segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

A voz da vítima no Júri | SONHOS!

SONHOS

(Edilberto de Campos Trovão)

Sonhei sonhos que não vivi,
muito cedo,
deste mundo parti...
Morri.
Sonhei sonhos que não vivi,
Sonhos abortados,
ainda em pensamentos.

Nunca fui exigente,
E confesso:
Estava até contente
com o pouco que a vida me dava.
Mas, até aquele pouco
me foi negado
Meus sonhos eram pequenos:
queria, como todos querem,
morrer de morte natural,
Não desta forma,
cruel,
violenta,
covarde,
brutal.

Queria envelhecer,
Realizar sonhos sonhados,
E,
por que não?
Cometer até alguns pecados,
Como todos cometem.

Eu queria viver uma vida normal,
igual a sua,
igual a de qualquer mortal.

Eu estou aqui,
neste Plenário
E você não me vê
(e nem precisa,
pra quê?)
Basta que você sinta
que eu estou aqui.
Basta que você saiba que eu fui
julgado,
condenado,
executado,
por um crime que não cometi.

Quero,
Espero,
um julgamento
com o mesmo instrumento
de quem me condenou:
Não só com o Código Penal,
Mas, também, com a mesma lei
Violenta,
Brutal,
Lei animal.

Pedem clemência,
para quem foi intolerante;
Benevolência,
para quem não foi benevolente;
Piedade;
para quem foi impiedoso;
Pena mínima,
para quem me condenou
à pena máxima;
e executou a pena de morte.
Que a pena seja cumprida em liberdade,
quando eu,
para a eternidade,
estou preso neste túmulo.
Pedem justiça,
para quem foi injusto.
Pedem, enfim, tudo para meu carrasco,
quando ele de mim retirou tudo o que nunca tive.

Jurados:

Não quero piedade para minha sorte,
Quero...
Exijo...
Requeiro...
Justiça pela minha morte.

(TROVÃO, Edilberto de Campos. Reflexões de um aprendiz de Promotor de Justiça no Tribunal do Júri. Curitiba: JM Editora, 2005, pp. 302-04.) | 29 DE MAIO DE 2015

Anónimo disse...
Simplesmente perfeito não entendo como pode ter gente que não veja assim Genial....
Representa o grito dos inocentes que são condenados sem chance de defesa.

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