domingo, 2 de novembro de 2025

Cantanhede | Segundo relatório da entidade reguladora. INOVA-EM é a melhor entidade do país no indicador Qualidade-Preço da água

 
A INOVA-EM ficou em 1.º lugar no indicador Qualidade-Preço, no ranking das entidades gestoras de abastecimento de água e saneamento, divulgado pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) e elaborado pela consultoria Defining Future Options (DFO).
Trata-se do reconhecimento à capacidade da empresa em oferecer um serviço de excelência a preços altamente competitivos, beneficiando diretamente os munícipes.
Além desta distinção, a INOVA-EM surge em 4.º lugar no indicador Qualidade do Serviço, o que atesta os elevados padrões técnicos e o atendimento exemplar aos seus clientes.
Para Pedro Cardoso, presidente do Conselho de Administração da empresa municipal, “estes desempenhos, reconhecidos pela entidade reguladora do setor, posicionam a INOVA-EM entre os melhores operadores do país”.
Esta distinção evidencia, por outro lado, o nosso compromisso com a responsabilidade social, a sustentabilidade e a qualidade de serviço, além de destacar o papel essencial que desempenhamos ao permitir que os munícipes de Cantanhede usufruam de um serviço de excelência a um valor tão competitivo”, complementa.
O relatório completo pode ser consultado aqui.



Crónica - O humorista conservador que esteve para ser fuzilado pelos “vermelhos” e que editou em português


Em Madrid, no verão de 1936, as ruas eram um palco de medo e vingança. Os tiros ecoavam entre os muros das igrejas transformadas em quartéis e as madrugadas cheiravam a pólvora e a denúncia. A Espanha desmoronava-se dentro de si própria, e entre os nomes que surgiam nas listas de “suspeitos” estava o de um homem que apenas sabia escrever. Chamava-se Wenceslao Fernández Flórez, galego de nascimento, cronista fino e humorista de espírito conservador. Fora um dos autores mais lidos da imprensa madrilena, ironizando políticos e burocratas, sempre com a leveza de quem acredita que o riso pode ser uma forma de lucidez. Quando a guerra rebentou, esse humor tornou-se um crime. Acusado de ser “reacionário”, foi preso e condenado à morte.
A história conta que escapou quase por milagre. Uma embaixada estrangeira, talvez a argentina, talvez a holandesa, conseguiu arrancá-lo das mãos das milícias republicanas. Atravessou a fronteira em silêncio, sem olhar para trás, e encontrou refúgio em Portugal, país onde o tempo parecia andar mais devagar e onde o medo não usava uniforme. Em Lisboa, respirou finalmente o ar da sobrevivência. O Tejo tornava-se o seu confidente. Entre a solidão do exílio e a saudade da Galiza, começou a escrever o que seria uma das suas obras mais sombrias, Una isla en el mar rojo, metáfora transparente da Espanha que deixara para trás: uma terra de homens encurralados entre a fé e o ódio, cercados por um mar que já não distinguia o sangue das marés.

Foi em Portugal que se reconstruiu. O humorista que escapara ao paredão escrevia agora com uma gravidade nova, como se cada frase fosse um modo de agradecer à vida o simples facto de ainda existir. O livro, publicado em 1939 e traduzido em português pouco depois, correu discretamente entre leitores atentos, mais como confissão do que como romance. Portugal acolheu-o com a sua costumeira reserva: sem alardes, mas com respeito. Aqui, entre cafés e cartas trocadas, redescobriu o valor do silêncio, a beleza das coisas pequenas e o consolo da distância. Era um exilado, mas também um homem que começava a compreender que o exílio pode ser o último refúgio da dignidade.

Regressou à Galiza depois da guerra, recebido por um regime que o tolerava e que o quis integrar como símbolo da Espanha sobrevivente. Escreveu então El bosque animado, a sua obra-prima, onde o mundo rural se anima de vozes, árvores e almas simples. Era o mesmo humorista, mas já sem riso. A ironia dera lugar à ternura. O homem que escapara da morte em Madrid regressava à infância das florestas galegas como quem regressa à inocência perdida. A guerra deixara-lhe cicatrizes, mas também uma estranha serenidade.

Conservador, sim, mas de um conservadorismo moral, sem fanatismos, sem gritos. Um homem que acreditava mais no equilíbrio do que nas barricadas. Em Lisboa aprendera a medida das palavras e a utilidade do silêncio. Portugal fora a sua travessia interior, a margem onde pôde transformar o medo em literatura.

Morreu em Madrid em 1964, discreto, respeitado, com a mesma ironia melancólica que o salvara. O tempo quase o apagou, mas a sua história continua a merecer ser lembrada. Porque nem todos os exilados trazem medalhas, e nem todos os sobreviventes se tornam heróis. Wenceslao Fernández Flórez foi apenas um homem que usou o humor para resistir à loucura e que encontrou, neste país de fronteiras suaves, o abrigo que a Espanha lhe negara. E talvez por isso, no rumor do Tejo ao entardecer, ainda ecoe o silêncio agradecido de quem um dia escapou à morte para voltar a escrever.
*Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor

ADASCA - 19 ANOS AO SERVIÇO DA COMUNIDADE


A 22 de Novembro de 2006 data em que a ADASCA foi registada no Registo Nacional de Pessoas Colectivas (RNPC), tendo sido apresentadas três designações. A 30 de Dezembro daquele mesmo ano foi realizada a primeira sessão para a dádiva de sangue no Salão do Bombeiros Velhos de Aveiro, com o reconhecimento público do Centro Regional de Sangue de Coimbra, tendo então como directora a Dra. Helena Gonçalves, a quem enviamos uma cordial saudação.

No dia 7 de Fevereiro de 2007 foi oficializada a escritura pública no Cartório Notarial de Aveiro pela Dra. Maria Almeida Deolinda Rolo, sendo a única Associação de Dadores de Sangue do Concelho de Aveiro (ADASCA) até à presente data.
É da mais elementar justiça recordar os elementos que contribuíram para a sua fundação, que agora completa 19 anos de existência sem interrupção:

- Joaquim Carlos, ideólogo do projecto, publicado em diversos órgãos da comunicação social, tendo sustentado as despesas até começar a ser apoiada financeiramente pelo Instituto Português do Sangue (IPS), não esquecendo os apoios de algumas empresas, pessoas anónimas e colegas dadores.

- Manuel António de Castro Sá Oliveira,
- Isabel Maria Valente Marques da silva,
- Annie Mary Boyder da Silva.

Nos primeiros tempos a ADASCA funcionou com uma Comissão Administrativa, até se conseguir a totalidade de elementos para formar a Assembleia Geral, Conselho Fiscal e Direcção. Os colegas José Carlos Sá Pereira, sócio nº. 8, Paulo Virgílio de Jesus Rodrigues, sócio nº. 11, e António Duarte Oliveira Silva, sócio nº. 16 surgiram posteriormente, com estes fui delineando as linhas mestras que a dita associação devia seguir. As incompreensões foram mais do que muitas. Por norma os apoios surgiam de onde menos esperávamos.

Decorreram alguns confrontos/divergências de tomadas de posições com outros elementos, que por imperativos de consciência não faço referência aos seus nomes, mas, constam nos arquivos. Não me sinto arrependido de nada do que fiz, nem remorsos abalam a minha consciência, quiçá, hoje teria feito de forma diferente. As designadas federações de dadores não foram de acordo que a ADASCA aparecesse, nem comigo à frente. Sei bem porquê! Ainda hoje incomodamos...

Hoje a ADASCA é uma associação com uma invejável história no âmbito dos resultados alcançados, no trabalho desenvolvido em prol da dádiva de sangue no Concelho de Aveiro. Foram por si realizados imensos eventos com impacto na comunidade aveirense, como pelo Concelho.
Uma palavra de agradecimento à União das Freguesias de Glória e Vera Cruz, Câmara Municipal de Aveiro, Hospital Infante D. Pedro, Universidade de Aveiro, Instituto Português de Sangue e Transplantação, entre muitas outras entidades, que de momento não me ocorrem à memória.


