Na manhã
libertadora do 25 de Abril de 1974, eu estava em Luanda e tinha 14 anos. Já
passaram entretanto 42 anos. Os primeiros portugueses nascidos em liberdade são
hoje quarentões e já quase não temos no mundo dos vivos, testemunhas do período
anterior ao Estado Novo.
Tudo isto
me leva a reflectir sobre a liberdade em liberdade, num momento em que nuvens
negras nos mostram todos os dias que a história nunca chega ao fim e que nada
está adquirido para a humanidade.
É contra
a liberdade que atuam os fundamentalistas religiosos, os intolerantes, os
promotores da fraude e da elisão fiscal, os traficantes de armas, pessoas e
estupefacientes, os exploradores de mão-de-obra sem garantias sociais, os
censores da liberdade de expressão e os usurpadores da sustentabilidade no uso
dos recursos comuns do planeta. É contra a liberdade que atentam os ditadores e
os manipuladores de sentimentos e fragilidades das massas.
A
liberdade é o primeiro dos direitos e aquele que mais confronta o indivíduo
consigo próprio. O que fazemos com a nossa liberdade? A que preços, conscientes
ou inconscientes, vamos cedendo a nossa liberdade? Porque é que ao longo dos
tempos a liberdade, irmã gémea da realização do indivíduo e da felicidade, se
transformou tantas vezes em desigualdade extrema, opressão dos mais fortes
sobre os mais fracos e indignidade de condições de vida para uma parte
significativa da humanidade?
Convido-vos,
caros leitores, a reflectirem em liberdade sobre a liberdade que têm e sobre o
que fazem com ela, como forma de assinalar os 42 de liberdade política em
Portugal.
Liberdade
política não é liberdade absoluta, mas é a base necessária para que possamos
lutar por ela, e infelizmente, como as noticias nos reportam todos os dias, uma
parte muito significativa da humanidade ou não tem acesso a essa liberdade
política, ou acede a ela de forma extremamente distorcida e condicionada.
Nós,
graças aos Capitães de Abril e à interpretação que eles souberam fazer da
vontade do povo, vivemos com liberdade política há mais de quatro décadas.
Temos um
privilégio extraordinário de que por vezes não temos consciência. Usemos pois
esta data para tomarmos consciência da liberdade que temos e para encontrarmos,
enquanto cidadãos e enquanto comunidade, os melhores caminhos para sermos
dignos e activamente livres.
Carlos
Zorrinho
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