Milhares de mulheres manifestaram-se na quarta-feira por toda a América Latina contra a violência de género, num protesto desencadeado pelo recente caso de Lucía Pérez, uma adolescente que foi violada e assassinada na Argentina.
Os protestos registaram-se nas principais cidades da Argentina, Chile, Bolívia, Brasil e México, entre outras.
Dezenas de milhares de mulheres marcharam na principal avenida da capital do Chile, a maioria das quais vestidas de preto, exibindo centenas de cartazes com mensagens como “pena de morte para assassinos e violadores” ou “mulheres sobreviventes, sempre resistentes”, numa mobilização em que também participaram homens.
Segundo o Movimento pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos (Miles), a marcha na capital chilena terá contado com 80 mil participantes, não tendo sido divulgado qualquer estimativa por parte das autoridades.
Idênticos protestos realizaram-se noutros países da América Latina, mas com uma dimensão mais reduzida, como na Bolívia, onde aproximadamente meio milhar de pessoas também percorreu as ruas da capital, La Paz, repudiando a violência machista e pedindo justiça para as vítimas de assassínios.
A Bolívia é o país latino-americano com os mais elevados índices de violência machista e o segundo, a seguir ao Haiti, em violência sexual, segundo dados do programa ONU Mulheres.
O Brasil também foi palco de manifestações similares.
Em São Paulo, a maior cidade da América do Sul, cerca de 80 mulheres saíram para as ruas para se manifestar contra a violência de género e para demonstrar a sua solidariedade após o caso de uma jovem de 16 anos que foi drogada, violada e assassinada na Argentina, no passado dia 8, o qual foi, aliás, o gatilho dos protestos que atravessaram a América Latina.
“Esse ato acontece em solidariedade às mulheres que estão em luta na Argentina denunciando o aumento da violência e do feminicídio. Ele surge após o assassinato de uma jovem de 16 anos que foi drogada, estuprada e empalada e morreu por conta dessa violência. Estamos nas ruas, no Brasil, porque a gente sabe que a nossa realidade não é diferente. Também somos assassinadas, estupradas e violentadas todos os dias“, disse Marcela Azevedo, do movimento Mulheres em Luta.
1.678 feminicídios em 2014
Segundo o Observatório da Igualdade de Género da América Latina e do Caribe da Comissão Económica da América Latina e Caribe (Cepal), pelo menos 1.678 foram assassinadas por razões de género na região em 2014.
Vinte países da América Latina e do Caribe contam atualmente com leis sobre violência contra as mulheres, mas apenas oito consignam recursos específicos no seu orçamento nacional.
Para as participantes do protesto em São Paulo, um dos passos para o fim da violência contra a mulher é a educação e a adoção de políticas públicas de combate a esse crime.
A ativista de direitos humanos argentina Josefina Cicconetti, que vive no Brasil há quatro anos, considera importante dar nomes às vítimas para que os casos não sejam tratados apenas como estatísticas.
“Como são vários casos de violência contra a mulher, esse caso seria mais um caso, mas ela tem um nome, é Lucía. Esse caso é atroz, inacreditável. Foi muita maldade, muita crueldade”, lamenta.
Segundo a ativista, a violência contra a mulher no Brasil e na Argentina são muito semelhantes: “São países que estão muito próximos um do outro e vivem uma situação em comum, que é o machismo. O machismo existe na América do Sul inteira e no mundo inteiro“.
Para Josefina, a educação é a grande política contra a violência contra a mulher. “A educação é primordial. E os exemplos que nós damos. Se partirmos de uma piada ou de um piropo na rua, não se pode dizer ‘tudo bem’ e fazer de conta que não é nada. É com as microações e a micropolítica que fazemos a revolução“.
AF, ZAP / Lusa / ABr
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