Tenho a honra de recordar a Dra. Lúcia Borges, directora do Serviço de Imunohemoterapia, e o Dr. Miguel Capão Filipe, na qualidade de Vereador da Saúde da CM de Aveiro, senhor Fernando Marques, presidente da UFGVC que nos apoiaram e acompanharam desde a primeira hora. OBRIGADO!

Hoje a ADASCA realiza mais brigadas num só mês, do que a maioria das associações num ano. Estamos no caminho certo, tudo fazemos pelos dadores, como sempre na defesa dos direitos que a lei lhes confere. Incomodamos? Paciência, existimos para isso mesmo.

Degrau a degrau alcançámos uma dinâmica sem igual. Existe um objectivo: conseguir uma sede própria, com as devidas condições para acolher os dadores, as brigadas dos IPST e claro, onde os órgãos directivos possam trabalhar sem condicionalismos, como acontece no presente.

Os dadores sabem que podem contar connosco e, confiar em nós. Vós sois a razão de ser da existência desta associação.
*Joaquim Carlos
Fundador e Presidente da Direcção da ADASCA



Crónica - "Isto é o Bengala(desh)", disse o navegador português, João de Silveira, em 1506


“Isto é o Bengala(desh)”, terá exclamado João de Silveira, fascinado diante da vastidão verde e líquida do delta do Ganges. E, sem o saber, aquele navegador português do século XVI reconhecia algo de familiar: a hospitalidade das gentes, o gosto pelas cores vivas, a força da fé e o engenho no comércio e no mar. Aquele pedaço longínquo do Oriente não lhe parecia estranho. Em Bengala, como em Portugal, o rio é pai e o mar é destino.
O encontro entre portugueses e bengaleses começou cedo, por volta de 1506, quando as naus lusas, vindas de Cochim e de Goa, se aventuraram até às costas orientais da Índia. João de Silveira, emissário de Afonso de Albuquerque, foi o primeiro europeu de quem há registo a navegar nas águas do que hoje é o Bangladesh. Dizia-se que o ar ali era doce e o povo afável, que as feiras fervilhavam de seda e de especiarias, e que as embarcações locais, de velas triangulares, lembravam as caravelas de além-mar.

Poucos anos depois, os portugueses fixaram-se em Chittagong, que chamaram Porto Grande de Bengala. Fundaram armazéns, construíram igrejas, ensinaram novas técnicas de navegação e aprenderam a língua local. Misturaram-se com a população, casaram, tiveram filhos. Nasceu uma comunidade mestiça, os firingis, cristãos de nomes lusos e corações bengaleses. Até hoje, em aldeias costeiras, há famílias Rozario, Gomes ou Pereira que guardam, como herança, orações em português antigo.

A convivência entre os dois povos gerou pontes inesperadas. A língua bengali acolheu dezenas de palavras portuguesas: almari, mesa, janala, botal. A fé católica encontrou espaço junto ao islão e ao hinduísmo, deixando igrejas e cruzes que ainda sobrevivem às monções. A música popular recolheu ecos de cânticos ocidentais, e o comércio fez circular tecidos, especiarias e ideias. Durante mais de um século, o português foi língua de trato, símbolo de confiança e curiosidade mútua.

Com o tempo, a presença portuguesa esbateu-se, mas o seu rasto nunca desapareceu. Quando o Bangladesh moderno nasceu, em 1971, os historiadores redescobriram essa ligação antiga, feita de encontros e mestiçagens. Hoje, Lisboa acolhe milhares de bengaleses que voltam a trazer à memória esse elo remoto. São comerciantes, estudantes e famílias que reinventam, no presente, o diálogo iniciado há quinhentos anos por João de Silveira.

A língua portuguesa é ensinada em Dhaka, o Instituto Camões promove intercâmbios culturais, e a comunidade bangladeshiana dá nova vida às ruas lisboetas. A história que começou nas margens do Ganges prolonga-se agora nas margens do Tejo.

“Isto é o Bengala(desh)”, disse o navegador, e tinha razão. Era Bengala, mas era também o reflexo longínquo de Portugal: o mesmo impulso de navegar, o mesmo dom de acolher e de aprender.
*Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor