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A
adolescência corresponde ao período em que o ser humano sofre mudanças
orgânicas, cognitivas, sociais e afectivas. As mudanças sofridas pelo
adolescente têm consequências ao nível do seu relacionamento interpessoal,
familiar, escolar e social. A este propósito, Fátima Maria Simas relembramo-nos
na sua obra Educação, Cognição e Desenvolvimento (2001) a concepção de
adolescência apresentada por Seligman (1994):
- A
adolescência surge como um período de grandes mudanças físicas que alteram a
sua imagem corporal e intelectual começando a possibilitar a formação do
conhecimento de si próprio e a prepará-lo para tomar decisões. Porém, este
período de desenvolvimento é bastante complexo porque passa por um confronto de
forças interiores e exteriores que afectam o auto conhecimento, tais como o
contexto sócio-económico e cultural e a importância da família e dos seus pares
que influenciam as expectativas dos jovens em relação ao
futuro.
É,
também, durante este período que o adolescente realiza um percurso, muitas
vezes difícil, em que procura a sua identidade. Durante esse percurso o jovem
encontra-se em busca de uma uniformidade capaz de lhe proporcionar segurança e
auto-estima. Razão pela qual a companhia dos pais é, nesta fase, preterida
relativamente à companhia dos amigos assim como é, igualmente, durante este
período que parece ocorrer a identificação com o espírito de grupo. A
confirmá-lo, apresentamos as citações que se seguem:
Termos
como transformação, conflito e separação são centrais à compreensão dos
processos desenvolvimentais da adolescência. As transformações referem-se a um
conjunto de processos que vão da maturação biológica à adoção de novos papéis
sociais, no curso dos quais o adolescente ressignifica a si, ao outro e à
realidade. A separação envolve um processo de paulatino distanciamento entre os
adolescentes e as antigas figuras de referência, como a família e a escola,
quando eles tendem a privilegiar o compartilhamento de experiências com os grupos
de companheiros. Cole e Cole, 2003; Dias e Tróccoli, 1999; Santrock, 2003).
Especialmente
quando o adolescente busca uma maior autonomia em relação aos pais na
adolescência, os grupos de pares emergem como fontes importantes de
identificação e referência comportamental dos adolescentes. Porém, uma
particularidade das tribos é o carácter volátil de seus vínculos internos, o
que tanto torna sua dinâmica social muito rica, como enfraquece as ligações
entre os membros, comprometendo o engajamento em projectos cooperativos de
maior duração (Maffesoli, 1992/2000).
Etimologicamente
a palavra adolescente vem do latim ad, que significa, segundo Becker (1994)
para e olescere que significa "crescer para". A adolescência implica
que o jovem adequira autonomia e consequentemente uma visão própria do
mundo.
Ao
nos debruçarmos sobre a questão da adolescência há uma questão que não podemos
contornar, será que o período da adolescência é vivido de igual forma pelos
jovens qualquer que seja a sua nacionalidade? Ou será que este período ganha
contornos diferentes consoante o contexto social em que o jovem se encontra
inserido?
O
conceito de adolescência não é pacífico e, por isso, tem vindo a ser objecto de
estudo de várias correntes da psicologia. As duas grandes tendências
identificadas na investigação oscilam entre aqueles que defendem que a
adolescência é um processo de natureza individual (baseiam a sua teoria
colocando em evidência os aspectos biológicos e psicológicos) e os que defendem
que se trata de um período identificado e reconhecido culturalmente (colocam a
ênfase nos aspectos sociológicos, antropológicos e ideológicos). Nunes de Souza
(1997) considera que o período da adolescência se caracteriza por ser um
período difícil para os adolescentes não apenas pelas transformações físicas a
que estão sujeitos nesta fase da vida, como também considera que este período
constitui um período de crise para toda a família. Durante este processo o
adolescente sente necessidade de contestar os valores que lhe foram incutidos
pela família numa tentativa de se afirmar enquanto indivíduo com existência e
características próprias. Esta fase caracteriza-se, igualmente, por o
autoritarismo dos pais ter muitas vezes de ser substituído por uma atitude de
negociação com os filhos relativamente às tomadas de decisão. Quanto maior for
o grau de afectividade existente entre a criança e a figura de autoridade maior
será o nível de aceitação das regras impostas, no entanto, no período da
adolescência o jovem tende a rejeitar o que lhe foi anteriormente incutido. O
jovem que teve a oportunidade de ter uma referência de autoridade positiva na
infância tem mais facilidade em integrar-se socialmente, ou seja, em acatar as
regras necessárias para viver em sociedade. Esta é a concepção de adolescência
que corroboramos uma vez que consideramos ser um processo que extrapola o
indivíduo e que envolve a família, a escola, as instituições e os grupos de
pares. No que respeita à educação há, assim, uma estreita ligação entre o
individual e o colectivo e a este respeito diz-nos Morin (1991) que sempre há
um imprinting cultural a determinar as nossas percepções do mundo.
Um
outro processo que tende a desenvolver-se na adolescência é o desenvolvimento
moral acompanhado pela aquisição de valores e ideais de justiça, liberdade ou
equidade. Kolhberg (1981) diz-nos que o período da adolescência corresponde a
uma etapa de construção de valores sociais e de manifestações de interesse, por
parte do adolescente, por problemas de cariz ético e ideológico. O jovem adolescente
aspira à existência de um mundo perfeito relativamente aos valores morais é
altruísta, o que não raras vezes origina revoltas por descobrir que a sociedade
não se pauta pelos valores que defende.
Elsa
Martins
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