domingo, 24 de abril de 2016

Estes palhaços curam crianças. É hora de serem levados a sério

Doutores Palhaço querem que a sua profissão seja certificada para poderem continuar a curar com sorrisos. São voluntários mas querem manter a "estabilidade do projeto com o profissionalismo que têm atualmente”, diz o diretor artístico do projeto.

© Facebook
Estávamos em 2004, quando Pedro Fabião conheceu, em Coimbra, um palhaço e estudante de medicina espanhol. Pedro era estudante de Psicologia e trabalhava no teatro. Juntos decidiram concorrer para as audições para integrar a equipa de Doutores Palhaços do Norte, onde a par de Ana Banana, foram selecionados para fazer rir aqueles que de mais esperança precisam para querer continuar a viver.

Adeus à psicologia, olá às palhaçadas
Esta foi uma “das maiores felicidades” da vida de Pedro, que entretanto decidiu renunciar à profissão de psicólogo clínico, para assumir a carreira de palhaço a tempo inteiro. E assim nasceu o Doutor Camone.
“É uma profissão de humanidade total”, refere o agora diretor artístico do grupo, lembrando que é necessário ter “uma inclinação irresistível para fazer rir os outros, os pés na terra, e a facilidade de trabalhar em equipa para algo maior do que nós próprios”.
“Há algo de transcendência, de assistir a milagres frequentes, de viver junto ao fio da navalha que separa a vida da morte, a saúde da doença, o humor da tristeza, a esperança do desespero”, diz ao Notícias Ao Minuto, lembrando porém que nem sempre tudo é fácil.
“Não deixamos de ser humanos. Há situações que nos tocam. Mas um palhaço vai desenvolvendo uma espécie de sabedoria que ajuda a melhorar a fragilidade humana”, refere, explicando que todos procuram manter “a sua higiene emocional”.
A prova de que rir é o melhor remédio
Por tudo isto, ninguém poderá negar o papel importante que os Doutores Palhaço têm na recuperação dos doentes, uma vez que são eles que lembram “às pessoas a razão pelas quais elas querem ficar boas”. E há mesmo provas médicas que o indiciam.
Um estudo da Operação Nariz Vermelho com o Centro de Investigação em Educação da Universidade do Minho comprovou que depois das visitas dos Doutores Palhaço as crianças esquecem que estão num hospital e a sua colaboração com os tratamentos e exames melhora, dá conta um comunicado da Operação Nariz Vermelho.
“O riso e o relaxamento estimulam uma série de processos fisiológicos que comprovadamente contribuem para a melhoria dos pacientes e robustez do seu sistema imunitário”, explica Pedro.
Voluntários mas profissionais. Para quando uma certificação?
Nesta senda, os Doutores Palhaço de todo o mundo querem ver reconhecida a sua profissão, bem como a possibilidade de garantir uma forma de certificação do trabalho que desenvolvem e, quiçá, criar uma escola para formar estes artistas. A ideia foi defendida no encontro ‘HealthCare Clowning’, que decorreu em março, com mais de 300 participantes de 30 países.
“Trata-se de mudar a perceção pública e fazer passar a mensagem de que não somos um projeto de voluntários. Temos um grau de profissionalismo muito elevado, uma formação artística, médica e musical contínua, uma reciclagem constante de competências, um sistema de avaliação, cumprimos à risca todos os protocolos hospitalares…”, afirma Pedro Fabião, lembrando que tudo exige “um investimento financeiro grande”.
Este é, no entanto, um processo longo e que em “Portugal ainda não está a ser feito”, explica Susana Ribeiro, da Operação Nariz Vermelho. A responsável pelo projeto solidário refere ao Notícias Ao Minuto que esta certificação passa sobretudo “pela certificação da formação” dos palhaços, não sendo ainda certo quais serão as entidades responsáveis por este processo.
“Em França foram os ministérios da Cultura e do Trabalho [que certificaram a profissão], aqui ainda não sabemos”, diz Susana e explica que o mais importante neste momento é sensibilizar as pessoas para este assunto para receberem o apoio de que necessitam. Este reconhecimento será importante para a sociedade perceber que, embora os Doutores Palhaços ofereçam os seus serviços aos hospitais, precisam “de apoio dessa mesma sociedade para manter a “estabilidade do projeto com o profissionalismo que têm atualmente”, colmata Pedro.

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