W.
H. Newton-Smith
Universidade
de Oxford
Sócrates
é um homem.
Todos
os homens são mortais.
Logo,
Sócrates é mortal.
As
premissas são “Sócrates é um homem” e “Todos os homens são mortais”. “Logo” é o
sinal de um argumento e a conclusão é “Sócrates é mortal”.
A
vida real nunca é tão evidente e inequívoca como seria se todas as pessoas
falassem da maneira como falariam se tivessem lido manuais de lógica a mais
numa idade facilmente impressionável. Por exemplo, muitas vezes avançamos
argumentos sem apresentar todas as nossas premissas.
Icabod
teve negativa.
Logo,
não pode passar de ano.
Neste
argumento está implícita aquilo a que chamamos uma premissa suprimida;
nomeadamente, a de que nenhum estudante que tenha negativa passa de ano. Pode
ser tão óbvio, pelo contexto, qual a premissa que está a ser pressuposta, que
seja pura e simplesmente demasiado aborrecido formulá-la explicitamente.
Formular explicitamente premissas que fazem parte do pano de fundo de premissas
partilhadas é uma forma de pedantismo. Contudo, temos de ter em mente que
qualquer argumento efectivamente usado pode ter uma premissa suprimida que
tenha de se explicitar para que possa ser rigorosamente analisado. Em nome do
rigor completo, praticaremos neste estudo um certo grau de pedantismo.
Regressaremos
a outras questões acerca da natureza dos argumentos depois de uma primeira
caracterização da noção de validade. Com este fim em vista, considere- se os
seguintes pequenos argumentos simples:
I
O
céu é azul e a relva verde.
Logo,
o céu é azul.
Todos
os estudantes do Balliol College são inteligentes.
Icabod
é um estudante do Balliol College.
Logo,
Icabod é inteligente.
II
Ou
o céu é azul, ou a relva é cor de laranja.
Logo,
a relva é cor de laranja.
Icabod
é inteligente.
Icabod
estuda no Balliol College.
Logo,
todos os estudantes do Balliol College são inteligentes.
Há
qualquer coisa de infeliz nos argumentos apresentados no grupo II. Podemos
imaginar contextos nos quais as premissas seriam verdadeiras e a conclusão
falsa. Os argumentos do grupo I têm conclusões verdadeiras sempre que têm
premissas verdadeiras. Diremos que são válidos. Isso significa que têm a
seguinte propriedade: desde que a(s) premissa(s) seja(m) verdadeira(s), a
conclusão será verdadeira. Os argumentos do grupo I têm claramente esta
propriedade. Como poderia alguma vez acontecer que o céu fosse azul e a relva
verde, sem que o céu fosse azul? Não há maneira nenhuma de Icabod estudar no
Balliol College e de todos os estudantes do Balliol College serem inteligentes
sem que Icabod seja inteligente. Os argumentos de II carecem da propriedade da
validade. As circunstâncias efectivas do mundo fazem com que a premissa do
primeiro argumento do grupo II seja verdadeira, mas a conclusão é falsa. E no
caso do segundo argumento do grupo II, podemos imaginar circunstâncias nas
quais seja verdade que Icabod é inteligente e estuda no Balliol College, mas
nas quais (infelizmente) existam outros estudantes não inteligentes cujos
espíritos obtusos tornem a conclusão falsa. A lógica é o estudo sistemático dos
argumentos válidos. Isto quer dizer que iremos desenvolver técnicas rigorosas
para determinar quais os argumentos que são válidos.
W.
H. Newton-Smith
Tradução
de Desidério Murcho
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