terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

OS CIENTISTAS JÁ SABEM COMO “APAGAR” MEMÓRIAS DOLOROSAS


 
Eternal Sunshine for the Spotless Mind / Momentum Pictures
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Os cientistas descobriram que as nossas memórias não são tão permanentes como acreditávamos, o que nos coloca a um passo de consegui alterar o que nos lembramos.
Todos nós temos memórias más que são difíceis de esquecer, e que podem continuar a assombrar-nos, levando a estados de ansiedade, fobias e stress pós-traumático. Apagar ou alterar memórias parece fazer parte apenas da ficção científica – como se explorou em filmes como “Eternal Sunshine of the Spotless Mind” e “Total Recall” – mas pode estar prestes a tornar-se realidade.
Graças aos avanços na tecnologia de digitalização neurológica ao longo das últimas décadas, investigadores já descobriram como apagar, alterar ou até mesmo implantar falsas memórias - não apenas em animais, mas também em seres humanos.
Algumas substâncias que refazem as ligações no nosso cérebro para esquecermos as partes más das memórias já estão no horizonte, como mostra o documentário da PBS “Memory Hackers”.

As memórias não são permanentes

Para perceber como é que isto é possível, é preciso compreender como as memórias se formam e são mantidas vivas nos nossos cérebros.
No passado, os cientistas pensavam que as memórias eram armazenadas num local específico, como um arquivo neurológico. Hoje, já se sabe que cada memória é “trancada” em ligações por todo o cérebro.
Uma memória é formada quando as proteínas estimulam nossas células cerebrais a crescer e formar novas ligações, literalmente religando circuitos nas nossas mentes.
Quando isso acontece, a memória é armazenada na sua mente e fica lá. Ocasionalmente, refletimos sobre ela ou a revisitamos.

Visitar uma memória é amolecê-la

O que muitas pessoas não percebem é que essas memórias não são estáveis. Cada vez que revisitamos uma memória, esta se torna novamente maleável, e pode ficar mais forte e mais viva do que antes.
Este processo é conhecido como reconsolidação, e explica porque é que as nossas memórias às vezes mudam um pouco ao longo do tempo.
Por exemplo, se teve um acidente de mota, cada vez que se lembra do assunto e se chateia está a reforçar as ligações entre a memória e emoções como o medo e a tristeza. Eventualmente, apenas o pensamento de uma moto pode ser suficiente para deixá-lo estarrecido.
Pelo contrário, também uma memória traumática pode tornar-se motivo de riso anos mais tarde.
O processo de reconsolidação é muito importante precisamente porque é o ponto no qual os cientistas podem intervir nas nossas memórias.
O estudo sugere que as memórias podem ser manipuladas porque agem como se fossem feitas de vidro, existindo num estado maleável enquanto estão a ser criadas, antes de se tornarem sólidas. Quando uma memória é recordada, contudo, ela funde-se novamente e pode ser alterada antes.

Na prática

Vários estudos têm mostrado que bloquear uma substância química chamadanorepinefrina, os investigadores podem “amortecer” memórias traumáticas, impedindo-as de ser associadas com emoções negativas.
Trata-se de uma substância envolvida na resposta de luta ou fuga do nosso organismo, responsável por desencadear sintomas como suor nas mãos e coração acelerado.
No final do ano passado, investigadores da Holanda conseguiram retirar o medo de aranhas de pessoas com fobia, usando um medicamento chamado propanolol para bloquear a norepinefrina.
Dois de três grupos viram uma tarântula num frasco de vidro para acionar as suas memórias de medo de aranhas, e receberam em seguida propranolol ou placebo. O terceiro grupo simplesmente recebeu propranolol.
Ao longo dos meses seguintes, os grupos que receberam placebo ou propranolol sem serem expostos a uma aranha não mostraram nenhuma mudança nos seus níveis de medo, enquanto o grupo que acionou a memória e recebeu a droga foi capaz de tocar a tarântula ao fim de alguns dias. Em três meses, o medo tinha desaparecido.

Trauma

A mesma droga também foi testada em 2007 em vítimas de trauma. Os participantes receberam ou propranolol ou um placebo diariamente durante 10 dias, e foram convidados a descrever as suas memórias do evento traumático.
Os que receberam a droga não esqueceram a experiência, mas uma semana depois foram capazes de contá-la com muito menos stress.
Nos ratos, uma técnica semelhante foi utilizada para fazer os animais “esquecerem” que um som particular era associado a um choque eléctrico, enquanto outras memórias permaneceram intactas.
Até agora, devido às implicações éticas, os investigadores ainda não tentaram explicitamente excluir uma memória totalmente em seres humanos.
No entanto, os indícios sugerem que isso é possível, com a combinação certa de medicamentos e exercícios de revisitação da lembrança.

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