domingo, 24 de abril de 2016

CRIMINOSOS DA BANCA ANDAM HÁ DEZ ANOS AO COLO DA JUSTIÇA, OU DA “JUSTIÇA”?


Mário Motta, Lisboa

“Confiamos no setor da Justiça em Portugal” é frase que raramente os cidadãos portugueses dizem. Nem podem fazê-lo, comprovando-o com toda a razão. Basta olhar para a procissão de criminosos da banca que em dez anos se revelaram ou provocaram suspeitas da prática de crimes relacionados com as suas atividades. A procissão desemboca no adro e o que vimos é o triste espetáculo de uma justiça amorfa, dito à boca cheia pela populaça que é dominada pelos poderes políticos e financeiros. Em conluio. O que é grave, se assim acontece. Quer parecer que sim.

Mas se assim não acontece qual a razão plausível para em dez anos não se ver um único dos altamente suspeitosos criminosos impunes, em liberdade, sem processo concluído? E porque vimos Dias Loureiro começar a ser investigado para de seguida deixar de o ser e saber-se, por fuga do lado de elemento da justiça, de que teria havido muita pressão para que fosse interrompida e arquivada a investigação?

Dias Loureiro era então membro do Conselho de Estado (nomeado por Cavaco Silva), deixando de o ser pouco depois. Cavaco era o presidente da República. Dias Loureiro foi afincadamente ministro de Cavaco Silva, amigo de relações próximas.

Também Oliveira Costa, igualmente amigo de relações próximas de Cavaco Silva, ex-secretário de Estado num governo de Cavaco Silva, esteve e está a braços com a justiça, até esteve preso durante uns meses… Depois, como por obra e graça de um qualquer santo – talvez o de Belém – tudo está parado e Oliveira Costa anda por aí nas suas habituais negociatas a fazer pela sua vida e a tramar a vida de outros (imagina-se sem dificuldade). Oliveira Costa foi quem deu de presente (a preço da uva mijona) a Cavaco e à filha a possibilidade de engrossar as suas poupanças com mais largos milhares de euros nuns "títulos" que num ápice lhes rendeu a tal iguaria financeira. Umas "aplicações" chorudas mas a rir de orelha a orelha para a família Cavaco... Pois.

Pela pena de Nelson Morais o Jornal de Notícias renova o alerta para aquilo que todos nós sabemos: a impunidade dos dos poderes é tamanha e escandalosa. Políticos e ex-políticos miscigenados com os das altas finanças desfilam perante os nossos olhos sem vergonha e a usufruir de escandalosa impunidade graças a um setor da Justiça que emana odores a podridão. É o que tem vindo a demonstrar.

Há os que dizem que um polvo pequenino que nasceu durante o cavaquismo se agigantou e domina em grande parte a sociedade portuguesa. Se é assim ou não estamos por ver comprovado. Por enquanto só dispomos de suspeitas. Para agravo da situação outros polvos existem aqui e ali. Evidentemente que também esses estamos à espera de ver comprovados Ainda mais depois de sabermos que há portugueses que recorreram a offshores para fugirem ao pagamento de impostos e… E o que mais? Para segurarem o que têm roubado por via de expedientes made in polvos? Os banqueiros! Ah, os banqueiros! Certos políticos! Ah, certos políticos! A justiça! Ah, a justiça! Essa coisa que é tão forte com os fracos e fraca com os fortes, por opção e conveniências.

Fiquem com o artigo, um breve aperitivo que podem ler por completo no JN em papel ou em epaper. Paguem, porque até para se saber alguma coisa destas coisas temos de pagar. Adeus mundo, cada vez a pior… Com políticos e banqueiros como esses tais que andam há dez anos ao colo da justiça, ou da “justiça”? (MM)

Justiça não concluiu um único processo sobre a Banca

Desde 2008, os contribuintes foram forçados a tapar os buracos de vários bancos portugueses com mais de 14 mil milhões de euros. E a inédita investida do Ministério Público sobre a Banca, com a abertura de largas dezenas de investigações sobre o BPN, o BPP, o BCP e o BES, deu-lhes motivos para acreditarem que boa parte dos buracos resultava de atos de gestão criminosos.

Contudo, dez anos depois da abertura do primeiro dos processos-crime, o sistema de justiça deduziu nove acusações e não tem para amostra um banqueiro ou qualquer outro responsável na prisão, nem um processo com decisões condenatórias definitivas, isto é, transitado em julgado.

Na foto: Oliveira Costa, fundador do BPN, esteve preso preventivamente durante nove meses – Foto de Helder Almeida Capela / Arquivo

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