Vivem no mar, mas são mamíferos. Respiram ar atmosférico e amamentam as suas crias, mas estão completamente adaptados ao mar e dele dependem. São quase como os terrestres mas são marinhos, com substantivas diferenças dos seus parentes de terra firme. Uma dessas diferenças consiste no limite que o meio lhes impõe: nenhum! Ou seja, tanto baleias como golfinhos, não conhecem barreiras físicas e vivem num meio tridimensional.
Neste mundo subaquático, os golfinhos adaptaram o seu estilo de vida em função do habitat, tendo algumas espécies características tão próprias que as suas populações se podem tornar residentes. É o caso dos golfinhos-roazes. Estes golfinhos procuram as suas presas, interagem, acasalam e descansam em locais que habitam durante todo ou parte do ano. Assim, ainda que não existam barreiras a delimitar o espaço de ocupação, os golfinhos residentes não se afastam para longe da sua área de residência (uma morada possível: Estuário do Sado e zonas marinhas adjacentes, 2900 Setúbal). No entanto, existem populações, desta e de outras espécies, que não conhecem fronteiras.
São “golfinhos sem fronteiras”. Deslocam-se ao longo da costa ou fazem pequenas migrações diárias e sazonais entre zonas costeiras e águas pelágicas. São espécies cosmopolitas, altamente móveis, vivendo entre ambientes contínuos sem qualquer isolamento físico. Com estas características temos, por exemplo, os golfinhos-comuns, sobre os quais estuda a investigadora Ana Rita Amaral (Centro de Biologia Ambiental da Universidade de Lisboa), bióloga de formação, geneticista de convicção. Sendo esta a mais comum de todas as espécies de cetáceos em Portugal, de onde lhe advém o nome, é uma espécie amplamente distribuída por todos os oceanos. E ao ser estudada evidencia níveis moderados de diferenciação genética em grandes escalas geográficas, o que pode ser devido à grande distância que as separa.
Em contraste, níveis baixos de diferenciação genética são encontrados dentro do mesmo oceano, o que poderá ser explicado por variáveis oceanográficas. Assim, frentes de temperatura e de salinidade poderão ser barreiras entre cetáceos e limitar o contacto entre indíviduos, criando populações geneticamente distintas. Descobriu-se então que os golfinhos sem fronteiras encontram afinal algumas fronteiras oceanográficas? A ciência neste campo ainda tem muito mar para navegar.
No mar não existem barreiras geográficas, tal como as concebemos em terra. Os limites são mais ténues, menos visíveis. E os golfinhos, efetivamente, não pertencem a uma região nem a um país. Então, como criar e gerir áreas marinhas para a sua conservação e como regulamentar as actividades humanas? Esta tarefa cabe aos cientistas e aos políticos. Aos primeiros conhecer e divulgar, aos segundos decidir e implementar. A todos, cabe a responsabilidade de preservar o meio marinho, o nosso e o dos outros, do qual nós, mamíferos terrestres, também dependemos.
Cristina Brito
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