Um adolescente brasileiro de 13 anos morreu na sequência de uma brincadeira na Internet conhecida como “Jogo da Asfixia”.
Os participantes no jogo são desafiados a recorrerem a objetos que cortem o fornecimento de oxigénio para o cérebro, desmaiando de seguida, para, na sequência, acordarem em euforia, como se estivessem sob o efeito de drogas.
Apesar de este ser o primeiro caso de uma morte ligada ao “Choking Game” no Brasil, o especialista em comportamento e neurologia Ricardo Monezi alertou que estas práticas, antigas nos Estados Unidos, “estão ocorrendo com bastante frequência” e existe “um rol gigantesco de brincadeiras” do género.
O docente da Universidade Federal de São Paulo e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo exemplificou que há jovens que “colocam a cabeça num balde de água e quase chegam à asfixia por afogamento” e outros “colocam uma grande quantidade de alimentos dentro da boca” ou objetos, como pilhas, dentro do nariz.
Ricardo Monezi, formado em biologia, psicobiologia e saúde coletiva, contactou nos últimos dias vários coordenadores pedagógicos que registaram “alguns relatos de alunos que já haviam participado nestas brincadeiras”, mas “presencialmente”, asfixiando-se uns aos outros.
“Saiu do âmbito de ser uma brincadeira praticada por um grupo de jovens para uma brincadeira que, na verdade, começou a tomar conta da Internet e das redes por causa das câmaras nos computadores, nos telemóveis e nos tablets, onde os jovens se desafiam uns aos outros”, avisou.
Ricardo Monezi acrescentou que “o problema começou a tornar-se muito forte no Brasil, principalmente com a disseminação do barateamento da Internet” e de dispositivos móveis.
Ao verem práticas de asfixia em vídeos online, as crianças pensam “que é uma coisa muito simples”e desafiam-se umas às outras, contou.
Para o investigador, desligar a Internet aos mais novos não é solução, porque também é uma “ferramenta de cunho educativo”, e controlar os acessos é hoje praticamente impossível, porque os jovens “têm habilidade para desligar os dispositivos” que servem de bloqueio.
Ao contrário da punição, que não funciona, dado que “faz parte do comportamento do jovem esse ímpeto de chegar onde é proibido”, o docente recomendou aos pais diálogo com os filhos sobre os perigos destes jogos e das salas de conversa online, onde também existem riscos de pedofilia.
O jogo da asfixia não traz “uma euforia verdadeira”, sendo apenas a sensação do cérebro a transmitir ao corpo que “passou por um risco muito grande”, esclareceu, alertando para possíveis lesões irreversíveis no cérebro.
A moda destes jogos também é consequência da falta de tempo dos pais e da realidade virtual que vem tomando conta da realidade presencial, analisa Ricardo Monezi, lembrando, por exemplo, que o seu pai “o desafiava a correr na praia e ver quem ganhava”.
ZAP / Lusa
Nenhum comentário:
Postar um comentário