois o autor abre logo a destrunfar: “A “Guerra dos Tronos” continua a ser do melhor que a televisão alguma vez deu ao mundo; e a sétima temporada está recheada de grandes momentos. Este artigo é, na verdade, de uma ingratidão sem nome.” Depois fala das 7 coisas estranhas que estão a acontecer nos 7 reinos interrogando-se sobre o 7.º episódio da 7.ª temporada ainda as pode salvar. Caberá também ao leitor julgar.)

 
Da imprensa portuguesa destaque ainda para o relato de Joana Amaral Cardoso no Público, A Guerra dos Tronos é a mais vista – e é a história d’O Dragão e o Lobo, e para o texto de Diogo Barreto na Sábado, Um dragão, um lobo, revelações e um final de deixar nervos em franja.
 
Como imaginarão os leitores desta newsletter os meios de um jornal como o New York Times não são os do Observador, pelo que não devem ficar surpreendidos pelo grande jornal de Nova Iorque ter uma newsletter semanal dedicada apenas a Game of Thrones. Quem pode, pode. Felizmente que essas newsletters são depois reproduzidas no site do jornal, pelo que a de hoje pode ser lida aqui. Recomendo-a vivamente, até pelas explicações que nos dá sobre alguns dos temas deste episódio. Por exemplo: em A brief history of the Dragonpit Jennifer Vineyard conta-nos as origens do “coliseu” onde decorre uma das cenas mais marcantes do episódio, o encontro entre Cersey e Daenerys; já The Targaryen line of succession, explained permite perceber melhor o complexo cruzamento de linhagens que conduz a um inesperado incesto; e por fim Now that the White Walkers are in Westeros, what do we know of their history?
 

Quanto às revisões críticas deste último episódio da 7ª temporada elas dividiram-se entre o aplauso incondicional – na linha do que já vimos que aconteceu entre nós – e a denúncia ácida. Mas vejamos alguns dos textos mais significativos e interessantes:
  • ‘Game of Thrones’ Season 7 Finale: Humanity Is Still the Biggest Threat of All, a análise da The Ringer, para quem “Yes, the Great War has finally arrived, but it is the still-living characters like Cersei who create the real drama—and make the show worth watching”, pelo que “it’s little surprise that Cersei’s scenes were the standout of an episode that otherwise went perfectly according to plan. This show thrives when it’s delving into the messy, confused human psyche, picking apart the tangled chain of thoughts that lead someone into acting against not just their own best interest, but all of humanity’s. Even with the army of the dead marching south, “The Dragon and the Wolf” reminds us, the real threat is still ourselves and the comforting, fatal illusions we conjure.”
  • Game of Thrones Season Seven Lost Sight of George R.R. Martin's Vision, a visão mais cáustica da Esquire: “If writing a season of television worthy of the story Martin began can be considered success, then Game of Thrones' seventh season was a failure. Faced with the immense challenge of being stewards of his work, showrunners David Benioff and Dan Weiss have been unable to recreate the magic that turned Game of Thrones into such a phenomenon. That doesn't mean it's a total loss for fans. While the show's quality has dropped significantly, it's still fun for anyone who wants to see big-budget battles while this story reaches some sort of conclusion. This is also good for another reason: Now fans have even more incentive to read how Martin is going to finish this story—if he ever does.”
  • ‘Juego de tronos’: Hincar la rodilla, uma crítica muito positiva do El Pais: “HBO lo ha conseguido: la última temporada es la prueba definitiva de que su objetivo es (negocio aparte) que el espectador se meta de lleno en Poniente (este año con muchos escenarios españoles) y no quiera salir. El cierre (...) ha sido coherente con los seis episodios anteriores en sus aciertos y en sus trampas. Ha sido un final satisfactorio, sin grandísimas sorpresas, pero con la confirmación por fin de esas teorías y deseos sobre los Targaryen y los ya no tan lentos caminantes blancos que tantos seguidores llevaban tiempo elaborando. Pero siempre mejor evitar los sobreanálisis a los que somos tan dados. Esta es una serie para disfrutar sin saber todo sobre ella.”
  • Game of Thrones: has this flawed, spectacular show become too big to fail?, uma análise de Archie Bland no The Guardian em que se rende à série mesmo conhecendo os seus limites, até porque “The subtle manoeuvres of previous seasons have been replaced by logic-shredding show-stoppers – but it’s far too late to stop watching now”. Pior: “As the first snows fall in the south, and those icy bastards trudge towards Winterfell, I cannot claim that I am willing to toss it all away – or that I don’t still love it. But as it stands, I fear that the last series will stand not as the multiplication of the story’s greatness, but its echo.”
  • What Did Game of Thrones Accomplish This Year? é o ponto de partida da análise de três colunistas da The Atlantic, David Sims – “In the end, this was the season of the White Walkers.” –, Lenika Cruz – “I don’t want to think the show is doomed to be a less-good version of itself without Martin’s books as a guide”. –, e Megan Garber – “Game of Thrones has been compelling in part for its ability to tangle the soaring and the small.
  • The Dragon and the Wolf: betrayal, nudity, and game-changing twists, a análise de Ed Power no The Telegraph, onde depois de nos recordar como o inimaginável foi acontecendo ao longo destas sete temporadas (“Game of Thrones began with Jaime pushing a child out a window. Now, with the saga turning towards its end game, he’s one of many players who find themselves in a place they could never have possibly imagined. The greatest thrill of all is knowing there’s more – if not quite as much as we would like –  to come.”), se acaba por enunciar um conjunto de questões que deixam dúvidas que só a oitava e final temporada poderão esclarecer. São elas:
    – Did Daenerys and Jon give us the weirdest Game of Thrones love scene yet? 
    – Has Tormund survived the destruction of the Wall?
    Littlefinger’s death was the most contrived moment in an otherwise flawless episode
    – Should Jaime have died? 
    – Forget Jon Snow and Daenerys – the Mother of Dragons meeting Cersei in King’s Landing was the get-together worth waiting for
    – The terrible "kidnap a wight" storyline was still terrible – and still a distraction 
    – Was this the talkiest Game of Thrones episode of the season?
    – Did you think you would be moved to tears by Jon and Theon’s heart-to-heart?
  • ‘Game Of Thrones’ Has To Change For Its Final Season. But Can It After This Finale?, da Uproxx, onde Alan Sepinwall, tem dúvidas sobre a forma como a história se pode desenvolver e alcançar ainda momentos mais fortes depois da cena final de derrube do muro, mas mesmo assim continua a encontrar momentos fortíssimos no episódio: “when you have actors as good as this, and personal history as fraught as it is between the Lannister or Stark siblings, you can still produce incredibly powerful moments. Jaime walking away from his sister is a huge deal, as is Cersei’s inability to kill either of her brothers despite her promises to do so, and both scenes landed hard. So did the springing of Sansa and Arya’s trap of Littlefinger in the great hall at Winterfell”.
 
Deixei para o fim dois textos relativamente laterais ao conteúdo deste derradeiro episódio, mas que levantam questões interessantes sobre o sentido da obra de George R. R. Martin e de partes do enredo de Game of Thrones.
 
Megan Garber analisa na The Atlantic o porquê do autor recorrer tantas vezes a casos de incesto, voltando a fazê-lo neste episódio, se bem que os envolvidos nem suspeitem que têm laços familiares. Em Game of Thrones: About That Hookup defende que “Incest, in Thrones, is a situation that is also a metaphor—for what happens when people get too insular, too myopic, too unwilling to see beyond themselves. It is the Westermarck effect, gone terribly wrong. It is a warning about what can befall the world when narcissism gets politically weaponized”. De resto, recorda, muitas das situações imaginadas têm antecedentes históricos bem conhecidos, sendo que as histórias de incesto são apenas “one of the many ways Game of Thrones’s history parallels the real world’s: Incest, of course, was once common, particularly among nobility.”
 
Já Ilya Somin tem uma reflexão mais filosófica e política no site Learn Liberty, defendendo que mesmo existindo nesta série heróis, para termos um mundo melhor não nos chega termos um Jon Snow ou uma Daenerys. Em Breaking the wheel of Westeros: why heroes aren’t enough nota que “in Medieval Europe, on which Westeros is roughly based, parliaments, merchants’ guilds, autonomous cities, and other institutions eventually emerged to challenge and curb the power of kings and nobles. These developments gradually helped lead to the Renaissance, the Enlightenment, and the economic growth that led to modern liberal democracy. Few if any such developments are in evidence in Westeros, which seems to have had thousands of years of economic, technological, and intellectual stagnation.” Mas a falha não está apenas em George R.R. Martin, está também nos que seguem a série com entusiasmo: “The characters in the books and the TV show are not the only ones who largely ignore the need for institutional change. We the fans are often guilty of the same sin. Few fans watch the show with an eye to institutional questions.”

 
E pronto, está cumprida a primeira parte deste Macroscópio, a da despedida. Uma despedida com um “até já” que nos pode fazer esperar ano e meio, mas cá estaremos. Quanto ao Macroscópio – e essa é a parte do intervalo prometido no título desta newsletter –, este vai de férias por umas curtas semanas. Estaremos de regresso na segunda metade de Setembro. Muito antes de sabermos o destino da Grande Guerra de Westeros, a que agora se vai iniciar.
 
Até já. 

 
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