O
aumento das áreas de eucaliptal e os incêndios estão a ameaçar a produção do
mel certificado da Serra da Lousã, que decresceu de 27 toneladas em 2015 para
11 este ano.
O
mel certificado da Serra da Lousã encontra-se ameaçado pelo aumento das áreas
de eucaliptal e incêndios, que decresceu de 27 toneladas em 2015 para 11 este
ano, segundo a Cooperativa Lousamel.
A
estes fatores, que têm reduzido as manchas de urze e outras espécies melíferas,
acresceu, no último ano, a instabilidade climática, com sol e temperaturas
altas no início do inverno, o que incrementou a atividade das colmeias fora de
tempo, seguidos de uma prolongada época de chuva, até final da primavera,
determinantes para a baixa de produção do mel com denominação de origem
protegida (DOP) da Serra da Lousã.
“O
aumento das áreas de eucaliptal é uma das causas da quebra na produção”,
referiu o presidente da Lousamel, António Carvalho, esta quinta-feira, à
agência Lusa. Frisou ainda que, nos últimos anos, na sequência da liberalização
do cultivo daquela árvore exótica, utilizada sobretudo no fabrico de pasta de
papel, tem-se verificado a sua “plantação massiva”.
A
região do mel DOP Serra da Lousã, cuja qualidade responde a Lousamel, com sede
na Lousã, abrange ainda os municípios de Arganil, Castanheira de Pera, Figueiró
dos Vinhos, Góis, Miranda do Corvo, Pampilhosa da Serra, Pedrógão Grande,
Penela e Vila Nova de Poiares, nos distritos de Coimbra e Leiria.
“Temos
ainda espaços muito grandes” onde predominam as urzes, mas as abelhas “cada vez
têm menos onde ir buscar néctar”, alertou António Carvalho.
Realçando
que a procura de mel DOP tem aumentado, ano após ano, defendeu que a Lousamel
precisa de investir na produção própria e incentivar os apicultores,
designadamente os jovens, a redobrarem a sua atividade.
Existem
1.900 colmeias inscritas no processo de certificação, o que corresponde a 44
pedidos. “É muito pouco”, considerou.
Às
11 toneladas de mel DOP entregue este ano pelos sócios à cooperativa, importa
somar o que fica na sua posse para vender a particulares e nas feiras, cuja
quantidade poderá rondar as sete toneladas, de acordo com a estimativa de
António Carvalho.
“Temos
de apostar no aumento da produção”, afirmou, frisando que “as pessoas preferem
o mel escuro da Serra da Lousã”, mesmo sabendo que há outros “mais baratos”,
incluindo os que são importados de países como a China, a Argentina ou a
Austrália.
Na
próxima primavera, serão instaladas 200 novas colmeias na montanha, ao abrigo
de projetos de associados financiados por fundos europeus do Programa de
Desenvolvimento Regional (PDR), disse o presidente da cooperativa.
Nos
últimos quatro anos, 140 novos sócios filiaram-se na Lousamel , adesão que
abrange quase 100 jovens que submeteram candidaturas ao PDR, revelou à Lusa a
diretora executiva da empresa, Ana Paula Sançana.
Neste
capítulo, “há uma evolução muito positiva” da apicultura na região, com a
entrada na atividade de “produtores mais jovens e com um nível de instrução
mais elevado”, salientou.
Para
além das condições climáticas desfavoráveis, Ana Paula Sançana referiu como
fatores prejudiciais à produção de mel o desordenamento florestal, com a
proliferação de eucaliptos e diversas invasoras, sobretudo mimosas, e o aumento
das áreas destruídas pelos fogos.
“Se
o mel DOP é à base da flora autóctone regional, não podemos esperar milagres”,
observou.
A
diretora executiva da Lousamel lamentou a falta de planos de reflorestação das
áreas ardidas, apelando à intervenção do Instituto de Conservação da Natureza e
Florestas.
“Plantam
agora eucaliptos em tudo o que é quintal”, criticou.
Os
eucaliptais têm sido atingidos pelo gorgulho-do-eucalipto, uma praga que a
indústria da celulose combate com um inseticida específico.
Ana
Paula Sançana atribui a esse veneno a origem da morte de colmeias em vários
pontos do país.
Fundada
há 28 anos, a Lousamel tem registado um acréscimo do número de sócios,
atualmente na ordem dos 450.
Fonte:
Lusa
Foto:
PAULO NOVAIS/LUSA
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