Uma equipa de
investigadores internacionais está a estudar a evolução da curva
do nível do mar e o registo de tsunamis no Mar do Norte nos últimos
10 mil anos. Pedro Costa, docente do Departamento de Ciências da
Terra (DCT) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra (FCTUC) é o coordenador do projeto NORSEAT, na UC.
Este projeto visa
melhorar a compreensão do risco de tsunami no Mar do Norte,
identificando assinaturas geológicas de tsunami em zonas costeiras e
seguindo em direção aos fundos submarinos.
«O
objetivo é compilar evidências de eventos, agrupar os arquivos
terrestres e marinhos para estabelecer a dinâmica dos principais
eventos e, por fim, estabelecer a evolução da curva do nível
relativo do mar das Ilhas Shetland. Estes dados são essenciais para
o desenvolvimento de avaliações de risco e projeções de
inundações mais rigorosos»,
considera Pedro Costa.
Os tsunamis são
relativamente raros na bacia do Mar do Norte. O exemplo mais
conhecido é o tsunami de Storegga, causado por um grande
deslizamento de terra subaquático na plataforma continental
norueguesa, há 8200 anos atrás, e que deixou uma marca sedimentar
desta grande inundação em vários locais costeiros no Atlântico
Norte e no Mar do Norte (Canadá, Ilhas Faroé, Ilhas Shetland,
Islândia, Noruega, Reino Unido, entre outras). Algumas das áreas
costeiras das Ilhas Shetland também contêm depósitos de tsunamis
que ocorreram há 5500 anos AP e 1500 anos AP.
«As
evidências, recentemente determinadas, sugerem uma taxa de
recorrência realmente baixa, à escala geológica, de eventos de
tsunami na região. No entanto, devido à natureza da bacia do Mar do
Norte e das suas costas, caracterizadas por um espaço de alojamento
sedimentar limitado, à má preservação de depósitos de eventos
extremos e à erosão ou retrabalhamento antropogénico, temos
assistido a uma provável subestimação do risco de tsunami para
toda a bacia atlântica»,
explica o docente.
De acordo com os
investigadores, em contraste com os depósitos de tsunamis em terra,
os depósitos de tsunamis no mar têm recebido significativamente
menos atenção, embora sejam muito mais propensos a serem
preservados no registo sedimentar e a conterem assinaturas
deposicionais de tsunamis originais, especialmente os que estão
depositados em ambientes marinhos suficientemente profundos.
«Esses
arquivos sedimentares de tsunamis detetados nos fundos submarinos são
de vital importância para a melhoria da nossa compreensão do perigo
de tsunami no Mar do Norte»,
acredita o investigador. Além
disso,
conclui,
«o
conhecimento da posição do nível relativo do mar, no momento em
que os tsunamis inundaram as zonas costeiras, é crucial para a
modelação e transporte de sedimentos para a cenarização das
inundações, o que permitirá o desenvolvimento de melhores
avaliações de risco».
Desta forma, os
investigadores estão a realizar um rastreamento dos depósitos de
tsunami, a estudar a sua extensão e características em detalhe, e a
verificar se, possivelmente, o registo offshore contém provas de
mais eventos, fornecendo novos conhecimentos sobre os intervalos de
ocorrência. Por outro lado, procuram reconstruir a cursa relativa do
nível do mar para o Holocénico, que até agora foi pouco
restringida para as Ilhas Shetland, avaliando, assim, com mais
precisão as alturas dos paleotsunamis.
*Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia
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