Assinalou-se, segunda-feira (28), o Dia Nacional do Dador de Sangue e a tónica dominante e destoada foi a mesma de sempre: os moçambicanos doam muito pouco sangue, mas poderiam fazê-lo mais para revitalizar as pessoas que por diferentes motivos procuram atendimento médico porque não gozam de boa saúde ou, na pior das hipóteses, suplicam pela vida no leito de uma unidade sanitária.
Os hospitais moçambicanos funcionam, sistematicamente, com reservas de sangue aquém das necessidades dos doentes e este problema não tem, a curto prazo, um fim à vista porque ainda escasseiam dadores.
O que milhares de pessoas não sabem ou ignoram é que, enquanto muitas delas lêem este texto e têm a possibilidade de sair por aí e fazer o que lhe apetece, tantos outros indivíduos estão desesperados e lutam pela vida.
O fim dessa agonia depende, por vezes – não poucas – de transfusões de sangue, mas os apelos no sentido de contrariar a falta com que os hospitais se debatem continuam sem efeitos desejados.
Segundo Sara Salimo, directora do Serviço Nacional de Sangue (SENASA), em 2016, o país colectou “130 mil unidades de sangue”, das quais cerca de “45 porcento de dadores voluntários”.
O stock a que a fonte se refere, é um pouco mais que as cerca de 120 mil unidades obtidas em 2012, por exemplo.
Por outras palavras, Moçambique continua longe de satisfazer a demanda nas unidades sanitárias, sobretudo os de maior dimensão.
“Temos de fazer um grande trabalho para revertermos esta situação. Precisaríamos de ter pelo menos 150 mil unidades de sangue/ano” para assegurar que os pedidos de transfusão sejam atendidos satisfatoriamente.
Contudo, o número a que a dirigente se refere está muito aquém das 240 mil unidades que Olegário Muanantatha, director do Centro de Referência Nacional de Sangue, estimou serem necessários, numa entrevista concedida ao @Verdade, em 2015.
Naquele ano, o dirigente disse que se colectava em todo o país, anualmente, entre 170 mil e 180 mil unidades.
Ele frisou ainda que quando a sociedade ganhar a consciência de que doar sangue é “salvar vidas, ajudar os que necessitam e transferir saúde de uma pessoa para outra”, haverá mais dadores – principalmente voluntários – e, por conseguinte, as unidades sanitárias poderão sofrer menos pressão.
Este ano, o Dia Nacional do Dador de Sangue foi celebrado sob o lema “não espere um acidente acontecer” o “que podes fazer?” é “doar sangue, agora e regularmente”.
Discursando por ocasião da efeméride, Nazira Abdula, ministra da Saúde, disse que nenhum laboratório no mundo produz sangue, por isso, a única fonte indispensável para que este liquido vital nunca falte nas unidades sanitárias é o próprio ser humano.
Neste contexto, persiste o “desafio de aumentar o número de doações voluntárias para que tenhamos este líquido” que a Organização Mundial da Saúde (OMS) “considera um medicamento vital para responder à demanda dos serviços materno-infantil, sendo as mulheres e crianças as mais necessitadas”.
As anemias graves, os acidentes de viação, as hemorragias durante ou pós-parto, as catástrofes naturais e outros problemas causados pelo homem são os que mais levam à transfusão de sangue, enumerou a ministra, indicando que o incremento de doações de sangue deve incidir sobremaneira nas zonas rurais.
De acordo com a governante, no primeiro semestre deste ano, o Hospital Provincial da Matola e as unidades sanitárias da capital do país colheram e testaram 20.040 unidades de sangue, das quais 59 porcento de dadores voluntários. Por sua vez, Sara Salimo acrescentou que nunca se pode dizer que as unidades sanitárias dispõem de stock suficiente do líquido vital, pois tal só é possível se houver disponibilidade de todos os grupos sanguíneos, o que não acontece.
“Por exemplo, imagine-se que tenhamos 200 unidades de sangue na geleira, mas se faltar o grupo RH negativo” esta quantidade não é bastante, porque “este grupo é raro (...)”.
O grupo mais requisitado, pese embora também escasso. É preciso que as doações de sangue sejam continuam para que se mantenha “todos os grupos sanguíneos disponíveis (...)”, disse a dirigente.
O sangue colectado no SENASA, que funciona nas instalações do Centro de Referência Nacional de Sangue, serve os hospitais gerais de Mavalane, de José Macamo, da Machava e Hospital Provincial de Matola.
A província de Cabo Delgado encontra-se numa situação crítica, pois há menos dadores, a par do que acontece noutros pontos do país.
Mas por que razão as pessoas não doam sangue? Para Sara Salimo, elas “têm medo”, desconhecem a importância deste acto de cidadania e imperam barreiras impostas por algumas igrejas, cujos crentes estão impedidos de efectuar transfusão.
Quais são as condições para doar sangue?
Segundo as normas da OMS, pode-se dar sangue até quatro vezes por ano. Para o efeito, é necessário que se esteja em boas condições de saúde, peso igual ou superior a 50 quilogramas, estar-se descansado, ou seja, ter-se dormido pelo menos seis horas nas últimas 24 horas.
Não se pode estar a jejuar nem doente ou com febre, tão-pouco ter hepatite B ou C, malária, dentre outras doenças cuja lista é extensa. Fazem a transfusão de sangue mulheres com idades compreendidas entre 16 e 60 anos e homens entre 16 e 65 anos.
Os homens pode fazê-lo trimestralmente e as mulheres de quatro em quatro meses. Para uma primeira dádiva, o limite de idade é 60 anos.
Estes e outros procedimentos são infalivelmente observados pelos técnicos de transfusão nos centros criados para o efeito. Qualquer incompatibilidade detectada na triagem levará à rejeição temporária ou definitiva do doador para “preservar a sua saúde. Quem dá sangue com regularidade tem vários benefícios, sobretudo um melhor controlo da sua saúde”, assegurou Olegário Muanantatha, na entrevista a que nos referimos.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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