Péricles Capanema

Por onde enveredaram os dirigentes buscando a saída do túnel? Procuraram parceria com grandes empresas de engenharia do Exterior, para disputar licitações aqui e em países da América Latina. A OAS entra com a expertise e a execução. A estrangeira põe o dinheiro. Por aí se salvariam a empresa, os empregos, um know-how conquistado com esforço ao longo de décadas. E, via e regra, o controle do negócio fica nas mãos da estrangeira.
Começa o problema. Quais empresas de fora foram escolhidas ou toparam se associar? Norte-americanas? Inglesas? Francesas? Negativo. Todas chinesas. A OAS já assinou contratos em condições favoráveis com a XCMG, fabricante de equipamentos para a construção civil. A XCMG é estatal chinesa (OESP, eufemisticamente, escreve investidores estrangeiros, nem uma vez esclarece que é dirigida pelo governo e PC da China).
Vamos às outras empresas que se associarão à OAS para participar em grandes licitações de obras públicas ou privadas: China Communications Construction Company (CCCC), China Railway Construction Corporation (CRCC) e China Road and Bridge Corporation (CRBC). As três são estatais chinesas. A ampla matéria em nenhum momento traz este fato fundamental, as quatro empresas gigantes com as quais a OAS pretende se associar são estatais chinesas.
Noticia ainda a matéria, outras empreiteiras brasileiras estão interessadas nas parcerias com “os investidores chineses”. Em linguagem crua, por trás, com o Partido Comunista da China e o governo da República Popular da China. Escarrapachando a realidade, são gigantescos trabalhos em comum que — somados a outras iniciativas econômicas ou de natureza diversa do Partido Comunista Chinês — representarão passos importantes no caminhar do Brasil rumo à situação de protetorado efetivo, ainda que não confessado, da China comunista.
Desde o governo FHC, importantes passos iniciais, deslizamos para a tragédia que quase ninguém parece ver com clareza e tem a coragem de denunciar. A situação se agravou nos períodos Lula e Dilma (são irmãos ideológicos dos donos da China e sempre os favoreceram) e continua a piorar no governo Temer. Tomem nota: os que hoje dizem que a situação não apresenta perigo, quando a ameaça virar realidade, dirão que não tem mais jeito, é preciso se conformar.
Coloco um porém em maiúsculas. Pela primeira vez, repentinamente, uma voz poderosíssima deu um basta. Tomara que à voz, coerentemente, se sigam medidas eficazes. Sobre ela falo depois.
Algumas outras pauladas recentes que agridem a soberania e a independência nacionais. Em 2017, a China investiu no Brasil 20,9 bilhões de dólares, o maior valor desde 2010. Esse valor não inclui acordos de empresas privadas chinesas que muitas vezes nem são anunciados. E nem eu estou especialmente preocupado com elas. Minha ênfase é investimento de estatais, dinheiro aplicado aqui, em última análise, por determinação do Partido Comunista Chinês, para aos poucos ir tornando viáveis seus objetivos imperialistas.
Mais uma. Como sabemos, desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Trabalha afincadamente para manter tal situação. Em 2017 foi constituído um fundo de 20 bilhões de dólares, do qual participam bancos estatais chineses e empresas brasileiras. Roberto Dumas Damas, professor do INSPER, explica que com o encolhimento do BNDES, os bancos chineses assumiram o papel de financiadores de projetos tocados por empresas da China no Brasil. Vai além na análise e em visão de conjunto constata com frieza que a nação asiática “dá passos largos na direção do posto de nova nação hegemônica do planeta”.

Sobre a presença da China começou assim: “Instituições fortes e governos que precisam prestar contas ao povo também garantem sua soberania contra atores predadores que agora estão aparecendo na região”. O secretário de Estado vai direto ao ponto: a soberania nacional está ameaçada porque na região atua gigantesco predador — tubarão, hiena ou harpia, por exemplo.
Continuou o secretário de Estado: “A China, como faz com mercados emergentes no mundo inteiro, em geral com investimentos dirigidos pelo Estado chinês, oferece a aparência de um caminho atrativo para o desenvolvimento”. É resposta direta ao discurso de Xi Ping no 19º Congresso do PC chinês em que afirmou, a China está mostrando com fulgor “um novo caminho para outras nações em desenvolvimento”.
Adverte o chanceler dos Estados Unidos, o caminho chinês troca “ganhos de curto prazo por dependência no longo prazo”. É o segundo golpe seríssimo, (o primeiro, perda da soberania), esse caminho trará dependência. Dependência significa finlandização, satelitização, protetorado.
Avisa ainda o secretário de Estado; “Hoje, a China está ganhando posições na América Latina. Usa seu poderio econômico para arrastar a América Latina para sua órbita”. Órbita lembra planetas e satélites, as palavras são claras, tal política lançará os países da região na condição de Estados satélites, só formalmente soberanos.
Termina o ministro do Exterior com a constatação de que o plano vai mar alto: “A China é hoje o maior parceiro comercial do Chile, Argentina, Brasil e Peru. A América Latina não precisa de novos poderes imperiais. O modelo chinês de desenvolvimento, estatista, é um restolho do passado”.
O discurso foi bem pensado. O que está em jogo hoje na América Latina é soberania, Estados satélites e sociedades com governos estatistas que ameaçarão todas as liberdades, religiosa, política, de empreender, de ir e vir.
E é coisa séria. Repito, pela primeira vez, os Estados Unidos, de forma oficial, denunciam ameaça para o futuro da região e tomam posição. Que consequências advirão das palavras de Rex Tillerson? Não sei. Ninguém sabe. Dependem inclusive da própria seriedade do governo dos Estados Unidos.
Falta explicar o título. Escalafobético, esquisito, extravagante, escangalhado. Lideranças da iniciativa privada e setores do governo ainda se entusiasmam com a ação chinesa no Brasil. Mas o governo de país estrangeiro, a maior potência mundial, está preocupado e adverte gravemente. Estamos diante de traição? Irreflexão? Imediatismo? Patetice? Não é esquisito, extravagante, escangalhado? Circuncisfláutico. Misterioso, obscuro, triste, sorumbático, pretensioso. Padecemos situação misteriosa, de desfecho obscuro, nos galarins vemos gente pretensiosa e sem rumo. É triste, pressagia desastres.
Fonte: ABIM
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