sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Cantanhede | Coleção reflete a experiência pessoal e traduz uma intensa viagem interior. Exposição de pintura patente no CIAX da Praia da Tocha até dia 24 de agosto

 
A exposição intitulada “Despertar”, de Monica Mar, foi inaugurada na terça-feira dia 12 de agosto e estará patente no CIAX - Centro de Interpretação da Arte Xávega, na Praia da Tocha, até ao dia 24 de agosto.
Na sessão esteve presente o vice-presidente da Câmara Municipal de Cantanhede, com o pelouro da Cultura, Pedro Cardoso, o presidente da Associação de Moradores da Praia da Tocha (AMPT), Hélder Gonçalves, entidade que em parceria com o Município dinamiza este centro interpretativo, assim como o presidente da Junta de Freguesia de Ourentã, Carlos Ventura, freguesia de onde a artista é natural.
A mostra, promovida pela AMPT com apoio da Câmara Municipal de Cantanhede, reúne cinco quadros de grandes dimensões que espelham a experiência pessoal da autora e revelam uma intensa viagem interior.
Inserida na política de descentralização cultural, esta exposição evidencia a qualidade minuciosa do traço e a profundidade conferida pelo contraste entre o negro e o claro, ao mesmo tempo que reforça o apoio a novos criadores através da disponibilização de espaços expositivos, numa ação que se insere no compromisso municipal de promover diferentes formas artísticas, da música à dança, do folclore à pintura e à fotografia, oferecendo ainda aos veraneantes uma programação cultural diversificada no âmbito da Animação Cultural de Verão”, sublinhou Pedro Cardoso.
Mónica Marinheiro (1986), natural de Cantanhede, vive atualmente em Ourentã. Arquiteta de formação, trabalhou durante uma década em Inglaterra antes de regressar recentemente a Portugal.
Enquanto artista Monica Mar dedica-se em exclusivo à pintura, assumindo-a como parte essencial da sua vida e do seu percurso profissional.
Após a experiência no estrangeiro, decidiu arriscar e entregar-se por completo à sua arte — uma extensão de si própria e a sua linguagem poética de partilha e diálogo com o mundo e com o público.

Opinião | D. Afonso Henriques liderou a primeira batalha naval da nossa História e... ganhou!

 No século XII, Portugal ainda se debatia contra as forças almóadas, que além de desafiarem do interior, ameaçavam constante e impiedosamente as nossas costas. Em 1179, esses corsários mouros não se ficaram apenas por incursões costeiras: penetraram no estuário do Tejo, capturaram várias galés portuguesas e saquearam arredores, deixando um rasto de destruição que chegava aos portos de Lisboa. Foi esse o estopim que levou D. Afonso Henriques a compreender que a defesa da nação não poderia limitar-se à terra firme
Decidido a interromper o predador marinho, Afonso Henriques encomendou àfiguração de uma marinha de guerra nascente e deu ao bravo D. Fuas Roupinho um navio à altura dos seus talentos – ou melhor dizendo, ainda improvisado para as artes marítimas no reino. Roupinho, que já havia triunfado várias vezes em terra, incluindo um combate próximo de Porto de Mós onde derrotou tropas de Gamir com escassa vantagem numérica, foi elevado a almirante na estreia dessa força naval. Em meados de 1180, sua frota embainhou-se nas galerias do Tejo e rumou para sul, numa missão que juntava retaliação e afirmação territorial.
No dia 15 de julho, ao dobrar o Cabo Espichel, algo ainda inédito na História portuguesa aconteceu. Em frente a Sesimbra, as galés almóadas foram alcançadas serenamente, talvez por estarem más de manutenção ou com velas mais frágeis. O combate que se seguiu pegou o reino desprevenido pela sua intensidade: marinheiros inexperientes tornaram-se feras da coragem, lutar às escuras com a espuma das ondas ao redor, flechas e dardos rasgando o vento, até que os conveses se enchem de tumulto, sensação de madeira estalando sob movimento, e relinchar de aço nas mãos dos homens ferozes que empunhavam lanças e espadas.
Apesar da inexperiência, o sangue fresco e a determinação portuguesa firmaram o triunfo. Os mouros, surpresos com a ferocidade da resistência, viram-se derrotados e várias de suas galés foram capturadas. D. Fuas entrou em Lisboa em triunfo, ladeado por navios inimigos que serviram como troféus, símbolos de um Reino que não se confinava às colinas, mas ousava desafiar o marecido inimigo também nas águas.
O Rei, no entanto, não parou aí. Encorajado pelo sucesso, mandou perseguir os inimigos até ao Algarve e atravessar o Estreito de Gibraltar. Roupinho remou até Ceuta e regressou de lá com presas adicionais, mostrando que o oceano podia ser palco de conquista, não apenas de defesa.
É impressionante pensar que D. Afonso Henriques, um príncipe moldado para o combate terrestre, se tenha mostrado visionário o bastante para criar uma marinha. Ele não foi marinheiro, mas liderou com estratégia, coragem e senso político. A batalha não foi categoricamente documentada em número exato de combatentes, mas sabemos que cada lado reuniu cerca de nove galés, com tripulações suficientes para infligir e resistir aos golpes mais cruéis do artesanato naval medieval.
Este embate foi decisivo: reforçou a segurança das costas, incentivou a circulação mercantil com o Norte da Europa, e lançou as bases daquilo que seria séculos depois a grande proeza portuguesa dos oceanos. Em menos de meio século, Portugal passaria de um reino interior para uma potência atlântica, com feitorias comerciais em Bruges, intercâmbios riquíssimos e uma identidade marítima emergente.
Tudo começou com essa vitória de 15 de julho de 1180, quando o Fundador escolheu desafiar o mar e provou que o seu reino não era apenas de terra, mas também de ondas.

*Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor