quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Castelo de Paiva | A Sociedade na Idade Média será o tema. Nova Edição do Concurso Escolar dedicado à Rota do Românico

 
No corrente ano letivo de 2025-2026, a Rota do Românico vai promover a sétima edição do seu concurso escolar, subordinado, de novo, ao tema “A Sociedade na Idade Média”.
Os trabalhos deverão ser submetidos no sítio da internet da Rota do Românico até ao próximo dia 15 de Maio.
Dirigido aos estabelecimentos de ensino dos 86 municípios da Região Norte, do pré-escolar ao ensino secundário, o concurso premiará os melhores trabalhos em quatro categorias: Ilustração, Criação Literária, Experiências Científicas e Tecnológicas e Categoria Aberta.
No âmbito temático da sociedade medieval, os trabalhos poderão abordar os estratos sociais, as profissões, a saúde, a educação, a alimentação, as atividades de lazer, entre outros tópicos.
Recorde-se que, a Rota do Românico é um projecto turístico-cultural, que reúne 58 monumentos e três centros de interpretação, distribuídos por 12 municípios: Amarante, Baião, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Resende.
As principais áreas de intervenção da Rota do Românico abrangem a investigação científica, a conservação do património, a dinamização cultural, a educação patrimonial e a promoção turística.

*Carlos Oliveira
Gabinete de Comunicação Relações Públicas e Protocolo
Assessor de Imprensa
     



Opinião - Benfica e Sporting... o conservadorismo versus progressismo?


Poucos países como Portugal conseguem traduzir a alma nacional em dois emblemas desportivos. O Sporting e o Benfica são, mais do que clubes, reflexos vivos da história social e política portuguesa do século XX. Por detrás das camisolas e das paixões, encontra-se uma narrativa de classes, símbolos e ideais, uma oposição quase filosófica entre o conservadorismo e o progressismo.
O Sporting Clube de Portugal nasceu em 1906 sob o impulso de uma figura aristocrática, José Alfredo Holtreman Roquette, o visconde de Alvalade, descendente direto de famílias nobres ligadas ao liberalismo monárquico. A sua ambição era criar “um grande clube, tão grande como os maiores da Europa”, e o nome escolhido, “Sporting”, traduzia uma modernidade inglesa associada à distinção social. O leão, símbolo régio e heráldico, inspirou-se na realeza britânica e no emblema militar português. Nas décadas seguintes, os atletas sportinguistas foram frequentemente militares ou filhos de oficiais, e Alvalade tornou-se um espaço de convívio das elites urbanas de Lisboa. Durante o Estado Novo, a instituição manteve uma aura disciplinada e hierárquica, e não foi fortuito que Marcelo Caetano, já em queda, tenha recebido a sua última grande ovação pública no Estádio de Alvalade em 1973.
O Benfica surgiu em 1904 num contexto diametralmente oposto, no bairro popular de Belém e depois nas imediações da Avenida das Palmeiras, em Lisboa. A génese benfiquista esteve ligada a professores, operários e pequenos funcionários, homens com ideais republicanos e, em alguns casos, associados à maçonaria, num tempo em que o país se agitava com ventos de mudança. O nome “Sport Lisboa e Benfica” uniu dois clubes e duas visões, mas manteve a essência progressista. A águia, símbolo universal da liberdade e da razão, foi adotada como emblema central, numa escolha com ecos maçónicos e iluministas. Desde Napoleão até à república norte-americana, a águia representou o espírito livre, a igualdade e a fraternidade, valores que o Benfica encarnou num país ainda dominado pela rigidez monárquica. Mesmo o nome do Estádio da Luz pode ser lido como metáfora da luz do conhecimento e do esclarecimento, conceitos caros à filosofia maçónica e às revoluções liberais.

Durante o século XX, esta dicotomia simbólica espelhou a própria evolução de Portugal. O Sporting, com raízes aristocráticas e disciplina institucional, foi durante décadas associado à classe média alta e a uma mentalidade conservadora. O Benfica, nascido entre o povo, tornou-se o clube das massas, o “glorioso” das avenidas e dos bairros populares. Enquanto Alvalade mantinha uma reverência pela ordem e pelo estatuto, a Luz fervilhava com a vibração democrática da multidão.

Na atualidade, ambos são transversais. O empresário e o operário, o banqueiro e o estudante vestem igualmente de verde e branco ou de vermelho e branco. A memória histórica, porém, resiste de forma discreta nos símbolos e nas fundações: o leão, guardião da autoridade e da tradição, e a águia, mensageira da liberdade e do voo social. Entre o conservadorismo e o progressismo, entre a herança e a mudança, Sporting e Benfica continuam a representar as duas faces de uma mesma nação, a eterna dialética portuguesa entre o poder e o povo, entre o passado e o futuro.
*Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor