À esquerda, o governador-geral Bill Hayden em 1987 |
♦ Plínio Maria Solimeo
Para Deus nada é impossível. Ele pode converter os corações mais empedernidos não importa em que idade. Tal foi o caso de William (Bill) George Hayden, ateu convicto e defensor de todas as aberrações morais, ex-presidente do Partido Trabalho e primeiro Governador-geral da Austrália, que se converteu aos 85 anos!
Bill Hayden nasceu em 1933, em plena depressão na Austrália. Seu pai, afinador de pianos, havia sido seminarista na Califórnia, mas praticamente abandonara a fé. Sua mãe era católica não praticante.
Com a ruína dos negócios do pai, a família teve que viver numa pobre casa de madeira em Brisbane. O pai passou a beber muito, maltratando mulher e filho. O casal era partidário ferrenho da ala mais esquerdista do Partido Trabalhista e votava um verdadeiro ódio ao capitalismo, que considerava a origem de todos os males e da exploração. E isso foi legado ao filho.
Bill não foi batizado porque sua mãe, ou não acreditava no Pecado Original, ou alegava que as crianças não têm pecado a pagar. Contudo, ele fez seus primeiros estudos com as freiras ursulinas de Brisbane, guardando boas lembranças de seus ensinamentos.
Em sua Autobiografia [capa ao lado], escrita em 1996, ele narra: “Quando era adolescente, eu ia à Missa todos os domingos, não sabendo que não era oficialmente católico [não tendo entrado na Igreja pelo santo Batismo], o que averigüei só depois, quando minha irmã investigou a história da família”.
Carreira brilhante
Aos 20 anos, William começou a trabalhar na Polícia de Queensland. Casou-se sete anos mais tarde com Dallas Broadfoot, oriunda de uma família de mineiros e também partidária das ideias de esquerda. Eles se conheceram em Ipswich, cidade que marcou toda a vida de Hayden e a qual ele escolheu para ser batizado.
Deputado desde 1961, Ministro das Relações Exteriores de 1983 a 1988 e líder do Partido Trabalhista de 1977 a 1983, foi finalmente Governador-geral de 1989 a 1996. No término de seu mandato, recebeu o Prêmio Humanista do Ano porque, como diz o site desse prêmio, “como Governador Geral se declarou publicamente ateu, e falou sem medo, apesar das críticas, a favor da eutanásia voluntária e de outras causas defendidas pelos humanistas”. Ou seja, pelos esquerdistas radicais.
Ao receber o prêmio, Bill Hayden declarou ao Australian Humanistde maio de 1996: “Para ser humanista, é necessário exercer a livre vontade, ser racional, evitar ser escravo de alguma ideologia defunta ou o discípulo de uma sabedoria recebida”. Ou ainda: “Ser ateu, como sou, não é uma condição prévia necessária para ser humanista”, afirmava.
Jura por sua honra, e não por Deus
Quando foi eleito Governador-geral, causou estranheza o fato de a Rainha, que segundo a lei inglesa é a defensora da fé, fosse representada na Austrália por um ateu. Bill respondeu aos objetantes que a Rainha era defensora da fé lá na Inglaterra, mas não nos outros territórios da Commonwealth. Outra objeção que lhe apresentaram foi a de que o Governador-geral, na Austrália é o chefe dos escoteiros do país. Ora, Baden-Powel, fundador da associação, afirmava que um ateu não podia ter tal cargo. Para resolver o impasse, foi criado para ele o cargo de “monitor geral”. Sobre isso, afirmou Bill Hayden: “Evitei assim a calça curta dos escoteiros, que com meus joelhos teria me assentado mal”.
Entretanto, para tomar posse do cargo, ele deveria fazer um juramento tomando a Deus como testemunha. Ele se negou, dizendo que poderia fazê-lo em nome de sua própria honra, e não jurar por Deus, já que iria contra a sua consciência de não crente.
Coerente com sua formação socialista, Bill já havia anunciado em 1995 seu apoio à eutanásia, ao “casamento” homossexual e à entrega de crianças a duplas do mesmo sexo para adoção.
