Vasco Câmara
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Há doze anos tinha o país aos pés. Estreara-se com dois álbuns em regime de edição de autor — Entre(tanto) de 1999 e Sobre(tudo) de 2002 — seguido de um disco de instrumentais (Beats Vol. 1: Amor de 2002). Quando Pratica(mente) saiu em 2006 foi a aclamação. Mas afastou-se dos holofotes.
Para uns perdeu o comboio. Para outros encontrou-se. Na hora em que Sam the Kid, 39 anos, regressa - a canção Sendo assim coloca fim a doze anos de silêncio e encerra a compilação Mechelas, com temas de bases sonoras suas para vozes convidadas - Vítor Belanciano, que se recorda do que viu, em 1998, na redacção deste jornal (alguém com um CD-r na mão, ar tímido e olhar transviado, um som artesanal, um universo lírico e sonhador...), foi ouvir o que ele tem para contar. Ei-lo...
Fiquem ainda com Rosalía, Salto e Glockenwise: flamenco com pinta de pop-r&b, um salto em frente na música de um grupo portuense, entrando pela electrónica, e "um espantoso disco de grandes canções pop" (escreve Gonçalo Frota).
Vamos ao cinema? Há por onde discordar.
Há Godard, O Livro de Imagem.
Augusto M. Seabra faz a crónica do culto a "um dos autores maiores da arte cinematográfica" que "não deixa de ser muitas vezes cabotino e irritante". Eis um pedaço: "... o que ocorre é uma narrativa muito insistente nas escolas de cinema, que daí passa para blogs e sites, e para as cinematecas, chegando às páginas de crítica de cinema nos jornais. O ponto vectorial desta narrativa é apresentar a nouvelle vague e em particular JLG como o padrão de referência de todo o cinema moderno." Desconstrução aqui...
Luís Miguel Oliveira diria que tudo o que se aponta como defeito a Godard é uma qualidade: "Com 88 anos acabados de fazer, Godard estreia o filme mais arrojado que podemos ver este ano, uma pequena fogueira que deixa o cinema em chamas. Filme sobre a violência – da história, do mundo, das 'ardentes esperanças' – onde o discurso poético e o discurso político se conciliam e se contradizem. Não forçosamente um 'último filme' – Godard tem energia para dar e vender – mas certamente o filme mais testamentário do seu autor". O texto completo aqui.
E há António-Pedro Vasconcelos, Parque Mayer.
Jorge Mourinha diz que esta fantasia sobre uma fantasia, um olhar para o Portugal salazarista com a revista à portuguesa como pretexto, "é um filme com mais ambição que resultados" mas é o seu APV preferido em anos. Já eu acho que Parque Mayernão reconstitui um mundo pequenino. É a insistência, para lá do prazo de vida, com um cinema pequenino. É uma crónica mal disposta, sim...
Fiquemos com este piano magistral
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