Comecei a gostar de jornais e revistas bem antes de aprender a ler. Não, não estou a ser preciso. Eu não gostava de jornais e revistas. Eu era apaixonado. Vivia a pedir moedas aos pais e os tios para comprar o que houvesse na banca. Tanto poderia ser um exemplar do Tio Patinhas ou do jornal O Globo. Não percebia o que aquelas letras queriam dizer. Mas intuía que queriam dizer coisas. E que seria tanto mais melhor pessoa quanto conseguisse decifrá-las.
Alfabetizado, assinei a revista Veja aí pelos 12 ou 13 anos. Mais uma vez a percepção da relevância de um newsmagazine apareceu-me antes que compreendesse a maioria dos temas ali tratados.
Crescendo e viajando pelo Brasil passei a classificar as cidades pelas quais passava a partir das publicações locais. Jornais feios e magros sinalizavam lugares onde não quereria morar. O contrário era verdade.
Em 1990, quando cheguei a Portugal, uma das coisas que mais me encantou foi haver revistas de vários países e línguas nos quiosques de Lisboa. “Cheguei ao paraíso”, pensei.
Monoglota, comprei revistas francesas, italianas, alemãs. O meu inglês não passa do “good morning”, mas mesmo assim deliciava-me com a paginação do The Independent, do The Guardian, do El País. Em simultâneo, tentava já compreender o país e o mundo pelo óculos das publicações lusitanas. O Público ainda era um jornal bebé, o Correio da Manhã já era um campeão de popularidade, o DN queria redescobrir a sua relevância. O Independente agitava as águas. O Semanário relutava em ser apenas o veículo da revista Olá. A Kapa tratava os intelectuais portugueses por tu. O Expresso era já uma instituição, uma espécie de de quarto poder (no caso, mais poderoso que alguns dos outros três). Fiz amigos jornalistas, trabalhei em jornais, tornei-me cronista, ganhei desafetos e companheiros de rota entre os escribas e gestores de quase todos os grupos editoriais portugueses (agora mesmo tenho a Cofina na minha carteira de clientes). Daí que quando o Meios & Publicidade pediu-me para escrever sobre o possível encerramento de várias publicações da Impresa percebi que não conseguiria (nem quereria) ser objectivo, técnico e frio em relação ao tema. Passo. Outros serão, de certeza.
O Drº Balsemão já foi prefacista de um livro que escrevi e meu cliente. Tenho dele e da sua família as melhores impressões. E a admiração necessária por serem empreendedores na área da comunicação. Os tempos que grassam por aí não têm graça nenhuma. Os leitores não estão a dar-se ao respeito ao optarem por informações sem origem nem confirmação.
Não prevejo nada de bom daquilo que costumam chamar de jornalismo cidadão. Não muito mais do que se dissessem que teria que passar a tratar-me com cardiologistas cidadãos ou morar numa casa projetada por um arquitecto cidadão. Se o mundo vai ser melhor (e eu espero que seja) não será pelos motivos expostos acima, antes pelo contrário. Enquanto o apocalipse não chega, vou até à banca mais próxima. Aconselho que façam o mesmo.
Ou como diria o meu Tio Olavo, parafraseando um escritor famoso: “Bons jornais e revistas são a vida a falar com ela mesma”.
Por Edson Athayde, CEO/CCO FCB Lisboa
Por Meios e Publicidade a 29 de Agosto de 2017
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