Quando ele tomou posse como Governador-geral, o bloco comunista ainda parecia sólido. Mas ele explicava que já não se considerava um socialista, nem defendia que a Austrália se tornasse uma república: “Hoje prefiro o pragmatismo, o empirismo, a prudência nos assuntos públicos” afirmou, pois “já não esperava muito da humanidade”.
Um grande trauma
No ano de 1966 a família de Bill Hayden sofreu um grande trauma: sua filha primogênita, Micaela, de apenas cinco anos, morreu atropelada. Sua esposa, que estava amamentando outro filho, sofreu tal golpe que perdeu o leite. Somente 30 anos depois, em sua Autobiografia, Bill narrou os profundos sentimentos que o atormentaram então. Sabia que somente uma fé profunda poderia ajudá-lo nessa emergência: “Eu necessitava desesperadamente crer”. E explica que “em meu puro desespero, fui a um presbitério católico falar com um jovem sacerdote, que era também meu amigo”.
A conversa com o sacerdote lhe deu algum consolo, mas “eu tinha demasiada vergonha de pôr-me de joelhos e unir-me a meu amigo em oração”. Devido ao seu ateísmo, teve de afrontar a crise só e em silêncio. As cartas de pêsames que ele recebeu, escritas quase todas por cristãos, falavam da necessidade da conformidade com a vontade de Deus e faziam apelo à vida eterna, o que para um ateu convicto só provocava mais ira e dor.
Em 2014 Bill sofreu um derrame cerebral, que o debilitou fisicamente. Uma queda recente rompeu-lhe o ombro. Mas ele continua muito animado e disposto.
O caminho para Deus
Durante sua longa existência, Hayden se perguntava muitas vezes qual era o significado da vida. Ele tinha dúvidas sobre o seu ateísmo. Mas nunca resolveu a dar um passo decisivo para sair dele. Este passo chegou inesperadamente após uma visita a um hospital, onde fora ver a Irmã Ângela Maria Doyle, de 93 anos, das Irmãs da Misericórdia, que estava internada. Conta ele em carta a amigos, antes de seu batismo, que essa freira “foi, durante 23 anos, administradora dos Hospitais Mater, em Brisbane, uma cidadela de cuidados sanitários para os pobres de Brisbane do Sul, onde cresci no final da Grande Depressão”. Ora, durante seu governo, William Hayden havia sido um dos grandes impulsionadores da Segurança Social sanitária na Austrália. E a Irmã Ângela fora seu braço direito a favor do bom atendimento médico aos mais pobres.
Depois da visita que Hayden, sua esposa Dallas e sua filha Ingrid, fizeram à religiosa, algo de extraordinário aconteceu: “Na manhã seguinte despertei com a forte sensação de que havia estado em presença de uma mulher santa. Assim que, refletindo sobre essas coisas, encontrei-me de volta, no coração, com essas crenças: isto é, com a Igreja.” Foi então que se decidiu a receber o Batismo.
O jornal “O Australiano” escreve que Hayden dissera que fora “testemunhando em toda sua vida tantos atos abnegados de compaixão de cristãos, e a profunda compreensão quando ele se recuperava de um ataque cardíaco, que apressou sua decisão”.
Ele recebeu o Batismo no dia 9 de setembro deste ano [foto ao lado], na igreja de Santa Maria, em Ipswich, próximo de Brisbane, aos 85 anos de idade.
Bill explicou ao “The Catholic Leader” estar desejoso de que sua fé dê coragem a outros cristãos nestes momentos tão duros. “Levei demasiado tempo [para tomar a decisão], e agora vou ser um católico devoto. De hoje em diante, vou responder diante de Deus”, explica.
O agora convertido ex-Governador-geral disse esperar que seu Batismo ajude outros “a ver com novos olhos a importância da Igreja”, especialmente nesta triste época de notícias de abusos… “Os problemas são causados por agentes humanos da Igreja, mas não deveríamos permitir que a nossa fé seja minada pela ação de agentes que não são tão bons quanto deveriam”, conclui.
Fonte:Abim
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