Grande adesão dos trabalhadores pode impedir saída de 400 carros da fábrica de Palmela. Nova CT é conhecida a 3 de outubro
A primeira greve de empresa da história da Autoeuropa (as anteriores paralisações foram no âmbito de greves gerais, segundo confirmou fonte sindical) pode custar até cinco milhões de euros à produção da fábrica do grupo Volkswagen em Portugal. Os trabalhadores da unidade de Palmela ratificaram ontem o pré-aviso de greve apresentado no início do mês e confirmaram a paralisação que arranca às 23.30 de hoje e termina às 00.00 de quinta-feira.
Apesar de reinar a divisão entre os trabalhadores da fábrica, os plenários de ontem foram bastante participados e contaram com a adesão de mais de 3 mil operários - a força de trabalho é de 3500 pessoas. Os sindicatos garantem que os encontros serviram para "reafirmar a greve" e que "o ambiente é propício a uma grande adesão", entende Rogério Silva, dirigente da Fiequimetal, federação de sindicatos da indústria metalúrgica, afeta à CGTP.
Neste caso, a saída de 400 veículos das linhas de montagem fica posta em causa. Esta é a atual meta de produção diária da fábrica de Palmela, que desde ontem conta com dois turnos de laboração. Este corte pode ter um custo na produção de até cinco milhões de euros, segundo as contas do DN/Dinheiro Vivo. O montante equivale à média diária de faturação de 2015, segundo os dados da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) - não foram usados os números do ano passado devido à baixa produção. A este valor podem ser descontados os menores custos energéticos daquele dia e os salários dos trabalhadores que optem por fazer greve.
Dos plenários também saiu reforçada a abertura ao diálogo dos trabalhadores, mas a administração mantém negociações apenas com a comissão de trabalhadores (CT). No entanto, este órgão que representa os operários está formalmente demissionário desde ontem e as eleições serão realizadas apenas a 3 de outubro, apurou o DN/Dinheiro Vivo. Até lá, vive-se uma situação de impasse em Palmela.
Para responder à procura pelo T-Roc, o novo veículo utilitário desportivo (SUV) da Volkswagen, a Autoeuropa quer que a fábrica passe a funcionar em 18 turnos, seis dias por semana, a partir de fevereiro e que os trabalhadores passem a laborar entre segunda-feira e sábado, com uma folga fixa ao domingo e uma folga rotativa a meio da semana.
Em troca, a administração elaborou um pré-acordo com a CT e que previa um aumento mínimo do salário de 16%, um bónus de 175 euros, a redução do horário de trabalho para 38,2 horas e a atribuição de mais um dia de férias. Cerca de três quartos dos trabalhadores (74,8%) recusaram a proposta em referendo realizado no final de julho. Os sindicatos defendem que o novo modelo de trabalho é prejudicial para a saúde.
O SITE Sul - Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Sul - viu a administração recusar a proposta para criar um turno especial ao sábado e ao domingo.
O Sindicato dos Metalúrgicos, entretanto, juntou-se à paralisação, mas o diferendo não está relacionado com o horário de trabalho. Se não conseguir convencer os trabalhadores e não se chegar a acordo, o gigante automóvel já admitiu, publicamente, deslocalizar parte da produção para outras fábricas do grupo na Alemanha. "Não acreditamos que a Volkswagen faça isso. É uma chantagem", respondeu o SITE Sul, na semana passada.
Até lá, quer o grupo alemão quer o governo português esperam que a administração e os trabalhadores da Autoeuropa, que vale 1% do PIB português, cheguem rapidamente a um consenso. "Estou certo de que será possível chegar a um entendimento e a uma solução satisfatórias para todas as partes", manifestou o ministro da Economia. Manuel Caldeira Cabral esteve reunido na quarta-feira com o presidente da marca Volkswagen, Herbert Diess, horas antes da apresentação do novo SUV.
A fábrica portuguesa do grupo Volkswagen prevê montar um total de 240 mil carros em 2018, mais do dobro dos números de 2016 (85 125 veículos).
O T-Roc irá contribuir para estes números. Este modelo foi apresentado pela primeira vez na passada quarta-feira e irá competir com modelos como o Nissan Juke, o Renault Captur ou mesmo o Seat Arona, também do grupo Volkswagen.
O novo modelo fabricado na Autoeuropa deverá ter um preço-base de 25 mil euros no mercado português e contará com versões a gasolina, gasóleo e híbrido plug-in (ligado à corrente). O SUV será vendido em todo o mundo, exceto na China e Estados Unidos.
Fonte: DN
Nenhum comentário:
Postar um comentário